O rumo do cenário macroeconômico, que impacta a gestão das construtoras, foi destaque tanto na plenária do Construsummit quanto no último bloco temático (trilha Gestão). Afinal, estamos falando de um cenário desafiador, com inflação e taxa Selic ainda em elevação.
Mas o setor da construção, resiliente como sempre, enxerga um horizonte com viés muito positivo à frente. E isso ficou bastante claro ao longo dos dois dias do Construsummit 2021.
Os analistas presentes no evento, como Ana Maria Castelo (FGV), Ieda Vasconcelos (CBIC), Luiz França (Abrainc) e Rodrigo Navarro (Abramat), demonstraram em suas falas um otimismo moderado e cauteloso devido às diversas variáveis que ainda impactam o setor.
Em palestra na trilha Gestão, realizada no segundo dia do Construsummit, o presidente da Abramat, Rodrigo Navarro, lembrou que 2020 foi um ano de superação e fez projeções para o futuro.
“Apesar de todas as dificuldades por conta da pandemia, superamos as dificuldades e fechamos o ano [de 2020] praticamente no zero a zero, enquanto outros setores padeceram muito mais. E agora estamos trabalhando para que, em 2022, tenhamos um ano de crescimento sustentável”, analisa.
Gestão das construtoras: atenção aos materiais
Não é novidade que a alta nos custos dos materiais afetou fortemente o setor nos últimos meses. E ainda vai demandar bastante atenção em 2022.
Mas a última análise produzida pelo FGV/IBRE para o SindusCon-SP mostra que essa alta está em desaceleração. De acordo com o estudo, o INCC-M de setembro registrou a mesma variação de agosto: 0,56%.
Porém, o estudo ressalta que o preço elevado dos insumos permanecerá como o principal obstáculo a ser superado para a melhora dos negócios no setor. Em sua palestra no Construsummit, o presidente da Abramat abordou o problema.
“Existe uma série de questões relacionadas a frete, câmbio e falta de matéria-prima. Tudo isso impacta, por isso é importante olhar para os dados e entender como podemos minimizar a alta dos preços”, explica Navarro.
Assim, ele ressalta que, segundo dados da FGV, chegamos ao ponto mais alto de preços. Portanto a estimativa agora é de estabilidade ou até redução desses valores em 2022.
Importação de aço como solução
As cooperativas de compras de insumos têm se mostrado uma ótima alternativa à alta nos custos e à falta de materiais no mercado nacional. Um exemplo – também explorado na trilha Gestão do Construsummit 2021 – é o da Cooperativa da Construção Civil do Estado de Santa Catarina (Coopercon-SC), que realizou a importação de aço.
Segundo José Sylvio Ghisi, presidente da Coopercon-SC, o aço foi um dos insumos que passaram a faltar durante a pandemia, tendo em vista que as usinas reduziram a produção e a entrega passou a ser muito demorada, prejudicando o setor.
Assim, atendendo a pedidos dos cooperados, a entidade estudou a possibilidade de importar o aço. “Não havia o insumo no mercado nacional e o que tinha estava em constante aumento. Em 2020, houve um aumento de 70% no valor do aço”, relembra Ghisi.
Em 2021, o preço do aço já acumula 180% de aumento. Não é possível justificar este aumento aos clientes, por isso a cooperativa fez uma parceria com uma empresa da Turquia para certificar o aço que seria importado.
“Somos a única cooperativa do Brasil a ter essa certificação, que buscamos justamente para usá-la num momento de falta ou alta de valores”, explica Ghisi.
A iniciativa da cooperativa, que deveria atender somente Santa Catarina, atraiu pedidos de compradores do país inteiro. “O que nos surpreendeu foi o volume. Esperávamos um volume menor, e acabamos fechando um navio de 20 mil toneladas.”
Para Ghisi, o importante desta experiência foi a união do setor. “Participaram desde o início do processo, nos apoiando para a busca do produto. É um processo complexo, caro e que deu muito certo. Já entregamos o primeiro lote, o segundo está chegando e estamos negociando o terceiro navio”, afirma o presidente.
