A reciclagem de resíduos da construção civil não é tarefa simples e exige imensa capacidade de planejamento por parte dos profissionais envolvidos. Essa preocupação não é uma questão de escolha, já que a resolução do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) de número 307 de 2002 estabelece a obrigatoriedade de apresentação do Plano de Gerenciamento de Resíduos, o famoso PGRS.
Como a legislação define, a prioridade deve ser a não geração de resíduos nos canteiros de obras, mas, ainda que economize recursos, a atividade naturalmente deixa sobras. As empresas devem ser capazes então de dar o destino apropriado para essas sobras, sendo a reciclagem o mais recomendado para a preservação do meio ambiente
Há quem pense que o atraso de uma obra ou avançar no orçamento são os piores problemas que podem acontecer em um empreendimento de construção civil. Mas existe algo muito pior, que pode acontecer mesmo que o orçamento continue intacto e a obra seja entregue no prazo.
Eu estou falando da falta de gerenciamento de resíduos da construção civil. Esse é um problema que por muito tempo passou despercebido, mas afeta profundamente o planeta e, de forma específica, a saúde financeira das construtoras.
Mas por que a gestão de resíduos tem a ver com economia e preservação ambiental?
Neste artigo eu vou te mostrar o que os dados revelam sobre a reciclagem de resíduos na construção civil hoje e por que vale a pena ter um plano de gerenciamento adequado.
Produção de resíduos X reciclagem: o que os dados mostram
Não é segredo para ninguém que a construção civil produz muitos resíduos, principalmente quando levamos em conta que a maioria das obras ainda é realizada em alvenaria. Sobras de materiais e entulho são parte desses resíduos.
Mas os números ajudam a dar uma noção muito mais precisa de quanto resíduo a nossa indústria produz, quanto disso temos neutralizado com a reciclagem e onde melhorar.
E os dados da Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição (Abrecon) são impressionantes:
Em 2019, se produziu cerca de 290,5 toneladas de resíduos por dia no Brasil. Isso dá uma média de 520 kg de resíduo por dia para cada habitante do país. Consegue imaginar isso? É como se cada pessoa produzisse mais de meia tonelada de entulho todos os dias.
Espaço enorme para melhora
Outro ponto alto do relatório da Abrecon foi a revelação de que reciclamos apenas 21% de todos esses resíduos, sendo que 98% são recicláveis. Falando apenas em proporções percentuais talvez não dê para sentir o impacto da forma correta.
Mas pense no seguinte:
Se todos os resíduos produzidos no país em um único dia fossem reciclados, poderíamos construir 2 estádios do Maracanã. Sim, 2 Maracanãs… por dia!
Obras irregulares como agravante
Talvez esses números tão expressivos passem a falsa ideia de que ninguém recicla nada dos resíduos e que, por isso, não é algo urgente para a sua construtora se preocupar. Se esse pensamento passou pela sua mente, é preciso dar dois passos para trás.
Primeiro, por uma questão muito simples:
A geração de resíduos sem o devido gerenciamento afeta negativamente a sua saúde financeira. Cada material que você não reutiliza ou descarta corretamente é desperdício, dinheiro jogado fora.
Além disso, as grandes construtoras não são o maior problema, mas sim as obras irregulares. De acordo com o Comitê de Incentivo à Formalização na Construção Civil, 50% das obras do país são irregulares. E segundo a Abrecon, são elas que produzem de 60 a 70% dos resíduos.
Ou seja, entre as empresas sérias, a maioria já toma alguma medida, ainda que tímida, para gerenciar os resíduos com maior eficiência.
Plano de gerenciamento de resíduos da construção civil (PGRCC)
Uma das soluções para aumentar o nível da reciclagem com relação ao que acabamos de ver por meio dos dados acima tem um nome bem autoexplicativo: Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PGRCC). Mas o que é isso afinal?
