Construção de casas populares: como é o projeto?

Marcus Vinicius D. B. Castro

Escrito por Marcus Vinicius D. B. Castro

28 de junho 2024| 10 min. de leitura

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Construção de casas populares: como é o projeto?

Com o objetivo de ajudar cidades com recursos limitados, onde é mais difícil a realização de novos investimentos, a Caixa Econômica Federal lançou um projeto de construção de casas populares com área de 41,87 metros quadrados e espaço total de 58,90 m².

Essa é uma maneira econômica de oferecer moradias para famílias e comunidades com menos recursos. No Brasil, o governo começou a financiar e construir esse tipo de projeto na década de 1930 e o faz até hoje, por meio de financiamentos da Caixa.

O projeto não só explica como colocar a parte elétrica e as tubulações de água, mas também lista todos os materiais que são usados na construção. Essa lista nos mostra uma visão geral de todo o trabalho, para um bom entendimento de como tudo funciona.

É fundamental lembrar que qualquer construção desse tipo deve ser supervisionada por profissionais qualificados, como Engenheiros Civis e Arquitetos registrados no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA). Eles são responsáveis por garantir que a construção seja feita corretamente e de acordo com as regras.

Se você deseja saber mais sobre o projeto lançado pela Caixa, chegou ao lugar certo. Neste artigo vamos explorar detalhadamente o plano de construção de casas populares, passando pelos aspectos mais importantes. Acompanhe!

História do projeto

No período entre 1930 e 1954, durante o governo de Getúlio Vargas, o Brasil começou a se envolver mais ativamente na criação de moradias para pessoas de baixa renda. 

Antes disso, havia poucos esforços governamentais na construção de casas e regulamentação do mercado de aluguel, principalmente devido à ênfase no liberalismo econômico. Porém, durante a Era Vargas, o Estado passou a ter um papel mais decisivo, embora com algumas limitações, na construção de casas populares.

Nessa época, surgiu a Fundação da Casa Popular, que se tornou o precursor do Banco Nacional da Habitação (BNH), fundado em 1964. O BNH tinha como principal função oferecer financiamento, especialmente para projetos imobiliários. 

Nesse mesmo período, a Lei nº 4.591, de 1964, determinou que o BNH estabelecesse um acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), com o objetivo de criar normas técnicas para orientar as etapas de construção, dependendo do tipo de edificação.

Essa padronização foi necessária para calcular os custos envolvidos nas construções financiadas pela União, pelos estados e pelos municípios. Em 1965, a ABNT publicou o Projeto de Norma Brasileira PNB 140, revisado diversas vezes, como exigia a Lei nº 4.591. 

Em 1986, o BNH foi encerrado e suas funções foram transferidas para a Caixa Econômica Federal, que hoje é o maior banco público da América Latina. A Caixa continua a oferecer programas de financiamento e arrendamento para construção de casas populares, incluindo o Programa de Arrendamento Residencial.

Finalmente, em 1992, uma nova comissão técnica revisou o texto da NB-140, resultando na criação da Norma Brasileira NBR 12.721. Essa norma trata da “Avaliação de Custos de Construção para Incorporação Imobiliária e Outras Disposições para Condomínios Edilícios”. Essa norma passou por algumas modificações em 1999 e 2005, e sua versão atual é da revisão de 2006.

Projeto de casas populares: como vai funcionar?

O projeto para a construção de casas populares da Caixa Econômica Federal visa auxiliar famílias em municípios carentes de recursos. As casas terão sala, dois quartos, banheiro e cozinha em 41,87 metros quadrados e uma área total de 58,90 m2. 

No projeto, também são definidos os métodos construtivos para as residências, compostos pelas seguintes etapas:

  1. Fundação
  2. Alvenaria
  3. Esquadrias
  4. Cobertura
  5. Pisos e pavimentos.

Vamos ver detalhadamente cada um deles abaixo. 

Fundação

A configuração básica do plano padrão consiste em uma fundação de base, paredes formadas por blocos de concreto, uma viga de reforço acima da última fileira de tijolos e um piso. A base deve ser construída em buracos com medidas mínimas de 40×25 cm, nivelados e compactados usando um maço de 30 kg. Uma camada de 5 cm de concreto fraco é colocada nos buracos, servindo como base para as vigas de fundação. 

