No atual cenário da Construção Civil, onde prazos apertados e orçamentos reduzidos são a realidade, o cronograma de compras se torna uma ferramenta estratégica. Mais do que organizar a aquisição de materiais, ele garante que o fluxo de insumos e serviços acompanhe o ritmo da obra, evitando paralisações, elevação de custos e comprometimento da qualidade.

Um cronograma de compras bem elaborado não é apenas uma lista de prazos: é a base para que todas as fases do projeto se desenvolvam sem interrupções. A desorganização nesse processo pode resultar em desabastecimento, atrasos significativos e, muitas vezes, estouro de orçamento. Por isso, podemos dizer que o cronograma de compras orienta a viabilidade das obras e impulsiona o sucesso de qualquer empreendimento na Construção Civil.

Se você deseja saber mais sobre essa importante ferramenta para o dia a dia das construtoras e incorporadoras, continue sua leitura.

O que é o cronograma de compras?

O cronograma de compras é uma ferramenta de planejamento que detalha os momentos certos em que cada material ou serviço deve ser adquirido ao longo de uma construção. Ele funciona como um guia, que assegura que os recursos necessários estarão disponíveis no local da obra no momento certo, evitando qualquer atraso ou custo adicional. 

A elaboração deste cronograma envolve diversas etapas. Primeiro, é fundamental realizar um levantamento completo das necessidades do projeto, identificando cada um dos materiais e serviços que serão utilizados, com suas respectivas quantidades e especificações. Logo, será preciso pesquisar e selecionar os fornecedores, negociando e calculando preços, prazos, entre outros.

Será com base nessas informações, bem detalhadas e descritas, que o cronograma será montado – não se preocupe, mais adiante neste artigo você encontrará um passo a passo completo para não deixar faltar nenhuma etapa.

Ao contrário do que muita gente pensa, o cronograma não será utilizado somente no começo da obra. Ele deverá ser acompanhado e monitorado de perto para que sejam feitos os ajustes necessários que surgirem pelo caminho. Dessa forma, você poderá contar com essa ferramenta para otimizar prazos e economizar custos, mantendo o projeto dentro do que fora previamente planejado. 

Mas os benefícios de um cronograma de compras não param por aí.

Benefícios da implementação de um cronograma de compras estruturado

A implementação de um cronograma de compras bem estruturado traz uma série de benefícios, que vão além da simples economia de custos. Entre os principais, destacam-se:

1. Mitigação de riscos

Um cronograma bem detalhado permite identificar potenciais gargalos na cadeia de suprimentos, antecipando problemas que poderiam comprometer o andamento da obra. Por exemplo, se determinado insumo tem um longo prazo de entrega ou uma cadeia de fornecimento vulnerável, o cronograma pode prever alternativas, como a aquisição antecipada ou a diversificação de fornecedores.

2. Otimização de recursos

Com um cronograma preciso, é possível sincronizar a chegada de materiais com a execução das tarefas no canteiro de obras. Isso evita a necessidade de estocar grandes volumes de insumos, reduzindo os custos de armazenamento e o risco de deterioração dos materiais.

3. Melhoria nas negociações com fornecedores

Ao planejar as compras com antecedência, a empresa pode negociar melhores condições comerciais com os fornecedores, como descontos por volume ou condições de pagamento mais favoráveis. Essa abordagem proativa ganha importância em um mercado onde a volatilidade dos preços de materiais pode influenciar diretamente o orçamento da obra.

4. Aumento da produtividade

A disponibilidade de materiais no momento certo evita a interrupção das atividades, garantindo que a mão de obra permaneça produtiva e que as etapas do cronograma físico-financeiro da obra sejam cumpridas sem desvios significativos.

Esses são só alguns dos inúmeros benefícios dessa prática. O cronograma de compras traz mais tranquilidade para o negócio, pois por meio dele, é possível se certificar de que tudo estará no lugar certo para o andamento da obra. Mas é claro que para desfrutar de verdade desses benefícios, o processo precisa ser bem feito. 

Impactos de um cronograma de compras ineficiente

Ao contrário dos benefícios que um cronograma de compras pode trazer, um projeto desses mal executado pode comprometer seriamente o andamento da obra. Quando a aquisição de materiais e serviços não segue um planejamento estruturado, toda a cadeia de suprimentos fica vulnerável a falhas que impactam diretamente a produtividade no canteiro.

