Confira o bate papo com Marcos Monteiro, especialista em engenharia de estruturas e sócio-diretor da Planear Engenharia. Agora, Marcos é também colunista Buildin e vai falar sobre temas relacionados a tecnologia e informatização de projetos.
Marcos, conte um pouco sobre sua formação e experiência profissional, por favor.
Não me lembro ter desejado outra profissão que não fosse ser engenheiro civil. Desde muito pequeno eu falava que queria construir prédios. Não sei o porquê, pois não havia nenhuma pessoa da família que trabalhasse na área. Assim, não passei pela fase de incertezas e questionamentos de escolha da profissão. Me formei no Mackenzie em 1988. Logo em seguida, comecei o curso de pós graduação em estruturas na Poli-USP, pois estagiava na área desde o 3º ano de faculdade. Passei pelo setor de siderurgia, onde atuei como assistente técnico a obras e projetistas.
Na sua opinião, quais foram os ganhos obtidos com essas experiências?
Esse período foi muito importante na ampliação de minha rede de contatos e pude aliar meus conhecimentos de projeto com as aplicações em obras. Entre 1996 e 1999, tive uma empresa de projetos em sociedade com o engenheiro Francisco Graziano. Nesse período pude desenvolver conhecimentos gerenciais na prática e com um MBA na Mauá. Foi o período em que iniciei também a minha carreira acadêmica.
Quando fundou a sua empresa atual?
Em 2000, iniciei a Planear Engenharia com atuação em projetos estruturais e consultorias. Aproveitando minha experiência na área de siderurgia, em conversa com o engenheiro Nelson Covas, acertamos a continuidade do desenvolvimento do CorBar, software da TQS para gestão de centrais de aço cortado e dobrado. Esse foi o embrião da TQS-Planear, empresa de informática voltada a sistemas para a área da construção civil. Em paralelo, sempre considerei importante a participação institucional, buscando o desenvolvimento do setor. E daí, as oportunidades como presidente da Abece (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural), Conselheiro do Consic/Fiesp (Conselho Superior da Indústria da Construção da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e participação na elaboração de Normas Técnicas.
Como você se especializou em estruturas?
No terceiro ano do curso de engenharia civil, um colega meu, que trabalhava em um escritório de projeto estrutural, perguntou se eu não tinha interesse em ajudar o chefe dele a corrigir exercícios de aula. Na época, eu estagiava na CET/SP, mas o dinheiro extra vinha em boa hora. Após uns três meses, corrigindo exercícios a distância, veio o convite para trabalhar no escritório. Comecei ajudando na adaptação de softwares para os primeiros PCs que estavam chegando ao Brasil. Pouco tempo depois, com o aquecimento do mercado gerado pelo Plano Cruzado, tive que começar a ajudar na área de projetos estruturais, de onde não mais me afastei.
Quais temas você pretende abordar nos seus posts para o Buildin?
Mais do que discutir sistemas estruturais e novas tecnologias, meu grande interesse é o impacto que concepções estruturais diferentes trazem para a produtividade e custos finais de um empreendimento. Hoje, os empreendedores já entendem que a qualidade de um projeto estrutural vai muito além do que menores consumos de aço e concreto. Existem diversos aspectos a serem considerados na escolha do melhor sistema estrutural para um empreendimento. Estes passam pelas suas características, experiência da construtora, formas de financiamento etc. Além desses temas, que são bastante ricos, espero ter a oportunidade de abordar aspectos relacionados à gestão de empresas e de pessoas. São assuntos que fazem parte do meu dia a dia e que são vitais para o sucesso de qualquer negócio.
Como você definiria a importância da tecnologia para a formação e a atuação do engenheiro civil hoje em dia?
Hoje, a tecnologia é uma realidade presente em todos os setores da economia. Grande parte das questões referentes à adaptação dos profissionais às novas tecnologia ou aos benefícios trazidos por sistemas computacionais não mais existirão. Profissionais da faixa dos 40 a 50 anos de idade passaram e estão passando por essa transição e fazem esse tipo de questionamento. Mas, basta pegar crianças com três anos de idade e observar a facilidade com que elas usam aparelhos eletrônicos para se dar conta que o choque da adaptação a novas tecnologias vem reduzindo substancialmente.
Então tanto a tecnologia quanto as pessoas têm evoluído para interagir melhor?
Os equipamentos e sistemas operacionais são cada vez mais amigáveis, tornando sua operação uma atividade natural. Vejo um desafio para as empresas de softwares de engenharia no sentido de conseguirem desenhar e adaptar sistemas para que incorporem novas funcionalidades, Por outro lado, com a disponibilidade cada vez maior de sistemas, os usuários, individuais e corporativos, terão que estabelecer critérios adequados para a escolha de tecnologias que agreguem valor à sua atividade.
Esse tipo de formação o profissional não obtém na faculdade, certo? Quais são os meios para que os profissionais incorporem a tecnologia à sua rotina de trabalho?
Creio que um requisito importante para qualquer profissional, nos dias de hoje é que ele não seja tecnofóbico. Atividades repetitivas e disponibilização de informações, entre outras atividades, são mais eficientes com auxílio da tecnologia. Então, resistir a esse realidade só trará dificuldades ao desenvolvimento profissional. Por outro lado, atividades que exijam criatividade, tomadas de decisão com base em variáveis complexas e a gestão de pessoas e empresas, aí incluídos os empreendimentos de construção civil, continuarão a exigir profissionais preparados para sua realização. Assim, aquele que teme que a tecnologia tirará seu emprego, provavelmente está certo! Então, cabe a ele buscar formação profissional sólida para que possa tomar decisões tecnicamente adequadas e o desenvolvimento de habilidades de gerenciamento, tornando a tecnologia sua aliada.
