Gestão das construtoras: como se preparar para 2022

Romário Ferreira

Escrito por Romário Ferreira

20 de outubro 2021| 10 min. de leitura

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Gestão das construtoras: como se preparar para 2022

O rumo do cenário macroeconômico, que impacta a gestão das construtoras, foi destaque tanto na plenária do Construsummit quanto no último bloco temático (trilha Gestão). Afinal, estamos falando de um cenário desafiador, com inflação e taxa Selic ainda em elevação.

Mas o setor da construção, resiliente como sempre, enxerga um horizonte com viés muito positivo à frente. E isso ficou bastante claro ao longo dos dois dias do Construsummit 2021.

Os analistas presentes no evento, como Ana Maria Castelo (FGV), Ieda Vasconcelos (CBIC), Luiz França (Abrainc) e Rodrigo Navarro (Abramat), demonstraram em suas falas um otimismo moderado e cauteloso devido às diversas variáveis que ainda impactam o setor.

Em palestra na trilha Gestão, realizada no segundo dia do Construsummit, o presidente da Abramat, Rodrigo Navarro, lembrou que 2020 foi um ano de superação e fez projeções para o futuro.

“Apesar de todas as dificuldades por conta da pandemia, superamos as dificuldades e fechamos o ano [de 2020] praticamente no zero a zero, enquanto outros setores padeceram muito mais. E agora estamos trabalhando para que, em 2022, tenhamos um ano de crescimento sustentável”, analisa.

Gestão das construtoras: atenção aos materiais

Não é novidade que a alta nos custos dos materiais afetou fortemente o setor nos últimos meses. E ainda vai demandar bastante atenção em 2022. 

Mas a última análise produzida pelo FGV/IBRE para o SindusCon-SP mostra que essa alta está em desaceleração. De acordo com o estudo, o INCC-M de setembro registrou a mesma variação de agosto: 0,56%.

Porém, o estudo ressalta que o preço elevado dos insumos permanecerá como o principal obstáculo a ser superado para a melhora dos negócios no setor. Em sua palestra no Construsummit, o presidente da Abramat abordou o problema. 

“Existe uma série de questões relacionadas a frete, câmbio e falta de matéria-prima. Tudo isso impacta, por isso é importante olhar para os dados e entender como podemos minimizar a alta dos preços”, explica Navarro.

Gestão das construtoras
Palestra do presidente da Abramat, Rodrigo Navarro.

Assim, ele ressalta que, segundo dados da FGV, chegamos ao ponto mais alto de preços. Portanto a estimativa agora é de estabilidade ou até redução desses valores em 2022.

Importação de aço como solução

As cooperativas de compras de insumos têm se mostrado uma ótima alternativa à alta nos custos e à falta de materiais no mercado nacional. Um exemplo – também explorado na trilha Gestão do Construsummit 2021 – é o da Cooperativa da Construção Civil do Estado de Santa Catarina (Coopercon-SC), que realizou a importação de aço.

Segundo José Sylvio Ghisi, presidente da Coopercon-SC, o aço foi um dos insumos que passaram a faltar durante a pandemia, tendo em vista que as usinas reduziram a produção e a entrega passou a ser muito demorada, prejudicando o setor. 

Assim, atendendo a pedidos dos cooperados, a entidade estudou a possibilidade de importar o aço. “Não havia o insumo no mercado nacional e o que tinha estava em constante aumento. Em 2020, houve um aumento de 70% no valor do aço”, relembra Ghisi.

Em 2021, o preço do aço já acumula 180% de aumento. Não é possível justificar este aumento aos clientes, por isso a cooperativa fez uma parceria com uma empresa da Turquia para certificar o aço que seria importado.

“Somos a única cooperativa do Brasil a ter essa certificação, que buscamos justamente para usá-la num momento de falta ou alta de valores”, explica Ghisi.

A iniciativa da cooperativa, que deveria atender somente Santa Catarina, atraiu pedidos de compradores do país inteiro. “O que nos surpreendeu foi o volume. Esperávamos um volume menor, e acabamos fechando um navio de 20 mil toneladas.” 

Para Ghisi, o importante desta experiência foi a união do setor. “Participaram desde o início do processo, nos apoiando para a busca do produto. É um processo complexo, caro e que deu muito certo. Já entregamos o primeiro lote, o segundo está chegando e estamos negociando o terceiro navio”, afirma o presidente. 

