Construsummit: trilha destaca a “plataformização” da construção civil

Romário Ferreira

Escrito por Romário Ferreira

13 de outubro 2021| 12 min. de leitura

Compartilhe
Construsummit: trilha destaca a “plataformização” da construção civil

A terceira trilha do Construsummit 2021 trouxe como tema Ecossistema e Integração, mostrando como as soluções tecnológicas conectadas – seguindo o conceito de “plataformização” – podem gerar benefícios para o setor da construção. 

Para começar, um case muito especial: o evento convidou o diretor-geral da Construtora Gavilla, Eduardo Parente, para falar sobre a experiência da sua empresa com a adoção da plataformização da gestão, utilizando o Sienge Plataforma

Ele explicou que o conceito de plataformização é o que propicia a ligação entre diferentes soluções especializadas no modelo de gestão do negócio. “Importante dizer que não basta comprar o sistema, tem que ter uma mudança de visão. Por isso, engajar as equipes nesta mudança de cultura é fundamental para resultados positivos”, explica Parente. 

Inicialmente, a Gavilla implementou módulos para as áreas comercial e financeira. Na sequência, o diretor relembrou que um dos primeiros resultados ao implantar o módulo de engenharia e suprimentos foi descobrir um desvio de materiais que vinha ocorrendo na empresa. 

Construsummit - plataformização
Palestra do diretor-geral da Construtora Gavilla, Eduardo Parente, no Construsummit 2021.

Outro ponto positivo da plataformização, segundo Parente, foi a adoção de um sistema de controle de inadimplência. “No primeiro mês de utilização, tivemos aumento de 16% em nossa receita, só pelos disparos automáticos de cobrança.” Só o aumento na receita já passou a pagar a utilização da plataforma. 

Construtechs e proptechs

O conceito de plataformização também está diretamente ligado ao crescimento das construtechs e proptechs, startups que podem ser plugadas à gestão da empresa. No evento, Bruno Loreto, managing partner da Terracotta Ventures, apresentou um panorama desse mercado e relembrou sua participação na primeira edição do Construsummit, em 2017. 

“Era muito claro que viveríamos um boom de startups, em dois três anos, fenômeno que já acontecia nos Estados Unidos, e víamos que empresas estavam cada vez mais contratando tecnologia, desenvolvendo soluções e se aproximando de startups dos ecossistemas. E isso de fato aconteceu de uma maneira maior do que imaginávamos”, afirma Loreto. 

Hoje, é possível verificar que as projeções se confirmaram e há um sistema robusto de ecossistema de inovação na área da construção, com cada vez mais investimentos sendo aplicados neste ambiente de negócios. 

“Em 2017, eram 250 startups atuando no Brasil, e hoje são mais de 850 startups desenvolvendo negócios neste mercado”, relata. 

A Terracotta Ventures, que acompanha esse mercado de perto, tem ajudado pessoas e empresas a investirem em negócios digitais no setor de construção e mercado imobiliário. A projeção é de que a Terracota invista até R$ 100 milhões nos próximos quatro anos em 20 companhias. 

“Hoje, as principais empresas de cada mercado têm o que chamamos de tech based, um modelo de negócio que usa da tecnologia como elemento importante e faz dela um negócio de alto crescimento. Foi assim com o Mercado Livre, Nubank, XP, e o mesmo vai acontecer no nosso setor”, acredita Loreto. 

Transformação digital na construção

Na sequência do evento, Loreto participou de uma mesa redonda ao lado de Alexandre Quinze, CEO da Trutec, e Pedro Waengertner, fundador da ACE Startups. O objetivo era discutir os impactos do crescimento das construtechs e proptechs.

Construsummit - plataformização
Painel mediado por Kamila Bitarello com as presenças de Alexandre Quinze, Bruno Loreto e Pedro Waengertner.

Loreto iniciou sua participação comentando que o Brasil está vivendo o que os grandes mercados do setor já viveram, que é a ascensão dos negócios de tecnologia e multiplicação dos investimentos no setor.

Prova disso é o próprio surgimento da Trutec, que foi criada a partir do programa de inovação da Vedacit, o Vedacit Labs. “Percebemos que para causar impactos no setor, precisaríamos sair no nicho de impermeabilização. Por isso criamos este programa de inovação que foi o propulsor para criação da Trutec, com a qual investimos em empresas startups”, informa Quinze. 

Waengertner, da ACE Startups, diz que investir no setor de construção é o que chamam de “tempestade perfeita”, porque é uma área que apresenta muita ineficiência. Por isso, em toda cadeia é possível criar soluções para o enfrentamento destes problemas e a geração de eficiência. 

Sobre o crescimento do mercado, Loreto acredita que a crise econômica que começou em 2015 foi a maior propulsora do uso de tecnologias no Brasil. “As empresas entenderam a necessidade de serem mais eficientes diante da crise. Então passaram a buscar produtividade, eficiência de custo e novas formas de gerar receita”, diz.

