O Building Information Modeling, popularmente conhecido como BIM, é considerado por muitos como uma tecnologia ainda incipiente no setor da construção brasileira. Por outro lado, você já se questionou como a velocidade da maturidade BIM está se desenvolvendo em outros países? E em que grau a tecnologia está se figurando no mundo?
Não duvide. A transformação digital, impulsionada pela pandemia do novo coronavírus, deve acelerar a adoção do BIM nos setores de arquitetura, engenharia e construção (AEC).
Mas você pode estar pensando:
“O BIM vai demorar pra se consolidar no Brasil, depois eu me atualizo” ou “Não tenho tempo nem recursos para investir nisso.” Se você já teve algum destes questionamentos, fique atento, pois este conteúdo é direcionado a você e à sua empresa.
O BIM já é realidade em obras públicas
Podemos encontrar países que são considerados verdadeiros exemplos na adoção da metodologia BIM, como Reino Unido e Singapura. E analisando países que priorizaram o BIM em suas estratégias nacionais, encontramos algumas similaridades nessas iniciativas.
É fato que iniciativas top-down representam um aspecto fundamental na adoção do BIM em vários países. Assim, a conscientização da importância do BIM, seja pela alta gestão governamental ou pela alta direção empresarial, é determinante para uma implementação efetiva.
Com isso podemos dizer que, em sua maioria, a esfera pública tem atuado nos países no intuito de dar condições para que o mercado se adapte à metodologia. E quais países lideram essa corrida?
Estados Unidos, Holanda, França e outros já exigem BIM em projetos custeados pelo governo. Então, de olho nesse mercado pujante, o Brasil seguiu a tendência lançando uma política setorial específica em 2018.
Efeitos do BIM na iniciativa privada
Na esfera privada é interessante ver que o empresariado costuma acompanhar o impulso governamental e se mobilizar também. É o caso da Alemanha, onde associações industriais, grandes empresas e organizações não-governamentais tiveram um papel importante na difusão dos benefícios do BIM na cadeia industrial.
Além disso, outro aspecto relevante são os canais de suporte e disseminação. Na maioria dos países foi observado o empenho na elaboração de conteúdos temáticos, como guias, normas, bibliotecas de objetos etc.
Austrália, Reino Unido e Suécia são exemplos de países que investiram em canais de comunicação e incentivo, como normas e bibliotecas nacionais de objetos BIM. Por sua vez, na América Latina, o Brasil e o Chile estão liderando este quesito, desenvolvendo bibliotecas nacionais e a normalização do uso do BIM.
Como o amadurecimento do BIM no mundo leva a normalização
É importante destacar o tema da normalização, pois a modelagem da informação na construção se vale de bancos de dados voltados para o ciclo de vida do empreendimento. E essa dinâmica só é possível em escala nacional, se houver critérios de organização da informação obtida pelo modelo BIM.
E você quer saber a melhor parte?
Países que investem na elaboração de normas e sistemas de classificações da informação apresentam um ritmo mais acelerado na adoção do BIM. Assim, as normas americanas e britânicas são referências mundiais.
No Brasil, a instituição responsável pela elaboração dos normativos sobre BIM é a Comissão de Estudo Especiais nº 134, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Ela faz esse trabalho com seus respectivos grupos de trabalhos direcionados à instrução de normas para o BIM em caráter nacional.
Saiba como está o BIM no mundo e por que a sua empresa não pode ficar de fora
Aqui está um giro do BIM pelo mundo. Assim, veja como alguns dos países mais desenvolvidos operam, e por que a sua empresa precisa se adequar a esse movimento:
Estados Unidos
Com um histórico de atuação importante, os EUA chegaram a liderar a implementação do BIM no mundo. Então, em 2003, criaram um programa nacional, incentivando o uso BIM e, em 2006, passaram a exigir sua utilização na fase de projetos de novos edifícios públicos.
Singapura
Singapura é um ótimo exemplo de que um plano estruturado pode mudar a identidade de um país subdesenvolvido ou emergente em poucas décadas. Prova disso é que foi o primeiro país do mundo a implementar um sistema informatizado baseado em BIM para entrega de projetos.
Por isso, gradualmente, Singapura passou a exigir o uso do BIM entre 2008 e 2015, quando a metodologia passou a ser cobrada em projetos com mais de 5 mil metros quadrados.
Reino Unido
O Reino Unido investiu na metodologia BIM e, em 2012, o país já estava na fase 1 (colaboração parcial) do nível de maturidade BIM. Então, em 2016, o país atingiu uma segunda fase (extenso trabalho colaborativo) de maturidade e o governo passou a exigir o uso da metodologia em toda obra pública.
