Em quase todos os projetos de edificações no Brasil, arquitetos se deparam com o desafio de como projetar e calcular uma rampa. Elemento indispensável do chamado Desenho Universal, que propõe a concepção de espaços fisicamente inclusivos na arquitetura, as rampas são itens obrigatórios para garantir a acessibilidade de pessoas com mobilidade reduzida.
Suas características são disciplinadas pela NBR 9050:2020 Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) – uma norma técnica pública e gratuita, com aplicação obrigatória nas edificações brasileiras.
O que é uma rampa?
Segundo o texto normativo, “são consideradas rampas as superfícies de piso com declividade igual ou superior a 5%”. Neste texto, vamos explicar como se calcula a inclinação de uma rampa e quais os cuidados que o projeto deve observar para atender às exigências normativas.
A NBR 9050:2020 dedica toda a seção 6.6 às prescrições básicas para as rampas em projetos de arquitetura. Além disso, ela determina que atendam também ao item 6.3, que trata das características dos pisos nas áreas de circulação, incluindo segurança contra escorregamentos, desenhos dos revestimentos, inclinações transversais e desníveis, entre outros.
Veja algumas das características do piso:
- Materiais de revestimento devem ter superfície regular, firme, estável, não trepidante para dispositivos com rodas e antiderrapante, sob qualquer condição (seco/molhado);
- Evitar padronagem visual que cause sensação de insegurança, como estampas e desenhos tridimensionais;
- Inclinação transversal máxima: 2% em pisos externos e 3% em pisos externos;
- Evitar desníveis de qualquer natureza em rotas acessíveis. Quando não for possível, tratá-los da seguinte maneira:
- Até 5mm: dispensam tratamento especial
- De 5mm a 20mm: inclinação máxima de 1:2 (50%)
- Acima de 20mm: tratar como degrau
- Evitar grelhas e juntas de dilatação, mas quando não for possível, devem:
- Ter vão máximo de 15 mm e ser instalados na direção perpendicular ao fluxo principal de circulação.
- Ter formato circular ou quadrado quando o fluxo tiver mais de um sentido.
Cálculo de rampa
Para calcular uma rampa, você precisa levar em consideração os parâmetros a seguir:
- Altura da rampa (h): Trata-se da diferença de altura entre o ponto de partida e o ponto de chegada da rampa.
- Comprimento da rampa (c): O comprimento da rampa é a distância horizontal da projeção entre o ponto de partida da rampa e seu ponto de chegada.
- Inclinação da rampa (i): A inclinação é um fator crítico para garantir a acessibilidade e a segurança da rampa, e é expressa de duas formas: como uma proporção entre a altura e o comprimento da rampa ou, mais usualmente, em forma de porcentagem.
Fórmula de inclinação de rampa
Segundo a NBR 9050:2020, a fórmula de cálculo de inclinação das rampas é:
i = h x 100/c
Sendo:
- i: inclinação (expressa em porcentagem)
- h: altura do desnível
- c: comprimento da projeção horizontal
Como calcular o ângulo de inclinação de rampa conforme a NBR 9050
Tomando como referência a fórmula acima, podemos calcular como exemplo a inclinação de uma rampa de 8m de comprimento horizontal e desnível de 60cm (ou 0,60m):
i = h x 100/c
i = 0,60m x 100/8m = 60/8
i = 7,5%
Neste exemplo fictício, portanto, a rampa terá inclinação de 7,5%.
O que significa uma inclinação de 8%?
Uma inclinação de 8% significa que, para cada unidade de distância horizontal percorrida, há um aumento de 8% na altura vertical. Em outras palavras, a cada 1m de comprimento horizontal, a altura aumenta em 0,08m (ou 8cm).
Vamos voltar à fórmula da rampa descrita na NBR 9050:2020 para verificar essa afirmação?
Sabemos que ela tem três variáveis: a inclinação i, o comprimento c e a altura h. Se conhecemos o valor de duas delas, podemos aplicar a fórmula e descobrir o terceiro valor.
No caso de uma rampa com inclinação de 8%, já temos a variável i. Com esse valor em mãos, podemos aplicá-la em outro exemplo. Suponha que o comprimento da rampa – isto é, a variável c – seja de 1m. Calculando o valor do desnível (h), temos:
i = h x 100/c
8 = h x 100/1m
h = 8 x 1m/100
h = 0,08m
O que significa uma inclinação de 1:12?
Esta é outra notação comum para se referir à inclinação de uma rampa. Neste caso, ela representa a proporção entre a altura (o número à esquerda) e o comprimento da rampa (número à direita). Uma inclinação de 1:12 significa que, a cada unidade de altura, o comprimento da rampa será 12 vezes maior.
Existe uma equivalência entre esta notação e a inclinação descrita em porcentagem. Para descobri-la, basta voltar à fórmula da NBR 9050:2020.
Neste caso, a variável i (em %) é a que queremos descobrir. Se a inclinação 1:12 significa que o comprimento c equivale a 12 vezes a altura h (isto é, c = 12 x h), podemos escrever a fórmula desta maneira:
i = h x 100/c
i = h x 100/(12 x h) = 100/12
i = 8,33%
Portanto, dizer que a rampa tem inclinação 1:12 é o mesmo que dizer que ela tem uma inclinação de 8,33%.
