Escassez de terrenos: o que causa e quais as alternativas para contornar o problema

Guilherme Losekann

Escrito por Guilherme Losekann

27 de junho 2024| 12 min. de leitura

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Escassez de terrenos: o que causa e quais as alternativas para contornar o problema

Entenda as causas e os impactos da escassez de terrenos nas grandes cidades brasileiras e explore soluções inovadoras para o setor imobiliário.

A disponibilidade de terrenos para construção sempre foi um fator determinante no desenvolvimento urbano das grandes cidades. Historicamente, as expansões urbanas seguiram o aumento populacional e as demandas habitacionais. Porém, hoje em dia, especialmente nas principais cidades brasileiras como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, a escassez de terrenos tem se tornado uma preocupação.

Mudanças demográficas, como o aumento da população urbana, e urbanísticas, como a implementação de planos diretores rígidos, têm contribuído para esse cenário. Segundo a 42ª edição do Censo Imobiliário do Sindicato da Indústria da Construção (Sinduscon-ES), o setor da Construção Civil poderia ser muito mais produtivo com menos burocracia, mais disponibilidade de terrenos e maior flexibilidade nos planos diretores dos municípios.

A verdade é que a falta de terrenos disponíveis não é um problema exclusivo do Brasil. Em Miami, por exemplo, a escassez é tão evidente que shoppings centers de menor porte e grandes lojas desocupadas estão sendo convertidos em espaços residenciais, refletindo essa tendência global.

Desafios como estes não só limitam o crescimento das cidades, como também impactam os preços dos imóveis e a viabilidade de novos projetos. Diante desse panorama, construtoras e incorporadoras têm buscado alternativas inovadoras para driblar a falta de terrenos, tanto no contexto brasileiro quanto internacional, inspirando-se em tendências globais para encontrar soluções viáveis e sustentáveis.

Se você tem interesse neste assunto, chegou ao lugar certo. Neste artigo falaremos sobre os impactos da escassez de terrenos no setor imobiliário, os fatores contribuintes para este problema e quais as possíveis alternativas para empresas da Construção Civil. Confira!

O que causa a escassez de terrenos?

A urbanização acelerada e o crescimento populacional são fatores centrais na escassez de terrenos nas grandes cidades. Com mais pessoas migrando para os centros urbanos em busca de melhores oportunidades de trabalho e qualidade de vida, a demanda por moradias e infraestrutura cresce exponencialmente. Segundo o IBGE, o Brasil possui mais de 84% da sua população vivendo em áreas urbanas, o que pressiona ainda mais a disponibilidade de espaços para novas construções.

Além disso, limitações geográficas e ambientais também colaboram para este quadro. Cidades como Rio de Janeiro e Salvador enfrentam desafios devido à topografia acidentada e à presença de áreas protegidas, como florestas e zonas costeiras. Essas restrições ambientais, embora necessárias, limitam a expansão urbana e forçam as construções a se concentrarem em áreas já densamente povoadas, aumentando a competição por terrenos disponíveis.

A legislação e as políticas públicas também acabam impactando diretamente a disponibilidade de terrenos. Planos diretores rígidos, excesso de burocracia e demora na aprovação de projetos podem desestimular novos empreendimentos. Muitas vezes, as regras urbanísticas não acompanham o ritmo das necessidades reais das cidades, resultando em uma oferta insuficiente de terrenos para construção.

Por último, não podemos deixar de mencionar a especulação imobiliária e a valorização do solo urbano, que são outros agravantes da escassez de terrenos. Investidores compram grandes áreas esperando a valorização futura, sem necessariamente desenvolver projetos imediatos. Devido à escassez, ocorre o aumento dos preços, tornando-os inacessíveis para muitos empreendedores.

Impactos da escassez de terrenos no setor imobiliário

Devido à escassez de terrenos, o mercado imobiliário é o primeiro setor a ser impactado com diversos desafios a serem superados dia a dia – a começar pelo aumento dos preços. Com a alta demanda e oferta limitada, os valores dos terrenos nas áreas urbanas dispararam, tornando-se um desafio significativo para investidores e empreendedores.

Com isso, a acessibilidade à moradia e a desigualdade social também acabam sendo afetadas. Com os preços elevados, a população de baixa e média renda enfrenta maiores dificuldades para adquirir ou alugar moradias adequadas. Esse desequilíbrio exacerba a segregação socioeconômica, empurrando as famílias de menor renda para áreas periféricas com infraestrutura deficiente e acesso limitado aos serviços essenciais.

Não podemos deixar de citar, também, as consequências para o planejamento urbano e a infraestrutura, que são igualmente significativas. A falta de terrenos disponíveis força a expansão desordenada das cidades, resultando em problemas como trânsito caótico, poluição e pressão sobre os serviços públicos. Além disso, a necessidade de encontrar soluções para a falta de espaço pode levar a um planejamento urbano inadequado, comprometendo a qualidade de vida dos habitantes e a sustentabilidade ambiental.