Essas vigas são formadas por blocos de concreto em formato de calha (14x19x39 cm), contendo duas barras de metal com 5 mm de diâmetro. Essas barras são preenchidas com concreto estrutural e revestidas com duas camadas de tinta impermeabilizante. Os espaços vazios nos buracos são preenchidos com terra e o interior da casa é aterrado usando areia de qualidade para aterramento.

Alvenaria

As paredes devem ser erguidas usando blocos de concreto medindo 9x19x39 cm, dispostos com argamassa composta por cimento, cal e areia na proporção de 1:0,5:8. A qualidade dos blocos deve ser alta, sem rachaduras, e as junções entre eles devem ter no máximo 12 mm. Nos espaços para portas e janelas, é necessário instalar elementos de reforço chamados contra-vergas e vergas. 

Esses elementos são formados por blocos de concreto em formato de calha, medindo 9x19x19 cm, preenchidos com concreto estrutural e duas barras metálicas de 5 mm de espessura. Na última camada de alvenaria, uma viga de reforço deve ser incorporada, seguindo as mesmas características das vergas usadas para portas e janelas.

Esquadrias

Segundo o projeto de construção de casas populares, as portas devem ser feitas de madeira, finalizadas com esmalte sintético e ter uma espessura de 3,5 cm. Na cozinha e na sala, devem ter um design almofadado de madeira, com fechadura de latão cromado. Para os quartos e o banheiro, portas de madeira compensada lisa devem ser usadas, equipadas com um fecho com tarjeta. 

Nas áreas da sala e quarto, as janelas serão do tipo deslizante, compostas por duas partes, e serão feitas de alumínio anodizado fosco. Na cozinha, a janela deverá ser do tipo maxim-ar, também com duas partes, enquanto no banheiro, ela terá apenas uma parte, e ambas serão confeccionadas em alumínio anodizado fosco.

Cobertura

Nas regiões do banheiro e espaços de circulação dentro do prédio, uma laje pré-fabricada deve ser montada para servir como forro. Essa laje terá uma espessura de 8 cm e será composta de lajotas junto com uma camada de concreto estrutural de 2 cm. 

Quanto ao telhado, ele será constituído por telhas cerâmicas do tipo plan, suportadas por uma estrutura de madeira de parajú ou ipê. Essas madeiras serão cuidadosamente selecionadas, garantindo que estejam niveladas e livres de rachaduras, empenamentos ou outros defeitos.

Pisos e pavimentos

O piso interno da residência será instalado sobre uma base de concreto para contrapiso, com uma camada de 6 cm de espessura e resistência de 10 MPa. No banheiro, o piso será inclinado em 3 cm em direção ao ralo, enquanto na cozinha, a inclinação será de 1 cm, apontando para a porta externa. 

Para o acabamento, será utilizado piso cerâmico esmaltado medindo 33×33 cm, da linha popular PEI 3. Esse piso será colocado e unido com argamassa colante, e o rejunte também será aplicado. Quanto à calçada ao redor da edificação, ela terá uma espessura de 5 cm e largura de 60 cm, seguindo o projeto especificado.

Conclusão

Ao percorrer as etapas e detalhes da construção de casas populares, emerge uma compreensão mais profunda da interseção entre necessidades sociais e empreendimentos práticos. O projeto padrão delineado pela Caixa Econômica Federal não é meramente um conjunto de diretrizes, mas um instrumento vital que une o anseio por habitações acessíveis com a realização efetiva.

Desde os primórdios da intervenção estatal nas políticas habitacionais durante a Era Vargas até a criação da Fundação da Casa Popular e sua evolução para o Banco Nacional da Habitação, a história das casas populares reflete uma trajetória de aprendizado e adaptação. A normatização e padronização do setor, exemplificadas pela Norma Brasileira NBR 12.721, representam uma busca incessante por qualidade e sustentabilidade nas construções.

A importância de profissionais qualificados e o papel vital desempenhado por Engenheiros Civis e Arquitetos, registrados no CREA, sublinham o compromisso com a integridade das construções e o bem-estar dos futuros moradores. Esses especialistas garantem que cada projeto se transforme em um lar seguro, durável e confortável para aqueles que mais necessitam.

O processo de construção de casas populares transcende a mera construção de estruturas físicas; é um meio de construir esperança e oportunidade para comunidades carentes. O projeto padrão é uma ferramenta tangível que promove o direito básico à moradia, representando um elo sólido entre as aspirações sociais e a concretização de um teto digno para todos.