A importância da correta gestão de resíduos na construção civil fica evidente diante desta informação: o volume de entulho gerado pelo setor é duas vez maior que o volume de resíduos sólidos urbanos.
Além disso, a crescente cobrança da sociedade e novas exigências legais têm exigido que as construtoras dediquem cada vez mais atenção à gestão de resíduos na construção civil, em prol da responsabilidade ambiental.
Por incrível que pareça, 90% desses resíduos poderia ser reciclado! Imagine a enorme economia que isso geraria para o setor, além da preservação dos recursos naturais.
Nesse sentido, a gestão dos resíduos sólidos se encaixa perfeitamente, com o objetivo de gerar economia, preservação do meio ambiente e outros benefícios.
O que são resíduos da construção civil?
O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) considera resíduo da construção o entulho proveniente de obras, reformas, reparos e demolições. Também enquadram-se nesse grupo os resíduos resultantes da preparação e da escavação de terrenos.
Classificação dos Resíduos
O Conama, em sua resolução 307, classifica os resíduos sólidos da construção civil em quatro classes nomeadas de A a E. Confira:
Classe A – são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como:
- a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem;
- b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto;
- c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos, meio-fios etc.) produzidas nos canteiros de obras;
Classe B – são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como plásticos, papel, papelão, metais, vidros, madeiras, embalagens vazias de tintas imobiliárias e gesso;
Classe C – são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem ou recuperação;
Classe D – são resíduos perigosos oriundos do processo de construção.
Os resíduos sólidos podem ser classificados, ainda, de acordo com o perigo que proporcionam, em três categorias:
- Classe I – resíduos perigosos;
- Classe II – não inertes (contaminados);
- Classe III – inertes.
Os resíduos de construção e demolição (RCD) são predominantemente de Classe III, embora, devido à poluição, possam ser classificados como de Classe II.
Por que fazer a gestão de resíduos sólidos na construção civil?
Apesar de haver legislação sobre o tema, no Brasil, grande parte das empresas de construção civil ainda não fazem a gestão de resíduos na construção civil de forma adequada. Além dos impactos ambientais, isso gera desperdício e perdas para o setor.
Um dos principais problemas na construção civil, na maior parte das cidades do País, é o descarte irregular de resíduos oriundos de construções e demolições. Isso causa poluição ambiental, degradação visual e comprometimento da mobilidade urbana.
Além disso, a liberação de partículas de poeira nas atividades de construção civil também agrava o impacto ambiental causado pelo setor.
A correta gestão de resíduos na construção civil no canteiro de obras poderia reduzir consideravelmente esses índices de perda, desperdício e poluição.
Como é feita a gestão de resíduos da construção civil?
A gestão de resíduos é feita com base na classificação que vimos anteriormente. A partir dela, é possível saber a destinação dos produtos. Confira quais os procedimentos adotados para cada categoria de resíduos da construção civil.
- Resíduos de Classe A: São reutilizados ou reciclados na forma de agregados, ou encaminhados a áreas de aterro de resíduos da construção civil. Também são dispostos de modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura.
- Resíduos de Classe B: São reutilizados, reciclados ou encaminhados a áreas de armazenamento temporário. São dispostos de modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura.
- Resíduos de Classe C: São armazenados, transportados e destinados em conformidade com as normas técnicas específicas.
- Resíduos de Classe D: São armazenados, transportados, reutilizados e destinados em conformidade com as normas técnicas específicas. Os resíduos nocivos à saúde, como aqueles que contêm amianto, foram incluídos nesta Classe pela Resolução nº 348/2004.
Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil
A Política Nacional de Resíduos Sólidos e a Resolução nº 307 do Conama estabelecem a elaboração e a implantação, pelos geradores, do Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PGRCC). Trata-se de um procedimento fundamental para a correta gestão de resíduos da construção civil.
Esses planos devem ser elaborados pelos grandes geradores e deverão estabelecer os procedimentos para o manejo e destinação ambientalmente adequados dos resíduos.
