O curitibano Caio Bonatto, 32 anos, é engenheiro civil formado pela Universidade Federal do Paraná. Em 2009, ele e dois sócios fundaram a Tecverde, empresa de engenharia que trouxe para o Brasil o sistema wood frame, uma das mais avançadas tecnologias para construções eficientes.
Trata-se de um processo construtivo que apresenta números impressionantes em termos de economia, produtividade e redução do uso de recursos naturais.
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Em 2010, com subsídio do governo da Alemanha e aporte de investidores-anjo e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), a Tecverde inaugurou sua primeira fábrica, em Pinhais, no Paraná.
Em 2014, uma nova fábrica foi instalada, sendo atualmente a maior e mais automatizada indústria de casas em wood frame na América Latina.
Desde sua fundação, a empresa vem acumulando premiações nacionais e internacionais na área de inovação e sustentabilidade.
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Neste Perfil da Construção, o blog do Sienge conversou com Caio Bonatto sobre sua experiência à frente da Tecverde.
Conheça agora um pouco da visão do empresário sobre empreendedorismo, inovação, sustentabilidade e industrialização do setor da Construção.
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SIENGE – A Tecverde possui um modelo de negócio sustentável e inovador. Fale um pouco sobre ele.
C.B. – A sustentabilidade é inerente aos processos e produtos da Tecverde. Utilizando uma tecnologia extremamente sustentável, conseguimos viabilizar seja uma casa de altíssimo padrão em um dos condomínios de maior luxo de Brasil, seja uma casa para o Faixa 1 do Programa Minha Casa Minha Vida, voltada à população de mais baixa renda.
Além disso, temos uma tecnologia construtiva inovadora que permite industrializar 85% da obra. Ou seja, a maior parte da produção ocorre na fábrica e não no canteiro de obras.
Também inovamos no modelo de negócio. Além de aplicar nossa tecnologia em empreendimentos próprios, por meio de uma unidade de negócios de desenvolvimento imobiliário, fornecemos matéria-prima e mão de obra para incorporadoras e construtoras, entregando a estrutura da residência montada.
Dessa forma, acreditamos que conseguiremos utilizar nossa solução na maior escala possível no Brasil.
SIENGE – Em sua opinião, qual é a maior dificuldade para a industrialização da Construção Civil no País?
C.B. – A maior dificuldade parte dos próprios empresários, que são extremamente resistentes à mudança. Eles nunca tiveram coragem para empreender as transformações necessárias ao desenvolvimento do setor, apesar de sofrerem muito com as dores da falta de industrialização.
Entre essas dores, as principais são a baixa produtividade, ausência de controle por processos, carência de tecnologia para gestão sistêmica da qualidade, deficiência na qualificação de mão de obra e conflitos trabalhistas.
Os empresários justificam esse conservadorismo argumentando que o mercado brasileiro é cíclico. Por isso, tentam surfar a próxima onda focados somente em ganhar o máximo possível. Isso faz com que tenham uma visão estritamente de curto prazo e invistam pouco em melhoria de processos.
O segundo maior empecilho para a industrialização é o preço da mão de obra. Até pouquíssimos anos, esse custo era muito baixo. Assim, podíamos contornar qualquer problema de produtividade aumentando o contingente de colaboradores.
Agora, isso não é mais viável. Além do custo ter aumentado, a mão de obra é escassa e não tem a qualidade necessária.
Esses fatores fazem com que a Tecverde acredite que o cenário atual é perfeito para que ocorra a transição para métodos industrializados. Logo isso não será mais uma opção, e só irá sobreviver quem seguir esse caminho.
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SIENGE – A Tecverde contou com a transferência de tecnologia europeia. O quanto os países da Europa estão mais avançados que o Brasil na adoção de requisitos de sustentabilidade?
C.B. – A Europa está cerca de 20 anos a nossa frente nesse quesito. A forma como alguns países integraram o sistema de crédito com a sustentabilidade é fantástica. Eles condicionaram a análise de crédito e as taxas de juros aos índices de sustentabilidade do imóvel.
Também implementaram outros incentivos para a adoção de tecnologias sustentáveis, como desconto no IPTU e financiamentos subsidiados.
Com essas políticas, alavancaram a implantação da sustentabilidade nas obras. Aqui no Brasil, isso está apenas começando.
Em relação à forma de avaliação e aprovação de novas tecnologias, demos um passo importante com a nova Norma de Desempenho, por meio da qual foram estabelecidos critérios mais claros de aprovação de novas tecnologias. Entendo isso como um grande avanço.
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SIENGE – A Tecverde construiu a primeira casa em wood frame do Brasil e possui a maior fábrica industrializada de casas em wood frame na América Latina. Quais são os benefícios desse sistema construtivo?
C.B. – A Tecverde não se diferencia somente pela tecnologia construtiva, mas também pelo processo de fabricação das casas. Graças a isso, temos vantagens importantes em termos de sustentabilidade e produtividade.
