Empresa ESG: o que é e por que se tornar uma

Taiana Silveira

Escrito por Taiana Silveira

6 de outubro 2022| 12 min. de leitura

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Empresa ESG: o que é e por que se tornar uma

A sigla ESG está cada vez mais presente nas discussões sobre negócios. A importância é tão grande e apresenta um crescimento tão agudo que, no mundo corporativo, esse conceito já é descrito como uma onda. E a construção civil ocupa um lugar de destaque neste debate, com exemplos de empresas ESG.

Na prática, as questões ESG influenciam investimentos, tomadas de decisões corporativas, destinação de recursos e impactam na imagem que o público tem da empresa. Além disso, tanto consumidores quanto órgãos reguladores estão atentos às iniciativas ESG.

Mas, afinal, o que é o ESG, como ele se aplica ao setor de construção civil e qual é o seu estado de maturidade no ambiente de negócios brasileiros?

Neste artigo, entenderemos o conceito de ESG, conheceremos exemplos de empresa ESG, sustentabilidade na construção civil e discutiremos como uma empresa pode engrossar ainda mais essa onda. Boa leitura!

O que é ESG e qual sua importância

O conceito ESG foi criado no ano de 2004. A sigla foi cunhada na publicação Who Cares Wins, iniciativa conjunta entre o Banco Mundial e a organização Pacto Global.

Cada uma das letras representa um dos três princípios que dão sustentação à ideia. Ele são os seguintes

  • Environmental (responsabilidade ambiental): consiste em práticas corporativas ligadas à preservação do meio ambiente. É a forma como as organizações lidam com os impactos ambientais e as ações que tomam para reduzi-los. Iniciativas como a preservação de recursos naturais, redução da emissão de carbono, proteção à biodiversidade e promoção da eficiência energética são exemplos.
  • Social (responsabilidade social): trata-se de como a empresa se relaciona com as pessoas e a comunidade, promovendo inclusão, enfrentando discriminações e promovendo respeito aos direitos humanos. 
  • Governance (governança corporativa): reúne os princípios aplicados à gestão da empresa. A aplicação da governança garante que os propósitos da gestão sejam seguidos, com foco no desenvolvimento econômico e ético da empresa. Abarca garantia de independência do conselho de administração, políticas de transparência e mecanismos para prevenir e investigar casos de corrupção, discriminação e assédio.

Por que ser uma empresa ESG?

No estudo O Premium de ESG: novas perspectivas sobre valor e performance, a consultoria McKinsey reforça a importância das práticas sustentáveis. A maior parte dos executivos que participaram do levantamento crê que a execução de programas sociais, ambientais e de governança geram valor em curto, médio e longo prazo.

Além disso, o ESG causa impactos cada vez maiores no mercado de investimentos. Dados da consultoria PwC indicam que boa parte dos investidores topam até mesmo abrir mão de parte da lucratividade dos negócios no curto prazo em prol das políticas ESG.

E não é só isso: tais iniciativas também são valorizadas durante processos de aquisição. O estudo relata que executivos estão dispostos a arcar valores até 10% maiores para comprar uma empresa com práticas positivas relacionadas aos pilares do ESG. 

Criação de valor com ESG

Os especialistas da McKinsey argumentam que políticas ESG agregam valor aos negócios por meio de cinco elementos. São eles: 

  • Crescimento de receitas
  • Redução de custos
  • Diminuição de intervenções regulatórias e legais
  • Aumento na produtividade dos colaboradores
  • Otimização de ativos e investimentos

ESG na construção civil

A construção civil tem lugar de destaque nos debates sobre ESG. Devido ao uso de materiais e energia, reduzir o impacto ambiental é uma das maiores prioridades do setor. Dados da Global Alliance for Buildings and Construction apontam, por exemplo, que o setor foi responsável por 38% das emissões globais de CO2 em 2019.

Por outro lado, a construção civil já começou a se movimentar. No mesmo ano, os investimentos na construção de edifícios energeticamente eficientes aumentaram, chegando a mais de 150 bilhões de dólares. Tanto que a ONU já se dirigiu diretamente ao ramo para que essa questão seja enfrentada

ESG foi destaque no Construsummit 2022

O ESG na construção civil foi tema de apresentações e debates no Construsummit 2022.

Caio Magri no Construsummit 2022

Em sua apresentação, Caio Magri, diretor-presidente do Grupo Ethos, explica que o ESG é uma jornada – e não um lugar de chegada. Além disso, ele explica, os pilares devem estar integrados entre si:

“‘Socioambiental’ se escreve junto. Não há nenhuma medida social que não tenha a possibilidade de impactar positivamente e trazer ganhos em relação ao meio ambiente. E não há medidas ambientais mais importantes do que aquelas que visam introduzir o bem-estar e a convivência harmoniosa do ambiente em que a gente vive”. 

ESG nas empresas brasileiras: perspectivas

Em outro painel dedicado ao ESG, representantes de três empresas importantes do setor discutiram sobre as práticas corporativas para tornar as empresas de construção mais sustentáveis e socialmente responsáveis.

