Causas de fracasso na inovação na Construção Civil

Aldo Dórea Mattos

Escrito por Aldo Dórea Mattos

22 de outubro 2018| 6 min. de leitura

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Ao ler o artigo “Por que as empresas falham ao inovar?”, de Gláucia Alves da Costa, faço meus comentários em relação aos sete pontos que ela aponta como as principais razões para essas falhas.

1. Falta de conhecimento e capacidades internas

Conceitos como inovação, startup, construtech e venture capital são novos. No ambiente das construtoras e incorporadoras, estamos assistindo a uma mobilização das empresas, é verdade, porém sem um modelo de sucesso definido. Enquanto algumas empresas tratam inovação de forma estruturada — com consultoria externa e capacitação de pessoas, por exemplo —, outras buscam atabalhoadamente não perder o bonde da história — delegando a inovação a setores específicos e funcionais, como TI;

2. Aversão ao risco

Eu li esses dias que as pessoas só mudam por dois motivos: dor ou amor. No caso das pessoas jurídicas, a dor é mais sentida, porque vem sob a forma de perda de clientes, perda de competitividade e êxodo de bons profissionais. Na escala de aversão a risco, a construção civil figura nos primeiros lugares. Sempre foi uma indústria morosa, de processos tradicionais e resistente a mudanças. Eu até entendo a razão: projetos longos, com grandes contingentes de pessoas, enorme cadeia de suprimento e múltiplos stakeholders exercem um peso forte contra a adoção de medidas de mudanças. No entanto, inovação pode ser implementada de maneira gradual ainda que sistêmica, sem abalar tanto as fundações da empresa e suas crenças arraigadas;

3. Cultura anti-inovação

O que Gláucia aponta nesse fator é a desvalorização do erro como fonte de acerto. Nisso eu concordo. De todos os lugares onde trabalhei (não foram poucos), só um conjunto reduzido de líderes e organizações prezavam ideias dos funcionários e induziam a geração de iniciativas próprias. O que hoje se chama de intraempreendedorismo era antes rebatido com a sumária ordem de “deixe de ficar pensando e vá fazer seu trabalho”;

4. Falta de relação clara com a estratégia

Aqui eu faço um paralelo com a moda da qualidade nos anos 90. Uma das primeiras tarefas de quem desejava obter a certificação ISO-9000 era apontar o “responsável da direção”, o popular RD. O objetivo era claro: garantir que o processo não era uma mera iniciativa departamental, mas um compromisso bem definido do alto escalão da empresa. Na inovação, a coisa é bem parecida: se ela não contar com o comprometimento da esfera mais alta e constar da estratégia empresarial, pode esperar 6 meses para tudo cair no esquecimento. Lembra-se das modas de 5S e reengenharia

5. Ausência de processos de gestão da inovação

Eu discordo do mito de que inovação não se controla. Até compreendo o que está por trás dessa máxima, porém em nosso mundo da construção um mínimo de controle há que se impor. Controle no sentido de processo, de rotina. Nossas organizações são grandes e espalhadas. A falta de um sistema de gestão definido pode fazer com que as fagulhas da inventividade só gerem fumaça e não fogo;

6. Head de inovação centralizador

O mindset (detesto essa palavra, mas vou deixá-la aí) mudou. Inovação precisa ter um caráter de transversalidade na empresa, todo mundo pensando junto. Quem inventou que o departamento de TI é que precisa abrigar a inovação? Inovação está em toda parte. Numa construtora, associa-se o termo com a utilização de chips em páletes de cerâmica, mas inovação pode se manifestar até na redução de perda de comida no refeitório. Abram as portas, derrubem os muros. Eu acho até que todo head (outra palavra que detesto) deveria fazer um curso de mediação;

7. Estrutura organizacional inadequada

Na construção civil pensamos em tudo sendo feito internamente, talvez só precisando contratar fora os consultores especializados de fundação e concreto. O espírito de trazer tudo para dentro atrapalha o florescimento da inovação. Imagine a diferença entre utilizar uma startup externa, enxuta, ágil e acostumada a tentativa e erro com recrutar esses mesmos profissionais para trabalhar na empresa. Vai ser um terror: RH, teste psicotécnico, entrevistas, compliance, jurídico, CLT, sindicato, CTPS, FGTS, INSS, mil formulários. Dá ânsia só de pensar. Quer implantar inovação? Seja simples, recorra a startups.
Você concorda com meus pontos de vista?
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