A tecnologia é a base das mudanças que vêm acontecendo na educação de modo global representadas pelo foco no processo de aprendizagem individualizada do aluno. Principalmente após a pandemia de Covid-19, a necessidade de transformação digital tornou-se ainda maior, o que trouxe edtechs a esse cenário.
As EdTechs respeitam as diferenças neuro e psicológicas entre os alunos e a significação dos conteúdos baseada na realidade geográfica e social. Além disso, ; traz disponibilização ampla do acesso à educação de qualidade em qualquer lugar e em qualquer tempo (on-learning). Saiba mais sobre essa tecnologia.
Uma verdadeira orgia entre a filosofia e a prática que se mesclaram e se confundiram democraticamente em busca de sinergias que lhes pudessem conferir potência colaborativa. Um encontro de tolerância e êxtase.
Namoro ou amizade?
Mas não se enganem sobre as justificativas apaixonadas do match perfeito e inusitado entre o Educador e o Tecnólogo. Por um lado, a porta da escola já caiu, a tecnologia invadiu a sala de aula e contagiou de modo viral o aluno.
O Educador, sozinho, vê-se acuado e não encontra mais eco em suas referências basilares sobre como lidar com um aluno que dispõe de acesso integral à informação (todo tipo dela e em tempo real), ansioso pelo reconhecimento de sua individualidade, pela conquista de sua liberdade e por propósitos concretos para a sua vida. Um aluno que não aceita mais ser coadjuvante de sua vida e, em particular, de seu próprio processo e ritmo de aprendizado durante toda a vida (Lifelong Education).
O Tecnólogo, por sua vez, sabe que tem nas mãos a matéria prima fundamental (bits e bytes) que moldará o futuro, mas não dispõe da devida empatia com esse novo ser (aluno) complexo, desconhece suas conexões neurais e as características de sua psiquê e, por isso, não sabe ao certo a melhor forma de “engenheirar” a mecânica de seu processo de aprendizado. Precisa de ajuda de especialistas para materializar essa construção.
Uma relação de interesses e colaborações. Ganha o casal que conseguir se doar mutuamente, aberto a flexibilizar e adaptar dogmas do passado e entender, de forma humanística, as potencialidades futuras de sua parceria simbiótica.
As EdTechs e o futuro
EdTech é o nome dado a empresas inovadoras de tecnologia (startups) dedicadas a oferecer soluções para problemas potenciais do segmento de Educação. Produtos, aplicativos e ferramentas em apoio ao aprimoramento dos processos administrativos, estratégicos e pedagógicos das escolas.
Por serem jovens e inovadoras, as EdTechs caracterizam-se por operarem sob condição crítica de incertezas, mas dispõem de potencial perceptível de repetitividade e escalabilidade, o que lhes confere a atratividade de investidores devido ao alto potencial de crescimento e ganhos.
São tamanhas as oportunidades que veem sendo abordadas e desenvolvidas no contexto da inovação tecnológica para a educação que chama a atenção uma frase de Thomas Frey, do DaVinciInstitute 2017 @ World EconomicForum que diz: “Eu projeto que em 2030 a maior empresa da internet será uma empresa de educação, e da qual nós nem ouvimos falar ainda.”
Algumas startups nacionais encheram os olhos dos participantes durante o evento EDTECH 2018 ao apresentar produtos em funcionamento usando realidade aumentada e virtual para a simulação de cirurgias médicas, robôs que substituem professores no ensino de programação, o uso de blockchain na acreditação profissional em substituição aos diplomas formais, vídeos instrucionais inteligentes que podem ser clicados e assistidos parcialmente de acordo com o interesse e o ritmo de aprendizado do aluno, sistemas que ajustam automaticamente textos acadêmicos ao formato da ABNT, plataformas específicas de MooC, Ambientes Virtuais de Aprendizagem, provedores de conteúdos digitais interativos etc.
Tecnologia que democratiza a Educação
Inovações tecnológicas aplicadas à Educação possibilitam vislumbrar benefícios que viabilizam ideais democráticos e humanistas, potencializando a dignidade, as aspirações e as capacidades humanas gerais e individuais.
Somente a tecnologia permitirá levar Educação de qualidade, significante, equivalente e de baixo custo a todos os lugares, a todos os indivíduos e a qualquer tempo (onipresença), proporcionando a inserção social e a superação das diferenças em nível global, impactando na efetividade da justiça e na paz.
Quem lida com Educação deve sempre semear sonhos, mesmo correndo o risco de ser rotulado de utópico!
Estivesse no evento EDTECH 2018, o Professor Paulo Freire ficaria maravilhado com as possibilidades de aprendizagem e de autonomia dos educandos proporcionada pela tecnologia e seus potenciais impactos contra a exclusão e a opressão. Provavelmente participariam da mesma roda de discussão sobre a “tecnologia e a escola como um espaço de exercício da democracia e da cidadania” os professores Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e, por que não, John Dewey (provavelmente estaria usando os novos fones de tradução simultânea da Google – Pixel Buds).
Viajando além nessa possibilidade, certamente Pestalozzi se interessaria em entender como o uso de realidade aumentada e da “gameficação” impactaria nos sentimentos e estimularia o processo de aprendizagem autônoma da criança. Piaget e Freud certamente investiriam o tempo do coffee break em torno de jovens Tecnólogos, avaliando os impactos da tecnologia sobre o desenvolvimento humano na infância e na psicopedagogia.
Antonio Gramsci provavelmente estaria num canto do auditório tomando notas de tudo o que ali se passava e conjecturando sobre a tecnologia na escola como agente de mudanças sociais.
Enfim, a visão do futuro da educação mediada pela tecnologia não se contrapõe ou indispõe com o trabalho dos grandes pensadores. Pelo contrário, desde que exista abertura intelectual para tanto, as ideias dialogam e se potencializam.
As EdTechs ainda tem alguns desafios
O movimento revolucionário de conquista da educação pela tecnologia já está em curso. A extensão, a rapidez e a profundidade dos benefícios potenciais da introdução das inovações tecnológicas na Educação possibilitam vislumbrar o futuro da própria educação que, certamente, vem pautado pela disposição de incríveis novos aparatos tecnológicos.
Mas o futuro não reside apenas no amanhã. Ele já pode ser experimentado no hoje – e isso tem provocado medo e reação contrária! Medo do novo e de que a tecnologia possa sugar a essência da Educação, transformando-se, por si, no fim (para o bem ou para o mal) ao invés de se contentar em se manter apenas como um meio viabilizador tolerável.
Sim, o medo e a desconfiança são saudáveis, mas não devem ser empecilhos a ponto de provocar reações contrárias à tecnologia, negar a existência da precariedade e a disfunção da Educação atual, negar as soluções remediadoras e curativas proporcionadas pela tecnologia, ou mesmo, e por tudo isso, se posicionar de modo radicalmente contrário e deixar de participar do processo de fusão evolutiva entre ambas.
O casamento entre o Educador e o Tecnólogo está apenas na lua de mel e a relação, supostamente conflituosa, exigirá uma adaptação baseada na vontade de dar certo, na flexibilidade, na compreensão, na paciência e na tolerância mutuas para que renda os bons frutos humanísticos desejados. Lá do céu, que os grandes pensadores da Educação nos mandem sabedoria e lucidez para adaptar seus legados diante da nova situação e que nos estimulem as esperanças quanto ao bom futuro da Educação.
Alonso Mazini Soler, Doutor em Engenharia de Produção POLI/USP, Professor da Rede de Ensino Doctum – amsol@j2da.com.br