À meia noite da primeira segunda feira da quaresma, o meridiano que adentrará o continente através da Ponta do Seixas/PB, no extremo leste do país, trará consigo o anúncio, de fato, do ano novo de 2018. Contrariando o calendário Gregoriano, o Brasil se acostumou a adotar o calendário paralelo de Momo. Este estabelece um vácuo temporal e um apagão consentido de atitudes e decisões importantes entre o marco oficial de 31 de dezembro e o término das festanças estendidas do carnaval.
O novo ano que começa é uma incógnita que vem precedida de previsões pessimistas de ampliação do cinza e do frio. Quiçá, uma boa opção para o seu posicionamento na história seria “entrar mudo e sair calado”, atravessando o País e chegando em 31 de dezembro no extremo oposto, na nascente do Rio Moa/AC, o mais rapidamente possível, sem alardes ou lembranças de sua passagem.
Afinal, 2018 é apenas uma ponte obrigatória para o país chegar em 2019 sob nova direção.
Ou, na melhor das hipóteses, o novo ano de 2018 poderia incorporar a energia vital de sua juventude e se rebelar contra os desígnios de sua propalada natureza triste, morna e choca. E, desse modo, assumir uma personalidade positiva, enérgica e radiante, enfrentando com coragem e retidão os desafios que assombram a sua jornada de 10 meses entre a Paraíba e o Acre, deixando legados desejados ao futuro do País e carimbando o seu passaporte virtuoso para a história.
Nessa condição, sugiro a 2018, em forma de oração, desafiar abertamente algumas (supostas) utopias nacionais em voga:
Que ilumine a intervenção federal do Rio de Janeiro com as luzes da legalidade e da humanidade, e que aponte alternativas para a superação da violência e da criminalidade urbana em todo o país.
Que nos permita dispor de escolhas de lideranças políticas capazes de unificar e pacificar o País nas eleições presidenciais.
Que nos esclareça na eleição de um congresso novo e diferente, mais ético e comprometido com as causas e o bem-estar da sociedade.
Que devolva a responsabilidade e a decência às instituições que compõem os Três Poderes da república.
Que não permita a aprovação, de forma obscura e questionável, da exclusão de direitos sociais conquistados pela luta democrática.
Que reaqueça o potencial econômico do País permitindo o alento dos jovens, devolvendo o trabalho e a autoestima aos desempregados.
Que fomente a tolerância e o respeito aos extremismos de nossa sociedade polarizada, permitindo a concepção de um ideal de país que satisfaça necessidades e que minimize diferenças.
Que nos permita acolher de forma humana a desgraça alheia dos refugiados Venezuelanos, Haitianos, Sírios, e todos os outros que foram marginalizados de sua cidadania por ditadores sem escrúpulos.
Que puna exemplarmente todos os criminosos de colarinho branco, políticos, empresários e funcionários públicos, permitindo-nos voltar a acreditar na justiça dos homens.
Que 2018 reacenda a nossa esperança no país. Que assim seja. Amém!
Alonso Mazini Soler, Doutor em Engenharia de Produção POLI/USP, Professor da Pós Graduação do Insper e sócio da Schédio Engenharia Consultiva– alonso.soler@schedio.com.br