Os principais impactos negativos incluem:

  • Atrasos no cronograma: a falta de materiais pode paralisar atividades essenciais, causando um efeito cascata que compromete as etapas seguintes da obra. Isso resulta em adiamentos na entrega do projeto e, muitas vezes, penalizações contratuais.
  • Aumento dos custos: compras emergenciais costumam ser mais caras, tanto pelo menor poder de negociação quanto pelos custos extras de transporte urgente. Além disso, o descontrole no estoque pode levar à perda de materiais por deterioração ou desuso, gerando desperdícios financeiros.
  • Comprometimento da qualidade: a necessidade de adquirir materiais de última hora pode limitar as opções de fornecedores, resultando na compra de insumos de qualidade inferior. Isso pode afetar a durabilidade da construção e até gerar problemas estruturais, aumentando a necessidade de retrabalho.

Um cronograma de compras eficiente não apenas evita esses problemas, mas também contribui para a otimização de recursos, garantindo que os materiais estejam disponíveis no momento certo, sem desperdícios e sem comprometer a execução da obra.

Mas como fazer um cronograma de compras de modo a ter certeza de que ele vai ser realmente funcional para sua construtora ou incorporadora? É o que veremos agora. 

Como estruturar um cronograma de compras eficiente

Para garantir que os materiais e serviços estejam de fato disponíveis nos momentos necessários, existe uma dica fundamental: estruturar esse planejamento de forma retroativa. Ou seja, partindo da data em que o insumo será utilizado na obra e considerando todas as etapas necessárias até sua chegada ao canteiro.

A seguir, explicamos como organizar esse processo de forma eficiente.

1) Levantamento detalhado das necessidades do projeto

Tudo começa com um levantamento preciso das necessidades da obra. Essa etapa define o que será comprado, em que quantidade e quando será necessário. O ideal é que esse levantamento seja feito com base no cronograma físico, garantindo que cada material esteja disponível na fase certa da construção.

Um erro comum nessa etapa é a falta de precisão nas quantidades. Quando os quantitativos não são bem definidos, a obra pode enfrentar falta de materiais ou compras em excesso, o que gera estoques desnecessários e aumenta os custos.

Para evitar esses problemas, é recomendável trabalhar com checklists padronizados e revisar os dados com a equipe técnica antes de seguir para as cotações. Se a concretagem de uma laje está prevista para uma determinada data, por exemplo, todos os materiais relacionados a essa atividade – concreto usinado, formas, escoramentos e armaduras – devem ser planejados para estarem no canteiro antes dessa data, respeitando os prazos de cada fornecedor.

2) Análise de fornecedores e logística

Com as necessidades da obra definidas, o próximo passo é avaliar os fornecedores e planejar a logística de entrega. Aqui, não basta apenas escolher o menor preço. Prazos, qualidade dos materiais, confiabilidade do fornecedor e viabilidade logística também devem ser considerados.

Como diz o professor Celso Luchezzi, diretor na Luchezzi e Treinamentos e Consultoria em Logística e SCM, “o que tenho visto e acompanhado é que o comprador fica restrito a meras cotações, quando sua função é maior, é a de ser um negociador. Proponho que o comprador negocie para todas as obras volumes maiores e que o engenheiro de campo solicite diretamente com o fornecedor.

Outro fator importante é a avaliação da capacidade do fornecedor de cumprir o prazo combinado. Se um material essencial atrasar, toda a obra pode ser impactada. Por isso, é sempre recomendável manter contatos alternativos para fornecedores de insumos críticos, garantindo opções caso surja algum problema com a entrega.

Além disso, muitas empresas acabam não levando em conta o tempo necessário para transporte e descarga. No entanto, se um fornecedor de cimento garante entrega em cinco dias, mas a logística para descarregar o material no canteiro leva mais um dia, isso precisa ser contabilizado no planejamento. O mesmo vale para materiais que precisam de condições especiais de armazenagem.

3) Definição e controle de prazos

Definir os prazos corretamente é essencial para que os pedidos sejam feitos com antecedência suficiente e os materiais cheguem no momento certo. Para isso, é preciso calcular o tempo necessário para cada etapa do processo: levantamento de quantitativos, cotação, negociação, emissão da ordem de compra, prazo de fabricação e entrega.

