Muito se discute sobre os motivos que impedem uma evolução dos canteiros de obras mais rápida. O que pode ser feito para acelerar esse desenvolvimento?
No Brasil, quando se discute o tema da implantação de novas tecnologias para evolução do canteiro de obras, invariavelmente, são apontadas causas conjunturais para justificar essa situação. Economia instável, altas taxas de juros, restrições de financiamentos, entre outros motivos que dificultam o planejamento de longo prazo e a decisão de novos investimentos. Aí incluídas a implantação de novas tecnologias e a capacitação de equipes para operá-las.
É certo que esses problemas são reais e interferem no planejamento de longo prazo. Porém, já que esses fatores não estão sob o domínio das empresas, o setor deve buscar alternativas para melhorar os seus processos de produção. E, assim, preparar a evolução dos canteiros para o próximo ciclo de aquecimento do mercado.
A evolução dos canteiros nos últimos 20 anos
A partir de meados dos anos 90, com a queda significativa da inflação e a redução do retorno advindo das aplicações financeiras, as empresas de construção civil direcionaram esforços para melhoria de processos e aumento da produtividade dos canteiros. Surgiram os Programas de Qualidade, que rediscutiram os processos de projeto e execução. Muitos dos processos que hoje são utilizados nas obras tiveram origem nesse contexto.
São exemplos as cargas paletizadas, o aço cortado e dobrado em centrais, a utilização do gesso como revestimento de paredes, entre outros. Outras experiências não trouxeram resultados significativos e tiveram seu uso limitado. É o caso, por exemplo, do contrapiso zero ou as lajes nervuradas em torres residenciais. No que se refere à mão de obra, a instabilidade econômica implicou na redução das equipes próprias de mão de obra e a sua substituição por empreiteiros.
A contratação da estrutura por m³: nem tudo que é cômodo é conveniente
Tornou-se prática do mercado a contratação de empreiteiros para a execução da estrutura. Ou seja, tomando-se por base para medição dos serviços o m³ de estrutura executada. Se por um lado esse é um número de fácil medição e negociação, por outro, ele traz sérias distorções.
Em primeiro lugar, o que se observa em muitos canteiros é a falta de gestão sobre os processos de execução da estrutura. As preocupações principais dos responsáveis pela obra são o valor do m³ executado e o prazo. Os procedimentos adequados de execução, os cuidados para liberação da concretagem e a avaliação da estrutura executada, muitas vezes, são deixados em 2º plano.
Em segundo lugar, se observa uma grande rotatividade de mão de obra. Muitas vezes, o empreiteiro, na necessidade de alocar seu pessoal, não faz uma análise adequada das características do empreendimento. Assim, aceita valores que inviabilizam os serviços, com a consequente necessidade de troca da mão de obra.
E o que isso implica na implantação de novas tecnologias?
Muitos engenheiros que vão para os Estados Unidos ficam impressionados com a quantidade de empreendimentos em que se utilizam lajes planas e cordoalhas engraxadas protendidas. Não há dúvida quanto a algumas vantagens desse processo construtivo. Ou seja, redução substancial de fôrmas de vigas, que são as que exigem escoramentos e travamentos mais elaborados, sendo as de maior custo, aumento da produtividade, possibilidade de maiores vãos livres etc. Com essas vantagens, por quê não são tão utilizadas por aqui?
Toda decisão de alteração de processos deve ter o foco na redução dos custos finais. Então, quando um engenheiro está analisando a melhor alternativa entre dois processos, deve avaliar todos os custos envolvidos. Precisa considerar desde a fase de projeto até eventuais custos pós obra com manutenções preventivas ou corretivas.
Lajes planas, necessariamente, implicarão em um maior consumo de concreto e aço. Em geral, a redução de custos das fôrmas não é suficiente para sua viabilização econômica. Porém, o ganho de produtividade torna possível o fechamento dessa conta. Mas, com o critério de empreitada por m³, isso não ocorre.
Apesar de termos uma concepção estrutural que conduz a uma produtividade maior, como o volume de concreto aumenta, o valor a ser pago para o empreiteiro é maior. Isso pode ser mostrado ao empreiteiro, mas é uma negociação difícil e subjetiva.
A utilização de equipamentos e de produtos industrializados: o foco é o aumento da produtividade
A situação acima se repete para várias situações: a viabilização da utilização de gruas e outros equipamentos, o uso de formas e armaduras industrializadas, a aplicação de concretos autonivelantes etc. Novas tecnologias, sejam equipamentos, sejam produtos industrializados, introduzem custos na execução. Em contrapartida, trazem retorno financeiro na forma do aumento de produtividade e com a consequente redução de mão de obra no canteiro.
Como nenhuma dessas tecnologias implicará em menor consumo de concreto, essa redução de custos de mão de obra, pelo atual sistema de contratação, não é obtida diretamente. Como os empreiteiros, em geral, fecharam seus contratos com preços abaixo do que gostariam, não se dispõe a analisar uma redução de valores do contrato. Muito menos a redução de mão de obra. Dessa forma, o processo de implantação de novas tecnologias ou de utilização de equipamentos não se viabiliza financeiramente.
Algumas alternativas para se mudar essa situação serão abordadas no próximo post.
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