As previsões para 2015 não são favoráveis. Se elas se confirmarem, o ano será mais difícil que os anteriores para toda a cadeia produtiva do setor da indústria da construção.
Vejo esta afirmação por um ângulo um pouco diferente. Esse é um cenário de oportunidades para quem faz bem feito. Ao invés das empresas pararem e ficarem somente se preocupando com esse momento, que é passageiro, elas deveriam se preparar para o que virá depois.
Quando observamos o comportamento humano na prática, o das pessoas que estão por trás das empresas, vemos que ele varia entre extremos, como euforia e pânico. Euforia quando tudo vai bem e pânico quando vai mal. Em momentos de euforia, somos mais propensos a criar problemas que podem aparecer lá na frente, quando a economia piorar. Porém, é no pânico que as oportunidades aparecem. Para quem tem bons diferenciais e tem um negócio rentável, a hora de aproveitar é agora, quando os concorrentes estão retraídos. Não quando todos eles estão eufóricos, brigando com você em todos os mercados e com a rentabilidade caindo devido ao aumento da competição. É assim que as grandes fortunas são construídas.
Esse é um momento propício para que as empresas revejam seus procedimentos/processos de trabalho. Usar como exemplo aquilo que deu certo. Entender o que deu errado, investigar para tornar esses processos consistentes, de modo que andem por si só. Os processos não devem ter pessoas que os empurrem, ou seja, não precisa ter uma pessoa cobrando as áreas para que façam suas atividades respectivas. Isso deve acontecer de forma natural.
É necessário rever como as empresas da Construção Civil estão trabalhando. Mudar o que precisa ser mudado, avaliando onde estão os maiores problemas e onde estão os gargalos. Um ditado popular diz que “nunca sabemos o que pode acontecer durante uma construção, por causa de uma série de imprevistos que ocorrem”. São exemplos desses problemas: mão de obra desqualificada, falta de materiais nas obras, prazos que não são cumpridos, desperdícios nas diversas fases dos projetos, materiais mal armazenados que levam ao desperdício e multas que podem sobrevir com a destinação incorreta de RCD.
O que fazer para evitar que esses problemas ocorram? Ou, caso ocorrerem, como minimizá-los?
O que fazer:
Com a mão de obra desqualificada? É necessário orientar esses profissionais sobre onde buscar melhor formação, fazendo uma parte do papel do estado, incentivando e criando oportunidades para que essa mão de obra estude e se torne qualificada. Por exemplo, as empresas devem oferecer, na medida do possível, cursos/treinamentos de qualidade em suas unidades de trabalho, respeitando também os turnos de trabalho para que seus funcionários possam estudar em horários fora de seu expediente.
Para que os prazos sejam cumpridos? São duas atividades importantes: definir o processo para solicitação de material e fazer planejamento e acompanhamento constantes, para evitar falta de materiais nas obras, para que a produção aconteça sem percalços e não pare, além de permitir que os prazos sejam cumpridos. A empresa evitará, dessa forma, gastos com a mão de obra não utilizada e com aquela da qual precisará para finalizar a obra atrasada, sendo que esse custo pode não ter sido orçado. As obras, ao serem concluídas dentro do prazo, evitam custos deste tipo. Criar uma imagem positiva com os clientes é outro aspecto importante, que passa a ser um diferencial perante um mercado que não conclui as obras dentro do prazo.
Para evitar desperdícios com materiais? Em muitos casos, esses desperdícios ocorrem no descarregamento, na movimentação e no armazenamento. No descarregamento, é necessário saber o local e planejar o horário de recebimento. Em alguns casos, será necessário planejar o equipamento que será utilizado para evitar que esse descarregamento seja feito de forma braçal (arcaica), pois com o passar do tempo, o operário se cansará e pode não ter o mesmo rendimento que o inicial. Com o desgaste físico, pode-se ter perdas e até provocar algum acidente de trabalho.
Para armazenar corretamente? Para materiais como cimento, aço e fôrmas, alvenaria, revestimentos, esquadrias, instalações hidráulicas, chapas de compensado, cerâmicas de revestimento, tubos e conexões e materiais elétricos (fios, tomadas, interruptores, disjuntores, entre outros), é necessário definir uma área para armazenamento. Conforme o material, algumas orientações específicas para o tipo de produto devem ser respeitadas. Para materiais como o cimento, deve ser respeitado o FIFO e o empilhamento máximo de 10 sacos de cimento ou gesso, 15 sacos de cal e 20 sacos de argamassa.
Para evitar multas decorrentes da destinação incorreta de RCD? É necessário atualizar os engenheiros e arquitetos sobre as implicações da Lei 12.305, sobre os riscos da destinação em lugares não autorizados e as oportunidades de geração de recursos dentro da cadeia produtiva.
As empresas que reverem seus processos e investirem em ferramentas e treinamentos para suas equipes irão sair na frente na retomada do mercado e estarão melhor preparadas para atender às demandas e se destacarem no mercado, fazendo assim novas fortunas.
Sobre o autor:
Prof. Ms. Celso Luchezzi
- Mestre em Engenharia de Materiais – MACKENZIE, MBA em Logística Empresarial – FGV, Tecnólogo em Processos de Produção – FATEC e Matemático.
- Consultor internacional em Logística, PCP, Planejamento de Materiais e Administração de Estoques.
- Experiência em administração de matéria–prima (in bound), fabricação, armazenamento e distribuição (out-bound), acompanhamento e dimensionamento da capacidade produtiva, na indústria e logística reversa na construção civil.
- Professor universitário para cursos de graduação, pós graduação e MBA e professor convidado do CIESP e SETRANS.