Mulheres na Construção: sim, elas estão ocupando os canteiros de obra

Helena Dutra

Escrito por Helena Dutra

8 de março 2023| 11 min. de leitura

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Mulheres na Construção: sim, elas estão ocupando os canteiros de obra

Embora a construção civil ainda seja um setor dominado pelos homens, pesquisas evidenciam que a força de trabalho feminina está aumentando  nos escritórios de engenharia e canteiros de obra do Brasil.

Felizmente, existem cada vez mais mulheres dispostas a enfrentar e vencer a desigualdade, o preconceito e o assédio, pavimentando uma carreira no segmento. Assim, vão também derrubando mitos, como o de que o gênero feminino não tem vocação para as ciências exatas.

Segundo dados do Ministério do Trabalho e da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), a participação das mulheres na construção civil teve um leve aumento entre 2019 e 2021 – último ano com dados disponíveis. No início do período, elas representavam 10,32% da força de trabalho nos canteiros brasileiros. No último levantamento, eram 10,85%.

Como veremos, nos últimos anos essa tendência vem se fortalecendo. Siga a leitura!

Mulheres nos cursos de Engenharia

Há cada vez mais jovens recém-saídas do Ensino Médio optando por ingressar em faculdades de Engenharia.

Entre 2003 e 2013, o número de mulheres nos cursos de Engenharia passou de 24.554 para 57.022. Trata-se de um crescimento de 132,2%. Esses números foram divulgados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em estudo para a Federação Nacional dos Engenheiros (FNE).

Em relação aos cursos de Engenharia Civil, dados do Censo da Educação Superior apontam que o número de mulheres matriculadas vem aumentando nos últimos anos. Em 2021, último período com dados disponíveis, as mulheres ocupavam 29,3% dessas vagas.

Mercado de trabalho

mulheres na construção

Mas como as engenheiras civis estão se inserindo no mercado de trabalho?

O gênero feminino ainda é minoria nos postos de trabalho do setor. Atualmente, dos 422.385 profissionais de Engenharia Civil registrados no Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), 96.643 são mulheres. Ou seja, apenas 22,9% do total, ou 1 mulher a cada 3 homens, aproximadamente.

Além disso, a desigualdade de gênero na Engenharia Civil também afeta os salários. A remuneração dos homens continua sendo maior do que a das mulheres.

Em 2004 e 2003, os homens ganharam cerca de 33% a mais do que as mulheres na construção – e isso no mesmo cargo. Essa informação foi revelada na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) sobre o rendimento médio mensal entre homens e mulheres com carteira assinada.

Entretanto, espera-se que, com a conscientização da sociedade e a consolidação da presença feminina no setor, essa disparidade desapareça com o tempo.

Modernização

A presença feminina não está crescendo somente nos cursos e escritórios de Engenharia Civil. Aos poucos, elas também estão ocupando os canteiros de obra, onde são reconhecidas por serem cuidadosas, perfeccionistas e responsáveis.

Alguns fatores incentivaram essa mudança cultural. Entre eles, estão o aporte de novas tecnologias para a construção e as iniciativas do poder público e do terceiro setor.

mulheres na construção

Mulheres na construção – canteiro de obras

O trabalho na construção civil costuma exigir intenso esforço físico. Assim, as diferenças fisiológicas entre homens e mulheres são uma das causas para afastar as mulheres dos canteiros de obra.

Em média, as mulheres possuem cerca de 52% da força dos homens na parte superior do corpo e 66% na parte inferior. Por isso, existem normas que incluem garantias para a saúde e segurança das trabalhadoras.

Uma delas é a  Norma Regulamentadora (NR) 17, que trata da ergonomia na construção civil. Seu item 17.2.5 determina que as mulheres devem carregar peso máximo inferior àquele admitido para os homens.

Contudo, a chegada de novas tecnologias na construção civil está mudando os processos de trabalho. Agora, muitas tarefas braçais passaram a ser executadas por máquinas. Como exemplo, podemos citar a grua, utilizada para elevação e a movimentação de cargas e materiais pesados.

Além disso, os materiais estão se tornando cada vez mais leves e fabricados em formatos pré-moldados. Isso facilita os procedimentos de montagem e instalação, favorecendo a contratação de mulheres nessa indústria.

Para saber mais sobre o dia a dia de uma mulher no canteiro de obras, não perca a entrevista com Márcia Cristina, a primeira mestre de obras do Brasil.

Transformações no setor

Com podemos perceber, a construção civil está atravessando uma grande transformação deflagrada pelas novas tecnologias. Ainda que o setor seja o segundo mais lento em absorver inovações, os impactos da revolução digital já podem ser sentidos.

