Para se fazer um bom orçamento de obra é necessário buscar fundamentos na Engenharia de Custos. Pois é ela que determina princípios, normas e boas práticas para resolver problemas de estimativas de custos, de planejamento e de gestão de controle de empreendimentos da construção civil.

O desenvolvimento de um orçamento está muito ligado ao empreendimento em si. Então, para que possamos falar em orçamentação, temos que entender que o mais importante são: a visão, os condicionantes, as restrições e a pactuação, que, juntos, irão fazer com que o empreendimento da construção civil aconteça.

Dessa forma, a orçamentação começa desde a previsão do investimento, passa para a fase de projeto, de planejamento, execução dos serviços e pelos procedimentos que determinam o controle e acompanhamento dos custos. 

Obviamente que a repetição de todos esses procedimentos lincados com outras áreas de gestão de projetos e obras como a área de definição de escopo, de qualidade, de especificações e gestão de tempo – faz com que a metodologia de orçamentação e a engenharia de custos tenham uma condição excepcional de formar um banco de dados para projeto atuais e futuros.

Para se fazer um bom orçamento de obra é necessário buscar fundamentos na Engenharia de Custos

Extraindo informações dos processos e procedimentos de como determinada empresa ou determinado grupo realiza um ou vários serviços e quais os consumos desses serviços, esse banco de dados volta a alimentar o processo de planejamento do próximo projeto.

Estimativa inicial de custos x Orçamento de obra

Apesar de todo orçamento ser sempre uma forma de antever os fatos previsíveis de uma obra, nós não podemos confundir a estimativa inicial de custos com o orçamento em si. Este último é uma estimativa muito mais precisa e detalhada que busca um conhecimento e uma experiência profissional mais refinada, com mais elementos. 

A estimativa inicial de custos tem a ver com uma parametrização, com uma comparação de uma obra com custos já apurados em empreendimentos similares. Exemplo disso é o custo unitário básico da construção que é oferecido pelos Sinduscons em todo país.

Ou seja, é uma média das obras realizadas num período onde se obtém, com determinados critérios, um custo por metro quadrado da construção, que pode ser aplicado para estimar custos de projetos que possuam similaridade. Tanto em número de pavimentos quanto em nível de acabamento. 

Diferente do orçamento em si. Quando nós fazemos um orçamento de obra, nós orçamos um plano executivo completo. E o objetivo do orçamento é determinar o preço do produto construído. E esse preço é composto por todos os custos diretos que são imputáveis à construção, mas também aqueles que são indiretos e imprescindíveis para a execução do empreendimento. 

Custos diretos

Como custos diretos que são apropriados nas construções, nós temos a divisão de cada serviço que é executado numa obra. Cada serviço é composto por 3 insumos que podem estar juntos nos serviços ou separados. Então, esses insumos são os materiais que são empregados nos serviços, a mão de obra para poder moldar e transformar, e eventuais equipamentos que possam ser utilizados.

Geralmente, o serviço é executado com esses 3 insumos juntos ou separadamente. Por exemplo material com mão de obra, equipamentos individualmente, lembrando que tem a mão de obra que é a operação. Mas esses são os 3 insumos, que compõem o custo direto do serviço em obra.

Ainda faz parte do custo direto da obra, todos os custos administrativos que estão exclusivos para aquele empreendimento na obra. 

Os custos da engenharia, da segurança do trabalho, da mobilização do canteiro, os consumos de água, energia etc. Além disso, tudo aquilo que está dentro do canteiro da obra ou ao redor daquela construção no nível administrativo, que vai fazer aquele empreendimento acontecer no decorrer do tempo e do consumo dos insumos diretos são chamados de custos diretos e também são imputáveis ao empreendimento. 

Custos indiretos

Temos também os custos indiretos, que tem a ver com o suporte que os contratos precisam para serem executados. Os contratos são feitos entre contratados e contratantes. O contratante, geralmente é uma pessoa física ou jurídica que executa aquele empreendimento. A empresa tem vários custos que são inerentes à própria empresa, mas que sem aqueles custos a empresa não pode existir e, portanto, não pode gerenciar aqueles serviços. 

Então, esses custos indiretos também são rateados e imputados a cada contrato e empreendimento. E aí estamos falando de custos de impostos, financeiros, contábeis, comerciais, administrativos, das unidades empresariais.

Quando conseguimos identificá-los e somamos os custos indiretos com os diretos, aí então nós chegamos ao objetivo final do orçamento, que é definir o preço de venda ou o preço final. 

Temos que diferenciar a palavra preço de custo, apesar de as empresas sempre chamarem também o custo final, incluindo os custos indiretos, de custo. Falamos que preço é diferente de custo para determinar que, quando falarmos preço, todos os custos estão incluídos.

Reforçando: o custo total de um empreendimento são os custos diretos mais os custos indiretos e o lucro.

5 tópicos para eficácia de um bom orçamento de obra

1. Conhecer o projeto, a metodologia construtiva e as restrições ou condicionais do projeto

É importante uma dedicação ao conhecimento dos projetos técnicos, dos objetos de contratação que dizem as obrigações das partes, os prazos, o tempo, as condicionantes, as definições da diretoria. Os dados documentais são muito importantes de se conhecer antes de iniciar a fase de orçamentação.

