Fabrício Schveitzer é diretor da Dimas Construções, sediada em São José, na Grande Florianópolis, Santa Catarina. É formado em Administração de Empresas e possui mestrado na mesma área pela Universidade Federal de Santa Catarina. Antes de atuar na setor da construção civil, trabalhou em empresas de tecnologia e distribuição de automóveis.
Schveitzer está empenhado em transformar a Dimas em uma “empresa de tecnologia que constrói”. Criada em 1976, a construtora é referência em empreendimentos de alto padrão em sua região e vem investindo em obras que se caracterizam pela tecnologia agregada e requisitos de sustentabilidade.
A seguir, Fabrício Schveitzer fala sobre o mercado da construção e conta o que está sendo feito para modernizar os processo de gestão da Dimas. Acompanhe!
SIENGE – A que você atribui o bom desempenho comercial da Dimas Construções mesmo no período de crise?
Parte de nosso sucesso se deve aos aprendizados e experiências adquiridos ao longo de 40 anos no segmento de distribuição de automóveis. Historicamente, aprendemos a nos preparar para períodos de baixa no mercado.
Dessa forma, quando começamos a acelerar o processo da Construção Civil dentro do Grupo Dimas, decidimos nos estruturar não somente para trabalhar nas fases boas, mas também para enfrentar os ciclos de baixa na indústria. Talvez isso explique, em parte, nosso bom desempenho comercial.
SIENGE – Qual foi a estratégia da Dimas para enfrentar os últimos três anos?
Nós definimos três pontos prioritários para a análise de qualquer projeto. O primeiro é a localização. Só trabalhamos com localizações que fortaleçam os pontos de convergência das cidades. Buscamos eixos de aglutinação residencial e comercial que permitam às pessoas se deslocarem a pé. Uma de nossas principais referências é o urbanista norte-americano Jeff Speck, autor do livro Cidade Caminhável.
O segundo ponto é o foco no mercado de troca de imóveis. Apostamos muito nos consumidores que estão melhorando suas condições de vida e, por isso, decidem mudar de habitação. Acreditamos que esse é um dos nichos mais perenes no mercado imobiliário.
O terceiro ponto é desenvolver projetos que contribuam para qualificar a cidade no médio e longo prazos. Sabemos que a construção civil causa impactos e perturbações durante o período de obras. Mas empreendimentos bem concebidos também podem gerar benefícios para a comunidade nas décadas ou séculos que estiverem em funcionamento, melhorando a segurança, a iluminação, os passeios públicos e diversos outros aspectos referentes à urbanização.
SIENGE – Como você vê o ambiente de negócios no Brasil?
No Brasil, é possível encontrar cidades que criaram dispositivos avançados para resolver os problemas urbanísticos, como Londrina e Maringá, ambas no Estado do Paraná. Elas fomentaram um ambiente altamente positivo para o desenvolvimento da construção civil. Por outro lado, há também cidades bastante engessadas.
Via de regra, o ambiente de negócios na construção civil é turbulento, principalmente quando enfrentamos questões ambientais. Há muita insegurança jurídica envolvendo esse tema, pois não temos uma legislação ambiental clara e isso dá margem a diferentes interpretações. Mas quem quer trabalhar de forma correta consegue superar os obstáculos.
O que às vezes nos dificulta bastante é a incerteza quanto aos prazos para aprovação dos projetos. Isso prejudica bastante a análise da viabilidade econômica dos empreendimentos.
SIENGE – Em sua opinião, o que é preciso para impulsionar o setor?
O setor dependa de financiamentos tanto para quem compra quanto para quem produz. Contudo, a oferta de funding ainda não virou realidade no Brasil.
Enquanto em outros países vários modelos de negócio só se sustentam devido às soluções financeiras, aqui as incertezas no horizonte econômico geram muitas oscilações na taxa de juros, impedindo que essas alternativas cheguem. Quando o Brasil tiver uma oferta de funding adequada, teremos em um novo patamar de empreendimentos imobiliários, assim como está acontecendo em Cingapura, por exemplo.
O outro problema é a diversidade de interpretações acerca do que se quer para as cidades brasileiras. Devido à extensão territorial e à diversidade sociocultural do País, encontramos diferentes visões urbanísticas de uma região para outra. Fica muito difícil para o poder público montar uma estratégia de médio e longo prazo para o setor se ele não consegue sequer adequar sua visão de urbanismo.
SIENGE – Quais são os principais investimentos da Dimas em termos de ferramentas de gestão?
Utilizamos o Sienge, um sistema de gestão confiável e robusto, aberto a conexões com APIs. Além disso, investimos em ferramentas que ajudam a expor ao maior número possível de pessoas os dados e as informações que antes ficavam concentradas no escritório. Hoje, por exemplo, nosso mestre de obras anda pelo canteiro com um tablet e todos os pedreiros têm celular com WhatsApp. Quando as pessoas têm acesso às informações e ao conhecimento, passam por um processo de transformação e ampliam sua compreensão sobre o que acontece na obra.
SIENGE – Você afirmou que o objetivo da Dimas Construções é ser uma empresa de tecnologia que constrói. Pode falar sobre isso?
Ao fazer essa afirmação, nosso primeiro objetivo era provocar uma mudança de cultura interna. Queríamos adotar ferramentas de gestão mais simples e dinâmicas, características de empresas de tecnologia. Já incorporamos UX, metodologia Ágil e Scrum, por exemplo. Tanto que, se você conversar com nossos colaboradores, terá a impressão de que está falando com alguém da área de tecnologia, e não de construção civil.
O segundo objetivo foi adotar um certo inconformismo em relação às “soluções perenes” no segmento. Apesar de construirmos de forma tradicional, não precisa ser sempre assim. Hoje a Dimas desenvolve inovação em quatro quadrantes: modelo de negócios, modelo de gestão, processos e metodologias construtivas, tudo inspirado na área de tecnologia.
Em relação à melhoria de processos, por exemplo, queremos quadruplicar nossa capacidade de atendimento ao cliente investindo em automação e em melhoria de sistemas.
SIENGE – Em sua opinião, que competências os profissionais de construção precisam desenvolver para atender à demanda do mercado?
Os engenheiros precisam melhorar a capacidade de analisar dados. Também precisam incorporar fortemente a gestão da produção na Engenharia Civil. Tanto que aumentamos muito a contratação de engenheiros de produção em nossa construtora. Além disso, é necessário ter uma grande capacidade de conectar profissões, pois só a concepção de um projeto envolve de 30 a 70 pessoas de diferentes áreas.