Tabela de valores usuais de inclinação para rampas
Para facilitar as contas, você pode usar a tabela a seguir como referência:
| Porcentagem | Proporção | Grau de inclinação |
| 5% | 1:20 | Inclinação suave |
| 6,25% | 1:16 | Inclinação média |
| 8,33% | 1:12 | Inclinação forte |
| 10% | 1:10 | Íngreme |
| 12,5% | 1:8 | Muito íngreme |
| 16,6% | 1:6 |
Rampas conforme a NBR 9050:2020
A norma técnica que trata de acessibilidade em edificações faz muitas referências às inclinações das rampas, que precisam ser respeitadas nos projetos de arquitetura. Veja algumas observações previstas na norma.
A cada quantos metros de rampa preciso prever um patamar de descanso?
A norma de acessibilidade recomenda, no item 6.6.2.1, que se criem patamares de descanso a cada 50m de percurso, para rampas com inclinação entre 6,25% e 8,33%. A exceção fica por conta das rampas em plateias e palcos, piscinas e praias.
Tabela de dimensionamento de rampas – Situações usuais
| Desníveis máximos de cada segmento de rampa h (m) | Inclinação admissível em cada segmento de rampa i (%) | Número máximo de segmentos de rampa |
| 1,50 | 5 (1:20) | Sem limite |
| 1,00 | 5 (1:20) < i ≤ 6,25 (1:16) | Sem limite |
| 0,80 | 6,25 (1:16) < i ≤ 8,33 (1:12) | 15 |
Tabela de dimensionamento de rampas – Situações excepcionais
No caso específico de reformas, a NBR 9050:2020 prevê que devam ser esgotadas todas as possibilidades de se atender à inclinação máxima indicada na tabela anterior, de 8,33% (1:12).
Se, devido às restrições espaciais do ambiente, não for possível atender àqueles valores, a norma aponta valores de exceção na tabela a seguir.
| Desníveis máximos de cada segmento de rampa h (m) | Inclinação admissível em cada segmento de rampa i (%) | Número máximo de segmentos de rampa |
| 0,20 | 8,33 (1:12) < i ≤ 10 (1:10) | 4 |
| 0,075 | 10 (1:10) < i ≤ 12,5 (1:8) | 1 |
Como calcular rampas em curva?
Neste caso, a norma prevê inclinação máxima de 8,33% (1:12) e raio mínimo de 3m no perímetro interno da curva. A figura a seguir ilustra a recomendação.
Largura das rampas
De acordo com a norma de acessibilidade, o projeto deve dimensionar a largura das rampas conforme o fluxo de pessoas, sendo o mínimo admissível de 1,20m e o recomendável, de 1,50m. Quando essas dimensões forem impraticáveis, admite-se largura minima de 0,90m e segmentos de rampa de, no máximo, 4m.
As rampas devem ter corrimãos de duas alturas em ambos os lados. Admite-se que, no caso das rampas com largura mínima de 1,20m, esses corrimãos se projetem para dentro da área de circulação em até 10 cm de cada lado. Para larguras menores, essa projeção interna não é admitida.
Além dos corrimãos, deve-se prever guias de balizamento no piso, quando não houver parede lateral.
Patamares das rampas
Segundo a NBR 9050:2020, os patamares devem ter dimensão longitudinal mínima de 1,20m tanto no início, quanto no final da rampa, bem como nos segmentos intermediários. Quando houver mudança de direção, eles devem ter dimensões iguais à largura da rampa. As áreas de circulação e manobra devem respeitar a seção 4.3 do texto normativo.
Casos especiais
A norma NBR 9050:2020 prevê rampas para garantir a acessibilidade em áreas de uso público, conforme mostramos a seguir.
Auditórios – Plateia, palco e bastidores
Nas rotas de circulação de acesso à plateia, a norma admite inclinação máxima da rampa de 12%. No acesso ao palco, o desnível pode ser vencido por rampas de no mínimo 0,90m e:
- inclinação máxima de 16,66% (1:6) para vencer uma altura máxima de 0,60 m; ou
- inclinação máxima de 10% (1:10) para vencer alturas superiores a 0,60 m.
A rampa pode ser substituída por equipamento eletromecânico (elevador), quando possível.
Piscinas
A norma prevê inclinação máxima de 8,33% (1:12) e corrimão em ambos os lados, a 0,70m do piso.
Praias
O acesso às praias deve contar com rampas de no mínimo 0,90m de largura, respeitando as demais prescrições de segurança já citadas em outros pontos da norma.
Conclusão
O projeto e o cálculo de uma rampa são essenciais para garantir a acessibilidade de pessoas com mobilidade reduzida em edificações. Seguindo as diretrizes estabelecidas pela NBR 9050:2020, é possível dimensionar adequadamente a inclinação, altura, comprimento e largura da rampa, levando em consideração aspectos como segurança e conforto do usuário.
Ao calcular a inclinação da rampa, pode-se expressar em porcentagem ou na forma de proporção (1:X), duas notações presentes na maioria dos textos técnicos que regem o tema.
Por falar nisso, é obrigatório, no Brasil, seguir as normas técnicas e regulamentos locais para garantir a conformidade da rampa com os padrões de acessibilidade e segurança. Em caso de dúvida, consulte um profissional especializado para orientações específicas e para garantir que a rampa seja projetada e construída de forma adequada.
A acessibilidade é um requisito fundamental para uma sociedade inclusiva, e as rampas desempenham um papel importante para permitir que pessoas com mobilidade reduzida tenham acesso pleno a espaços e edificações. Portanto, saber como projetar e calcular uma rampa conforme as normas técnicas é uma habilidade indispensável para profissionais de arquitetura brasileiros.
