Projeto arquitetônico: o que é e para que serve?

Marília Gaspar

Escrito por Marília Gaspar

20 de novembro 2020| 11 min. de leitura

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Projeto arquitetônico: o que é e para que serve?

Para muitos o projeto arquitetônico ainda não é visto como uma etapa essencial da obra, pois o consideram um gasto supérfluo que só leva em consideração a estética. Mas o projeto arquitetônico vai muito além disso.

Segundo a arquiteta Sílvia Odebrecht, em seu livro Projeto Arquitetônico, a função da arquitetura é “resolver problemas de ordem funcional e de ordem estética, observando o contexto em que se inserem, tanto o físico, como o cultural, o socioeconômico e o tecnológico.”

O projeto arquitetônico é, portanto, a materialização da concepção. É por meio dele que as ideias deixam de ser abstratas e tomam forma. Trata-se da evolução do esboço em um guardanapo para um desenho técnico representado e com viabilidade de execução.

O conhecimento técnico e o planejamento que o projeto arquitetônico leva para a obra são capazes de agregar qualidade e, consequentemente, valor a ela. Neste artigo, vamos mostrar os benefícios e como ele pode abranger suas possibilidades de negócio.

Etapas do projeto arquitetônico

Para facilitar, listamos a seguir as três principais etapas de um projeto arquitetônico. Vamos conhecê-las!

1) Entrevista e elaboração do programa de necessidades

Normalmente, o projeto arquitetônico começa com uma entrevista do arquiteto com o cliente. Esse pode ser tanto uma família que vai construir a casa dos sonhos, um empreendedor que vai abrir uma loja ou um incorporador que deseja a maior lucratividade possível na comercialização de um prédio de apartamentos.

É momento no qual o cliente vai falar tudo o que deseja com a obra. A quantidade e a especificidade de cada ambiente, o padrão e a expectativa de custo, o tipo de técnica construtiva e os materiais desejados.

Para isso, podem ser mostradas referências que agradem o cliente para se alinhar ao que espera.

2) Anteprojeto

O anteprojeto é a primeira proposta gráfica que o arquiteto apresenta para o cliente, para que a partir disso sejam feitas revisões e considerações.

Não existe uma especificação determinada da forma de apresentação. O importante é que o cliente entenda a proposta. Os desenhos podem incluir:

  • planta baixa
  • implantação
  • situação
  • planta de cobertura
  • cortes
  • fachadas
  • maquetes

Em alguns escritórios, essa etapa é dividida em duas fases: Estudo Preliminar e Anteprojeto, em que segunda é o refinamento da primeira.

O anteprojeto é quando o arquiteto é capaz de expressar toda a sua criatividade e seu conhecimento técnico, que vai muito além do aspecto estético. Alguns dos aspectos que devem ser levados em consideração para a elaboração dessa etapa são:

Análise do terreno

Para realizar o estudo do terreno, o arquiteto deve ir até o local, pessoalmente, de maneira que possa observar inúmeros fatores, como:

Exemplo de análise do terreno
Figura 1: Exemplo de análise do terreno

Insolação

O estudo da rosa dos ventos, de onde o sol nasce e se põe, permite planejar o posicionamento dos cômodos para que não se tenha calor intenso nem ausência de sol e iluminação em nenhum ambiente.

É importante salientar que o posicionamento adequado dos cômodos varia de acordo com a cidade na qual se localiza o terreno e, consequentemente, a sua zona bioclimática. Por exemplo, estratégias de conforto para Curitiba são muito diferentes em relação à Brasília.

A análise da insolação permite também evitar que se tenha ofuscamento. O planejamento impede que a luz incida diretamente sobre a pessoa em posição de trabalho, como na mesa escritório ou na bancada da cozinha. Isso é possível planejando o local de instalação de janelas e/ou de anteparos solares.

Outro fator a ser levado em consideração é a vizinhança. A existência de prédios altos no entorno pode sombrear total ou parcialmente o terreno e atrapalhar a incidência de sol. Este fator altera completamente o estudo.

Ventilação

Um projeto com uma ventilação planejada permite que se tenha ambientes mais frescos e, com isso, obtém-se economia no uso de equipamentos de resfriamento, como ar condicionado.

Para isso, o arquiteto analisa a direção predominante do vento em cada horário. Ainda se existem elementos influenciadores no entorno, tais como a existência de barreiras que impeçam a passagem do vento ou a formação de corredores de vento que direcionam e aumentam a sua potência.

A ventilação cruzada é uma estratégia utilizada para potencializar a ventilação
Figura 2: Ventilação cruzada – estratégia utilizada para potencializar a ventilação

Ruídos

Nada pior do que um vizinho barulhento, não é mesmo? Para evitar isso ao se analisar um terreno o arquiteto diagnostica a existência de possíveis fontes de ruídos incômodos, como rodovias, bares, escolas etc.

