O engenheiro Civil é membro da comissão da ABNT que desenvolve a tabela com a padronização na classificação das informações BIM
Wilton Catelani é Engenheiro Civil formado há 30 anos: estudou em São Carlos (SP), começou a carreira como engenheiro de obras, trabalhou em empresas de diferentes portes, como multinacionais, Pini e Autodesk. Ele é um dos membros convidados pela ABNT para fazer parte da CEE 134, a Comissão Especial de Estudos relacionados a BIM e que trata de estabelecer as NBRs que compõem o Sistema de Classificação da Informação da Construção.
A norma desenvolvida pela comissão é a primeira sobre o Building Information Modeling (BIM) desenvolvida no Brasil e será publicada em 7 partes, das quais 4 já estão prontas. A comissão foi formada em junho de 2009 e dela participam os 3 setores da economia consumidores das informações BIM: fornecedores, um grupo de pessoas ou agentes, e entidades neutras: ONGs, universidades, associações sem fins lucrativos. A comissão é voluntária e os interessados podem fazer parte manifestando interesse através de contato com a ABNT.
A classificação dos elementos é importante quando se está trabalhando em BIM para evitar retrabalhos e conflito de dados causados por erros de informação. É importante que todos os dados que estão relacionados a um componente sejam padronizados, de forma a garantir a consistência das informações.
Veja um pouco da nossa conversa com Wilton Catelani e entenda melhor sobre essa nova padronização da ABNT:
1- Como funciona a comissão da ABNT para normas BIM?
É uma comissão voluntária da ABNT sobre BIM, que faz reuniões públicas e envia convites para pessoas e entidades interessadas, quem manifestar interesse pode participar. Essa comissão existe desde 2009 desenvolvendo a primeira norma BIM que consiste no Sistema de Classificação das Informações BIM.
Por exemplo, se um arquiteto está desenvolvendo um banheiro e chama, em seu projeto, um item de “bacia sanitária” e um orçamentista chama de “vaso sanitário”, uma coisa simples como essa pode gerar retrabalho, ainda mais se quem estiver fazendo a análise não for uma pessoa, mas um software.
A norma propõe termos um código, de abrangência nacional para unificar essa classificação dos componentes. O texto base é a classificação Omniclass americana. A ideia é que a classificação da ABNT possa ser aplicada em todo o país. O Sistema de Classificação da Informação da Construção foi planejado em partes 7 partes, das quais 4 já estão prontas.
Ao final, serão 13 tabelas de classificação da informação tratando de assuntos diferentes. Combinando essas tabelas, você consegue classificar qualquer elemento. Explico: um elemento é o que está no plano mas ainda não especificado, sem um código atrelado a ele. Assim que for relacionado a um código, vira um componente.
2- Quando o conjunto total de tabelas estará disponível?
A aprovação de um conteúdo para publicação segue um protocolo: a leitura do conteúdo é feita em reunião plenária e é necessária a aprovação formal dos presentes. Algumas tabelas chegam a ter 6 mil itens, portanto é um processo demorado.
3- Quais os ganhos com essa padronização?
É muito melhor do que não ter regras, pois assim todos terão acesso à mesma informação padronizada e os softwares e profissionais podem trabalhar com uma única classificação, evitando erros e retrabalhos.
4- Em que outros lugares já existe uma normatização quanto ao BIM?
Reino Unido, Cingapura e Chile, tomaram a decisão de usar BIM como estratégia nacional: nenhum projeto com dinheiro público pode ser realizado sem BIM, ele é obrigatório. É também uma prática comum nos EUA, Austrália e nos países nórdicos.
5- Como um profissional da construção pode encontrar o seu caminho para ser um especialista em BIM?
Em sua maioria, não existe ainda na grade de disciplinas nos cursos de Arquitetura e Engenharia o assunto BIM. A adaptação não será fácil por motivos estruturais: na rede pública, muitos professores estão defasados e não têm nenhum estímulo para se atualizarem. Além disso, uma mudança de grade curricular é um processo demorado. Hoje, o que eu vejo, é que as pessoas se capacitam por 2 motivos: necessidade da empresa, através cursos particulares ou contratam uma consultoria e dentro de um projeto real acabam sendo treinados no trabalho.
As pessoas mais jovens se interessam pelo assunto, aproveitam o material na internet e aprendem sozinhos. A falta de informação disponível é uma barreira que existe. Por isso são importantes iniciativas como o guia BIM da CBIC, que deve sair em breve. A capacitação ainda é um dos problemas no país e existem muitos oportunistas que usam o termo BIM frouxamente. Assim como aconteceu com a sustentabilidade na construção, acontece com o BIM: muitos oportunistas aplicam o termo para publicidade, sem ter o domínio do assunto.
6- Você provavelmente ouviu falar da iniciativa do Sienge de fazer uma integração BIM, qual a sua opinião sobre?
O Sienge é o primeiro ERP que eu vejo fazer um esforço para se adaptar ao BIM. É uma iniciativa ainda modesta, relacionada a expressões de quantidades. O trabalho a partir daí pode ser interessante, e deve evoluir. A grande base de clientes já consumada pelo Sienge garante um bom ambiente para testar essa integração BIM no mercado e desenvolvê-la.
7- Como você enxerga o cenário atual e o futuro da construção aqui no país?
O cenário está muito difícil com a crise econômica, motivada por fatores macroeconômicos. Também afeta o cenário o fato de que as operações anticorrupção afetaram as grandes empresas do ecossistema da construção. Grandes players como Odebrecht, OAS, Andrade Gutierrez, estão paralisadas, isso afeta a confiança do setor inteiro. Em breve o país deve voltar a produzir, aliás, já está até demorando demais, pois temos grandes necessidades de infraestrutura que precisam ser atendidas.
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