Não há na construção civil quem não tenha ouvido falar no BIM ou Building Information Modeling (Modelagem da Informação da Construção). Esta é uma daquelas tecnologias inevitáveis para as empresas do setor, segundo os especialistas.
As vantagens do BIM são enormes, proporcionando projetos muito melhores, mais agilidade e qualidade nas obras. Ele permite que todas as partes envolvidas projetem, construam e operem uma instalação virtual, de forma colaborativa.
No entanto, embora já esteja muito difundido em vários países, ainda engatinha no Brasil, como tantas outras inovações digitais.
Mas há uma preocupação crescente para que os empreendedores absorvam logo o BIM, como ferramenta essencial da sua atividade. Superar essa defasagem, ampliar seu uso, é um desafio urgente para o setor.
Siga a leitura e você verá as principais dificuldades para a implementação do BIM nas empresas. E porque elas devem se preparar para a revolução que o modelo traz aos seus processos.
BIM evita falhas e redundâncias de informação
Explicando melhor, o BIM oferece na gestão dos empreendimentos um conjunto de informações geradas e mantidas durante todas as etapas de uma obra. Ao mesmo tempo, a construção virtual permite simular toda a edificação, em todos os seus detalhes.
Cada modificação na modelagem é replicada e vista por todas as demais áreas e gestores envolvidos. Isto evita falhas e redundâncias de informação que afetam a execução e produtividade dos canteiros de obras.
Além do mais, o BIM é uma forma eficaz de otimizar a comunicação entre as diferentes àreas dos empreendimentos. Todos os profissionais participam de um processo colaborativo, trabalham juntos e ao mesmo tempo num único projeto.
Utilizar BIM é como fazer um seguro da obra
O consultor Tiago Ricotta, arquiteto e urbanista, com muitos anos de experiência na gestão de projetos BIM, destaca seus principais ganhos para a construção civil:
“Utilizar BIM nas diversas fases dos empreendimentos é como fazer um seguro, ele permite identificar vários problemas antes que ocorram e desenvolver um processo para garantir que o que foi projetado, planejado, orçado e futuramente construído e operado saiam conforme o que foi pensado.”
Falhas nos processos atuais da construção levam a prejuízos financeiros e chegam a custar vidas nos canteiros, ressalta.
Agora, você vai se impressionar com estes dados:
Segundo Ricotta, a digitalização da construção através do BIM possibilita resultados de precisão da ordem de 99% em relação a custos, 92% sobre cronogramas e 90% nas auditorias de qualidade.
Os engenheiros, por sua vez, podem ganhar até 16% do seu tempo com a digitalização e acessos dos projetos em dispositivos móveis, acrescenta.
Então, você tem como principais benefícios do BIM:
- Reduzir erros na obra;
- Melhorar a gestão do tempo e ajudar a cumprir prazos;
- Testar soluções previamente;
- Integrar diferentes profissionais em uma única tecnologia;
- Facilitar a comunicação entre membros;
- Diminuir o desperdício de materiais;
- Ter todas as informações possíveis de diferentes áreas e estruturas numa mesma plataforma;
- Maximizar o Retorno sobre o Investimento (ROI) de projetos.
O BIM no Brasil
Num amplo estudo do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas, há três anos, apenas 7,5% das empresas informaram o uso do BIM.
Esse percentual foi maior e chegou a 14,8% entre as empresas de edificações residenciais.
Também se destacaram no pequeno grupo que usa o BIM, num percentual de 10,7%, as empresas de instalações: sistemas de ar condicionado, ventilação e refrigeração, instalações hidráulicas, sanitárias, de gás e de prevenção contra incêndio.
Baixíssimo uso em infraestrutura
Já nas empresas de infraestrutura o percentual de uso do BIM informado foi baixíssimo, inferior a 4%!
Detalhe: nenhuma empresa de engenharia elétrica e telecomunicações assinalou o uso da tecnologia.
Surpreendeu também o percentual de respostas que afirmam desconhecer se a empresa faz uso do BIM (21,7%).
Concentração na fase inicial
- As empresas indicaram que o uso do BIM está muito concentrado em sua fase inicial (47,2%), na análise de projetos. É o momento da simulação das etapas da construção, para verificação de compatibilidade e eliminação de conflitos (clash detection);
- Nas empresas de edificações, o percentual de uso na fase inicial atingiu 66%;
- O uso da tecnologia para planejamento da obra foi reportado por 25,3% das empresas
- 27,5% estavam usando o BIM no orçamento da obra.
Veja abaixo os motivos que as empresas apontaram para não usar o BIM:
Fonte: Fundação Getúlio Vargas – Ibre
“O desconhecimento, reportado por 33% das empresas, levanta a necessidade de maiores investimentos na difusão da tecnologia”, ressalta o estudo.