Hoje em dia ainda vemos o BIM como uma novidade na engenharia. Na sua opinião o conceito BIM já deveria estar mais difundido no mercado?
Sim, é verdade. Há, pelo menos, 10 anos vemos artigos, palestras, seminários, tratando o BIM como uma novidade. O conceito geral do BIM, de virtualização total de um empreendimento, é, sem dúvida, um caminho a ser trilhado e sem volta. O BIM faz com que as informações de todos os projetos sejam categorizadas, quantificadas e armazenadas, fornecendo subsídios para o planejamento, orçamento, execução, manutenção etc. Entendo que o grande problema é que não se chegou, até o momento, a uma equação econômica que viabilize a implantação do BIM.
O que falta?
São necessários investimentos em softwares, em equipamentos mais potentes, em equipes para a implementação de informações complementares nos modelos. Principalmente, são necessário investimentos em inúmeras horas necessárias para reuniões de discussão dos procedimentos de integração da cadeia produtiva. Então, o que vemos hoje, são investimentos pontuais de empresas que entendem que o BIM se tornará um padrão de mercado e pretendem estar à frente no processo. O quadro só mudará a partir de um consenso mínimo entre fornecedores, construtoras, projetistas e demais participantes do setor para viabilizar essa equação econômica e que estabeleça compromissos e prazos para implantação do sistema.
E nos escritórios de projeto? O que falta para o BIM entrar definitivamente?
Em minha opinião, os dois principais pontos são demanda e viabilidade econômica. Ainda são poucos clientes que demandam por modelos BIM. Na maioria dos casos, o que se faz hoje é a integração de modelos 3D para compatibilização dos mesmos e, em alguns casos, para planejamento da execução. Como foi dito, o verdadeiro conceito de BIM é muito mais amplo. Porém, nenhum escritório de projetos implantará informações adicionais nos modelos sem repactuar valores de honorários que viabilizem atividades adicionais. Por outro lado, nenhuma construtora investirá sem clareza sobre os benefícios gerados no processo.
No campo dos materiais estruturais, o que você tem visto de novo?
Existem muitos estudos: fibras, polímeros e outros materiais que melhoram significativamente as propriedades do concreto, reduzindo ou eliminando a necessidade do aço. Mas, sem querer ser repetitivo, novamente, se esbarra no fator econômico. Temos o concreto de ultra alto desempenho que chega a tensões de compressão de 450 MPa, a adição de fibras que, em algumas utilizações, minimizam ou eliminam o uso do aço, o uso de barras de polímeros, que substituem as barras de aço, ou ainda, barras de aço galvanizado que aumentam significativamente a vida útil da estrutura de concreto, reduzindo sua manutenção.
Essas novidades já são encontradas nos canteiros de obras?
Todas essas soluções são de uso limitado a situações muito específicas. A realidade atual é que a combinação concreto-aço é uma fórmula de sucesso. Alia a simplicidade de execução com viabilidade de custos. Então, a curto e médio prazos, não vejo materiais que venham ameaçar esse reinado. A principal busca é com relação à otimização da utilização desses materiais. Isso no aspecto do dimensionamento das estruturas e em relação aos processos de execução.
O que você vislumbra para a próxima década no que diz respeito a tecnologia para a construção civil?
No Brasil, em função da grande variabilidade de nossa economia, o mercado de construção civil, que tem por característica investimentos de longo prazo, é um dos que mais sofre quanto ao seu planejamento setorial. Talvez, uma das características que mais nos afastam de Estados Unidos e Europa, seja o nível de utilização de equipamentos, afetando diretamente a produtividade dos canteiros. Isso, aliado à complexidade de nossa legislação tributária e trabalhista, faz com que nosso setor viva de “vôos de galinha”. Ou seja, aproveita momentos bons para se capitalizar para os períodos ruins.
Então podemos esperar melhoras a partir do reaquecimento da economia?
Dessa forma, a melhoria das perspectivas econômicas deverá conduzir as empresas a buscar processos de melhoria de produtividade. Isso pela utilização mais intensa de equipamentos e sistemas que auxiliem no gerenciamento de atividades e tomada de decisões. Mas, nesse processo, é fundamental a discussão do processo de contratação de serviços de execução de estruturas. Esse será objeto do meu primeiro post no blog.
Mini Currículo Marcos Monteiro
Marcos Monteiro é engenheiro civil formado pela Universidade Mackenzie em 1988. Obteve prêmios concedidos pelo Instituto de Engenharia e Fundação Maria Luíza e Oscar Americano. O especialista em estruturas Marcos Monteiro fez pós graduação em Engenharia de Estruturas pela Poli-USP, em 1992.
Ele tem MBA pela Escola de Administração Mauá, obtido no ano de 1999. Além disso, Marcos Monteiro é professor de Estruturas de Concreto Armado da Escola de Engenharia Mauá desde 1997. Também leciona para a pós graduação de Gerenciamento de Canteiros da mesma instituição. É sócio diretor da Planear Engenharia desde 2000 e da TQS Planear Consultoria e Informática desde 2003. Foi presidente da Abece (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) no Biênio 2008-2010 e é atual Conselheiro da entidade. Foi membro do Consic (Conselho Superior da Indústria da Construção Civil ) da FIESP entre 2008 e 2010. Colaborador na elaboração de diversas normas da área de estruturas e construção civil.