Custo, prazo e qualidade são variáveis que definem o sucesso de qualquer projeto na construção civil. O custo representa o orçamento disponível para o projeto e a gestão eficiente dos recursos; o prazo é a janela temporal para a realização da obra; e a qualidade é o padrão pelo qual o trabalho realizado é avaliado.
São três pilares que sustentam um empreendimento, e portanto não podem ser encarados como elementos isolados. Pelo contrário: considerar sua interdependência é vital na construção civil.
A gestão integrada desses elementos evita problemas graves para as construtoras, como estouros de orçamento e a insatisfação do cliente final. Entender e aplicar essa integração não é apenas uma boa prática — é uma exigência para a viabilidade e a excelência em projetos de construção civil.
Estágios de maturidade na gestão de custo, prazo e qualidade
A excelência nos projetos de construção civil é fruto da melhoria contínua da gestão de custo, prazo e qualidade. A partir do esforço ativo para tornar seus processos mais eficientes, as construtoras desenvolvem, ao longo do tempo, competências que as movem por diferentes degraus de maturidade na gestão integrada desses três pilares.
Para chegar na completa integração e digitalização dos dados, é comum que as empresas passem por etapas prévias e mais simples, como a implantação de Fichas de Verificação do Serviço (FVSs) e a adoção de softwares para compilação das informações. Conheça a seguir cada uma dessas fases.
Fase 1: Ausência de controle da qualidade
Inicialmente, muitas construtoras operam sem um acompanhamento efetivo da qualidade em suas obras, o que, segundo a pesquisa Cenário Construtivo Brasileiro de 2023, é uma realidade para 42% das empresas do setor. Para Júlia Bruschi, engenheira de planejamento do Grupo OAD, há efeitos diretos no canteiro de obra. “Cada canteiro vai ter uma maneira de se executar, um índice de produtividade, um consumo, um custo específico. E você perde a noção até para controle da sua própria obra”.
Fase 2: Fichas de controle em papel
Quando tomam ciência dos custos ocultos da falta de controle de qualidade, as construtoras começam a amadurecer seus processos de gestão. Essas empresas, então, evoluem para implementar processos e ferramentas físicas, como as Fichas de Verificação do Serviço (FVSs) em papel.
Embora este seja um passo adiante, ele ainda é limitado pela natureza estática e pelo difícil acesso à informação atualizada.
Fase 3: Digitalização com planilhas eletrônicas
O primeiro passo de digitalização ocorre quando as construtoras começam a consolidar os dados coletados em papel nas planilhas eletrônicas como o Excel. Trata-se de um avanço considerável na gestão de projetos, que permite manipular e analisar os dados com maior eficiência. No entanto, ainda envolve muitos processos manuais de digitação, sujeitos a erros humanos. A análise dos dados também é mais lenta, não entregando ao canteiro insights com a velocidade adequada a obras com cronogramas mais enxutos.
Fase 4: Implantação de softwares especializados
Com planilhas eletrônicas, a análise de custo, prazo e qualidade é facilitada e estabelece a base para a implementação subsequente de softwares especializados. Eles substituem as fichas em papel e tornam a coleta de dados em obra mais ágil e flexível, normalmente com aplicativos para celular com formulários padronizados e possibilidade de registro de imagens.
Fase 5: Integração digital de custo, prazo e qualidade
A implementação de softwares especializados em planejamento, orçamento e qualidade proporciona um salto qualitativo, mas a integração dessas ferramentas representa o ápice da maturidade. