O WEF – Fórum Econômico Mundial de Davos 2018, em colaboração com o Boston Consulting Group publicaram o relatório “Towards a Reskilling Revolution” no qual são expostos os desafios do problema da reciclagem e requalificação dos trabalhadores diante das mudanças provocadas pela convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas – a 4ª Revolução Industrial.
O conceito de Job family
O relatório do WEF foi dirigido para a situação do emprego nos EUA e incorpora a nomenclatura adotada pela rede de informação ocupacional (O*NET), desenvolvida sob o patrocínio do U.S. Department of Labor/Employment and Training Administration (USDOL/ETA).
Assim, os resultados do relatório foram classificados por “job families”, ou grupos de ocupações similares, baseadas na especificação do trabalho realizado e em seus requisitos de habilidades, nível de educação formal, treinamentos e certificações.
Dentre estas, destacam-se as ‘job families’:
(a) Architecture and Engineering;
(b) Construction and Extraction.
Consulte a composição das ocupações das ‘job families’ em destaque.
Otimismo com o crescimento de empregos de engenharia e construção
O primeiro resultado que chama a atenção no relatório diz respeito as projeções 2016-2026 feitas pelo US Bureau of Labor Statistics que, apesar do intenso debate acerca da interrupção de empregos nos mercados globais de trabalho nos próximos anos, preveem um resultado otimista de crescimento estrutural do emprego de 12,4 milhões de novos empregos contra um declínio de 1,4 milhão de empregos redundantes.
Em consonância com os resultados gerais do país, especificamente sobre as duas ‘job families’ mencionadas acima, a Tabela 1 aponta resultados igualmente otimistas com a geração de empregos.
Tabela 1: Situação das mudanças projetadas nos empregos nos EUA até 2026
Transições de carreira entre as job families
Na sequência, o relatório do WEF expõe os resultados da pesquisa realizada através de metodologia baseada em algoritmos de otimização cognitivos e big data em bancos de dados públicos e privados, nos quais observa-se a quantificação de potenciais transições de trabalho entre ‘job families’ apontadas como ‘good-fit’ para as duas ‘job families’ em destaque.
Tabela 2: Transições de trabalho viáveis e desejáveis entre as ‘job families’ até 2026
Arquitetura e Engenharia em alta
Chama a atenção não haverem sido relatadas transições adequadas (‘good-fit’) ocorridas a partir da ‘job family’ de Architecture and Engineering para outras ‘job families’.
Considerando que a pesquisa da WEF se ateve apenas as transições de carreiras ditas viáveis (realizadas na direção de trabalhos com menor ameaça de extinção devido aos impactos da disrupção tecnológica) e desejáveis (sob o ponto de vista da disposição e da sustentação financeira proporcionada pela nova carreira), pode-se especular que as ocupações da ‘job family’ de Architecture and Engineering encontram-se em alta e em maior sintonia com as mudanças ditadas pelo trabalho que se vislumbra no futuro, não sendo adequado/conveniente migrar para outras ocupações mais afetadas pela disrupção tecnológica.
Deslocamentos para fora e para dentro da job family de Construction and Extraction
Outro resultado interessante aponta para os deslocamentos relatados na ‘job family’ de Construction and Extraction. Por um lado, os resultados apontam para a migração de 1,2 milhões de trabalhadores das ocupações da construção para outras famílias de empregos, especificamente para as ‘job families’:
(a) Architecture and Engineering;
(b) Arts, Design, Entertainment, Sports and Media;
(c) Installation, Maintenance and Repair;
(d) Protective Service;
(e) Transportation, além da migração entre ocupações dentro da própria família de Construction and Extraction.
Por outro lado, a pesquisa revela que a ‘job family’ de Construction and Extraction deverá receber 324,1 milhões de trabalhadores provenientes de outras ‘job families’ ameaçadas pela disrupção tecnológica.
Ou seja, a família de carreiras da construção é considerada alvo para a transição de carreiras de trabalhadores de outras áreas e tende a ser ‘invadida’ por profissionais que nela apostam para superar as perdas de emprego em suas ocupações originais.
É melhor ficar na área
A pesquisa do WEF é útil para apontar a importância e a adequação das ocupações que compõem as famílias de empregos da Engenharia e Construção no processo de disrupção tecnológica provocado ao trabalho pela dita 4a revolução industrial. Em suma, a conclusão é a de que permanecer na carreira tende a ser menos arriscado do que se aventurar fora dela. Obviamente, considerando que permanecer na carreira implica em atualizações constantes e aprendizagem contínua.
Quer saber mais sobre Reskilling Profissional? Leia este artigo!
Por:
Alonso Mazini Soler, Doutor em Engenharia de Produção POLI/USP, Professor da Pós Graduação do Insper e da Plataforma LIT Saint Paul. Sócio da Schédio Engenharia Consultiva – alonso.soler@schedio.com.br