Brutalismo: saiba mais sobre a arquitetura brutalista no brasil

Escrito por Redação Sienge

21 de julho 2023| 16 min. de leitura

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Brutalismo: saiba mais sobre a arquitetura brutalista no brasil

O brutalismo, ou a arquitetura brutalista, desperta olhares curiosos e opiniões diversas por sua estética imponente e sua abordagem ousada. No Brasil, esse estilo arquitetônico ganhou força e se tornou um importante elemento na construção da identidade urbana do país. 

Ao longo das décadas de 1950 a 1970, nosso país viveu um período de intenso crescimento econômico e desenvolvimento urbano, proporcionando o cenário ideal para a expressão criativa dos arquitetos que adotaram o brutalismo como sua linguagem de design.

Neste artigo, exploraremos a arquitetura brutalista, abordando suas características, o movimento em si e sua expressão no Brasil. Discutiremos a arquitetura brutalista brasileira destacando elementos distintos que a diferenciam de outras manifestações internacionais. 

Além disso, conheceremos alguns dos arquitetos brasileiros que se destacaram nesse movimento, como por exemplo a Lina Bo Bardi, uma das figuras mais influentes e emblemáticas do brutalismo brasileiro. Vamos lá?

O que é a arquitetura brutalista?

A arquitetura brutalista é um estilo arquitetônico que emergiu no final da década de 1940 e alcançou seu auge de popularidade nas décadas de 1950 e 1970. O nome deriva da palavra francesa “béton brut”, que significa “concreto bruto”, refletindo a ênfase na exposição da matéria-prima utilizada na construção.

Seu principal objetivo é criar espaços arquitetônicos que expressem claramente sua estrutura e materialidade, destacando a beleza do concreto em sua forma bruta. O estilo valoriza a simplicidade das formas geométricas sólidas, sem adornos ou elementos decorativos supérfluos.

Assim, uma das características distintivas do brutalismo é justamente a exposição do concreto, revelando a textura e a cor natural do material. Esse enfoque na matéria-prima bruta confere aos edifícios uma sensação de solidez e permanência. Além disso, o uso do concreto oferece vantagens práticas, como a durabilidade e a resistência às intempéries.

O brutalismo busca uma linguagem arquitetônica honesta e funcional, rejeitando a ornamentação excessiva e os elementos decorativos que podem obscurecer a verdadeira essência do edifício. Em vez disso, os arquitetos brutalistas concentram-se na expressão das formas estruturais e na relação entre o edifício e o seu entorno.

Ao optar por uma estética crua e minimalista, a arquitetura brutalista muitas vezes provoca uma sensação de impacto visual. Seus edifícios imponentes e dominantes desafiam as convenções tradicionais de beleza, estimulando uma reflexão sobre o papel da arquitetura na sociedade. A ousadia e a originalidade do brutalismo capturam a atenção e estimulam a apreciação de sua estética singular.

Movimento brutalista

O movimento brutalista, influenciado por correntes do modernismo e pelo arquiteto suíço-francês Le Corbusier, desempenhou um papel crucial no desenvolvimento e na consolidação da arquitetura brutalista. Le Corbusier, um dos principais arquitetos do século XX, foi pioneiro na exploração do potencial do concreto armado como material de construção.

Le Corbusier desenvolveu conceitos revolucionários, como o “betão armado” e a “casa dom-ino”, que influenciaram fortemente o brutalismo. O betão armado referia-se ao uso estrutural do concreto, combinando a resistência do aço com a versatilidade e durabilidade do concreto, permitindo a criação de formas arquitetônicas ousadas e esculpidas. A casa dom-ino, por sua vez, era um projeto arquitetônico icônico que explorava a liberdade de espaços interiores e a flexibilidade das plantas, tornando-se uma referência importante para os arquitetos brutalistas.

O movimento brutalista emergiu como uma reação ao formalismo e à ornamentação excessiva que caracterizaram muitos estilos arquitetônicos anteriores. Os arquitetos brutalistas buscavam criar uma arquitetura honesta, funcional e autêntica, que refletisse a natureza industrial e a era pós-guerra. A simplicidade das formas geométricas sólidas e a ausência de elementos supérfluos tornaram-se características distintivas do estilo.

O brutalismo valorizava a beleza do concreto, destacando sua textura, forma e capacidade de resistência. Ao expor o concreto aparente, os arquitetos brutalistas buscavam revelar a verdadeira essência do material, sem esconder sua natureza bruta. Essa abordagem honesta e autêntica refletia os ideais do movimento e era uma forma de expressar a estética industrial e moderna da época.

Além disso, o brutalismo buscava uma arquitetura que se conectasse com seu contexto e sua função. Os edifícios brutalistas eram projetados levando em consideração as necessidades dos usuários e a interação com o entorno. Assim, a funcionalidade e a relação harmoniosa com o ambiente eram prioridades, resultando em espaços arquitetônicos tanto estéticamente impactantes, quanto eficientes em seu propósito.

