No último final de semana foi dada a largada para os testes operacionais da linha de trem que ligará o maior aeroporto do país (Guarulhos) ao centro da cidade de São Paulo. Raridade num país carente de transporte eficiente. Joia da coroa do partido político que se perpetua no poder estadual. Suposta alavanca para as eleições nacionais. Orgulho ufanista paulistano. Coisa de primeiro mundo!
Trem metropolitano
Entretanto, ops! Parece que a história não é bem essa. Apesar do adiantado da obra, a estação final da nova linha 13-Jade da Companhia de Trens Metropolitanos está sendo construída relativamente distante do aeroporto. O trem vai chegar “quase lá”. Ele vai parar um pouquinho antes, há pouco mais de 3 km dos Terminais 2 e 3, onde se concentra aproximadamente 90% do fluxo diário de passageiros. A dita estação final que compõe o conjunto da obra, foi construída relativamente próxima ao Terminal 1 do aeroporto (o famoso “puxadinho”) – aquele que abriga apenas uma das companhias aéreas significativas.
Não há causa técnica aparente que justifique a interrupção do trecho a uma distância relativamente próxima dos demais terminais, visto tratar-se da extensão em linha reta dos trilhos já construídos, sem bloqueios ou interferências aparentes – aliás, a linha de manobras do trecho já chega quase até o Terminal 2.
Então, depois de 14 anos de promessas e de obras tocadas a ritmo letárgico, pelo menos 2 atrasos significativos prometidos para a população (Copa do Mundo e Olimpíadas), 12 km de trilhos, 8 km de elevados, 2 transposições de rios e R$1,8 bilhão de investimentos, a obra não vai chegar aos principais terminais de passageiros do aeroporto, deixando mais de 120 mil pessoas, literalmente, com as malas nas mãos? Sim, os trilhos chegarão perto, mas isso não vai facilitar muito para quem embarca/desembarca de modo direto – sensação de incompletude comum das obras de infraestrutura públicas do país.
Governo e concessionária dizem que ainda resta construir um monotrilho moderno que ligará a estação final do “puxadinho” aos terminais de passageiros, obra que estaria a cargo da concessionária. Mas não há data prevista para que isso tenha início. Uhmmm!!!
A contar pelo tempo que levou para se construir a linha principal, esse monotrilho deverá servir apenas à próxima geração de passageiros. Até lá, e supondo que a linha do trem realmente será entregue em 2018, passageiros de malas nas mãos, terão que se contentar com uma transferência feita através de uma linha de ônibus especialmente contratada para tal – uma linha dedicada que circulará entre os terminais e a estação final, dificultando a logística de acesso ao trem e estendendo o tempo do percurso.
Enfim, apesar do inegável benefício da disposição de uma linha de trem ligando o centro da cidade ao aeroporto internacional, algumas perguntas emergem dessa situação. Seria interessante saber se essa limitação de escopo já estava prevista no projeto original licitado ou se foi motivo de renegociação contratual. Em qualquer desses casos, é curioso suspeitar das justificativas técnicas para tal opção. Mas a pergunta do milhão e que não quer se calar é: Quais seriam os supostos benefícios-cidadão, ou os beneficiários, dessa opção de trajeto interrompido, no mínimo, questionável?
Gostou desse artigo? Quer saber mais sobre a indústria da construção civil? Confira o Guia Completo da Construção Civil.