Reskilling Profissional – Uma agenda nacional

Alonso Mazini Soler

Escrito por Alonso Mazini Soler

4 de junho 2018| 9 min. de leitura

Compartilhe

O WEF – Fórum Econômico Mundial de Davos 2018, elencou o “reskilling” (a reciclagem e a requalificação dos trabalhadores) como uma das prioridades mundiais no combate a ampliação das desigualdades econômicas e sociais mundiais.
Em fomento às discussões, o WEF, em colaboração com o Boston Consulting Group, publicou o relatório de pesquisa “Towards a Reskilling Revolution”, no qual são expostos os desafios e propostas de solução ao problema da reciclagem e requalificação dos trabalhadores em transição de carreiras ameaçadas pela extinção de suas ocupações.
O relatório é voltado ao trabalhador individual e às lideranças empresariais e governos que buscam priorizar suas ações e investimentos em desenvolvimento profissional, como forma de contribuir com a construção de empresas e economias mais prósperas, alicerces de sociedades mais produtivas e socialmente mais justas.

A ampliação das desigualdades

Segundo o relatório, as desigualdades de gênero, inter-regionais, geracionais e de renda correm o risco de serem ampliadas em nível mundial. E um dos fatores-chave que impulsiona essas preocupações é a natureza volátil e incerta do trabalho demandado pelo mercado, decorrente das mudanças provocadas pela convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas – a 4ª Revolução Industrial.

Um novo trabalhador e a urgência do reskilling

A imprevisibilidade da extensão e profundidade dessa disrupção tecnológica e socioeconômica provoca a fragmentação e a polarização do trabalho estável, significativo, adequadamente recompensador e alavancador da mobilidade social, favorecendo, por um lado, os que têm a sorte de viver em determinadas regiões geográficas e dispor de rápida apropriação de certas competências especializadas demandadas, oportuna e convenientemente, pelo mercado, e ameaçando, por outro lado, uma parcela significativa da força de trabalho que descobre, nítida e tardiamente, o descompasso entre seu atual conjunto de competências e as novas demandas de qualificação necessárias para realizar o seu trabalho.
Segundo o relatório, a inserção da inteligência artificial, da robótica e de outros aparatos digitais na rotina do trabalho, requer a ampliação das competências humanas no trabalho, de modo que o sucesso do indivíduo na economia do futuro será decorrente de sua capacidade de complementar, sinergicamente, o trabalho eficiente realizado pelas tecnologias mecânicas ou algorítmicas – ele terá que “trabalhar com as máquinas”.

Por que investir no reskilling?

À medida em que as competências demandas pelo mercado de trabalho mudam drasticamente e põem em risco o emprego, eclode a necessidade individual e premente do trabalhador de se engajar no processo de aprendizagem ao longo da vida (long life learning) visando se manter ou se alavancar em carreiras necessárias, satisfatórias e recompensadoras.
Do mesmo modo, as empresas contratantes terão que investir estrategicamente, e cada vez mais, na formação, requalificação e aperfeiçoamento de seus colaboradores de modo a suprir suas demandas específicas de trabalho decorrentes da apropriação tecnológica, além de contribuir social e responsavelmente para o futuro do trabalho.

O reskilling do trabalhador é viável? 

Entretanto, do debate atual sobre o futuro do trabalho e da necessidade de reciclagem e requalificação profissional, emerge uma máxima que postula que “nem todo minerador de carvão recolocado poderá se tornar um engenheiro de software”. O relatório do WEF deixa de lado a retórica e se deita sobre a resposta à viabilidade prática das opções de transição de emprego, oferecendo trilhas alternativas de carreira para profissões atuais que se encontram em situação de risco de desaparecerem em futuro próximo. Mas deixa no ar a questão: seriam essas alternativas viáveis? Ou, as próprias alternativas profissionais elencadas, que conduziriam o trabalhador ao longo de trilhas da requalificação, também estariam sujeitas desaparecer, ameaçadas pelo mesmo processo tecnológico?

O reskilling do trabalhador é desejável? 

Do mesmo modo, o relatório do WEF alerta que, mesmo dentro da gama de transições viáveis de carreira, pode haver algumas que, no entanto, não representam opções factíveis ou atraentes para os indivíduos que buscam mudar de emprego.
Dois parâmetros acercam essas discussão:
(a) a disposição – o trabalhador estaria disposto a reordenar a sua vida profissional, aventurando-se a reiniciar sua carreira numa área nova que não domina?;
(b) a perspectiva da nova carreira de sustentar financeiramente (ou melhorar) o padrão de vida ao qual o trabalhador em posição de transição de emprego está acostumado a ter.
De fato, a opção cruel que se vislumbra das discussões é a de que, ou o trabalhador ingressa e promove a sua transição de carreira, ou essa ficará à margem do novo ambiente profissional. Encontrar forças para recomeçar é a base dessa decisão!

Uma agenda nacional

No caso de governos e decisores políticos, a reciclagem e a requalificação da força de trabalho existente passam a fazer parte de agendas positivas e de políticas públicas, como alavancas essenciais para fomentar o crescimento econômico futuro e aumentar a resiliência da sociedade em face as mudanças tecnológicas que se vislumbram no horizonte.
Não será o seguro desemprego a peça fundamental para contornar o problema, remediando, à custo de impostos, a vida dos “marginalizados” pelo avanço tecnológico, segregando a força de trabalho nacional entre produtivos e os improdutivos e gerando mais desigualdades, mas sim, o reskilling dessa força de trabalho, capaz de reinserir trabalhadores ativos no mercado em transformação. Certamente essa é uma das pautas mais importantes do debate público na atualidade, em âmbito mundial.
Em paralelo, vale ressaltar o compromisso das instituições educacionais, públicas ou privadas, com a pavimentação do caminho para a oferta de sistemas educacionais adequados, promotores da transição e indutores da reabsorção desta e da próxima geração de trabalhadores no mercado – obrigação das instituições públicas de investirem na extensão de ofertas de ensino médio e superior destinadas à reciclagem e requalificação, assim como, estratégia de negócios das instituições privadas que conseguirem se antecipar e enxergar oportunidades, no âmbito da educação corporativa, decorrentes do problema.

Como antecipar e gerenciar o reskilling?

A pergunta chave que o relatório do WEF se propõe a responder, em nome do trabalhador, do empresário e de governos, diante dessa situação de disrupção é: como antecipar e gerenciar proativamente os realinhamentos e transições do mercado de trabalho de modo a moldar um futuro que possibilite o crescimento econômico e as oportunidades para todos?
Cabe aqui a recomendação da leitura atenta do relatório e da extensão da pesquisa do WEF como farol a iluminar a busca de soluções para mais esse grave problema.
Gostou deste artigo? Saiba mais sobre Reskilling de profissionais de engenharia e construção.
Por:
Alonso Mazini Soler, Doutor em Engenharia de Produção POLI/USP, Professor da Pós Graduação do Insper e da Plataforma LIT Saint Paul. Sócio da Schédio Engenharia Consultiva – alonso.soler@schedio.com.br