Por um lado, a chegada de equipamentos e produtos de ponta ao canteiro de obras aumenta a economia e produtividade. Por outro, atrai o fantasma do desemprego, já que a indústria vem absorvendo com rapidez máquinas capazes de substituir a mão de obra humana. Quanto mais automação, menos necessidade de pessoas.

Neste cenário de mudanças, a capacidade de executar tarefas que requerem apuro técnico e atenção aos detalhes está sendo cada vez mais valorizada, e o talento das mulheres nesse campo é reconhecido pela indústria.

Assim, elas estão sendo requisitadas para atividades como pintura, instalações elétricas e hidráulico-sanitárias, serralheria, marcenaria, restauração e acabamento. Suas habilidades incluem colocação de gesso, aplicação de cerâmica, assentamento de tijolos, bem como chapisco, emboço e reboco.

LEIA TAMBÉM: 10 DICAS PARA AUMENTAR A EFICIÊNCIA NO CANTEIRO DE OBRAS

Incentivos

Já existem vários projetos no Brasil para qualificar a mão de obra feminina na construção civil, seja por iniciativa do Poder Público, seja por iniciativa de empresas privadas e do terceiro setor. 

Leis

Em âmbito municipal, por exemplo, uma das iniciativas mais recentes veio de Guarapuava, no Paraná. Em julho de 2017, o prefeito Cesar Silvestri Filho sancionou lei exigindo que as empresas de construção civil que prestam serviços ao município tenham no mínimo 10% de suas vagas ocupadas por mulheres. Confira a matéria do Paraná TV 2ª edição sobre o assunto.

Recentemente, o governo federal criou, por meio da Lei 14.457/2022, o Programa Emprega + Mulheres destinado à inserção e manutenção das mulheres no mercado de trabalho. Entre as novidades implementadas no novo texto, destacam-se:

  • A flexibilização da jornada de trabalho para mães e pais que tenham filhos com até seis anos ou com deficiência.
  • A concessão de mais 60 dias de licença-maternidade nas empresas cidadãs. Esses dois meses extras poderão ser compartilhados com o companheiro, se ele também trabalhar em uma empresa cidadã. De acordo com a lei, se a mãe optar pelos 6 meses, esses 60 dias poderão ser substituídos por um período de 120 dias com meia-jornada.
  • Aumento de dois para seis dias para que o companheiro acompanhe a grávida em consultas e exames.
  • Previsão, por empresas com no mínimo 30 funcionárias mulheres, de espaço próprio e adequado para acomodação dos filhos durante o período da amamentação. Ou, na impossibilidade de implantação, oferta de reembolso-creche para as funcionárias.
  • Ampliação para 5 anos e 11 meses a idade máxima para a criança ter direito a auxílio-creche.
  • Fortalecimento do sistema de qualificação de mulheres vítimas de violência doméstica.
  • Estabelecimento, pelas empresas com Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), de regras de conduta a respeito do assédio sexual e de outras formas de violência nas normas internas da empresa, com ampla divulgação do seu conteúdo aos empregados e às empregadas, bem como procedimentos de denúncia.
  • Determinação que mulheres recebam o mesmo salário dos homens que exerçam a mesma função na empresa.

Terceiro setor

mulheres na construção O terceiro setor também vem se articulando para estimular o ingresso das mulheres na construção. Das iniciativas existentes, destacam-se o projeto Mão na Massa, no Rio de Janeiro, e a ONG Mulheres em Construção, no Rio Grande do Sul.

Essas propostas têm o objetivo de oferecer cursos de formação na área da construção civil para mulheres. Assim, contribuem para promover a autonomia e empoderamento das trabalhadoras. Entre as beneficiadas, estão principalmente mulheres em situação de vulnerabilidade socioeconômica e de violência doméstica.

Tendo formado mais de 1.200 mulheres desde 2007, o Projeto Mão na Massa viu 78% das ex-alunas passarem a exercer profissões na Construção Civil. Mais de 50% delas trabalham em empresas, enquanto várias optaram por fazer obras para terceiros ou abrir seu próprio negócio.

Conclusão

Como podemos perceber, estamos longe de vencer a desigualdade de gênero. Em um ambiente como o da construção civil, onde predominam os homens, esse desafio se torna ainda maior.

Entretanto, a capacidade técnica, força de trabalho e articulação das mulheres na luta por seus direitos estão promovendo progressivas mudanças socioculturais. Isso está impulsionando o progresso feminino no setor. Como resultado, estão surgindo novas gerações de engenheiras e operárias com cada vez mais oportunidades e reconhecimento profissional.

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