Se você é atento ao mercado da construção civil, já deve ter notado a valorização dos empreendimentos desenvolvidos com a preocupação de reduzir o impacto ambiental e poupar recursos naturais. Isso não ocorre por acaso: a indústria da construção é responsável por 38% das emissões globais de dióxido de carbono (CO2), segundo relatório da ONU.
Esse movimento global de conscientização se firmou como tendência e trouxe novos conceitos aos profissionais de arquitetura e construção: greenbuildings, selos verdes, permacultura e… bioarquitetura!
Este último é o tema principal deste artigo. Até o final do texto, você vai entender como a bioarquitetura é aplicada a todo tipo de obra e pode ser um diferencial nos seus negócios.
O que é bioarquitetura?
A bioarquitetura nada mais é do que aplicar um conceito bem elementar na concepção e na construção de edificações. Ou seja, a preservação ambiental e da vida no planeta em seus diversos ecossistemas.
Sob o guarda-chuva “bioarquitetura” estão as construções ecológicas, as construções sustentáveis e as bioclimáticas (adaptadas ao clima).
Ao criar uma edificação tendo como base a bioarquitetura, a escolha por tecnologias, métodos construtivos e materiais deixa de estar restrita aos aspectos técnicos e estéticos. Essa concepção considera todo o ciclo de vida útil e a cadeia produtiva dos materiais.
Qual o impacto visual da bioarquitetura?
Com relação ao design, a bioarquitetura privilegia o uso de formas orgânicas e naturais. São construções que se assemelham e, em muitos casos, se misturam aos ambientes naturais onde estão inseridas.
Dica: esta reportagem da TV Brasil aborda diversos aspectos da bioarquitetura e traz uma entrevista com o já falecido arquiteto holandês Johan Van Lengen, fundador do Instituto Tibá Rio (Tecnologia Intuitiva e Bioarquitetura) e autor do livro “Manual do Arquiteto Descalço”.
5 mandamentos da bioarquitetura
Você ainda pode estar se perguntando: como a bioarquitetura é aplicada na prática? Saiba que é possível utilizar seus princípios em projetos de diferentes tipologias e dimensões.
O conceito prevalece no aproveitamento das características climáticas de cada região para gerar conforto térmico, acústico e lumínico, por exemplo. Ou então em dar preferência ao uso de materiais, soluções e mão de obra regionais.
Anote cinco mandamentos da bioarquitetura que constam nesta apostila editada pelo Ministério do Meio Ambiente:
1. Resíduos podem ser recursos
Resíduo pode ser considerado tudo o que sobra em algum processo, como restos de construção, pedaços de madeira, água cinza, lixo seco. Na bioarquitetura, o tratamento adequado dos resíduos pode garantir que parte desse material seja reaproveitado no projeto de uma nova construção. O lixo orgânico, por exemplo, é útil como adubo no jardim.
2. Valorize a arquitetura tradicional
A industrialização contribuiu para a padronização de empreendimentos, multiplicando em larga escala o uso dos mesmos projetos arquitetônicos e materiais. Os conceitos de bioarquitetura e bioconstrução sugerem o resgate de técnicas tradicionais de construção, que consideram o clima, a cultura local e o ambiente natural.
3. Considere o clima local
Tenha atenção ao clima local. Construções nas regiões mais quentes do país pedem áreas bem ventiladas e sombreadas. Estruturas de madeira podem servir de suporte para plantas e gerar sombra. Em climas muito secos, a vegetação ao redor da casa cria um microclima de umidade.
4. Aproveite as energias naturais
Aproveite as energias da natureza, como o sol e o vento. Planeje aberturas de modo que todos os ambientes estejam sempre ventilados. Escolha janelas bem localizadas e bem dimensionadas para aproveitar a iluminação natural durante o dia.
5. Utilize materiais locais
A preferência no processo construtivo deve voltar atenções para os materiais locais, desde que disponíveis na região. Por exemplo:
- Terra: Pode ser aproveitada como parede de taipa e adobe, ajudando a controlar a entrada e saída de calor e umidade. Seu impacto ambiental é mínimo.
- Pedra: São úteis na construção de muros, paredes, fornos e como apoio na fundação da edificação.
- Palha: Pode ser usada na construção de telhados e para melhorar a resistência de outros materiais em coberturas. Quando usada na forma de fardo, é útil inclusive na composição de paredes.
- Madeira: É um recurso considerado renovável quando utilizado de maneira consciente. Se a opção do projeto for pela madeira local, é necessário um planejamento do manejo sustentável do ecossistema.
- Bambu: Também é considerada uma madeira ecológica, com crescimento rápido e grande resistência.