Gestão estratégica com tecnologia e inovação

Diante desses desafios no setor, outro assunto que permeou o evento foi a importância dos dados e da inovação na construção civil. Em sua palestra, Flávio Aguilar, diretor da Soma Urbanismo, explicou como sua empresa passou a dar atenção ao tema.  

Então, para introduzir o assunto, Aguillar falou primeiramente sobre a implantação da tecnologia dentro da própria Soma Urbanismo. Até 2019, era uma empresa tradicional que começou a perceber que o consumidor estava mudando e ela também precisaria se adaptar a esta mudança. Foi neste momento que criaram um setor de inovação. 

Gestão das construtoras
Flávio Aguilar, diretor da Soma Urbanismo.

“Fizemos isso para permitir que a empresa crescesse a longo prazo. Tratamos a inovação e a tecnologia como meios para que possamos nos manter perenes no mercado, agregando valor para nossos clientes”, explica o diretor.

Segundo o diretor, a inovação se tornou uma questão de vida ou morte para a gestão das construtoras, e precisa ser colocada em pauta o quanto antes.

E essa morte, segundo ele, não tem relação com oferecer ou não bons produtos, ou fazê-lo com ou sem qualidade, “mas porque não estão enxergando a forma como seus clientes estão se dispondo a consumir aquilo que produzem”.  

A importância dos dados

Ainda falando de gestão estratégica e de como se preparar para 2022, o evento discutiu a importância dos dados para a saúde financeira das empresas. E para tratar disso, recebeu Marcel Rodrigues, CEO da Hinc, e Ramon Roberto Deschamps, gerente de Engenharia e Processos da RDO Empreendimentos. 

Deschamps explicou que a utilização de dados com a finalidade de gerar valor e melhorar a saúde financeira das construtoras depende do quanto a empresa está madura o suficiente para fazer uso destes dados. Isso porque “não adianta ter um painel bonito, com muitos dados, se não souber usá-los para tomada de decisão e isso tem que partir dos líderes da empresa”, afirma.

Questionados sobre o nível de maturidade na utilização de dados dentro da construção, Deschamps avaliou que o setor vem acompanhando a tendência, o que acaba colaborando para a melhora na maturidade da utilização de dados dentro do segmento. 

Para Rodrigues, o uso de dados ainda depende de a construtora enxergar as vantagens para o seu negócio.

“Quando começa a entender que passa a contar com mais previsibilidade, que a criação de metas fica mais factível, que a tomada de decisão dele fica mais fácil, que conhece mais o cliente, que tem mais segurança para definir estratégia, que ele consegue analisar vários fatores da empresa, ela fica mais engajado”, explica o CEO da Hinc.

Preços dos imóveis: alta ou estabilidade?

E não tem como falar de gestão das construtoras sem tocar em um pilar essencial: o preço dos imóveis. Por isso, o evento recebeu o economista-chefe na OLX Brasil e professor de Economia da USP, Danilo Igliori, para falar justamente das perspectivas para os preços de imóveis residenciais no Brasil.

Assim, Igliori iniciou sua participação listando cinco cenários que ajudam a compor o mercado imobiliário e que precisamos acompanhar em 2022:

  • Cenário macro: ainda positivo, mas com piora recente, como a alta inflacionária e da Selic, além da alta taxa de desemprego. 
  • Risco e retorno: oportunidades continuarão a se materializar nas dimensões micro (localização e tipologia dos produtos).
  • Comportamento: mudanças de preferências e possibilidades do consumidor em evolução.
  • Transformação do setor: o amadurecimento da atividade imobiliária acelerou muito em meio à pandemia.
  • Classe de ativos: potencial do ativo residencial como alternativa de investimento é enorme. 

Questionado sobre o futuro do preço dos imóveis, Igliori acredita que por conta das questões macro, a tendência é que haja pressão de alta nos preços.

Porém, “como sempre, em qualquer momento do ciclo, a dispersão deste aumento de preço e valorização dos imóveis deve ser muito expressiva, o que faz ser cada vez mais importante prestar atenção nas questões microeconômicas, tipológicas e geográficas do mercado imobiliário para precificar imóveis”, finaliza.

Quer saber o que mais rolou no Construsummit 2021? Então, acesse agora os resumos que fizemos das trilhas Construção e Comercial!