Na prática, o PGRCC é um plano prático para reduzir o impacto ambiental dos resíduos na construção. Ele é guiado por diretrizes determinadas no decreto n°7.404, de 23 de dezembro de 2010). Vale lembrar que a legislação se atualiza constantemente para refletir as melhores práticas e garantir a evolução na gestão correta de resíduos.
Mas como esse plano funciona, exatamente?
Sem entrar em detalhes demais, a operação básica das diretrizes é determinar como lidar com os diferentes tipos de resíduos, desde o descarte até a possível reutilização.
Alguns materiais, como o aço, um dos principais da nossa indústria, são altamente recicláveis e podem ser reaproveitados em muitas atividades. Outros não têm a mesma viabilidade de reuso, mas podem ser descartados com cuidado para evitar maior impacto sobre o meio ambiente.
É possível fazer uma obra sustentável?
Como fica claro ao entender a dinâmica e os motivos por trás do PGRCC existir, é possível sim fazer uma obra sustentável. Com o desenvolvimento da tecnologia e uma consciência mais ampla sobre a necessidade de preservar o meio ambiente, isso fica cada vez mais fácil.
Não é à toa que hoje existem certificações e incentivos econômicos para quem realiza obras com baixo impacto ambiental. Algumas dessas construções sustentáveis são tão notáveis que ganham prêmios e recebem destaque no mundo todo.
Diante de tudo isso, vale fazer aqui uma previsão:
O futuro da construção civil é verde. Não só é possível construir com poucos resíduos como é também o que deve se tornar a regra no futuro, não a exceção. O que prova isso são os inúmeros materiais inovadores e métodos construtivos que facilitam a construção sustentável.
Como tornar as suas obras mais sustentáveis?
Como já deve ter ficado claro para você até aqui, uma das maneiras mais simples e econômicas de tornar suas obras mais sustentáveis é cuidando bem dos resíduos. Fazer um reaproveitamento inteligente de resíduos é uma arte e ciência que vão te economizar muito dinheiro, além de ajudar o meio ambiente e dar maior credibilidade à sua construtora.
Além disso, existem outras alternativas que você precisa levar em consideração se quiser levar a sério a reciclagem de resíduos da construção civil:
Investir em educação ambiental
O grande motivo para reciclar resíduos é a preservação ambiental. E quanto maior o trabalho de educação de todos os envolvidos no ecossistema de uma construção em torno disso, maior o reaproveitamento.
Se as pessoas entendem porque a reciclagem é importante, além da ideia de que vai economizar dinheiro, elas responderão melhor aos estímulos e iniciativas. Além disso, conforme mais pessoas enxergam oportunidades de mercado relacionadas à reciclagem, maior a sua rede de potenciais parceiros.
Treinamento e inovação
A inovação anda de mãos dadas com a sustentabilidade. Como assim? Investir em soluções sustentáveis significa trabalhar com materiais novos e métodos de construção diferentes. Isso exige treinamento da sua equipe, novas ferramentas e processos, entre outras pequenas mudanças.
O ponto é:
Não tenha medo de mudar e encontrar novas formas, mais eficientes e econômicas, de resolver problemas que eram abordados com soluções que machucam o meio ambiente. Isso inclui não só a reciclagem de resíduos, mas também uma série de soluções, como:
- sistemas construtivos, como steel frame e edificações pré-fabricadas;
- materiais inovadores, como tijolos ecológicos;
- sistemas de gestão de obra para dar eficiência ao projeto como um todo;
- ferramentas e processos inovadores de gestão para evitar desperdícios.
No fim das contas, é uma boa notícia que cada vez mais empresas do setor construtivo estejam atentas à necessidade de trabalhar de forma limpa e sustentável. Por isso, a reciclagem de resíduos da construção civil deve ser mais que um assunto interessante para você ler a respeito em um artigo. Deve se tornar uma prioridade da sua empresa.
Para ajudar você a dar o pontapé inicial nessa iniciativa, preparamos um e-book prático sobre gerenciamento de resíduos da construção. Baixe agora para ver o passo a passo que a sua empresa precisa dar rumo à obras mais sustentáveis!