Os participantes do debate – mediado por Fabrício Schveitzer, Conselheiro de Negócios do Sienge – foram:

  • Roberta Bigucci, Diretora Administrativa de Responsabilidade Socioambiental MBigucci
  • Bianca Setin, Diretora de Operações da Setin Incorporadora
  • Ronaldo Cury, Diretor de Relação com Investidores e Institucionais da Cury Construtora
Empresa ESG em destaque no Construsummit 2022

Setin: o ESG começa de dentro

Em 2004, a Setin foi a primeira construtora brasileira a receber a ISO 14.001, que certifica o desempenho ambiental da empresa. “Essa é uma pauta que olhamos com muita responsabilidade, porque a gente acredita que é algo indispensável para o crescimento sustentável”, explica Bianca Setin. 

A construtora criou, em 2020, um comitê interno constituído por representantes de cada área da empresa para identificar riscos e práticas orgânicas referentes ao ESG. Com isso, a Setin percebeu que muitos elementos positivos já estavam sendo praticados. Um deles, explica Bianca, é a diversidade na força de trabalho:

“Temos, aqui de dentro, de forma bem orgânica, um quadro de mulheres que equivale a 62% do nosso quadro de funcionários. No mercado, esse é um número muito relevante”, aponta a diretora. Ela explica, ainda, que as mulheres também têm uma presença forte nos cargos de liderança da empresa. 

Neste ano, a Setim contratou uma consultoria para determinar as métricas para as práticas ESG da empresa, a fim de traduzir as iniciativas em resultados práticos. 

MBigucci: ESG no DNA

Na MBigucci, o ESG não é novidade. “A gente brinca que é um jogo de letrinhas para a gente contar para o mundo o que a gente já faz a muito tempo. O ESG está no nosso DNA”, conta Roberta Bigucci.

A empresa já conta com um braço focado em responsabilidade ambiental desde 2005, o Big Vida, por exemplo. Há, ainda, iniciativas que sustentam os pilares de governança e impacto social da MBigucci. 

Cury: ESG no mercado de capitais

Ronaldo Cury argumenta que a Cury Construtora executa o ESG há vários anos. “A Cury é uma joint-venture da Cyrela desde 2007 e tem um conselho formado desde então. Esse conselho traz uma questão de governança muito forte para nós”.

Recentemente, uma política institucional ESG foi oficializada na empresa, que também conta com uma comissão multidisciplinar direcionada ao tema. As iniciativas ESG da Cury, com isso, passaram a ter metas específicas e orçamento dedicado. 

Por ser uma empresa de capital aberto, a Cury também precisa ser transparente em suas medidas ESG com seus investidores. “Nossa meta é buscar a certificação do ISE, da B3 (bolsa de valores)”. Para isso, a construtora está em fase de validar seus processos de sustentabilidade

A empresa também apoia ações sociais, sobretudo voltadas para educação e esporte. “Mas a gente sabe que o ‘S’ não para por aí. A gente constrói habitações populares. Já fizemos mais de 70 mil unidades de programas habitacionais desde 1963”, diz Ronaldo. 

Como saber se é uma “empresa ESG”

O ESG não pode ser somente um discurso, explica Roberta Bigucci. “O principal são os valores, isso está intrínseco na empresa”, conta. Além disso, ela assegura que os três pilares devem ser praticados de forma integrada entre si.

Segundo Caio Magri, o ESG é executado por meio da responsabilidade social empresarial. “É uma forma de gestão que é transparente, capaz de dialogar, atuar com todos os seus públicos e, portanto, conseguir criar valor”. 

Ele menciona os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, estabelecidos pela Agenda 2030.

“A construção civil tem a capacidade de impactar em todos esses objetivos. Mas escolha aqueles que são o centro, que dão foco. Aqueles que podem fazer a diferença”. 

O que uma empresa precisa para ser ESG

A partir das discussões sobre ESG do Construsummit, é possível tirar algumas lições importantes sobre as iniciativas empresariais de ESG: 

  • As práticas ESG precisam estar absorvidas na cultura da empresa.
  • As metas e iniciativas ESG devem ser mensuráveis por meio de dados objetivos e relevantes.
  • A sustentabilidade começa de dentro para fora.
  • Fique de olho nas práticas ESG de seus parceiros e fornecedores.

Demonstração de comprometimento com o ESG

Ronaldo ressalta que, enquanto empresa de capital aberto, a Cury vive um ambiente de cobrança por parte de investidores e acionistas para que demonstrem suas ações ESG.

Mas essa preocupação não existe só quando as empresas são listadas na bolsa de valores. Bianca Setin explica que instituições financeiras demandam relatórios de sustentabilidade e governança. “A gente já está avançando e cada vez mais isso vai estar em pauta”. 

Conclusão

Embora o ESG esteja cada vez mais integrado à construção civil, o diagnóstico de Bianca Setin é direto: “nosso setor tem muito para caminhar nos três pilares”.

Caio Magri aponta que “o ecossistema da construção civil tem desafios muito importantes e fundamentais. Estou falando da cadeia de fornecedores, cadeia produtiva, os financiadores. É necessário alinhar estrategicamente os impactos socioambientais e econômicos”.  Isso passa por mudanças em processos produtivos e reorientação de prioridades.

Em relação à governança, Magri destaca a participação do ramo no mercado de compras públicas. Para ele, é necessário “trazer a governança das empresas do setor de construção civil para uma relação de transparência e integridade no processo de relações público-privadas”. 

O Construsummit 2022, além de promover o debate sobre o avanço da onda ESG na construção civil, deu exemplo da sustentabilidade na prática. Isso porque a edição de 2022 foi um evento carbono neutro. Ou seja: não basta somente falar, tem que fazer.