Brutalismo no Brasil

O Brasil desempenhou um papel proeminente no movimento brutalista, sendo um dos países que abraçaram esse estilo arquitetônico de forma marcante. Durante as décadas de 1950 a 1970, o país viveu um período de intenso crescimento econômico e desenvolvimento urbano, proporcionando um cenário propício para a implementação de projetos arquitetônicos ousados e inovadores.

O brutalismo no Brasil ganhou destaque em diversas cidades do país, deixando um legado significativo na paisagem urbana. Esse estilo arquitetônico foi utilizado não apenas em edifícios públicos, mas também em residências, escolas, igrejas e centros culturais, tornando-se uma maneira de expressar a identidade moderna e progressista do país.

Uma das características distintivas do brutalismo brasileiro é o uso de elementos vazados, como cobogós e muxarabis. Esses elementos permitem uma maior integração entre o ambiente interno e externo, além de criar uma interessante interação com a luz, conferindo uma estética peculiar e única às construções. 

O uso estratégico de brises soleil, que são elementos projetados para bloquear a incidência direta da luz solar, mas permitindo a circulação de ar, também é uma característica marcante da arquitetura brutalista brasileira. Essas soluções arquitetônicas levam em consideração o contexto tropical do país, proporcionando conforto térmico e luminosidade adequada aos espaços.

Outro aspecto relevante do brutalismo brasileiro é sua relação com a natureza e o ambiente natural. Muitas vezes, os projetos buscaram harmonizar-se com o entorno, incorporando elementos naturais e criando uma interação sinérgica com a paisagem. A preocupação com a sustentabilidade e o respeito ao meio ambiente também foram características valorizadas pelos arquitetos brutalistas brasileiros.

Vamos ver mais sobre isso a seguir. 

Arquitetura brutalista brasileira

A arquitetura brutalista brasileira apresenta características distintas que a diferenciam de outras manifestações internacionais do estilo. O Brasil, com sua vasta extensão territorial e diversidade cultural, influenciou a maneira como o brutalismo se manifestou no país, adaptando-se ao contexto tropical e às necessidades específicas da sociedade brasileira.

Uma das características marcantes é o uso inovador de elementos vazados, como cobogós e muxarabis, que mencionamos anteriormente. Esses elementos não apenas proporcionam uma maior integração entre o interior e o exterior dos edifícios, mas também desempenham um papel estético fundamental, criando uma interessante interação com a luz e sombras. Além disso, eles promovem uma ventilação natural, tão importante em um país de clima tropical como o Brasil.

Ao projetar estes edifícios, os arquitetos buscaram levar em consideração a relação com o ambiente natural e a sustentabilidade. A preocupação com a preservação do meio ambiente e a harmonia com a paisagem circundante levou ao uso estratégico de recursos naturais, como materiais regionais e vegetação nativa. Isso contribuiu para criar uma conexão visual e sensorial entre os edifícios e o entorno, proporcionando uma experiência mais integrada e agradável.

Outra característica distintiva da arquitetura brutalista brasileira é a adaptabilidade dos edifícios às necessidades da comunidade. O brutalismo no Brasil frequentemente esteve associado a projetos de espaços públicos, como museus, teatros e centros culturais. Esses edifícios foram projetados para serem acessíveis e democráticos, buscando promover a inclusão social por meio da arquitetura. Os espaços amplos e abertos, aliados à funcionalidade dos projetos, oferecem ambientes convidativos e acolhedores, onde a comunidade pode se reunir e desfrutar de atividades culturais.

Arquitetos brutalistas

Alison e Peter Smithson (ingleses)

Alison e Peter Smithson foram arquitetos britânicos que desempenharam um papel fundamental no desenvolvimento do movimento brutalista. Reconhecidos por sua abordagem honesta e funcional da arquitetura, os Smithson buscaram criar espaços arquitetônicos que se adaptassem às necessidades da sociedade moderna. Eles acreditavam que a arquitetura deveria ser orientada para as pessoas e para o contexto social em que estava inserida. Seus projetos, como o Robin Hood Gardens em Londres, exemplificam a ênfase do casal Smithson na criação de espaços comunitários e inclusivos.

Le Corbusier (franco-suíco)

Le Corbusier, cujo nome verdadeiro era Charles-Édouard Jeanneret-Gris, foi um arquiteto franco-suíço cujo trabalho teve uma influência significativa no desenvolvimento do brutalismo. Ele é amplamente considerado um dos arquitetos mais importantes do século XX. Le Corbusier defendia a utilização de concreto armado como um material de construção versátil e expressivo. Suas obras mais conhecidas, como a Villa Savoye e o complexo habitacional Unité d’Habitation, incorporam as ideias do modernismo e do brutalismo, destacando a forma, a função e a relação com o ambiente.

