A Análise de Valor Agregado é uma técnica que permite a integração do escopo, prazo e custo. E faz isso comparando a progressão de avanço físico do projeto com relação ao planejado.
Além disso, considera o desembolso de recursos financeiros visando demonstrar a correlação destes fatores. Ou seja, é fundamental para determinar a viabilidade econômica de um projeto.
Introdução
A Análise de Valor Agregado (AVA) ou Earned Value Analysis (EVA) foi introduzida no governo dos Estados Unidos por meio do Departamento de Defesa. Isso foi feito, nos anos 60, partir do Sistema de Controle de Critérios de Custo e Prazo ou Cost/ Schedule Control Systems Criteria (C/SCSC). O sistema foi desenvolvido por Quentin W. Fleming, consultor de gestão e Joel M. Koppelman desenvolvedor de software e incorporado aos padrões de controle do Escritório da Secretaria de Defesa da Força Aérea Americana.
Desde então foi amplamente adotado pelos demais órgãos e agências governamentais, tornando-se uma das mais importantes técnicas de gestão nos contratos de defesa, para a análise de projetos de investimento segundo as determinações do Escritório Executivo do Presidente e o Escritório de Gestão e Orçamento.
A técnica de Análise de Valor Agregado
Em todo projeto, é uma das principais dificuldades está na medição e na avaliação dos resultados obtidos. Isso vale para resultados finais ou parciais (durante sua execução). E atinge critérios como prazos, custos, qualidade, escopo e riscos. Mais que isso, envolve até mesmo a previsibilidade dos resultados finais a serem atingidos.
Assim, é preciso estabelecer estimativas confiáveis acerca do projeto. Logo, diversos estudos sobre medição de desempenho e resultados dos projetos são feitos. Sempre com o objetivo de determinar fatores para diferenciar projetos bem-sucedidos de malsucedidos. Da mesma maneira, destacam empresas conforme os resultados apresentados.
A Análise de Valor Agregado estabelece relação entre custo real aplicado e produto físico obtido. Ou seja, o que foi obtido pelo projeto em relação ao investimento realizado para se obter esse resultado.
Relação entre variáveis
Este conceito requer que medidas de custo e avanço físico sejam distribuídas ao longo da duração do projeto. Assim, obtendo as linhas de base derivadas do escopo. Em termos, determina a relação entre valor efetivamente agregado, valor planejado e custo real. Logo, permite avaliar o andamento global do projeto. Também permite avaliar as variáveis que o influenciam de maneira mais eficaz do que se tratadas e analisadas isoladamente.
O gráfico (*) a seguir demonstra claramente como essa relação pode ser analisada:
(*) Dados meramente ilustrativos para fins de exemplificação da técnica.
Observa-se o gráfico acima (Curva S) de um Empreendimento Residencial (Loteamento). Nele, o valor planejado foi replanejado. Há correlação entre o andamento físico da obra e o volume de recursos financeiros aplicados para entrega do produto.
O gráfico demonstra que o ritmo de produção está abaixo do que se planejou. Ou seja, que o volume de recursos empregados está acima do agregado fisicamente no período. Por tratar-se de um projeto de Construção Civil, algumas variáveis devem ser consideradas.
Variáveis a serem consideradas
Valor Planejado (VP)
Obtido pela ponderação entre cronograma executivo da obra (linha de base de prazos) e orçamento baseline (linha de base de custos). Não possui atribuição precisa quanto ao volume de trabalho empregado, bem como o reflexo financeiro da evolução física.
Valor Agregado (VA)
Obtido pela aferição do avanço físico da obra mensalmente pela medição de serviços da construtora. Pode apresentar distorções se os critérios de medição não forem claramente estabelecidos no início.
Custo Realizado (CR)
Obtido pelo levantamento dos custos incorridos no período de análise. Considera os custos “compromissados”. Ou seja, as compras efetuadas para fins de aplicação em determinadas frentes de trabalho. O pagamento se dará no período seguinte à medição do avanço físico.
