Sabemos que o ideal seria que todos os projetos fossem compatibilizados e pudessem ser seguidos à risca sem nenhum problema. No mundo real, muitas vezes temos que adaptar e improvisar em campo para contornar interferências entre projetos. Porém você não precisa continuar tendo estes problemas se utilizar algumas ferramentas e técnicas de compatibilização de projetos.
Neste artigo, apresentarei quais ferramentas você pode usar e como tirar o melhor proveito delas na hora de conferir se tudo que será enviado para a obra está integrado sem interferências. Com isso, você como responsável técnico ganhará maior confiança de quem está executando ao mesmo tempo que gera economia de material e tempo.
Vamos então entender alguns dos problemas mais comuns de interferência que podem ocorrer por falta de compatibilização de projetos:
- Passagem de tubulação por elementos estruturais como vigas e pilares;
- Distribuição de canos, mangueiras e eletrodutos em áreas onde serão aplicados parafusos posteriormente;
- Proximidade de quadros elétricos de tubulações hidráulicas;
- Interferência eletromagnética em sistemas de rede;
- Falta de caimento na rede de esgoto por limitação de trajeto;
- Criação de mochetas a mais.
Estes são alguns dos exemplos de problemas que você pode encontrar, mas não param por aí.
Agora vou apresentar pra você dicas valiosas de como prever a compatibilização de projetos antes de ocorrer interferências e como verificar se deu tudo certo:
1- Planeje mochetas e shafts logo no início
A melhor maneira de se prevenir interferências entre as disciplinas é planejar, já no começo do projeto, caminhos específicos onde os sistemas percorrerão. Leve em consideração todos os sistemas que existirão no prédio: elétrico, lógico, hidrossanitário, PPCI, ar-condicionado, gás, etc.
Crie “rodovias” compostas por mochetas, shafts, eletrocalhas, etc. Estas rodovias concentrarão e distribuirão os sistemas. Lembre-se de deixar algum espaço livre para uma possível alteração posterior como a adição de um novo circuito ou de uma rede de água quente. Com isso, você evita grandes transtornos ao seu cliente após a entrega das chaves.
Mas você pode estar se questionando: e se eu recebo o projeto arquitetônico já pronto e o arquiteto não previu nada disso?
Vamos então para a próxima dica:
2- Comunique-se!
Converse com os outros profissionais envolvidos no projeto para fazer a compatibilização!
Além de possibilitar a troca de conhecimento e o networking, comunicar-se com os seus colegas responsáveis por outras partes do projeto ajudará muito na compatibilização de projetos. Por isso, assim que o seu cliente vier, já pergunte a ele quem irá fazer os outros projetos e até mesmo quem irá executá-los.
Uma boa conversa periodicamente com cada uma destas partes vai garantir o alinhamento de pensamento e de projeto. Diminuirá o tempo de identificação de incompatibilidades e trará mais sinergia e confiança para toda a equipe.
Promova antes e durante o início do projeto reuniões multidisciplinares onde representantes de cada área estarão presentes para contribuir com o seu know-how específico. Isso, além de reduzir drasticamente futuros erros, compartilha a responsabilidade do sucesso do projeto e faz cada participante se sentir mais importante e engajado.
Ok, a equipe já está engajada e se comunicando bem. Mas você deve estar se perguntando: quais critérios vou usar na hora de projetar realmente?
3 – Proteja os sistemas
Agora vou apresentar alguns critérios importantes para se ter em mente na hora de definir onde os sistemas irão passar. Com estes critérios você facilitará a construção, evitará problemas de manutenção e dará maior flexibilidade em caso de reforma.
Um critério básico é evitar a proximidade do sistema hidrossanitário do elétrico. Com isso se evita o risco de curto circuitos caso haja vazamento. Tenha especial atenção ao locar o quadro de distribuição, pois caso haja algum curto nele pode causar o desligamento de todos os circuitos. Caso seja necessário passar os dois sistemas na mesma região, prefira passar a elétrica pela parte de cima.
Tendo o projeto arquitetônico com o layout de uso, veja onde será ou poderá ser instalados móveis, quadros ou qualquer outra coisa que perfure parede, piso ou forro. Com esta análise você poderá evitar passar os sistemas por estas regiões ou alinhamentos e trará mais segurança ao cliente.
Onde houver pontos de rede ou até mesmo sistemas de segurança com câmeras IP, por exemplo, evite passar a fiação de alimentação junto aos cabos de rede. Isto gera interferência eletromagnética e pode deixar a rede mais lenta e inclusive causar a perda de sinal.