Ernő Goldfinger (hungaro)

Ernő Goldfinger foi um arquiteto húngaro-britânico que deixou sua marca na arquitetura brutalista. Ele acreditava na criação de edifícios que fossem socialmente responsáveis e funcionais. Goldfinger ficou conhecido por projetos como a Trellick Tower, em Londres, um exemplo marcante de sua abordagem ao brutalismo. Ele valorizava a expressão dos materiais e a clareza estrutural, combinando elementos arquitetônicos inovadores com soluções de design práticas.

Louis Kahn (americano)

Louis Kahn foi um renomado arquiteto americano cujo trabalho transcendeu as fronteiras do brutalismo, mas que também deixou uma contribuição significativa para o movimento. Kahn era conhecido por suas estruturas monumentais e sua abordagem poética da arquitetura. Ele valorizava a expressão dos materiais brutos e a luz natural em seus projetos. O Salk Institute na Califórnia e o Capitólio Nacional em Daca, Bangladesh, são exemplos notáveis de sua arquitetura inspiradora, que combina elementos brutos e uma abordagem escultural.

Alvar Aalto (finlandês)

Alvar Aalto foi um arquiteto finlandês conhecido por sua abordagem humanista e sensibilidade em relação aos materiais. Embora seu trabalho não seja estritamente classificado como brutalista, Aalto influenciou o movimento com seu foco no design funcional e na relação entre arquitetura e natureza. Ele utilizava materiais naturais, como madeira, combinados com formas orgânicas e fluidas. A Casa da Cultura em Helsinki e a Biblioteca de Viipuri são exemplos proeminentes de sua arquitetura visionária.

Principais nomes do Brutalismo no Brasil

O Brasil foi um terreno fértil para o desenvolvimento da arquitetura brutalista, contando com uma geração de arquitetos visionários que deixaram um legado marcante no cenário nacional e internacional. Entre os principais expoentes desse movimento estão Lina Bo Bardi, Oscar Niemeyer e Paulo Mendes da Rocha. 

Cada um desses arquitetos deixou uma marca indelével na história da arquitetura brasileira, contribuindo de maneira significativa para a construção da identidade urbana do país e influenciando gerações subsequentes. Vamos ver mais sobre eles. 

Lina Bo Bardi

Lina Bo Bardi (1914-1992) foi uma arquiteta ítalo-brasileira que se estabeleceu no Brasil e deixou um legado arquitetônico impressionante. Reconhecida por sua abordagem inovadora e humanista, Lina Bo Bardi projetou edifícios que combinavam elementos modernos com soluções criativas de design. Seus projetos mais conhecidos incluem o Museu de Arte de São Paulo (MASP), em São Paulo, e o SESC Pompeia, também na capital paulista. Com essas obras, Lina Bo Bardi expressou seu compromisso com a inclusão social, tornando os espaços públicos acessíveis e acolhedores para todos.

Oscar Niemeyer

Oscar Niemeyer (1907-2012) é um dos arquitetos mais renomados do Brasil e um dos maiores nomes do modernismo brasileiro. Seu trabalho deixou uma marca indelével na arquitetura mundial. Niemeyer foi pioneiro na aplicação do brutalismo em projetos icônicos, como a construção de Brasília, a capital do país, que se tornou um marco da arquitetura moderna. Suas estruturas monumentais e esculturais, com curvas ousadas e uso expressivo do concreto, como o Palácio do Planalto e a Catedral de Brasília, são exemplos emblemáticos de sua arquitetura ousada e inovadora.

Paulo Mendes da Rocha

Paulo Mendes da Rocha (1928-2021) foi um arquiteto brasileiro de grande influência e reconhecimento internacional. Conhecido por sua abordagem racionalista e sua habilidade em integrar a arquitetura à paisagem urbana, Mendes da Rocha é um dos grandes expoentes do brutalismo brasileiro. Seus projetos, como o Museu Brasileiro de Escultura (MUBE) e o Sesc 24 de Maio, ambos em São Paulo, destacam-se por sua linguagem arquitetônica sólida, austeridade formal e uso expressivo do concreto aparente. Mendes da Rocha recebeu o Prêmio Pritzker, considerado o Nobel da arquitetura, em 2006, em reconhecimento à sua contribuição para o campo da arquitetura.

Esses três arquitetos brasileiros deixaram um legado impressionante na arquitetura brutalista brasileira. Com suas obras icônicas, exploraram os conceitos estéticos e funcionais do estilo, combinando criatividade, inovação e preocupação social em seus projetos. Seus trabalhos continuam a inspirar arquitetos e a moldar o panorama arquitetônico do Brasil e além, demonstrando a importância duradoura do brutalismo na história da arquitetura brasileira.