Taxa Selic: entenda toda sua repercussão na construção civil

Gustavo Prata

Escrito por Gustavo Prata

10 de agosto 2021| 13 min. de leitura

Compartilhe
Taxa Selic: entenda toda sua repercussão na construção civil

Nenhum indicador é mais importante para a economia do País do que a taxa Selic, índice que representa a variação dos juros básicos da economia. Qualquer avaliação de cenário econômico toma este percentual como ponto de partida. 

Isso é válido para investidores, empreendedores, economistas, autoridades em geral e é do interesse de 100 por cento da população, mesmo que nem todas as pessoas saibam disso. Na construção civil também, seu impacto é enorme.

Afinal, a Selic serve como principal referência na definição de outros indicadores fundamentais, com repercussão em toda a cadeia produtiva.

É uma taxa que repercute, por exemplo:

  • Na remuneração das instituições financeiras com operações de títulos públicos;
  • Nas taxas de juros praticadas em todos os setores, como o crédito imobiliário; 
  • No controle da inflação, estimulando ou desestimulando o consumo;
  • No estímulo ao emprego, incentivando o crédito para investimentos;
  • Na captação de recursos externos, com juros atrativos.

Fica evidente, então, que a taxa Selic tem o poder de aquecer ou desestimular o mercado. Por isso é acompanhada tão atentamente e há uma grande expectativa quanto à sua variação até o final do ano.

Neste artigo você vai saber mais sobre a elevação da Selic nos últimos meses e seus reflexos neste momento, tão delicado para os negócios devido às incertezas causadas pela pandemia da Covid-19.

Selic – Sistema Especial de Liquidação e Custódia

A taxa Selic ou Sistema Especial de Liquidação e Custódia é um instrumento do mercado financeiro administrado pelo Banco Central, utilizado na transação de títulos públicos federais. 

Ela representa a taxa média dos financiamentos diários apurados neste sistema do BC. 

Imagem: Agência Brasil – EBC

O banco usa como referência nas suas transações a meta para a Selic, que é definida pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom). Nas suas reuniões, o comitê tem como principal ponto de análise para indicar sua meta as tendências da inflação.  

Por isso se diz que a Selic é o principal instrumento de política monetária do Banco Central para controlar a inflação.

E sem controle sobre o aumento dos preços, não há economia que funcione bem, não é mesmo?

Você já deve ter percebido, inclusive, o destaque  que a imprensa sempre dá às reuniões do Copom. O anúncio da taxa Selic sempre aparece nos principais telejornais e nas capas dos principais jornais e sites. 

Taxa Selic regula o dinheiro em circulação

A cada 45 dias, o Copom define a próxima meta para a taxa Selic e com base nela o BC compra ou vende títulos para regular o volume de dinheiro em circulação.

Com inflação alta, o BC aumenta a taxa da Selic para incentivar a compra dos títulos públicos pelos bancos.

Eles compram os papéis do governo com a garantia de, num determinado prazo, resgatar o dinheiro investido corrigido pelos juros.

Então, por um período que vai de 24 horas a 40 dias, os bancos que adquirem os títulos deixam esse dinheiro no BC e assim tem menos moeda circulando na economia. 

Veja como isso funciona na prática:

  • Quando a taxa Selic sobe: os juros cobrados dos financiamentos, cartões de crédito e empréstimos aumentam. Isso desestimula o consumo e diminui a inflação, mas conforme a dose  pode desacelerar violentamente a economia. 
  • Quando a taxa Selic cai: pegar dinheiro emprestado fica mais barato, porque os juros ficam menores. Aumenta o poder de compra dos consumidores e estimula o consumo. A economia aquece, mas em algum momento a inflação pode voltar. 

Você deve ter percebido que a mágica do Copom está em saber dosar essa variação da taxa básica de juros. Nem tão alta que sufoque a economia, nem tão baixa que cause uma  disparada dos preços.

Este é este, justamente, o momento que estamos vivendo, de grande aumento de preços, basta ver a inflação setorial da construção civil batendo recordes. É por isso que a taxa básica de juros vem aumentando nos últimos meses e deve aumentar ainda mais até o final do ano. 

Desta forma, o Copom busca segurar os preços em geral, incluídos aí os custos da construção civil.

Previsão de Selic a 7% no final do ano

A última reunião do Copom, em 17 de junho, elevou a meta da Selic para 4,25% e se espera que chegue a 5,25% em agosto. Antes, o índice chegou a se manter em 2% durante cinco meses, o menor desde que alcançou o pico de 14,25% em 2015.

Imagem: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Mas como a perspectiva dos principais analistas é da continuação do aumento de preços, o Copom não vai parar por aí. Na sua próxima reunião, deve aumentar o indicador em 0,75%, pelo menos.

A meta de inflação do Conselho Monetário Nacional era de 5.25% em 2021, no máximo, mas a previsão do mercado financeiro é que o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) suba a 6,56% até o final do ano.

Com isso, a expectativa geral é que a Selic chegue a dezembro na marca dos 7%. 

Se você está preocupado quanto ao reflexo dessa taxa no setor, já vamos apontar algumas respostas para suas dúvidas.