Técnicas tradicionais da bioconstrução
A bioarquitetura costuma privilegiar matérias-primas como terra, pedra, areia, argila, fibras naturais, bambu, pau a pique, adobe (terra crua) e cimento queimado. Todos esses materiais são empregados há séculos em técnicas tradicionais da bioconstrução. Conheça algumas abaixo:
- Adobe: Tijolo de barro e palha mesclados, moldado e seco naturalmente ao sol (não utiliza cimento nem processo de queima)
- Superadobe: Técnica que utiliza sacos com terra comprimida para fazer paredes e coberturas.
- COB: Técnica de construção com argila, areia e terra moldadas na forma desejada. Pode ser executada com pás, enxadas, pés e mãos.
- Taipa de mão: Técnica introduzida no Brasil pelos portugueses. Consiste na construção de quadros preenchidos por trama de galhos ou bambus.
- Taipa de pilão: Técnica de construção com terra socada com um pilão em uma forma de madeira (taipa). Utiliza-se terra, madeira e pregos.
- Solocimento: Tijolo prensado feito de areia, argila e cimento. Não são queimados como tijolos comuns.
- Fardos de palha: Espécie de alvenaria feita com fardos de palha. Trata-se de uma técnica de rápida execução, de baixo custo e muito durável.
Bioarquitetura não significa desconforto
Você não precisa abrir mão do conforto para viver em uma edificação sustentável e ecológica, ok? Um princípio da bioarquitetura é justamente buscar o equilíbrio entre as tecnologias disponíveis e a chamada arquitetura vernacular. Ou seja, aquela que aproveita os materiais naturais e a cultura local.
Um exemplo desta combinação está na instalação de placas fotovoltaicas nas edificações para prover energia limpa. Podemos continuar explorando as novas tecnologias, mas com uma conta de energia muito menor e ainda ajudar ao meio ambiente.
Este Guia das Soluções Ecoeficientes traz um capítulo inteiro dedicado ao uso de sistemas de climatização, iluminação e aparelhos mais eficientes e com menor consumo de energia. Anote esses exemplos:
- Aquecedor solar – Aquece a água usando energia do sol
- Placa fotovoltaica – Produz energia elétrica a partir da energia solar
- Forno solar – Proporciona preparo de alimentos com energia solar
- Lâmpadas de LED – Tem alta durabilidade e economiza energia elétrica
O guia também apresenta cinco exemplos práticos de paisagismo produtivo, muito bem-vindos no conceito de bioarquitetura:
- Aquaponia – Ciclo fechado de produção de peixes e hortaliças no qual os excrementos dos peixes alimentam as plantas, e as plantas filtram a água do peixe
- Telhado verde – Controla a temperatura, a umidade, absorve ruídos e purifica o ar local e do entorno por meio de um terraço agradável
- Jardim vertical – Controla a temperatura, a umidade, absorve ruídos e purifica o ar local e do entorno
- Horta vertical – Produz localmente e de forma otimizada, sem liberar substâncias químicas nos alimentos
- Horta urbana – Capta água de chuva e consome 80% menos água do que sistemas de cultivo convencionais
Vantagens de uma construção verde
Você ainda tem dúvidas se deve apostar na bioarquitetura? O e-book Construções Verdes – os desafios e vantagens das construções sustentáveis, elaborado pela CBIC, lista benefícios e vantagens da construção verde. Veja os principais pontos:
- Redução de emissões na cadeia produtiva
- Eficiência energética das edificações
- Uso racional da água
- Utilização de materiais e sistemas sustentáveis
- Gestão de resíduos sólidos
- Viabilização do desenvolvimento sustentável no espaço urbano
- Valorização do ser humano
A publicação ainda destaca que a construção verde reduz custos no processo construtivo e minimiza os custos mensais do consumidor final. Isto valoriza o empreendimento e proporciona melhor qualidade de vida aos seus usuários!
Conclusão
A construção civil brasileira tem incorporado a bioarquitetura de forma gradativa e ainda como uma proposta alternativa, mas é certo que o conceito veio para ficar. Diante da finitude de recursos, o futuro desta indústria está atrelado às práticas de sustentabilidade e atenção ao meio ambiente.
Mais do que isto: com o despertar da consciência ecológica, o seu próximo cliente pode ser alguém preocupado com o impacto da construção na preservação do planeta. Corresponder a essas expectativas, portanto, também pode ser um ótimo negócio!
Antes de fechar a página, que tal conferir mais alguns artigos que têm tudo a ver com a sustentabilidade na construção?
Relatório Sienge – O Uso Da Sustentabilidade Para Aumentar As Vendas Na Construção Civil
Saiba quais critérios de sustentabilidade aplicar nas suas obras
Sustentabilidade na Construção Civil: 4 práticas que ajudam o meio ambiente