Quando o assunto é inovação, Marcelo Nakagawa é uma das principais referências no Brasil.
Membro do Conselho Consultivo da Anjos do Brasil e do Conselho Executivo de Inovação da Cyrela, ele é professor de Empreendedorismo do Insper, FIA-USP e Fundação Vanzolini. Além disso, leciona sobre inovação e é consultor em venture capital.
Engenheiro formado pela Poli-USP e mestre em administração de empresas, Nakagawa também é coordenador adjunto da Fapesp nos programas de inovação e colaborador de diversas publicações.
Em entrevista exclusiva ao Buildin, ele fala sobre os desafios por trás de inovar e sobre como criar um ambiente favorável à inovação na indústria da construção. Acompanhe!
Sobre a inovação na construção civil
Buildin – Embora seja um termo em voga, a inovação ainda desperta muitas dúvidas. Por que isso acontece?
Marcelo Nakagawa – O termo “inovação” precisa ser visto em quatro contextos distintos para ser compreendido:
- A inovação no dia a dia das pessoas. Nesse caso, qualquer novidade é inovação.
- Inovação dentro da empresa. Cada empresa precisa definir o que é inovação para si e precisa estabelecer quais são seus indicadores e metas.
- Inovação no contexto de captação de recursos por meio do BNDES, CNPQ e Fapesp, por exemplo. As instituições têm conceitos específicos do que é inovação para elas.
- Inovação do ponto de vista legal. De acordo com a Lei do Bem, número 11.196/05, inovação tecnológica é a “concepção de novo produto ou processo de fabricação, bem como a agregação de novas funcionalidades ou características ao produto ou processo que implique melhorias incrementais e efetivo ganho de qualidade ou produtividade, resultando maior competitividade no mercado”.
Buildin – Qual o papel da inovação na construção civil?
Marcelo Nakagawa – O papel da inovação na indústria da construção pode ser dividido em três vertentes:
- Para as empresas, criar novas vantagens competitivas.
- A inovação para o sistema, que é basicamente propor novas soluções, plataformas e processos construtivos.
- Inovação pensada no cliente final, que é criar novas e melhores experiências.
Buildin – Por que a inovação tem se tornado cada vez mais inerente ao sucesso de uma empresa, um grande negócio?
Marcelo Nakagawa – Por causa dos padrões de competição. Você já não consegue mais competir por custo; não consegue competir por qualidade, nem por ser mais rápido. Também já não consegue competir por customização. E é aí que vem um novo campo de batalha, que é aquele no qual você tem que se diferenciar pela inovação para ter sucesso.
Como buscar a inovação?
Buildin – Qual o melhor caminho para buscar inovação nas empresas?
Marcelo Nakagawa – A inovação entra no contexto da empresa em três situações: a primeira situação é emergencial, que é quando a empresa precisa inovar basicamente por questão de sobrevivência. A segunda é a reação a alguma ameaça, já que muitas vezes se inova porque o concorrente já está fazendo isso.
Buildin – Qual é a terceira situação?
Marcelo Nakagawa – É a inovação, de fato, sendo vista como uma oportunidade para a empresa se desenvolver, criando vantagens competitivas.
Pedras no caminho
Buildin – Como conciliar a necessidade de inovar com o mindset de uma indústria tão tradicional como a construção civil?
Marcelo Nakagawa – Começando a inovar por meio da resolução de problemas de curto prazo, principalmente visando a redução de custos. As empresas têm dificuldade em inovar, porque buscam por inovações disruptivas. Só que isso envolve muito mais risco e o retorno sobre o investimento, se chegar, demora.
Buildin – Então, o jeito é simplificar?
Marcelo Nakagawa – É melhor começar por inovações mais simples e incrementais, como redução de custo e aumento de produtividade para mostrar à empresa que isso traz retorno.
Buildin – Como fazer para que as empresas enxerguem a inovação como uma oportunidade em vez de um custo?
Marcelo Nakagawa – Hoje, quando se fala em inovação, as melhores práticas pressupõem prototipação. As empresas podem prototipar rápido e de forma barata. Se enxergarem a oportunidade e conseguir fazer o protótipo se validar, é esse o caminho.