Com essa informação, o arquiteto consegue fazer propostas que minimizem ao máximo estes incômodos. Um exemplo: projetar barreiras como um muro vegetal, sugerir paredes mais grossas e revestidas de material pouco absorvente e, ainda, pensar no posicionamento de janelas para áreas menos barulhentas.

Visadas

É maravilhosa a existência de uma grande janela ou uma sacada voltada para a praia ou para um belo parque, não é mesmo?

Ao fazer a análise do terreno, o arquiteto identifica as visadas desejadas e também as indesejadas. A partir deste posicionamento, é possível planejar o posicionamento da edificação e a alocação das janelas de forma que se valorize a vista do local.

Conjunto Residencial Pedregulho de Affonso Eduardo Reidy, no Rio de Janeiro
Figura 3: Conjunto Residencial Pedregulho de Affonso Eduardo Reidy, no Rio de Janeiro – Exemplo de projeto que valorizou a vista

Topografia

O arquiteto, ainda, estuda as características da superfície do terreno, sejam elas naturais ou artificiais.

O topógrafo ou engenheiro agrimensor realiza o levantamento para que o arquiteto possa planejar o empreendimento de forma que a movimentação de terra seja a menor possível. Com isso, a obra se torna mais sustentável e significativamente mais econômica.

Análise da legislação

Cada projeto precisa seguir o que está estabelecido na legislação da cidade, a chamada Lei de Uso e Ocupação do Solo.

Nela, está previsto o gabarito, a taxa de ocupação, o coeficiente de aproveitamento, os afastamentos e o número de vagas de estacionamento necessárias de acordo com a zona da cidade em que está localizada. Para entender mais sobre esses índices, neste artigo já explicamos tudo o que você precisa saber sobre zoneamento urbano.

A partir do estudo da legislação, o arquiteto entende o que é permitido ou não naquele terreno e como utilizá-lo da melhor maneira possível de acordo com as necessidades do cliente.

Quando o estudo da legislação é feito de maneira precisa pelo arquiteto, a etapa de aprovação do projeto na prefeitura é facilitada. Nesse caso tudo já projetado de acordo com as diretrizes urbanísticas do local, o que agiliza essa fase do trabalho.

3) Projeto executivo

Após serem realizadas todas as revisões necessárias no anteprojeto, é elaborado o projeto executivo, que é mais detalhado tecnicamente.

O projeto executivo é o que será utilizado para a aprovação na Prefeitura, por possuir todos os detalhes exigidos. Em alguns locais recebe o nome de Projeto Legal.

As prefeituras exigem um mínimo de desenhos necessários, que normalmente são: planta baixa, implantação, situação, planta de cobertura, cortes e fachadas, mas as quantidades são variadas.

Projetos complementares

O mais importante é que o conjunto de desenhos do projeto executivo consiga representar a totalidade do projeto. Pois ele fornece a base para a elaboração de todos os projetos complementares como: estrutural, elétrico, hidrossanitário, luminotécnico e incêndio, que precisam estar compatibilizados.

O projeto executivo, juntamente com os projetos complementares compatibilizados, é o que vai ser utilizado para a elaboração do orçamento e a construção no canteiro de obras.

Recomenda-se que o projeto executivo seja acompanhado de um memorial descritivo com indicações dos materiais a serem empregados no projeto. Em alguns casos é elaborado o projeto de interiores ou de acabamento, que complementa o memorial com o detalhamento da aplicação.

Para conhecer um pouco mais sobre materiais de acabamento de obra, conheça nosso e-book.

Planejamento é tudo!

Como vimos acima, o projeto arquitetônico confere qualidade técnica para a obra como um todo. A pandemia de Covid-19 jogou luz sobre vários problemas que antes, quando as pessoas iam para casa apenas para dormir, eram menos notados.

Hoje, valorizam-se cada vez mais os ambientes silenciosos, arejados e bem iluminados.

Além disso, o projeto arquitetônico é a base para o bom planejamento de uma obra como um todo. Quando ele é feito e seguido, evita o retrabalho e a decisões tomadas por impulso, que sempre acabam por onerar o orçamento e atrasar a obra.

Afinal, você já sabe que o Planejamento de Obras do Sienge garante mais eficiência e menos custos, não é mesmo? Mas para utilizar essa tecnologia avançada é necessário que toda a cadeia seja eficaz. O que se inicia com a elaboração do projeto arquitetônico.

Na sua construtora o projeto arquitetônico já foi adotado como uma etapa essencial? Conta para a gente sua experiência e não se esqueça de curtir e compartilhar este post!