Todos esses desafios complexos da escassez de terrenos refletem nas construtoras e incorporadoras. O aumento dos custos eleva o risco financeiro dos projetos, dificultando a obtenção de financiamento e a realização de empreendimentos lucrativos. Além disso, a burocracia e as restrições urbanísticas complicam ainda mais o processo de desenvolvimento imobiliário.

Para superar esses obstáculos, as empresas do setor precisam adotar estratégias inovadoras, como a requalificação de áreas urbanas subutilizadas e a busca por novas tecnologias e métodos construtivos que permitam otimizar o uso do espaço disponível.

Alternativas para contornar a escassez de terrenos

A escassez de terrenos nas principais cidades brasileiras é um desafio crescente que exige soluções inovadoras e estratégicas. Diante da limitação de espaços disponíveis para novas construções, construtoras e incorporadoras precisam buscar alternativas criativas para viabilizar seus projetos e atender à demanda por moradias e infraestrutura.

A seguir, confira algumas estratégias para enfrentar essa questão complexa e promover um desenvolvimento urbano mais sustentável e equilibrado.

Reutilização e requalificação de áreas urbanas

A reutilização e requalificação de áreas urbanas é uma solução para a escassez de terrenos. Projetos de renovação, como o retrofit de edifícios antigos e a transformação de espaços subutilizados, são exemplos dessa abordagem. Em Miami, por exemplo, shoppings centers de menor porte e lojas desocupadas estão sendo convertidos em empreendimentos mistos que combinam unidades residenciais, lojas, escritórios e restaurantes.

Segundo a JLL, companhia de serviços profissionais especializada no mercado imobiliário, de 135 projetos de reforma de shoppings nos Estados Unidos, mais de 50% incluem habitação. As vantagens dessa estratégia incluem a revitalização de áreas degradadas e a melhor utilização do espaço urbano existente. No entanto, os desafios envolvem altos custos de readequação e possíveis resistências legais e comunitárias.

Adoção de tecnologias e inovações

A adoção de tecnologias e inovações é crucial para otimizar o uso dos terrenos disponíveis. Técnicas como a construção modular e práticas de construção sustentável permitem a criação de edifícios eficientes e de alta qualidade em menos tempo e com menor impacto ambiental.

Além de melhorar o planejamento urbano, essas tecnologias também possibilitam a construção em terrenos menores e de forma mais sustentável. A utilização de softwares avançados de planejamento e gestão de projetos também ajuda a maximizar o uso do espaço, reduzindo desperdícios e aumentando a eficiência dos empreendimentos.

Parcerias Público-Privadas (PPP)

Parcerias público-privadas (PPP) também são uma alternativa eficaz para enfrentar essa escassez. As PPPs podem facilitar a liberação e o desenvolvimento de terrenos, especialmente em áreas onde a burocracia é um obstáculo significativo.

Governos e empresas privadas podem colaborar para criar a infraestrutura necessária, simplificar processos de aprovação e financiar projetos habitacionais. Essas parcerias permitem uma distribuição mais equitativa dos riscos e benefícios, incentivando o desenvolvimento urbano sustentável.

Exploração de áreas periféricas e suburbanas

A exploração de áreas periféricas e suburbanas apresenta um grande potencial de desenvolvimento, apesar dos desafios logísticos e de infraestrutura. Investir em melhorias de transporte público, saneamento e serviços básicos nessas regiões pode torná-las mais atrativas para novos empreendimentos.

Além disso, a expansão para áreas periféricas pode ajudar a aliviar a pressão sobre os centros urbanos e promover um crescimento mais equilibrado. A longo prazo, o desenvolvimento dessas áreas pode contribuir para a criação de novas centralidades urbanas, diversificando o crescimento e distribuindo melhor a população.

A escassez de terrenos é um problema contornável

Como você viu, a escassez de terrenos vista nas principais cidades brasileiras representa um desafio significativo para o setor imobiliário, impactando desde o aumento dos preços das propriedades até a acessibilidade à moradia e o planejamento urbano. Com a crescente demanda por espaços urbanos, construtoras e incorporadoras são pressionadas a encontrar soluções inovadoras para contornar essas limitações.

Entre elas, é válido ressaltar a reutilização e requalificação de áreas urbanas, a adoção de tecnologias avançadas, as parcerias público-privadas e a exploração de áreas periféricas que podem ajudar a mitigar a falta de terrenos disponíveis.

É claro que cada uma dessas alternativas apresenta suas próprias vantagens e desafios, mas todas apontam para a necessidade de um planejamento urbano mais flexível e inovador. Inspirando-se em exemplos internacionais, como os projetos de renovação em Miami, é possível vislumbrar um futuro onde a escassez de terrenos seja superada por meio da criatividade e colaboração entre setores público e privado.

Em última análise, enfrentar a escassez de terrenos requer uma abordagem multifacetada que inclua políticas públicas eficazes, investimentos em tecnologia e uma visão estratégica de longo prazo. Somente assim será possível promover um desenvolvimento urbano sustentável, garantindo acesso à moradia de qualidade e melhorando a qualidade de vida nas cidades brasileiras.