Escrevo este texto neste feriado que comemora “A Consciência Negra”, envolvido pela paisagem exuberante, na casa de Atibaia que, em 1974, me inspirou a tomar interesse sobre ecoeficiência e como condições climáticas da região e do lugar completam e são estruturais para a arquitetura.
Quando estive nesta região de Atibaia, há 43 anos, encontrei toda a área florestal original decepada para a produção de carvão. A diferença desta destruição da mata em relação ao desmatamento comum praticado de arrancamento de espécies com raízes foi que as arvores de porte e mesmo as menores não tinham sido arrancadas com a raiz, mas cortadas junto as suas bases, o que permitiria recompor a paisagem original ao longo dos anos.
Essa percepção levou-nos junto com os sitiantes locais e moradores, a “Associação Ama Serra”, onde nos compromissamos a manter as bases originais dos troncos das árvores, assim como impedir qualquer tipo de desmatamento, queimada ou poda que impedissem recompor a paisagem natural.
O resultado dessa postura foi que conseguimos ao longo destes quase 50 anos, recompor toda a mata natural com a sua biodiversidade, hoje considerada uma das mais exuberantes de todo o Estado.
Como consequência dessa atitude projetei e construí num sítio nessa mata descampada, a “Casa de Atibaia” como é conhecida hoje, profundamente integrada a rica paisagem a ser mantida intacta em todos os oito alqueires, e que hoje é envolvida pela original vegetação, projeto que defini na época como ecoeficiente e bioclimático e, que vem sendo considerado o primeiro exemplo de casa sustentável.
A condição térmica excelente em todas as estações do ano, as ventilações sudeste e noroeste possíveis pela varanda longitudinal voltada para o norte e internamente que transpõem treliças superiores, e pelo uso do telhado de barro sem forro, pelas aberturas generosas com ampla visão da paisagem e, na parte posterior à varanda, por jardins entre os arcos que constituem arrimos e garantem a ventilação cruzada que ocorre longitudinalmente em toda a habitação.
Essa combinação integrada entre a solução arquitetônica e o lugar envolvente faz com que todos que a usam ou visitam fiquem deslumbrados pela sensações de bem estar, pelo agradável clima interno e ambientes acolhedores fora e dentro da casa.
Mais tarde, em 1981 fiz um texto para publicação no Cadernos Brasileiros de Arquitetura Nº 8*, mais poético do que descritivo para explicar essa arquitetura leve, transparente e acolhedora pela integração feliz entre obra e natureza.
Sem dúvida, a partir da década de 70 e por causa dessa obra, passei a adotar uma postura mais contemporânea nas propostas de arquitetura que se seguiram: residências, conjuntos habitacionais, escolas, universidades, centros de pesquisa, escritórios, clínicas, laboratórios e hospitais.
* Cadernos Brasileiros de Arquitetura nº8, Arquiteto Projeto Editores Associados, 2ª edição, 1981