Se um insumo precisa estar disponível na obra em uma data específica, todas essas etapas anteriores devem ser programadas com antecedência para que o pedido seja realizado no momento certo.

Por exemplo, se um gerador de energia precisa ser instalado em um canteiro no dia 10/07 e o fornecedor leva 30 dias para entrega, o pedido precisa ser fechado no máximo até o dia 10/06. Mas, antes disso, ainda há o tempo necessário para cotação e negociação, o que significa que esse processo deve começar pelo menos 45 dias antes da necessidade real do equipamento.

É sempre recomendável trabalhar com uma margem de segurança, principalmente para materiais importados ou que dependem de fabricação sob demanda. Se um fornecedor promete entregar em 15 dias, planeje 20 dias no cronograma para evitar contratempos.

4) Monitoramento e revisão contínua

O cronograma de compras precisa ser atualizado constantemente. A obra pode sofrer mudanças inesperadas, como atrasos por condições climáticas, ajustes de projeto ou até problemas com fornecedores. Se isso acontecer, é necessário revisar as compras para garantir que os materiais cheguem no momento ideal.

Se uma etapa da obra atrasar dez dias, por exemplo, mas o pedido de materiais já estiver fechado, pode ser necessário renegociar a entrega para evitar estoques excessivos no canteiro. Caso contrário, além de ocupar espaço, o material pode sofrer perdas ou avarias.

Uma prática recomendada é manter reuniões periódicas entre a equipe de suprimentos e os responsáveis pela obra, revisando as entregas programadas e ajustando o que for necessário. Quanto antes um problema for identificado, maior a chance de corrigi-lo sem impactos significativos no cronograma geral da obra.

Ao seguir essa estrutura e trabalhar de forma retroativa, o cronograma de compras se torna muito mais simples. Até pouco tempo atrás, muito disso era controlado por ferramentas antigas como Excel, dificultando o processo. 

Mas hoje em dia, o uso de softwares de gestão de compras estão revolucionando essas atividades, permitindo visualizar todas as etapas e ajustar prazos conforme necessário. Vamos falar melhor sobre isso a seguir.

Tendências e inovações

A gestão de compras na Construção Civil está em constante evolução, impulsionada por avanços tecnológicos e mudanças nas demandas do mercado. Hoje, a digitalização e o uso de ferramentas de automação desempenham um papel central na otimização desses processos, facilitando a criação e o uso do cronograma de compras. 

Empresas que não aderirem às novidades do mercado, algumas que vieram realmente para facilitar e otimizar o dia a dia na obra e no escritório, estarão ficando para trás. É muito importante se manter por dentro do que vem movimentando o setor, principalmente se quiser manter a competitividade da companhia em alta. 

Vamos ver abaixo três das principais tendências e inovações que podem impactar o planejamento de compras na sua obra: 

BIM (Building Information Modeling)

O uso do BIM tem transformado a forma como os cronogramas de compras são gerenciados. Através da modelagem 3D integrada, é possível prever com maior precisão as necessidades de materiais em cada etapa da obra, alinhando o cronograma de compras ao planejamento da construção de forma mais eficaz;

Sistemas de gestão integrada

Plataformas que integram o planejamento, a gestão de suprimentos e o controle financeiro em um único sistema permitem uma visão mais holística do projeto, facilitando a tomada de decisões baseadas em dados e a adaptação rápida às mudanças;

Sustentabilidade e responsabilidade social

a crescente demanda por práticas sustentáveis tem levado as construtoras a adotarem cronogramas de compras que priorizam fornecedores comprometidos com a sustentabilidade e a responsabilidade social. Isso inclui desde a escolha de materiais de menor impacto ambiental até a preferência por fornecedores locais, que reduzem a pegada de carbono associada ao transporte.

A importância de conectar o cronograma de compras ao cronograma da obra

Antes de encerrarmos, é fundamental destacar que o cronograma de compras deve estar alinhado ao cronograma da construção. Até porque o cronograma da obra pode sofrer imprevistos e o engenheiro vai precisar informar imediatamente a área de compras. 

