Guia completo sobre Potencial Construtivo

Gabriela Torres

Escrito por Gabriela Torres

17 de outubro 2023| 14 min. de leitura

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Guia completo sobre Potencial Construtivo

O potencial construtivo é um conceito que está relacionado à legislação urbanística e ao planejamento urbano em muitas cidades. Ele se refere à quantidade máxima de construção permitida em uma determinada área, geralmente medida em termos de área construída ou altura de edifícios. 

É frequentemente usado para controlar o crescimento e a densidade urbana, garantindo que o desenvolvimento em uma região seja feito de forma ordenada e sustentável. Permite o crescimento controlado das cidades, a preservação de áreas verdes e a promoção de espaços públicos. 

Por outro lado, seu uso varia de acordo com as regulamentações de cada cidade e pode ser objeto de debate e controvérsia em algumas situações, especialmente quando se trata de equilibrar o desenvolvimento urbano com a preservação do meio ambiente e a qualidade de vida da comunidade.

Bem, se você deseja saber mais sobre o Potencial Construtivo, continue comigo que neste artigo você vai ter todas as informações que precisa. 

O que é Potencial Construtivo? 

O Potencial Construtivo, frequentemente referido como um conceito crucial no contexto do planejamento urbano, é uma permissão concedida pelas autoridades municipais a incorporadoras e construtoras que possibilita a construção de uma metragem quadrada superior à capacidade que a legislação local permitiria em um terreno específico. Este conceito desempenha um papel fundamental na expansão urbana e no desenvolvimento de áreas metropolitanas, sendo um elemento-chave na otimização do uso do solo e na gestão do crescimento das cidades.

Em sua essência, o Potencial Construtivo permite que o proprietário de um terreno construa além dos limites estabelecidos pelas regulamentações urbanas, desde que cumpra determinados critérios definidos pela prefeitura ou pelas autoridades locais. Isso pode incluir contrapartidas financeiras, que são pagas à prefeitura, ou o comprometimento com melhorias na infraestrutura local. A concessão de Potencial Construtivo é uma maneira de equilibrar o desenvolvimento urbano com a preservação de áreas verdes, a promoção de espaços públicos e a adequação da infraestrutura às necessidades das áreas em crescimento.

No entanto, é importante ressaltar que a aplicação do Potencial Construtivo não é um processo simplificado e, por essa razão, nem todas as cidades adotam essa prática. A decisão de conceder Potencial Construtivo é resultado de uma análise criteriosa por parte das autoridades locais, pois o aumento na densidade populacional de uma área implica em desafios significativos. Esses desafios incluem a necessidade de melhorias na infraestrutura, como redes de água e esgoto, transporte público e serviços públicos, a fim de acomodar adequadamente o novo desenvolvimento.

Como calcular o potencial construtivo de um terreno

O cálculo do potencial construtivo de um terreno, muitas vezes referido como Coeficiente de Aproveitamento (CA), é uma etapa fundamental no processo de desenvolvimento urbano e construção. Esse cálculo é essencial para determinar a quantidade máxima de construção permitida em um terreno, levando em consideração a legislação e regulamentações locais. 

Para realizar esse cálculo, é preciso multiplicar a área do terreno pelo Coeficiente de Aproveitamento (CA) permitido pela legislação, o que resulta na área computável máxima permitida para a edificação.

O Coeficiente de Aproveitamento (CA) pode variar significativamente de acordo com a zona em que o terreno se encontra. Cada zona urbana possui três principais valores de CA:

  • CA Básico: Este é o potencial gratuito de construção que se aplica a lotes urbanos na maioria dos casos, com exceção de áreas de preservação e espaços públicos. Em muitos lugares, o CA básico é estabelecido em 1,0, o que significa que a área do terreno pode ser inteiramente construída de acordo com sua metragem.
  • CA Máximo: O CA máximo é o valor mais alto que não pode ser ultrapassado sem o pagamento de uma contrapartida financeira à Prefeitura, geralmente denominada de Outorga Onerosa. O valor do CA máximo varia de acordo com a zona, e nas áreas de maior densidade da cidade, ele pode variar entre 2 e 4, por exemplo. Isso implica que, para construir além do CA básico, é necessário pagar uma taxa adicional ao município.
  • CA Mínimo: Este é o valor abaixo do qual um imóvel é considerado subutilizado. Os terrenos que não atingem o CA mínimo podem ser limitados em termos de uso e desenvolvimento.

