Neste episódio do Sienge Podcast da Construção, com o tema “Industrialização e Digitalização do Canteiro de Obras”, nós conversamos com Felipe Cassol, Diretor Superintendente CEO da Cassol Pré-fabricados, que atua no ramo da construção industrializada há 18 anos.
Felipe também ocupa, atualmente, a cadeira de Presidente do Conselho Estratégico da ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada em Concreto), e é um dos palestrantes do Construsummit 2025, que vai acontecer nos dias 4 e 5 de junho em Florianópolis, Santa Catarina.
Acompanhe os principais momentos do conteúdo neste artigo ou, se preferir, assista ao episódio completo no vídeo abaixo.
Principais Insights
Separamos abaixo os principais insights deste episódio para você acessar com mais facilidade. Se quiser saber mais sobre eles, não deixe de assistir ao conteúdo completo.
- A industrialização da Construção Civil é uma tendência irreversível devido à necessidade de eficiência, rapidez e menor dependência de mão de obra.
- A modularização e a pré-fabricação são essenciais para otimizar processos e o uso de componentes industrializados permite maior padronização das obras.
- A Reforma Tributária pode acelerar a industrialização se trouxer uma isonomia, de modo que as fábricas consigam suprir a demanda sem depender da montagem.
- O mercado imobiliário residencial já está adotando soluções industrializadas e que estamos vendo agora é sua expansão para a incorporação residencial.
- A escassez de mão de obra reforça a necessidade da industrialização, pois os métodos precisam evoluir para depender menos da mão de obra tradicional.
- A mudança cultural é o principal desafio para a adoção da industrialização. A maior barreira para essa transformação não é tecnológica, mas sim a adaptação da mentalidade do mercado.
- Empresas precisam definir sua estratégia e estarem abertas à mudança. Pode-se começar industrializando componentes específicos e depois ir expandindo.
Esses pontos mostram que a industrialização definitivamente veio para ficar e tem se tornado, cada vez mais, uma necessidade para a competitividade do setor nos próximos anos. Vamos ver a seguir alguns dos principais tópicos abordados na entrevista.
Perguntas e respostas
Nesta seção de Perguntas e Respostas, destacamos os principais insights da conversa entre Guilherme e Felipe Cassol, abordando temas como a crescente adoção da industrialização na Construção Civil, os desafios da implementação desse modelo e os impactos da reforma tributária no setor.
Acompanhe os melhores momentos do bate-papo.
1) Por que a industrialização na Construção Civil está ganhando relevância?
Guilherme Quant: O que está acontecendo, Felipe? A pré-fabricação e os pré-moldados não são novidades – já existem há quase 50 anos – mas, na sua opinião, por que esse modelo construtivo está ganhando ainda mais relevância nos dias de hoje?
Felipe Cassol: É um ponto interessante para organizarmos o vocabulário. A pré-fabricação e o pré-moldado são similares, mas nem todo pré-fabricado é um pré-moldado e vice-versa. Os pré-fabricados são produzidos em ambientes controlados. Dentro desse universo, temos os componentes de uma dimensão, os painéis (de duas dimensões) e as caixas modulares (de três dimensões), que estão ganhando bastante destaque atualmente.
A pandemia foi um fator importante que acelerou esse processo. Surgiu a necessidade de construções rápidas e também houve um movimento social que reduziu a disponibilidade de mão de obra. Com isso, a construção industrializada ganhou força. Por isso, acredito que essa tendência veio para ficar. A matriz construtiva no Brasil ainda não está preparada para essa demanda crescente, e as empresas precisarão se adaptar.
A construção modular é a base da industrialização, pois, para termos um processo verdadeiramente industrial, precisamos de um alto grau de recorrência e padronização. A modularização permite essa otimização desde a fase de projeto, aproveitando ao máximo os benefícios da industrialização.
2) Como o mercado tem reagido a essa mudança?
Guilherme Quant: Felipe, você que já está à frente desse setor há muito tempo e que vem de uma família com quatro gerações ligadas à construção industrializada, como você tem percebido a curva de adoção desse modelo nos últimos anos? Como o mercado tem reagido a essa mudança?
Felipe Cassol: Essa é a grande pergunta do momento. A construção industrializada existe há muito tempo e se fortaleceu no pós-guerra, quando a Europa precisou ser reconstruída rapidamente. No Brasil, 70% do cimento consumido ainda é voltado para a autoconstrução, o que demonstra como a construção industrializada ainda tem um grande espaço para crescer.
Em segmentos como infraestrutura, logística e indústria, a pré-fabricação já é amplamente utilizada, mas o que estamos vendo agora é sua expansão para a incorporação residencial.
O grande desafio para expandirmos esse modelo é que poucos projetistas e gestores de obra estão preparados para trabalhar com pré-fabricados. A transição exige um novo modo de pensar a concepção dos projetos. Para estimular essa transição, é importante que arquitetos e engenheiros se aprofundem nesse conhecimento, permitindo que os projetos sejam concebidos desde o início de forma industrializada.