A inovação não é cara necessariamente. Ela pode ser ágil e barata num primeiro momento, por meio de protótipos validados.
Buildin – Quais iniciativas têm se destacado no mercado quando se fala de inovação na construção?
Marcelo Nakagawa – São soluções que não estão diretamente ligadas à construção, mas a sistemas de gestão. Processos de planejamento da construção, contabilidade, centro de custos, etc. O desafio está em implementar novas tecnologias nas construções em si, como o uso de IoT (Internet das Coisas), big data, impressão 3D, que são ferramentas que vão modificar muito como as coisas são feitas.
O papel das construtechs
Buildin – Por que vale a pena investir em startups?
Marcelo Nakagawa – Startups são uma alternativa importante para as empresas. Primeiro, porque é muito mais fácil obter acesso a inovações quando existe uma relação com elas. Segundo, porque se consegue desenvolver uma cultura empreendedora com essas novas iniciativas.
Buildin – Mas como deve ser a relação das construtechs com empresas da construção?
Marcelo Nakagawa – O grande desafio é prototipar. As empresas tradicionais não precisam acreditar totalmente no que a startup está fazendo, mas devem estar abertas a testar novas soluções. Só isso já quebra o estigma de que tudo é feito de maneira igual há anos.
Em suma, as construtechs aprendem com as empresas e as empresas aprendem com as construtechs. Com essa relação, é possível reduzir custos num horizonte de três, quatro, cinco meses, por exemplo.
Buildin – Quais são os principais desafios das próprias startups?
Marcelo Nakagawa – As dores mais comuns estão relacionadas à problemas de gestão. O outro desafio é o desenvolvimento da tecnologia. As startups podem conseguir prototipar, mas não conseguem desenvolver o produto final. Outra questão é quando os sócios não se entendem pelos vários obstáculos que passam.
Em paralelo a isso, quando começam a crescer, veem desafios na capacidade de execução e escala do negócio. Isso porque, às vezes, a startup não está preparada para lidar com empresas que possuem milhares de clientes e processos.
Um ponto bastante crítico também é a relação de colaboradores de grandes empresas com empreendedores. Um não sabe lidar com o outro. O nível de profissionalismo é diferente. A empresa tradicional precisa ser mais flexível com o empreendedor.
Empreendedorismo e inovação
Buildin – O que cada profissional deve fazer para não perder seu emprego pela tecnologia?
Marcelo Nakagawa – Esse é um processo de percepção que afeta praticamente todas as pessoas, principalmente aquelas que realizam trabalhos repetitivos e padronizados. Então, o primeiro desafio é que tenham noção do risco e ameaça que estão sofrendo e buscar informação. Dada essa consciência, o próximo passo é buscar cursos de capacitação confiáveis; buscar associações e cursos de instituições como Senai, Senac e faculdades de primeira linha. Além disso, tem um passo intermediário, que é buscar participação em eventos, encontros, bate-papos e em hubs de inovação.
Buildin – O que podemos esperar do futuro do empreendedorismo no Brasil?
Marcelo Nakagawa – Veremos um processo de profissionalização das startups. Ao longo do tempo, a idade do empreendedor de sucesso foi aumentando. Hoje, 40, 42 anos é a média. A tendência é que tenhamos empreendedores cada vez mais capacitados.
As startups B2B vão superar aquelas B2C. Essas iniciativas também vão nascer com uma visão global, deixando de lado apenas o mercado nacional.
A última tendência é a relação das empresas e startups. O vínculo tende a se tornar um padrão. Esse frenesi que vivemos atualmente vai cair um pouco, mas a ligação das startups às empresas tradicionais vai ser cada vez mais importante.
Conclusão sobre a entrevista com Marcelo Nakagawa
Ficou interessado em saber mais sobre inovação e tecnologia na construção civil? Então, não deixe de acompanhar o conteúdo do Buildin.
Hoje vou te recomendar alguns posts para você se tornar um especialista em inovação na construção.
O primeiro é um texto que explica como fazer inovação na prática.
O segundo, igualmente interessante, é um artigo do engenheiro Aldo Dórea Mattos sobre as causas de fracasso da inovação na construção civil.
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Até a próxima!