Fórmula para calcular o potencial construtivo do terreno 

Em estudos de potencial construtivo para empreendimentos imobiliários, geralmente se considera o uso do CA máximo, pois ele permite um aproveitamento mais amplo do terreno. Para calcular o potencial construtivo, basta aplicar a seguinte fórmula:

Área Construível = Área do Terreno x Coeficiente de Aproveitamento (CA)

Como exemplo, suponhamos um terreno com 1.000 metros quadrados (m²) e um CA máximo permitido de 2. Aplicando a fórmula, teríamos:

Área Construível = 1.000 m² x 2 = 2.000 m²

Isso significa que nesse terreno específico, é possível construir até 2.000 metros quadrados de área computável máxima.

Os valores do Coeficiente de Aproveitamento (CA) para diferentes zonas podem ser encontrados nas regulamentações urbanas da cidade, como o Quadro 3, que faz parte da Lei de Zoneamento específica do município. Essas informações são essenciais para o planejamento e desenvolvimento de projetos imobiliários, garantindo que a construção esteja em conformidade com as leis locais e as necessidades da comunidade.

Compra e Venda de Potencial Construtivo

A compra e venda de Potencial Construtivo, muitas vezes referida como transferência do direito de construir, é uma prática regulamentada pelas leis municipais, baseadas no plano diretor das cidades. Ela permite que proprietários de imóveis urbanos, tanto privados quanto públicos, possam transferir ou alienar o direito de construir previsto no plano diretor ou na legislação urbanística local para outros terrenos. Essa transferência é especialmente útil em situações em que o imóvel original é considerado necessário para fins como:

  • Implantação de Equipamentos Urbanos e Comunitários: Essa finalidade visa alocar espaços para a construção de equipamentos públicos, como escolas, hospitais, parques e áreas de lazer, que beneficiam a comunidade em geral.
  • Preservação: Quando um imóvel é considerado de interesse histórico, ambiental, paisagístico, social ou cultural, a transferência do potencial construtivo pode ser uma forma de preservá-lo, permitindo que outros terrenos se beneficiem do direito de construir.
  • Programas de Regularização Fundiária, Urbanização e Habitação de Interesse Social: Essa finalidade visa apoiar programas de regularização fundiária, urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda e habitação de interesse social, contribuindo para a melhoria de áreas urbanas em situações precárias.

A legislação federal dá margem para que os municípios regulamentem a transferência do potencial construtivo, sendo comum sua aplicação em situações de imóveis tombados. A transferência desse potencial construtivo permite que proprietários de imóveis tombados, que muitas vezes estão sujeitos a restrições rígidas de desenvolvimento, gerem recursos financeiros ao cedê-lo a terceiros.

Como funciona a venda do potencial construtivo?

Para efetuar a venda do potencial construtivo, é fundamental observar a legislação do município onde o imóvel está localizado. Cada município pode ter suas próprias regras e regulamentos relacionados a essa prática. Como exemplo, consideremos a legislação do Município de Juiz de Fora/MG.

Em Juiz de Fora, a Lei Complementar nº 65/2017 rege a transferência do direito de construir de imóveis tombados, e o decreto nº 14.713/2021 regulamenta essa lei municipal. O processo geralmente envolve os seguintes passos:

  1. Escritura Pública: A transferência do potencial construtivo deve ser realizada por meio de uma escritura pública, lavrada em um tabelionato de notas, conforme previsto na legislação municipal.
  2. Recolhimento de Tributos: Antes da lavratura da escritura pública, os tributos devidos devem ser devidamente recolhidos, de acordo com a legislação aplicável.
  3. Averbação na Matrícula: A escritura pública de transferência do potencial construtivo deve ser averbada à margem da matrícula do imóvel gerador, que é o imóvel de origem do potencial construtivo. Se houver indicação do imóvel beneficiário, as informações sobre ele também devem ser averbadas à margem da respectiva matrícula.
  4. Certidões da Transferência: As certidões da transferência do direito de construir do imóvel protegido devem ser averbadas, indicando o saldo remanescente.

