Construções feitas com o uso de bloco ecológico, tal como tijolo de terra compactada não são novidade, mas estão em alta agora que a sustentabilidade na construção civil está em evidência. A Muralha da China, por exemplo, que começou a ser construída em 215 a.C, foi feita com tijolos feitos de uma argamassa a base de barro e farinha de arroz. Esses tijolos resistentes eram aquecidos a 1150ºC e transportados por 80km até a construção. A técnica milenar sobreviveu ao teste do tempo, afinal boa parte da muralha está de pé ainda hoje, mesmo com a erosão.
Na verdade, se formos olhar para a evolução dos tijolos e argamassas, muitos dos materiais de construção eram feitos com barro ou pedras misturados à gorduras, fibras animais e outros materiais que faziam as vezes de cola. Até hoje esses métodos são muito utilizados em regiões menos industrializadas, e agora, modernizados, podem ser usados em todos os tipos de construções.
Porém, quando pensamos nos materiais de construção para usar nas nossas obras, é preciso garantir que a qualidade seja mantida. Para usar algo em substituição ao tijolo e aos bloco ecológico tradicionais, é necessário que a mesma durabilidade, resistência e qualidade sejam garantidas. As características de um tijolo feito de barro dependem das propriedades do solo, da compactação, dos materiais secundários utilizados, etc. Por isso, a durabilidade e a resistência podem variar conforme o produtor, e é necessário avaliar qual marca e tipo de tijolo são os mais indicados para cada tipo de obra.
Tijolos de Mariana
Uma iniciativa que ganhou notoriedade neste ano foi o projeto Tijolos de Mariana. Os tijolos são feitos a partir de uma técnica desenvolvida em laboratório da UFMG, que consegue reaproveitar o solo contaminado com os resíduos da mineração. No caso do Tijolos de Mariana, esses tijolos estão sendo feitos de forma artesanal e reaproveitando o material da barragem que se rompeu na cidade de Mariana, em Minas Gerais, em novembro de 2015. Havia um projeto de transformar a produção para a escala industrial via financiamento coletivo, mas não foi possível levantar fundos suficientes e portanto o projeto foi adiado. A produção artesanal, porém, continua.
BTC (bloco de terra comprimida)
O bloco de terra comprimida (BTC) ou mais conhecido como tijolo ecológico, é um tijolo composto por solo (areia arenosa), água, normalmente estabilizado com um pouco de cimento ou cal e comprimido em prensas mecânicas. Similar ao adobe, diferencia-se por ser ter a composição mais estável e, geralmente, por ser prensado. .
Os tijolos BTC, também chamados de solo cimento, em geral não requerem massa de assentamento, consomem menos ferro e concreto nas vergas, cintas e grautes e dispensam o uso de madeira, estribos e arame para construção de vigas e pilares para apoio da laje. Porém, é importante ressaltar que o acompanhamento de um profissional de engenharia é essencial para o uso correto dos BTCs. Eles tem a característica de proporcionarem conforto térmico em regiões de altas temperaturas e precisam de uma fundação de cerca de 60cm em material isolante de umidade (como pedra, por exemplo) para evitar o desgaste causado pela infiltração. É também essencial proteger as estruturas feitas de BTC da chuva, garantindo telhados com beirais. Lembrando que esses dados são uma aproximação das situações mais comuns, e as propriedades dos BTCs podem variar de acordo com a marca e técnica de produção.
Uma das tecnologias construtivas ecológicas mais difundidas no Brasil, o BTC virou sinônimo de tijolo ecológico, devido ao reduzido uso de cimento e por dispensar a queima (ou cozimento) de tijolos, o que contribui diretamente para a diminuição do desmatamento (a lenha seria utilizada para a queima do tijolo). O preço do material também costuma ser menor, fazendo do BTC uma alternativa para construir casas de baixo custo. É importante ressaltar que, dependendo da característica de resistência e das propriedades do BTC escolhido, não é recomendado o seu uso para construções altas.
Bloco verde: bloco de construção a base de rejeitos da maricultura
O cultivo de moluscos, também chamado de maricultura, gera muitos resíduos com o descarte das conchas que já foram “colhidas”. O que acontece é que a maior parte dessas conchas descartadas é jogada em terrenos baldios ou no fundo do mar, onde o acúmulo pode tornar as baías mais rasas e, assim, impedir a circulação de água. Tudo isso prejudica a própria maricultura, que necessita de água limpa.
Para resolver esse problema gerado pelos rejeitos, uma empresa de Biguaçu, em Santa Catarina (o estado com maior produção de moluscos do país) desenvolveu um bloco ecológico através do projeto Bloco Verde. No centro da reciclagem da empresa, foram desenvolvidos blocos de concreto agregado combinando resíduos da construção civil e rejeitos gerados pela maricultura. A matéria-prima acaba sendo o pó de conchas de ostras e de mariscos misturada ao “entulho” da construção.
As características físicas e de processo de fabricação do bloco ecológico verde são: leveza considerável do material, 30% mais resistente que blocos comuns, redução de custo em uma obra, a água usada no processo é reaproveitada e uma vida útil de mais de 50 anos.