Caso contrário, o material chegará na data prevista e o pessoal do canteiro terá que movimentá-lo enquanto aguarda pelo uso. “Pode ser que não seja preciso movimentar, apenas armazenar. Mas, caso tenham que transferir os produtos de local, é possível que alguma coisa quebre, resultando em prejuízo”, alerta o professor Luchezzi.

Dessa forma, quando não alinhados os cronogramas de compras, obras e entregas, podem acabar gerando dois riscos e igualmente graves: faltar ou sobrar material. 

“Se faltar, é porque não teve análise suficiente para evitar que ocorresse. E o engenheiro de campo, tendo que escolher entre cuidar de uma fissura na estrutura da obra ou fazer a análise de materiais, evidentemente que decide por empregar seu tempo e conhecimento na atenção à qualidade da execução”, complementa Luchezzi.

Por isso, a gestão centralizada das aquisições pelo setor de suprimentos traz mais eficiência ao processo. “A área de compras e suprimentos vai pesquisar fornecedores, negociar e, quando necessário, desenvolver novos parceiros”, destaca Luchezzi. Dessa forma, a construtora pode obter melhores condições comerciais e reduzir a dependência de compras emergenciais, que costumam ser mais onerosas e menos estratégicas.

Cadeia de suprimentos

A cadeia de suprimentos na Construção Civil é complexa, caracterizada por uma diversidade de fornecedores, prazos de entrega variáveis e a necessidade de compatibilização de uma vasta gama de materiais e serviços. A gestão eficaz dessa cadeia é um desafio que exige planejamento meticuloso e uma visão integrada do projeto.

Por este motivo, o cronograma de compras deve ser elaborado em conjunto com o planejamento da obra, considerando todas as especificidades da cadeia de suprimentos. Isso inclui a análise do lead time de cada material, a capacidade de produção dos fornecedores e a logística de transporte. 

Em um mercado cada vez mais pressionado pela sustentabilidade e pela eficiência, o alinhamento entre o cronograma de compras e a cadeia de suprimentos facilita para que os materiais cheguem ao canteiro de obras no momento exato, evitando tanto a ociosidade quanto a interrupção das atividades.

Planejamento de médio prazo e gestão de restrições

A integração dos cronogramas também é importante para o planejamento de médio prazo e a gestão de restrições. O planejamento, geralmente revisado a cada três a seis semanas, detalha as atividades que serão executadas no curto e médio prazo, para que a área de suprimentos possa ajustar as compras conforme a necessidade real da obra. 

Já a gestão de restrições atua na identificação e resolução antecipada de qualquer fator que possa impedir a execução de uma atividade. Isso inclui desde a disponibilidade de materiais e equipamentos até aprovações pendentes ou dificuldades logísticas. 

Se uma concretagem, por exemplo, está programada para a próxima semana, mas depende da chegada das formas metálicas, essa restrição precisa ser identificada com antecedência para que a compra e entrega do material sejam garantidas sem imprevistos.

Ou seja, conectando o cronograma de compras ao planejamento de médio prazo e à gestão de restrições, a obra ganha previsibilidade e agilidade. Dessa forma, o setor de suprimentos trabalha de forma mais estratégica, evitando tanto a falta quanto o excesso de materiais para que a obra siga dentro do cronograma e do orçamento planejado.

Conclusão

O cronograma de compras pode ser o diferencial para a organização das suas construções. Sem ele, muita coisa pode desandar: materiais chegam em momentos desnecessários, equipes podem ficar ociosas esperando insumos, custos saem do controle e, no fim das contas, todo aquele planejamento vira uma bola de neve.

Mas quando esse cronograma é bem estruturado, feito de forma retroativa, ou seja, partindo da necessidade do material na obra e voltando até a sua aquisição, a história muda completamente. Dessa forma, cada etapa – desde o levantamento de quantitativos até a entrega no canteiro – é calculada com precisão, garantindo que nada falte e que nenhum recurso seja desperdiçado.

Lembre-se que integrar o cronograma de compras ao planejamento de médio prazo e ao gerenciamento de restrições permite que ajustes sejam feitos conforme a obra avança, reduzindo surpresas e evitando decisões precipitadas. A tecnologia também tem um papel fundamental nesse processo: softwares de gestão integrada tornam a previsão de compras mais inteligente e alinhada com a realidade do canteiro.

Portanto, um cronograma de compras bem feito significa menos dor de cabeça, menos desperdício e mais precisão nas suas obras

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