Lembre-se que o ar-condicionado ao refrigerar o ambiente condensa a umidade e pode criar goteira. Portanto, evite posicionar eletrodomésticos ou aparelhos elétricos como TV’s e computadores logo abaixo do ar.
E se eu tiver que resolver um conflito na passagem de sistemas, que opções de passagem eu tenho?
4 – Conheça as possibilidades de caminhos
Além da boa e velha mocheta de canto, vou mostrar para você algumas outras alternativas para aumentar o seu repertório de caminhos.
Em alguns espaços como cozinhas, quartos e escritórios, móveis podem representar uma alternativa para a distribuição de pontos elétricos e lógicos, principalmente.
Para isto, é preciso ter ao menos uma ideia de como será o móvel por onde se passará a elétrica e prever uma tomada onde o circuito do móvel será ligado. Esta tomada deve suportar a soma da carga prevista para os pontos do móvel. Com isso, além de economizar tempo na execução da obra, é possível trazer os pontos de luz mais próximos ao usuário.
Aproveite também para distribuir sistemas onde houver forros. Eles possibilitam a passagem livre de cabos e canos, facilitando em caso de manutenção ou modificação. Deve se ter muito cuidado na execução do sistema hidrossanitário pois um vazamento poderá causar a perda do forro.
Em áreas abaixo de banheiros é comumente utilizado forro para esconder o sistema sanitário. No entanto não se esqueça que, apesar dos canos não estarem visíveis, o forro não isola acusticamente bem e deixa o som da descarga passar, por exemplo.
Outra opção é fazer parede falsa de materiais como gesso (drywall) ou MDF. Esta solução é muito utilizada em shafts de banheiro onde o sistema hidráulico vem em kits prontos com tubulação PEX.
Em lugares com pontos elétricos e hidrossanitários no meio de ambientes muitas vezes é necessário utilizar o contrapiso para a distribuição. Neste caso é importante evitar passar por lugares onde serão fixados móveis.
Outra questão é evitar usar PVC para a alimentação de água por não ser um material flexível que resiste bem a possível dilatação e flecha da laje.
Quando for necessário atravessar por uma viga, procure passar próximo ao eixo neutro. Evite passar tubulações que ultrapassem 1/3 da altura total da viga.
No caso de pilares, é possível alargar o elemento e conduzir os sistemas rente ao pilar de concreto, cobrindo tudo com uma massa fraca. Neste caso pode ser útil usar uma ferragem de 5mm ao comprido dentro desta massa para se evitar trincas.
5 – Projetos fáceis de entender
Projetos não são feitos só para encantar o cliente. Projetos executivos devem ter como objetivo principal passar de maneira clara e completa as informações necessárias na obra. Portanto, pense no que é mais fácil e importante para quem estiver construindo entender.
Use cores para distinguir elementos mais intuitivamente, imagens do seu 3D, fotos de exemplos, explicações escritas e qualquer outro elemento que facilite o entendimento. O tempo a mais empregado no projeto sem dúvida economiza muito mais tempo na obra. Além disso, ponha-se a disposição de quem estiver executando para tirar qualquer dúvida.
6 – Ferramentas que exportam em IFC
Para se compatibilizar projetos manualmente é possível utilizar diversos programas de projetos 3D. Eu uso o Revit e o Sketchup. Em ambos os programas já consigo compatibilizar projetos de maneira manual. No entanto para fazer isso automaticamente existem programas que trabalham com arquivos em .IFC.
Mas quais programas usam este tipo de arquivo? Estes são alguns dos programas que conheço que exportam e importam neste formato: QiBuilder, Revit, Sketch, Eberick, ArqCAD, CypeCAD.
7 – Ferramentas que detectam interferência
Exportado o seu arquivo em .IFC, agora você pode usar ferramentas como Solibri ou até mesmo o Interference Check do Revit. Estas soluções apresentarão de forma automática onde os seus projetos estão tendo interferências, poupando tempo e dando mais confiabilidade no processo de busca de interferências.
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Espero que tenham sido úteis as dicas que apresentei e que seus projetos saiam cada vez mais compatibilizados.
Gostaria de saber quais técnicas, procedimentos ou ferramentas você usa para compatibilizar seus projetos. Deixe nos comentários qualquer insight que tiver, pois assim compartilhamos mais boas práticas!