3) Como a Reforma Tributária pode impactar a industrialização
Guilherme Quant: Não tem como falar do futuro da Construção Civil no Brasil sem citar a Reforma Tributária. Com as mudanças, a construção fora do canteiro passa a ter um peso tributário equivalente à construção dentro do canteiro de obra. O quão representativo é esse movimento para a Indústria da Construção e como as empresas devem se preparar para o impacto no dia a dia?
Felipe Cassol: Acredito que, uma vez que consigamos equalizar e formalizar a isonomia tributária, garantindo uma carga tributária justa para todos na Construção Civil, as fábricas terão mais oportunidades para focar exclusivamente na produção.
Hoje, nosso maior gargalo na fabricação é a necessidade de montar as peças para sermos competitivos. A Cassol, por exemplo, está presente em 20 obras simultâneas no Brasil, com equipes de montagem operando em paralelo. Essa complexidade, que envolve equipamentos pesados e altos padrões de segurança, limita nossa capacidade de aumentar o volume de produção.
Se a Reforma Tributária garantir essa isonomia, as fábricas poderão suprir a demanda sem depender da montagem, permitindo maior eficiência. Essa visão é bastante disruptiva, pois a tendência tem sido focar na produção de forma isolada, enquanto a solução real envolve repensar toda a cadeia de montagem.
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4) Por onde começar para aderir à industrialização?
Guilherme Quant: Para o profissional que está escutando agora e quer começar a investir em industrialização, quais são os modelos disponíveis que você recomenda e quais os ganhos reais de cada um? Por onde começar?
Felipe Cassol: O primeiro passo é abrir a cabeça e aceitar a mudança. Não é necessário transformar todo o processo de uma vez; é possível começar industrializando componentes específicos, como varandas, escadas ou lajes pré-fabricadas. O importante é escolher um fornecedor confiável e desenvolver uma relação de aprendizado e crescimento conjunto.
A FGV realizou uma pesquisa sobre industrialização em julho de 2024 com 510 empresas. O estudo mostrou que 65% delas já utilizam algum sistema industrializado. Os mais comuns são kits elétricos (80%), estruturas pré-fabricadas de concreto (70%), drywall, estruturas metálicas e kits hidráulicos. A adoção gradual desses sistemas é uma estratégia viável para quem deseja entrar na industrialização.
5) Por que a industrialização ajuda a reduzir a dependência da mão de obra?
Guilherme Quant: Como você falou, a industrialização leva a produção para fora do canteiro de obras. E no canteiro a escassez de mão de obra qualificada é uma realidade que vem afetando diretamente as empresas do setor. Eu tenho aqui um dado impressionante da Sondagem da Construção 2024: 71,2% das empresas da Construção tiveram dificuldades em contratar trabalhadores qualificados nos últimos 12 meses, sendo que 39% relataram muita dificuldade. Como você enxerga o papel da industrialização como resposta a esse problema?
Felipe Cassol: Com a industrialização, o perfil do trabalhador também muda. A força física não é mais tão essencial, pois os equipamentos fazem o trabalho pesado. Isso abre espaço para maior participação feminina na construção, especialmente em funções que exigem precisão e detalhamento. Muitas empresas já utilizam mulheres em setores como carpintaria e acabamento, pois elas demonstram maior ritmo e capricho.
O desafio, no entanto, está na capacitação desses profissionais. A Cassol, por exemplo, busca se tornar um centro de excelência na formação de mão de obra, entendendo que muitos dos trabalhadores treinados acabarão migrando para outras empresas.
A lógica é que, enquanto estiverem na empresa, devem gerar valor e receber formação de qualidade. O mercado mudou e a retenção a longo prazo não é mais a realidade. O foco deve ser o desenvolvimento de competências para que os profissionais sejam mais produtivos e valorizados.
No fim, a industrialização da construção surge como uma das respostas para a escassez de mão de obra, reduzindo a necessidade de trabalhadores nos canteiros e otimizando processos. Ainda existem desafios, como a aceitação do mercado e a formação de profissionais qualificados, mas o setor caminha para uma transformação inevitável, onde a tecnologia e a eficiência operacional se tornam protagonistas.
Felipe Cassol estará no Construsummit 2025
Essas cinco perguntas são apenas alguns dos temas abordados no episódio sobre a “Industrialização e Digitalização do Canteiro de Obras”. Não deixe de ver o conteúdo completo para entender melhor cada uma das nuances dessa nova era na Construção Civil.
Além disso, este e outros temas relevantes também serão abordados e aprofundados no Construsummit 2025, que acontecerá nos dias 4 e 5 de junho em Florianópolis, Santa Catarina. Além de Felipe Cassol, que falará um pouco mais sobre a industrialização no setor, outros palestrantes trarão assuntos indispensáveis para os dias atuais.
O Construsummit deste ano terá como tema Inovação e Tecnologia: as chaves para decifrar cenários econômicos, otimizar a gestão da Construção Civil e construir o futuro do setor.
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