Análise de resultados
Em uma análise simplista, considera-se que o projeto está com desempenho abaixo do esperado. Ou seja, a curva do valor agregado acumulado está abaixo do valor planejado. Da mesma forma, há dispêndio de recursos financeiros acima do esperado.
Tal fato deve ser analisado também do ponto de vista de engenharia civil. Ou seja, é possível que a obra tenha efetuado antecipações de pagamentos para obter descontos. Dessa forma, pode ter havido aquisição de materiais ainda não agregados à obra.
Alguns exemplos clássicos podem ser observados. É o caso da compra de aço para toda a estrutura da edificação. O material não terá utilização dentro do mesmo período de medição. O mesmo vale para a compra dos elevadores, por exemplo. Estes somente serão agregados nas etapas finais da obra.
Outro ponto a ser observado diz respeito à desvinculação entre andamento físico e financeiro. Ou seja, o fato do valor planejado não possuir uma distribuição 100% física.
Indicadores para projeção de custos e prazos
Além de permitir a análise correlacionada das variáveis VP, VA e CR, a Análise de Valor Agregado traz outras vantagens. Permite a obtenção de indicadores para projeção de custos e prazos conforme discriminado a seguir:
- Índice de Desempenho de Custo (IDC): É a divisão entre o valor agregado (VA) e o custo realizado (CR). Espera-se do resultado obtido, que ele seja = a 1,00 demonstrando que o custo realizado está de acordo com avanço físico, ou > a 1,00 demonstrando que o custo realizado está abaixo do avanço físico. Na construção civil, o “descasamento” entre execução e pagamento pode demonstrar economia “tendenciosa e irreal”. Portanto faz-se necessário um domínio aprofundado da técnica, bem como o pleno conhecimento da situação da obra.
- Índice de Desempenho de Prazo (IDP): É a divisão entre o valor agregado (VA) e o valor planejado (VP). Espera-se do resultado obtido, que ele seja = a 1,00 demonstrando que o avanço físico realizado está de acordo com o avanço físico planejado, ou > a 1,00 demonstrando que o avanço físico realizado está performando além do planejado. A análise deste indicador também deve ser criteriosa. Afinal, conforme foi explicado, em projetos de construção civil o valor planejado (VP) é obtido pela ponderação entre cronograma executivo e sua relação com o orçamento baseline. Assim, pode apresentar distorções na análise. Tal distorção pode ser eliminada, adicionando-se a Análise de Valor Agregado (AVA). Esta é outra técnica denominada Análise da Duração Agregada (ADA).
Conclusão
Não importa qual o tamanho, porte ou característica do seu projeto. A Análise de Valor Agregado (AVA) é uma técnica fundamental para que você analise a performance e as tendências de custo e prazo de seu Empreendimento. Ela deve vir acompanhada de um profundo conhecimento do dia-a-dia da obra.
Nos processos de coordenação de projetos executivos e gerenciamento de obras, temos na Análise de Valor Agregado (AVA), em conjunto com outras técnicas e ferramentas uma estrutura que nos permite obter altos índices de previsibilidade e assertividade com relação ao desempenho do projeto.
Alguns outros artigos podem ser úteis para aprofundar o conhecimento.
Um deles traz 7 dicas para fazer orçamento para obras.
Há, ainda, uma série de e-books elaborados pelo Aldo Dórea Mattos com os 10 erros mais comuns em orçamentos de obras. É imperdível!
——
Escrito originalmente por: Alexandre Abdala – Diretor Administrativo Financeiro da DOX
Administrador de Empresas com 11 anos de experiência na área Financeira, Controladoria e Tecnologia da Informação em empresas de pequeno, médio e grande porte nacional e multinacional nos segmentos da Construção Civil, Tecnologia da Informação, Indústria, Serviços e Varejo.
Membro associado do PMI – Project Management Institute, da IPMA – International Project Management Association e certificado na metodologia inglesa de gerenciamento de projetos PRINCE2™.