O BIM em outros países
Esta é uma realidade muito diferente de vários outros países, onde o BIM já integra os recursos tecnológicos de grande parte das empresas.
A começar, claro, pelos Estados Unidos. Foi onde o modelo surgiu e onde já é obrigatório para todos os projetos federais, exceto os militares desde 2006.
Também podemos citar o Reino Unido, Chile, Singapura, França, Itália, Finlândia, China, Espanha e vários outros, onde esse processo de implantação do BIM está bem mais avançado.
Uma questão de sobrevivência
Tanto do ponto de vista privado como do ponto de vista público, a ampliação da presença do BIM nas obras é uma necessidade crucial e urgente.
Para as empresas, que disputam mercado num setor tão competitivo, é a oportunidade de se destacar da concorrência e crescer.
Neste sentido, Eduardo Toledo, membro do Conselho Administrativo do BIM Fórum Brasil, não deixa dúvidas:
“O benefício da tecnologia BIM a longo prazo é a sobrevivência, a empresa que não utilizar não sobreviverá”.
O BIM é fundamental ainda para aumentar a produtividade de um setor que é essencial na recuperação da economia e geração de empregos.
Essa evolução é importante também para a governança das obras públicas, pois muitas são interrompidas ou nunca são concluídas por problemas técnicos.
Estratégia nacional do BIM
Neste sentido, o governo lançou em 2019 a Estratégia Nacional do BIM, pelo decreto decreto nº 9.377 , para acelerar o uso dessa tecnologia a nível nacional.
Sua intenção é aumentar em dez vezes a implantação da plataforma. A meta é que 50% do PIB da construção civil utilize a metodologia até 2024.
A estratégia avançou com o decreto 10.306. Por esta legislação, o BIM passa a ser utilizado direta ou indiretamente nas obras e serviços de engenharia realizadas pela administração pública federal.
A implementação será por etapas, de 2021 até 2028, em licitações, planejamento, controle e execução de obras, por exemplo.
BIM exige mudança de cultura
O arquiteto e professor da Universidade Federal Fluminense, Sérgio Roberto Leusin, alerta que a implementação do BIM significa, antes de tudo, uma mudança de cultura nas organizações.
As atividades passam a ser simultâneas e colaborativas, com redução de tempo e maior precisão do trabalho. Ao final, diz ele, se consegue maior produtividade, rentabilidade e competitividade.
Autor do livro “Gerenciamento e Coordenação de Projetos BIM”, Leusin alerta que implantar o BIM e usufruir de seus benefícios exige uma profunda reestruturação da organização. Assim, é natural que existam receios para sua adoção.
Neste sentido, ele apresenta algumas recomendações:
- A implantação não deve acontecer como um tsunami que revire a organização dos pés à cabeça;
- Deve ser cuidadosamente planejada, para que não cause prejuízos e nem leve à perda de de oportunidade de adoção de um novo processo, mais produtivo que o CAD;
- O BIM tem etapas, que são os seus níveis de maturidade, e deve ser implantado de modo paulatino;
- O BIM depende de tecnologia, recursos e pessoas, principalmente. Elas precisam de capacitação, consolidação de conhecimento, além de boas práticas e procedimentos bem definidos para se articularem adequadamente.
O consultor Tiago Ricotta, por sua vez, destaca entre os principais motivos para o fracasso da implantação do BIM a falta de objetivo sobre o que se espera da tecnologia. Também aponta a falta de apoio estratégico da direção das empresas.
BIM é para grandes e pequenas empresas
Por fim, é preciso ressaltar que o BIM é uma tecnologia para grandes e pequenas empresas.
O Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae) incentiva o emprego da plataforma pelas construtoras menores através de encontros, cursos e publicações.
O Sebrae destaca que essa modelagem “alia a redução de custos com menores prazos e riscos de erros”.
Um manual da instituição afirma que obras que utilizam o conceito BIM alcançam uma redução de:
- 22% no custo de construção;
- 33% no tempo de projeto e execução;
- 33% nos erros em documentos;
- 38% de reclamações após a entrega da obra ao cliente;
- 44% nas atividades de retrabalho.
Revolução digital
Como você vê, o BIM significa uma revolução digital nas organizações. Seus resultados são significativos em termos de eficiência, produtividade, qualidade e rentabilidade. É uma tendência que veio para ficar. Quem ainda não percebeu isso está ficando para trás no desenvolvimento do setor.
Mas, por outro lado, há muita informação disponível e boas experiências para observar. Quanto ao custo da tecnologia, ele vai diminuir, à à medida que se ampliar a sua utilização.
Espero que você tenha gostado do nosso conteúdo e tenha se decidido a conhecer melhor e adotar o BIM, caso não tenha tomado essa providência ainda.
Para esclarecer qualquer dúvida ou orientação estamos sempre à sua disposição.
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