Gestão estratégica com tecnologia e inovação
Diante desses desafios no setor, outro assunto que permeou o evento foi a importância dos dados e da inovação na construção civil. Em sua palestra, Flávio Aguilar, diretor da Soma Urbanismo, explicou como sua empresa passou a dar atenção ao tema.
Então, para introduzir o assunto, Aguillar falou primeiramente sobre a implantação da tecnologia dentro da própria Soma Urbanismo. Até 2019, era uma empresa tradicional que começou a perceber que o consumidor estava mudando e ela também precisaria se adaptar a esta mudança. Foi neste momento que criaram um setor de inovação.
“Fizemos isso para permitir que a empresa crescesse a longo prazo. Tratamos a inovação e a tecnologia como meios para que possamos nos manter perenes no mercado, agregando valor para nossos clientes”, explica o diretor.
Segundo o diretor, a inovação se tornou uma questão de vida ou morte para a gestão das construtoras, e precisa ser colocada em pauta o quanto antes.
E essa morte, segundo ele, não tem relação com oferecer ou não bons produtos, ou fazê-lo com ou sem qualidade, “mas porque não estão enxergando a forma como seus clientes estão se dispondo a consumir aquilo que produzem”.
A importância dos dados
Ainda falando de gestão estratégica e de como se preparar para 2022, o evento discutiu a importância dos dados para a saúde financeira das empresas. E para tratar disso, recebeu Marcel Rodrigues, CEO da Hinc, e Ramon Roberto Deschamps, gerente de Engenharia e Processos da RDO Empreendimentos.
Deschamps explicou que a utilização de dados com a finalidade de gerar valor e melhorar a saúde financeira das construtoras depende do quanto a empresa está madura o suficiente para fazer uso destes dados. Isso porque “não adianta ter um painel bonito, com muitos dados, se não souber usá-los para tomada de decisão e isso tem que partir dos líderes da empresa”, afirma.
Questionados sobre o nível de maturidade na utilização de dados dentro da construção, Deschamps avaliou que o setor vem acompanhando a tendência, o que acaba colaborando para a melhora na maturidade da utilização de dados dentro do segmento.
Para Rodrigues, o uso de dados ainda depende de a construtora enxergar as vantagens para o seu negócio.
“Quando começa a entender que passa a contar com mais previsibilidade, que a criação de metas fica mais factível, que a tomada de decisão dele fica mais fácil, que conhece mais o cliente, que tem mais segurança para definir estratégia, que ele consegue analisar vários fatores da empresa, ela fica mais engajado”, explica o CEO da Hinc.
Preços dos imóveis: alta ou estabilidade?
E não tem como falar de gestão das construtoras sem tocar em um pilar essencial: o preço dos imóveis. Por isso, o evento recebeu o economista-chefe na OLX Brasil e professor de Economia da USP, Danilo Igliori, para falar justamente das perspectivas para os preços de imóveis residenciais no Brasil.
Assim, Igliori iniciou sua participação listando cinco cenários que ajudam a compor o mercado imobiliário e que precisamos acompanhar em 2022:
- Cenário macro: ainda positivo, mas com piora recente, como a alta inflacionária e da Selic, além da alta taxa de desemprego.
- Risco e retorno: oportunidades continuarão a se materializar nas dimensões micro (localização e tipologia dos produtos).
- Comportamento: mudanças de preferências e possibilidades do consumidor em evolução.
- Transformação do setor: o amadurecimento da atividade imobiliária acelerou muito em meio à pandemia.
- Classe de ativos: potencial do ativo residencial como alternativa de investimento é enorme.
Questionado sobre o futuro do preço dos imóveis, Igliori acredita que por conta das questões macro, a tendência é que haja pressão de alta nos preços.
Porém, “como sempre, em qualquer momento do ciclo, a dispersão deste aumento de preço e valorização dos imóveis deve ser muito expressiva, o que faz ser cada vez mais importante prestar atenção nas questões microeconômicas, tipológicas e geográficas do mercado imobiliário para precificar imóveis”, finaliza.
Quer saber o que mais rolou no Construsummit 2021? Então, acesse agora os resumos que fizemos das trilhas Construção e Comercial!