Tempo para repercussão da taxa Selic

Segundo a Agência Brasil, cada movimentação na taxa Selic leva de 12 a 18 meses para ser sentida em todo o mercado de crédito. 

Mas há canais na economia, importantes para o setor construtivo, em que a variação dos juros básicos provoca efeitos imediatos, entre eles o câmbio. Outro são os investimentos em renda fixa, como as Letras de Crédito Imobiliário.

Toda a lógica da Selic mostra que quando a taxa de juros aumenta, sobem também os juros das prestações dos financiamentos imobiliários e dos financiamentos para construtoras.

Aumentam os custos e diminuem os recursos para investimentos.

No entanto, conforme os especialistas no assunto, até cerca de 6,5% ao ano a taxa Selic não tem repercussões mais expressivas sobre a produção e o consumo.

Analistas do setor também apontaram que uma taxa nos níveis previstos está próxima de uma Selic “normal”, na verdade. 

Média realista

A taxa de 2% como tivemos por vários  meses seria um “ponto fora da curva” da Selic, que estaria agora mais próxima de uma média realista, como diz a Carta de Conjuntura do Sinduscon-SP.

Após ponderar que se consolidou a certeza de aumento da inflação, o documento elaborado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) confirma a expectativa da Selic a 7% em dezembro. 

“Uma alta expressiva (os 7%), considerando que, no início do ano, essa taxa era de apenas 2%. Ainda assim, considerando a trajetória inflacionária, a Selic estaria apenas voltando discretamente a patamares positivos em termos reais, ou seja, estaria voltando à normalidade.”

Não é uma taxa, portanto, para assustar e fazer suspender negócios, enquanto se mantiver neste  patamar. 

Cotação do dólar vem recuando

Por outro lado, a taxa de câmbio cai quando sobem os juros, ressalta o documento. Realmente, a cotação do dólar no Brasil vem recuando desde março. 

Ainda é uma queda discreta, tendo em vista a alta acumulada desde o início de 2020. As incertezas dos rumos da política monetária nos Estados Unidos e o clima político instável no Brasil explicam uma certa resistência do câmbio. 

“Mas, ao mesmo tempo, ainda estamos no meio do caminho do ciclo de alta de juros. Seja como for, as expectativas para o final do ano apontam para uma taxa próxima a R$ 5,05 por dólar, o que pode ser benéfico para a inflação em geral e para os custos da construção”, acrescenta a FGV. 

Diante desse cenário, os olhares se voltam para o próximo ano e, certamente, o clima eleitoral será decisivo para ditar os rumos da economia em 2022. Assim como o avanço da vacinação e o controle da pandemia, de uma vez por todas. 

Reflexos da taxa Selic nas vendas e lançamentos 

Seja como for, o setor continua experimentando uma boa evolução dos negócios, isto é, a elevação da Selic ainda não arrefeceu as vendas de imóveis e novos lançamentos.

Imagem: Investificar

Em São Paulo, por exemplo, conforme o SindusconSP, foram vendidas 6.837 unidades residenciais novas em junho. Isto significa 16,2% a mais que em maio  (5.883 unidades) e 129,1% acima das comercializadas um ano atrás (46.480 unidades).

No acumulado de 12 meses até junho, as 64.455 unidades comercializadas representaram um aumento de 38,7% em relação ao mesmo período anterior, quando foram negociadas 46.480 unidades.

Já os lançamentos totalizaram 6.940 unidades residenciais, 17,8% a menos que em maio (8.443 unidades) e 244,4% acima do total de junho de 2020 (2.015 unidades). 

No acumulado de 12 meses, somaram 77.507 unidades, ficando 41,6% acima das 54.740 unidades lançadas no período anterior.

Momento desafiador

Para o Secovi-SP, apesar dos bons resultados dos últimos tempos, o momento é desafiador, pois o Brasil ainda sofre os efeitos da pandemia da Covid-19 e precisa lidar com o aumento da taxa Selic:

“Some-se a esses fatores os reajustes dos insumos da construção, que elevam a matriz de custos dos empreendimentos, mas que ainda não foram completamente repassados para o preço final dos imóveis, o que será inevitável caso não sejam resolvidos os gargalos”, disse o presidente entidade, Basílio Jafet.

Mas a Abrainc, que reúne as incorporadoras imobiliárias do País, mantém suas projeções para o ano de alta de 40% do volume de lançamentos e 30% no número de unidades comercializadas, informou o presidente da entidade, Luiz Antonio França.

Como você vê, é impossível ter certeza absoluta sobre os efeitos da majoração da taxa Selic e o comportamento setorial no futuro próximo. Mas embora seja normalmente mal recebida, a elevação desse índice não serviu para desanimar o mercado.

Ainda há espaço para otimismo, por três motivos, pelo menos: há muita demanda reprimida por novos imóveis, as perspectivas de uma queda nos preços dos insumos e de um câmbio mais favorável. 

O recomendável, como de costume, é ficarmos atentos aos próximos movimentos do Copom e suas metas para a taxa Selic.

E você, o que acha disso? Deixe seu comentário, queremos muito saber sua opinião, e compartilhe com seus amigos. Eles também devem querer saber mais sobre esses aumentos da Selic.

Muito obrigado pela leitura e até o próximo artigo.