Líder atualmente das iniciativas de processos BIM na Europa – e talvez no mundo –, há expectativas de que o Reino Unido alcance o nível 3 (integração) de maturidade ainda em 2020.
Chile
O Chile sai na frente entre os demais países sul-americanos na adoção do BIM. Visto que tem uma estratégia bem definida, o governo chileno estipulou que, a partir de 2020, todas as obras públicas devem ser elaboradas utilizando a metodologia. Desde 2011, porém, o país já exigia BIM para algumas obras públicas.
Brasil
Por possuir um mercado com características econômicas e territoriais diversas, as iniciativas realizadas pelos setores público e privado ainda não apresentavam uma coordenação política para alinhar e padronizar a implementação do BIM nacionalmente.
E quando o Brasil deu a guinada?
Visando diminuir esse hiato, o governo brasileiro lançou uma política unificada de difusão da metodologia por meio da Estratégia Nacional de Disseminação do BIM, em 2018, que define um período de dez anos para a exigência gradual do uso do BIM em obras públicas.
Inclusive, um dos objetivos da Estratégia Nacional é a implementação da Plataforma e da Biblioteca BIM BR, a maior biblioteca pública de objetos em BIM do país, que está sob a coordenação da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), mas este será um tema para outro artigo aqui no Blog do Sienge.
Conheça outros 11 grandes mercados do BIM no mundo
Europa
- Dinamarca: em 2007, o uso do BIM tornou-se obrigatório para todos os projetos públicos estaduais e, em 2011, para todas as instituições regionais e locais;
- Suécia: um dos líderes no uso da metodologia para projeto e construção de projetos de infraestrutura complexos. Além disso, as melhores práticas surgiram sem diretrizes governamentais;
- França: o guia oficial de padronização da França foi lançado como parte da estratégia nacional francesa de digitalização da indústria da construção. Desde 2017, o BIM é adotado na França;
- Holanda: desde 2011 o BIM é exigido em todos os projetos do governo com valores maiores que 10 milhões de euros. E desde 2012 o governo usa o BIM para manutenção de projetos de grande porte;
- Finlândia: usa BIM desde 2001 e passou a exigir que todos os grandes projetos de infraestrutura fossem realizados em BIM a partir de 2007;
- Noruega: desde 2007, os projetos federais ou realizados com pelo 50% de recursos públicos são em BIM. E desde 2012 o uso é obrigatório para obras estaduais e municipais.
Ásia
- Hong Kong: adota o BIM desde 2006 para desenvolver projetos de habitação popular, abrangendo desde a viabilidade até a construção;
- Coreia do Sul: o Serviço de Aquisições Públicas da Coreia do Sul aplica o uso do BIM para os projetos acima de 50 milhões de dólares e para todos os projetos do setor público desde 2016;
- China: grande parte do mercado de Arquitetura, Engenharia e Construção (AEC) chinês utiliza e incentiva o BIM, mas a metodologia ainda não é obrigatória;
- Emirados Árabes: a cidade de Dubai adota ferramentas BIM para a maioria dos projetos de larga escala, sendo obrigatório para todos os investimentos de arquitetura complexa;
- Catar: passou a implementar a modelagem de informações da construção para facilitar os seus ambiciosos planos de construção, em especial os preparatórios para a Copa do mundo de futebol de 2022.
A transformação do BIM no mundo está longe do fim
Vale lembrar que o objetivo deste artigo não é esgotar o tema em si. Pelo contrário, queremos mostrar ao leitor que não estamos sozinhos nessa empreitada rumo à transformação digital do setor de AEC e que podemos utilizar as boas práticas de países mais avançados no uso da metodologia.
Agora que você já conhece um pouco do cenário do BIM no mundo e entendeu a importância do uso dessa metodologia na construção civil, deixamos o convite para você:
Conheça mais sobre as ações voltadas à modernização da construção civil da ABDI, assim como a Plataforma BIMBR e sua Biblioteca Nacional BIM (BNBIM).
Acesse também o nosso Guia de informações sobre BIM, nele você encontrará tudo sobre BIM em um só lugar com materiais, vídeos e artigos com muitas informações para tirar todas as dúvidas sobre o assunto.
Curta e compartilhe esse post! E lembre-se: o momento é de investir na capacitação da sua empresa e dos seus profissionais. Afinal, o BIM vai mudar definitivamente a forma de fazer construção no Brasil e no mundo.
*Leonardo Santana é Analista de Produtividade e Inovação da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), responsável pelas atividades relacionadas ao BIM, mais especificamente a Plataforma BIMBR e sua Biblioteca Nacional BIM.