Em relação às soluções, há a percepção de que muitas tecnologias estão voltadas para o pós-obra e não em sua gestão propriamente dita. Segundo Waengertner, até pouco tempo atrás, como volume de crédito no mercado, a maior parte dos empreendedores que iniciaram empresas, foram por um caminho de serem mais leves em ativos. 

Ele relembra que as primeiras plataformas visavam aproximar compradores e vendedores, como foi o Zap Imóveis. Depois veio o Quinto Andar, gerenciando a experiência completa do cliente e agora temos a Loft, com uma gama de serviços de compra e venda, aluguel, já muito mais intensa em capital. 

“Com a abundância de capital que temos no mercado, a liquidez de mercado, temos dinheiro suficiente para investir na cadeia produtiva atual. Antes não havia gente disposta a apostar nisso”, explica Waengertner. 

Segurança de dados

Com a plataformização e digitalização, a segurança dos dados coletados por essas novas ferramentas de gestão também passou a ser ponto de atenção. Por isso, o tema foi abordado em painel que contou com as participações de Guilherme Gonçalves, sócio do escritório Moraes & Gonçalves Advogados, e Daniel Becker, sócio do Lima Feigelson Advogados.

Construsummit - plataformização
Guilherme Gonçalves e Daniel Becker em painel mediado por Kamila Bitarello, do Sienge.

Segundo Becker, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) é fruto do que se costuma chamar de “transadministrativismo”. “Estamos num mundo cada vez mais globalizado, com necessidade de unificação ou uniformização de determinadas normas de direito administrativo e direito regulatório.” 

Esse movimento teve origem na União Europeia e acabou influenciando na criação da legislação brasileira. E embora o tema da privacidade tenha surgido muito fortemente nos Estados Unidos no final do século 19, foi na Europa pós-Segunda Guerra que a proteção de dados e informações passou a ganhar força. 

“No Brasil, não tínhamos essa cultura de proteção de dados, de privacidade. Todas as questões envolvendo este tema tinham como base a Constituição de 1988 e o Código de Defesa do Consumidor nos anos 90, ambos pré-internet, pré-eletrônico, pré-realidade digital”, explica Becker. 

No mercado de construção, Gonçalves relembrou o caso de uma construtora que compartilhava os dados de seus clientes com outras empresas, que passavam a ligar e mandar e-mail para oferecer produtos. 

“Esta empresa foi autuada e pagou uma multa de dez mil reais, o que mostra ao setor a importância do cuidado que devemos ter com a utilização destes dados, atuando com muita transparência. Isso vale para clientes, funcionários, fornecedores”, diz Gonçalves. 

Em termos de oportunidades, Gonçalves salienta que estar em conformidade com a LGPD torna as empresas mais competitivas e diferenciadas. 

“Tenho certeza que, em algum tempo, aceitaremos pagar um pouco mais caro para se relacionar com empresas que cuidam bem dos dados. Enquanto uma empresa que não me passe muita segurança, mesmo que cobre mais barato, não vou optar por ela”, sinaliza Gonçalves. 

O futuro e ciclos dos softwares na construção 

A trilha Ecossistema e Integração foi encerrada com a palestra “Tecnologia: o futuro e os ciclos dos softwares na Indústria da Construção”, ministrada por Guilherme de Assis Brasil, Chief Technology Officer (CTO) da Softplan. 

Brasil iniciou sua participação lembrando que quando se fala em tecnologia e plataformização na construção, é importante separar o que é tecnologia aplicada no ciclo da construção em si, do que é o uso do software na gestão do segmento e desta cadeia. 

Para compreender como a tecnologia vai se comportar no futuro e qual impacto ela pode trazer, é preciso entender dois “motores” fundamentais destes ciclos que se retroalimentam:

  • Aumento da capacidade de computação;
  • Aumento da capacidade de transmissão de dados.

“É interessante olhar para esses ciclos. Eles acontecem em movimentos de expansão, distribuição e concentração de dados que sempre se expandem”, explica Assis. 

A evolução na adoção de tecnologia ocorre em cinco passos:

  1. Dados estruturados: sistemas básicos de organização de informações departamentais;
  2. Dados integrados: sistema de gestão empresarial;
  3. Consolidação e inteligência de negócios: integrações básicas entre sistemas de gestão e ferramentas BI;
  4. Sistemas conectados e automação: plataformas completas de integração de ferramentas complementares e de diferentes propósitos (movimento de plataformização);
  5. Self-driving Enterprise: computação cognitiva e inteligência artificial.

Brasil explica que a velocidade de expansão da tecnologia segue impactando os cinco elementos da evolução tecnológica, porém, as três primeiras etapas, apesar de evoluírem, não podem ser chamadas de diferenciais competitivos. 

Por outro lado, os dois elementos finais (itens 4 e 5 da lista acima) “vão determinar quem ganha a competição e quais são as empresas mais eficientes no mercado”. Portanto, finaliza Brasil, “priorize a tecnologia, coloque-a na sua agenda para valer”.

Por fim, vale ressaltar que as tecnologias aplicadas ao canteiro de obra também foram destaque no Construsummit 2021, trilha Construção. Clique aqui e veja como foi!