Os empreendimentos que necessitam de licenciamento ambiental deverão ter seus PGRCC analisados dentro do processo de licenciamento, junto ao órgão ambiental. O Plano deve contemplar 5 etapas principais:
- Caracterização: nesta etapa o gerador deverá identificar e quantificar os resíduos;
- Triagem: deverá ser realizada, preferencialmente, pelo gerador na origem, ou ser realizada nas áreas de destinação licenciadas para essa finalidade, respeitando as classes dos resíduos;
- Acondicionamento: o gerador deve garantir o confinamento dos resíduos após a geração até a etapa de transporte, assegurando em todos os casos em que seja possível, as condições de reutilização e de reciclagem;
- Transporte: deverá ser realizado em conformidade com as etapas anteriores e de acordo com as normas técnicas vigentes para o transporte de resíduos;
- Destinação: deverá ser prevista de acordo com a classificação de cada resíduos.
Além disso, ele prevê direcionamentos para a destinação e também para a reutilização e reciclagem desses materiais.
Remoção dos resíduos do canteiro
A coleta e remoção dos resíduos do canteiro de obras devem ser realizadas por transportadores licenciadas. O serviço deverá ser controlado mediante o preenchimento do Controle de Transporte de Resíduo. Trata-se de uma ficha com os dados do gerador, tipo e quantidade de resíduo, dados do transportador e dados do local de destinação final.
O gerador deve guardar uma via deste documento assinado pelo transportador e destinatário dos resíduos. Será sua garantia de que destinou adequadamente os resíduos.
Reutilização e reciclagem
De acordo com a legislação, o princípio da reutilização e reciclagem deve nortear toda a obra de construção. Dessa forma, os materiais que seriam descartados, gerando perdas financeiras e ambientais, podem ser reinseridos na construção.
Os materiais que não podem ser reutilizados de forma direta na obra, mas são recicláveis, podem ser reciclados dentro da própria obra ou fora do canteiro.
Como diminuir a geração de resíduos na construção?
Construir de forma mais racional, gerando menos desperdícios, é fundamental não apenas para diminuir o volume de resíduos gerados. Trata-se de uma questão financeira e que comprova o porquê de a gestão de resíduos na construção civil ser uma atividade estratégica.
A seguir, elenco algumas ações simples que podem fazer grande diferença para reduzir o volume de resíduos gerados nos canteiros de obras.
Atividades estratégicas na gestão de resíduos na construção civil:
- Planejamento: Invista em planejamento. Com um bom planejamento, sua construtora pode evitar perda de materiais, de recursos financeiros e até mesmo da mão de obra
- Canteiro de obras: Utilize um layout inteligente de canteiro de obras, que evite perdas no transporte do depósito ao local de uso
- Qualificação profissional: Aposte no treinamento dos funcionários com relação ao manejo e à segregação de resíduos
- Armazenamento: Armazene os materiais da forma correta para evitar quebras
- Gestão: Tenha líderes que reportem ao engenheiro da obra as ocorrências diárias e que auditem a produção de argamassa, por exemplo
- Identificação: Identifique os locais de despejo dos resíduos conforme suas características
- Tecnologia: Invista em tecnologias construtivas que permitam reduzir os desperdícios de materiais na obra. Para se ter uma ideia, obras residenciais ou comerciais que utilizam processos construtivos convencionais (estrutura de concreto armado e alvenaria com blocos de concreto ou cerâmicos) geram entre 0,10 e 0,15 m³ de resíduos da construção civil (RCC) /m² de área construída. Um dos exemplos é a construção off site, em que parte da execução se dá fora do canteiro
- Reutilização: Procure utilizar RCD (resíduos da construção civil) no próprio canteiro. A fração mineral é a parcela dos RCD com presença mais significativa e que pode ser reciclada no próprio canteiro de obras
Gestão de resíduos sólidos na construção civil é fundamental
Como setor da economia que mais gera resíduos sólidos, a construção civil necessita investir no correto gerenciamento de todo o ciclo produtivo.
Sempre que se inicia uma obra, o construtor deve apresentar o Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PGRCC) do empreendimento para o órgão fiscalizador.
A fiscalização, ao término da obra, irá comparar a quantidade estimada com a realizada de resíduos pelos documentos da sua empresa e da empresa contratada para coleta.
A gestão de resíduos na construção civil é um assunto que não deve ser tratado apenas como obrigação das construtoras. Pode ser muito vantajoso para a economia da empresa e preservação do meio ambiente, evitando a poluição.
Seguir a legislação e ter um bom plano de gerenciamento pode ser a chave para assegurar um gestão de resíduos sólidos na construção civil de modo efetivo.