Percepções sobre a Digital Construction Week

Nesse post vou falar sobre minhas percepções sobre a Digital Construction Week.
Temos como o propósito de nosso trabalho no Construtech Ventures fazer a diferença na vida das pessoas por meio de tecnologia para a cadeia da construção e imobiliária.
Para isso, buscamos observar e conhecer o que está sendo desenvolvido de tecnologia de informação no setor nos principais ecossistemas de inovação do mundo.
Assim, investimos e criamos startups de ConstruTechs, negócios de base tecnológica que resolvam grandes problemas do setor.
Esse mês, começamos uma imersão no Reino Unido. Lá tínhamos como primeira atividade de nossa agenda participar de um dos principais eventos sobre construção digital no Velho Continente, a Digital Construction Week. 

Construtech Ventures na Digital Construction Week

A Digital Construction Week é um evento que foi criado em 2016. O intuito é disseminar conhecimento e boas práticas sobre a transformação digital na indústria da construção. 
Em sua segunda edição, eram esperadas cerca de 5 mil pessoas nos dois dias de evento. O evento tem entrada gratuita e proporciona acesso a um conjunto de palestras, workshops e exposições. 
A Digital Construction Week é um espaço para aprender, compartilhar e conhecer pessoas. 
Entre os expositores figuram grandes empresas, como Bentley e Autodesk. Há também muitas startups e empresas de tecnologia. Estas sentem na pele os desafios de implantar tecnologia nesse setor. 
Um destaque para duas das ConstruTechs com maior relevância na atualidade: PlanGrid e BimObject. Estas se destacavam entre os presentes. 
A Digital Construction Week foi criada em parceria com o Digital Built Britain (DBB), órgão governamental que tem como missão promover o movimento de construção digital no Reino Unido. Entre outras atividades, é o principal responsável pelo desenvolvimento do BIM Mandate, que teve o “Level 2” iniciado em abril de 2016.  
Separei alguns dos principais pontos destacados ao longo do evento. Provoco todos a traçar um paralelo com o que podemos esperar para o desenvolvimento da digitalização do setor aqui no Brasil. 

O grande problema do setor: baixa produtividade 

Conforme temos visto nos principais estudos focados em entender as deficiências do setor de construção, a produtividade figura entre os grandes problemas a serem resolvidos. No Reino Unido, conforme testemunhado na Digital Construction Week, o cenário não é diferente. 
Nos últimos anos, o país não apenas está sendo ineficiente em tornar a cadeia de construção mais produtiva. Está vendo seus índices piorarem.
 
 O setor representa 6,7% do PIB do país, e emprega ao todo 2 milhões de pessoas envolvidas com essa cadeia. Terry Stocks mostrou ainda uma outra perspectiva sobre como o setor é peça fundamental para melhorar o ambiente econômico como um todo. 
Atrasos e cancelamentos de projetos de infraestrutura custaram 6 bilhões de libras ao governo nos últimos dois anos. O congestionamento nas grandes cidades britânicas impacta em 31 bilhões de libras na economia local. Casas e escritórios consomem quatro vezes mais energia do que o projetado. 
 
Em muitas ocasiões a Digital Construction Week destacou o papel mais abrangente do setor, não se limitando apenas em pensar, projetar, executar e entregar a obra. 
Há uma oportunidade imensa para ir além e focar na coisa certa. Em outras palavras, o que se tentou demonstrar é que a ineficiência do setor impacta muito mais do que apenas o ciclo de obra. Resulta em uma ineficiência da operação do empreendimento durante todo seu ciclo de vida útil. 
 

O BIM como peça central para tornar a construção Digital 

A primeira palestra do “Main Stage” da Digital Construction Week foi de Mark Bew, chairman UK do BIM Taskgroup & Digital Built Britain. Com o intuito de apresentar as realizações da organização que coordena, mostrou os quatro estágios esperados para adoção do BIM e como foi o processo de implementação do BIM Mandate Level 2. 
 
Não apenas em sua palestra mas em várias outras subsequentes, quem subia ao palco fazia questão de deixar uma mensagem clara. A de que o grande valor gerado com a adoção do BIM não está em seus benefícios imediatos, como ganhos de produtividade, redução de desperdício ou assertividade no custo e prazo de obra. 
O BIM irá proporcionar o acesso, análise e combinação de um volume de dados jamais visto e, com isso, um universo de oportunidades se abre em termos de “Service Provisions”. 
 
Segundo o DBB, as oportunidades em “Service Provision” podem movimentar cerca de 597 bilhões de libras. Quatro vezes mais do que os ganhos proporcionados com a simples implantação do BIM mandate level 2.  
Em vários momentos durante a Digital Construction Week também foi possível notar a insistência dos palestrantes em reforçar a importância da adoção do BIM. Mesmo após a implantação do BIM Mandate, os índices de adoção estão muito concentrados em grandes projetos de engenharia, o que é um sinal para o mercado brasileiro. 
O sucesso do BIM depende muito da dedicação das empresas em adotar a metodologia e não apenas do estabelecimento de normas e padrões propostos por uma organização governamental. 
Por outro lado, Johneynon, diretor da BIM Aliance, afirmou que o processo de adoção é lento, mas que estamos próximos a atingir o ponto de virada. Usando como referência a teoria do “Crossing de Chasm”,  segundo ele 13,5% do mercado adotou o BIM até aqui. Isso representa estarmos próximos de chegar a um ponto de inflexão e ver um desenvolvimento acelerado nos próximos cinco anos. 
 