Conseguimos reduzir em 80% tanto as emissões de CO2 quanto a geração de resíduos da obra. Também diminuímos em 90% o consumo de água para a construção de edifícios e aumentamos em duas vezes a eficiência térmica e acústica dos empreendimentos. Para completar, construímos a obra de forma quatro vezes mais rápida e diminuímos em quatro vezes a necessidade de mão de obra.
SIENGE – Que conselho você daria aos profissionais de Engenharia interessados em empreender de forma sustentável?
C.B. – A sustentabilidade deve ser um fator intrínseco ao projeto. Quando pensamos em sustentabilidade de uma forma genuína e não pelo viés marqueteiro, conseguimos colher frutos econômicos reais.
Esse conceito não existe para ser aplicado como estratégia de marketing verde ou qualquer coisa supérflua do gênero, mas para que sejamos mais eficientes nos aspectos socioambientais e econômicos.
Se a empresa não tratar o assunto com o comprometimento e responsabilidade necessários, corre o risco de desvirtuar sua abordagem e começar a querer atender a interesses de terceiros.
Em resumo, meu conselho é que os profissionais pensem em seus processos de planejamento e execução fazendo as perguntas básicas: como posso construir utilizando menos recursos, materiais, tempo e transporte? Como posso reciclar o máximo possível de resíduos? São questionamentos simples, mas que nos levam a ser sustentáveis por natureza.
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SIENGE – Como diminuir o desperdício no canteiro de obras?
C.B. – Já na fase de projeto, tentamos otimizar ao máximo os materiais que utilizaremos em fábrica. Assim, conseguimos fazer reutilização de forma sistêmica para diversas obras ao mesmo tempo.
Acreditamos muito mais nesse planejamento do que na reciclagem de um processo ineficiente. Se eu tenho muito material para reciclar no canteiro, significa que algo está errado. Preferimos gastar tempo descobrindo como gerar menos resíduo do que pensando em como reciclá-lo.
SIENGE – Quais foram os maiores desafios encontrados para consolidar o negócio?
C.B. – O principal desafio foi enfrentar as barreiras culturais impostas pelos próprios empresários do setor. Quando falamos em lançar uma casa com tecnologia diferenciada, encontramos muita resistência por parte deles. Por outro lado, não tivemos nenhum problema de aceitação no mercado, tanto entre os consumidores de alta quanto de baixa renda.
Apesar das evidências positivas, os empresários da Construção não investem em inovação porque supõem que os consumidores não irão adquirir imóveis construídos com novos materiais, os engenheiros não irão utilizar softwares para melhorar a eficiência, os corretores não irão adotar sistemas diferentes de venda e assim por diante.
Trata-se de um mercado extremamente conservador, que vai passar por uma fase de grande inovação não para aproveitar oportunidades, como outros setores já vêm fazendo, mas por necessidade.
Nesse sentido, iniciativas como a da Tecverde e da Construtech Ventures são extremamente importantes para quebrar paradigmas e mostrar que novas soluções são possíveis e rentáveis.
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SIENGE – Que mudanças você considera fundamentais para o futuro da indústria da Construção?
C.B. – Em primeiro lugar, precisamos desenvolver novas tecnologias para construção. A Tecverde tem uma excelente solução, mas não é a única. Diversas outras vão surgir, pois há mercado para isso.
Em segundo lugar, é necessário que a Construção Civil adote sistemas para gestão sistêmica de processos, assim como as indústrias automobilística e de bens de consumo fizeram há anos. Isso inclui modularização e padronização total. Também envolve uma gestão por processos e subprodutos, não por serviços e mão de obra, como ocorre hoje.
Por último, o processo comercial precisa mudar rapidamente, pois estamos anos atrás de outras indústrias. É fundamental automatizar procedimentos e proporcionar mais autonomia ao cliente.
Se esses três processos evoluírem, acredito que teremos uma revolução em nossa indústria.
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SIENGE – Como você avalia o processo comercial do mercado imobiliário?
C.B. – Precisamos inovar na forma de vender imóvel e aprovar crédito. Hoje o processo de compra e venda está associado, na maioria das vezes, a um corretor de imóveis que tem pouca influência sobre o cliente final. Além disso, o processo de aprovação de crédito é moroso, burocrático e depende de um agente bancário.
Acredito que esse cenário vá se transformar e o cliente se tornará cada vez mais autossuficiente. No Brasil, o mercado de aluguéis de imóveis já conta com iniciativas como o Airbnb e o Quinto Andar. Se fizermos um paralelo, é quase como comparar um banco tradicional ao Nubank.
Agora essas transformações precisam acontecer também no mercado de compra e venda de imóveis. Creio que isso ocorrerá em breve.
Em breve o blog do Sienge publicará nova entrevista com um profissional de destaque da Construção Civil. Não perca!