É importante observar que a legislação municipal pode impor condições adicionais, como a necessidade de aprovação pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (COMPACC), como é o caso em Juiz de Fora/MG. Portanto, o processo de compra e venda de potencial construtivo deve ser conduzido de acordo com as normas locais, garantindo que todas as obrigações e regulamentos sejam cumpridos.

Tipos de obras que se beneficiam do Potencial Construtivo

No Brasil, diversos tipos de obras e empreendimentos imobiliários têm se beneficiado do conceito de potencial construtivo para viabilizar sua realização e otimizar o uso do solo. A utilização do potencial construtivo possibilita a maximização do valor da área disponível, o que é especialmente valioso em um ambiente urbano em constante crescimento. Alguns exemplos notáveis incluem:

  1. Empreendimentos Residenciais:

Muitos empreendimentos residenciais em todo o Brasil fazem uso do potencial construtivo para otimizar a ocupação de terrenos. Essa prática permite aos proprietários de terrenos explorar ao máximo o valor potencial da área, construindo mais unidades habitacionais do que seria possível apenas com base nas regulamentações de zoneamento.

  1. Shopping Centers:

Shopping centers são uma parte integral da paisagem urbana brasileira. Para atender às crescentes demandas de espaço comercial, muitos shoppings foram construídos aproveitando o ganho de potencial construtivo. Essa abordagem permite que os desenvolvedores utilizem o terreno de forma mais intensiva, criando mais espaços para lojas, restaurantes e entretenimento.

  1. Complexos Esportivos:

Complexos esportivos, como estádios de futebol e ginásios, também se beneficiam do potencial construtivo. A maximização do uso do solo é fundamental para a viabilidade econômica desses projetos, permitindo a criação de instalações esportivas de grande porte em áreas urbanas densamente povoadas.

  1. Edifícios Comerciais:

Edifícios comerciais, especialmente de escritórios, são outra categoria de construções que se beneficiam do potencial construtivo no Brasil. Ao utilizar esse conceito, os proprietários podem explorar o valor máximo da área para a construção de espaços de escritórios adicionais, o que é fundamental em centros urbanos movimentados e competitivos.

Esses exemplos destacam a versatilidade do potencial construtivo como uma ferramenta importante para o desenvolvimento urbano no Brasil. 

Conclusão

O potencial construtivo é um conceito fundamental no planejamento urbano brasileiro, desempenhando um papel essencial na otimização do uso do solo e na harmonização dos interesses dos proprietários, desenvolvedores e comunidades urbanas. Com base nas regulamentações de zoneamento, o potencial construtivo permite que terrenos sejam utilizados de maneira mais eficiente, maximizando o valor potencial da área.

Neste artigo, exploramos os principais aspectos relacionados ao potencial construtivo, desde sua definição até sua interação com o zoneamento. Demonstramos como o Coeficiente de Aproveitamento (CA) desempenha um papel crucial na determinação da quantidade máxima de construção permitida em uma área, com CA básico, máximo e mínimo estabelecidos de acordo com as zonas de zoneamento.

Discutimos a aplicação prática do potencial construtivo em diversos tipos de obras e empreendimentos no Brasil, incluindo empreendimentos residenciais, shopping centers, complexos esportivos e edifícios comerciais. Em todos esses casos, o potencial construtivo possibilita a maximização do uso do solo e o aproveitamento do valor potencial da área.

Além disso, destacamos a importância do planejamento sustentável, do equilíbrio entre desenvolvimento e preservação e da consideração de desafios futuros, como densidade populacional, mobilidade urbana e equidade social.

O potencial construtivo é uma ferramenta valiosa que impulsiona o desenvolvimento urbano responsável, promove a eficiência no uso do espaço e contribui para a construção de comunidades equitativas e sustentáveis. 

Em um Brasil em constante crescimento e evolução, a compreensão e a aplicação adequada desse conceito são essenciais para moldar o futuro de nossas cidades de maneira inteligente, eficiente e equitativa. O potencial construtivo é, sem dúvida, uma peça central no quebra-cabeça do desenvolvimento urbano bem-sucedido.