A questão de projeto e contrato é questão de tabulação e condicionantes, mas temos também uma fase importante nessa etapa que é a vista técnica. O conhecimento do ambiente, do local, as regras locais de execução de obra, da logística local, do que esse local fornece, o que facilita para a construção ou o que dificulta.

Em determinados locais, você tem o projeto, a metodologia construtiva, as regras que são impostas pelo seu contratante, as regras impostas pela legislação municipal, estadual e federal, principalmente no que diz respeito a questões de meio ambiente, as regras que por ventura são impostas por aquele condomínio específico.

Então, a tabulação de todas essas informações, restrições e condicionantes, são extremante importantes para determinar o orçamento. Porque todas essas condicionantes vão impactar na forma de se executar, no prazo e nos custos.

É importante que o profissional de orçamento de obra tenha uma metodologia de estudo dos projetos. Uma forma de entender os cadernos de encargos, ter experiência para que, com uma visão espacial, ele possa entender a cadência dinâmica da obra.

Além de ter um método de se fazer a visita técnica produtiva e ter um relatório pré-estabelecido, para que se possa aferir todas as possibilidades e restrições locais, como:

  • acessos;
  • fornecimentos de insumos;
  • água;
  • energia;
  • impacto de vizinhança;
  • disponibilidade de materiais de construção;
  • mão de obra e equipamentos no local;
  • ferramentas para construção civil;
  • distância até os pontos de fornecimento;
  • alojamentos;
  • alimentação.

2. Planejamento e plano executivo 

A primeira coisa a se fazer é a elaboração mental. Quais são os pacotes de entrega, os serviços, o escopo, a estrutura analítica do projeto etc. Logo em seguida, deve-se planejar a cadência, as interdependências, as linhas.

Como vão se dividir esses pacotes de serviços e como vão se somar com as suas interdependências técnicas para que você inicie e termine o empreendimento com uma boa gestão do canteiro de obras.

A utilidade e precisão de um orçamento estão diretamente ligados a um plano executivo. 

3. Levantamentos de quantidades, custos e preços sazonais, locais e exclusivos

Temos na construção civil vários institutos, empresas, municípios, governos, que fazem pesquisas de preços em diversas praças. Por isso, podemos lançar mão dessas tabelas e pesquisas.

Quando falamos em levantamento de quantitativos, significa que já definimos um escopo, fizemos a interdependência, estabelecemos um cronograma e agora vamos definir o quanto, a quantidade de cada serviço, os preços e custos dos insumos, definindo os valores que custam por hora, por mês e o tempo que vamos precisar disponibilizar esses recursos no nosso empreendimento para termos um orçamento preciso. 

Essa é a etapa na qual definimos, quantificamos e qualificamos os recursos diretos e indiretos do empreendimento.

Importante nessa etapa o orçamentista estar integrado com o setor de recursos humanos e de aquisições. Conhecer a forma que se compra os insumos, quais as condições de fornecimento, prazos, quantidades, pois tudo isso vai impactar no cronograma. 

etapas pré-orçamento

4. Cálculo do orçamento

Também é preciso estar municiado com um bom banco de dados e uma boa ferramenta de cálculo e interpolação de dados.

A tecnologia na construção civil já nos permite extrair dados suficientes não só no momento de definirmos uma linha de base ou um orçamento inicial, mas também que vai servir de base comparativa para o controle da execução que deve ser realizada no período seguinte, que é a fase de execução do empreendimento em si.

Uma boa ferramenta para a construção civil, quando alimentada por um profissional de orçamento experiente é fundamental para um orçamento adequado e assertivo. Então, buscar um software para engenharia civil torna-se essencial para uma gestão de qualidade em obras.

5. Preparar orçamento e planejamento interpolar com o uso de ferramentas

É importante tanto para a metodologia de orçamentos quanto para o empreendimento essa utilização de dados e execução desse controle. E você aprende muitas lições nesse caminho.

O confronto entre as atividades realizadas e as planejadas com eventuais e possíveis desvios, e o conhecimento dos motivos, vão fazer com que se avance, se refine, não só a metodologia de orçamentação, mas também a possibilidade de melhoria de processos e procedimentos da empresa. Dessa forma, nos dá a possibilidade da melhoria continua dos processos executivos de planejamento e orçamento.

É muito importante também juntar os dados físicos com os dados financeiros, porque a partir deles surgirá uma série de oportunidades e análises.

Por exemplo: o avanço físico relacionado com o custo, se realizou até o ponto de execução de determinadas etapas, se custou mais ou menos, porque houve desvio etc. Podemos definir ainda elementos relativos a fluxos de caixa da empresa ou do próprio empreendimento.

Esta etapa é a preparação final das informações de um orçamento de obra. Um planejamento muito bem realizado pode alimentar o círculo virtuoso da experiência que vai sempre melhorar os processos e procedimentos executivos de uma obra – e também da metodologia de orçamento.  

Coautor: 

Jobson Nogueira de Andrade

Eng. Jobson Nogueira de Andrade, consultor em engenharia e gestão há mais de 20 anos; perito em engenharia civil; diretor do SENGE-MG (Sindicato dos Engenheiros do Estado de Minas Gerais); e empresário da construção civil há mais de 20 anos.