De acordo com dados relativos ao segundo trimestre de 2018 e divulgados na manhã do dia 20 de agosto de 2018 pela CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), o estoque de imóveis no Brasil está em queda. Em relação ao primeiro trimestre do ano a queda é de 1,1%. Ela chega a 14,4% em comparação ao mesmo período de 2017.
Na prática, isso significa que, mantido o ritmo atual na relação entre lançamentos e vendas, o estoque de imóveis duraria 12 meses, segundo afirma José Carlos Martins, presidente da CBIC. Há um ano, o volume de imóveis em estoque era suficiente para 19 meses.
De acordo com Celso Petrucci, presidente da Comissão da Indústria Imobiliária (CII) da CBIC, a queda no estoque de imóveis possibilita leituras distintas.
Por um lado, indica uma boa velocidade de venda, em torno de 9%. Mais que isso, explica, “os financiamentos imobiliários, tanto Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) quanto da Caderneta de Poupança, cresceram em torno de 5% de janeiro a junho deste ano. A expectativa de crescimento até o final do ano, pela Abecip, é de 17%”, mencionou Petrucci em referência a dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança. “Os números hoje são equivalentes aos de mercados aquecidos”, compara Martins.
Para Petrucci, a sensação é de que a crise de 2015 e 2016 parece estar ficando pra trás. “É bastante significativo termos atingido neste trimestre o mesmo volume de vendas obtido no último semestre de 2017”, diz. Isso porque, explica, normalmente o segundo semestre do ano concentra dois terços das vendas do ano. “Vendemos quase 30 mil unidades neste trimestre. É um crescimento bastante significativo e o crescimento das vendas é uniforme em todas as regiões do País”, afirma.
Crescimento sob análise
O outro ponto de vista apontado por Petrucci é que, embora positivos, os dados sobre estoque de imóveis geram uma certa preocupação. Afinal, para a CBIC, o movimento no mercado imobiliário – especialmente no que diz respeito a lançamentos de empreendimentos – só não está maior devido à instabilidade no cenário político. “Está muito difícil para os empresários colocar produtos à venda”, pontua.
Dessa maneira, a entidade trabalha com dois cenários. Num deles, a economia e o mercado como um todo se recuperam vagarosamente. Nesta hipótese, nada acontece, pois o setor imobiliário teria tempo de colocar produtos à venda.
Entretanto, não é descartada a possibilidade de haver um crescimento abrupto da economia, com uma demanda em rápida ascensão. “Caso o presidente eleito seja comprometido com reformas e o crescimento do País, se acontecer em 2020 o que aconteceu em 2010, com um crescimento de 1,5% num ano e de 3% no outro, vai faltar imóvel no mercado“, afirma Petrucci.
Para ilustrar tal cenário ele remete ao que ocorreu em 2010 em São Paulo, quando o setor chegou ao menor estoque de imóveis da história e os preços subiram entre 35 e 40%.
A origem do problema não seria a falta de mão de obra qualificada ou de equipamentos, como foi o caso em 2010, mas relacionada a dois fatores. Um deles a própria natureza da construção. “Nosso setor não consegue apertar um botão e aumentar a oferta em 50% de um ano para o outro”, explica. Outro o desequilíbrio entre renda das famílias e preço de venda dos produtos. Com preços subindo abruptamente, as famílias não conseguem acompanhar e o setor fica novamente sem mercado, analisa Petrucci.
Gargalo na oferta
O crescimento de 119,7% nos lançamentos em relação ao trimestre anterior e de 19,9% em relação ao mesmo trimestre de 2017 não tem sido suficiente para repor o estoque de imóveis. Afinal, as vendas cresceram 32,1% em relação ao segundo trimestre de 2017 e 17,3% em relação ao primeiro trimestre de 2018. Este panorama é melhor compreendido quando analisada a oferta final por fase de obra.
Sob este aspecto há certa estabilidade, conforme analisa Petrucci. “Nos últimos anos tínhamos muitos imóveis prontos, que vão saindo do mercado. O que é muito bom, pois significam carregamento de dívida para nossas incorporadoras”, diz. Neste mesmo cenário ele comemora a queda na quantidade de distratos. “Um ano e meio atrás, 25% das unidades vendidas eram distratadas. Hoje a cada 10 perde 1”, pontua.
Ainda assim, Martins alerta para o risco de falta de produtos. “Os agentes financeiros se tornaram mais restritivos no acesso ao crédito por parte das empresas, o que criou litígios entre empresas e agentes financeiros”, diz. Como consequência, explica, o crédito das empresas está menor. “Não têm como lançar em quantidade suficiente para atender ao mercado e, se não resolvermos isso, vamos ter um problema sério de falta de produtos”, afirma.
Acesse aqui o estudo completo com os “Indicadores imobiliários nacionais do segundo trimestre de 2018”, da CBIC.