O que irá gerar disrupção na indústria da construção? Dados, dados e dados 

Um dos pontos mais discutidos ao longo dos dois dias da Digital Construction Week foi a importância dos dados para essa nova era da indústria da construção. 
O desafio do Bim Level 3 é possibilitar o iBIM, uma nova camada de dados que permita a troca e comunicação de informação entre plataformas, rompendo silos, e permitindo o cruzamento de dados das mais variadas formas possíveis. 
Foi também muito explorada a ideia de entender o processo de construção como um fluxo contínuo. Um fluxo que começa no design, passa pela etapa de construção e tem 93% de sua vida útil durante operação e manutenção. 
Será necessário enxergar esse fluxo completo, em um processo de retroalimentação. Começar entendendo o uso é fundamental para otimizar o design, permitir um melhor planejamento e acompanhamento da execução. 
Isso, por sua vez, irá fornecer informações vitais para otimizar posteriormente os trabalhos de operação e manutenção. Os aprendizados gerados ao longo desse fluxo permitirão a futuros projetos aprimorar ainda mais as técnicas e decisões; elevando ainda mais os resultados. 
 
Em sua palestra na Digital Construction Week, David Philip transcendeu a visão sobre o uso dos dados limitado ao contexto do projeto. Ele trouxe o que chamou de City Informaton Modelling, um futuro onde as informações individuais conectadas em uma plataforma comum permitirão o real desenvolvimento das Smart Cities. 
Ele ainda fez questão de reforçar que o BIM é responsável por parte desse processo, mas a menor delas. De acordo com ele, 85% dos dados fundamentais para tornar as cidades inteligentes demandarão outros mecanismos para sua captura e disponibilização em um ambiente seguro e confiável. 
 

Inteligencia Artificial e seu impacto no setor 

Em um cenário onde a abundância de dados será maior a cada dia, há um enorme espaço para se aplicar uma das tecnologias que vem causando maior impacto no cenário tecnológico, a inteligência artificial. 
Assim como em outros setores, é esperado que o trabalho operacional de pouco valor agregado seja substituído pela inteligência de máquina. 
Mike Halley, diretor da unidade de Machine Learning da Autodesk, inspirou o público apresentando um vídeo do futuro do design na construção. 
Imagine você, através de voz, conversando com o computador e descrevendo o projeto que gostaria que fosse desenvolvido. 
Mais do que isso, a máquina entendo seus comandos e conseguindo realizar em mili-segundos o que hoje não conseguimos fazer mesmo com a dedição de muitos dias de trabalho. 
 
Sean McGuire também mostrou iniciativas do governo do Reuno Unido. Têm sido desenvolvidas parcerias com a IBM para usar o Watson como forma de identificar de forma preditiva riscos na manutenção das edificações. 
O sistema parte das informações inicialmente capturadas na etapa de design, ajustadas conforme o as built, e monitoradas em tempo real com a aplicação de sensores distribuídos em pontos críticos da construção. 
Em outras palavras, espera-se que a inteligência de máquina consiga prever um problema que irá acontecer seja ele ligado a elétrica, hidráulica, estrutura ou outro elemento da operação do prédio. 
 

O novo perfil do profissional de engenharia e o gargalo da mão de obra  

A mudança na matriz tecnológica no setor de construção demanda acima de tudo o envolvimento e liderança de pessoas que estejam preparadas para lidar com o novo contexto. 
As tecnologias estão disponíveis, os benefícios e resultados proporcionados são conhecidos. Mas se as pessoas não estiverem preparadas para extrair real valor desse novo cenário, continuaremos ainda muitos anos encontrando o mesmo cenário e sofrendo com os mesmos problemas. 
Modernize ou morra foi a forma que Johneynon usou para expressar o grau de criticidade que o setor de construção está enfrentando e a urgência por passar por uma transformação digital. 
 
Um setor com baixos índices de produtividade, falta de previsibilidade, liderança e operação fragmentada, ausência de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, necessidade de treinamento; e margens decrescentes foram elementos apresentados para reforçar a importante da mudança. 
Em vários momentos da Digital Construction Week foi discutida a necessidade de os profissionais das empresas, desde os altos cargos de gestão, até o mais simples operacional, se capacitarem para lidar com o novo cenário da construção digital. 
 
Em um dos painéis da Digital Construction Week foi discutido o papel do governo, academia e instituições em preparar a força de trabalho para lidar com o novo contexto. É necessário que a academia mude a forma de ensinar e as empresas busquem outras formas de capacitar seus profissionais.  
Foram bastante comentadas as possibilidades que o uso da realidade virtual (VR), realidade aumentada (AR) e realidade mista pode agregar nesse processo (MR). As possibilidades variam desde aplicações em treinamentos, uso de equipamentos de projeção apresentando informações em tempo real aos colaboradores durante a execução dos trabalhos. 
O BAM Group, empresa holandesa de engenharia, mostrou como está usando o Hololens para auxiliar seus profissionais durante etapas de design, construção e manutenção de edificações. 
Através de óculos de realidade mista a empresa consegue visualizar informações virtuais mixadas com o ambiente real, permitindo um melhor entendimento sobre as orientações e características do projeto. 
 

Conclusão 

Mesmo no Reino Unido foi notório ver que são inúmeras as oportunidades de avanço em tecnologia para realmente tornar a construção digital e vermos ConstruTechs conseguindo gerar maior valor a cadeia. 
Todos concordam que a tecnologia já está disponível, mas depende das pessoas terem atitude, conhecimento e vontade de utiliza-las. Em maior ou menor tempo, só ficará no mercado quem conseguir se adaptar ao novo cenário. Uma indústria digital demanda pessoas digitais.  
Um processo de mudança demanda energia, leva tempo, e vai intercalar momentos de êxtase e encontro de decepções. Mas isso é necessário para conseguir realmente realizar a transformação e colher os frutos do sucesso. Quanto mais esperar para romper a inércia, mais tempo levará para conseguir atingir o sucesso.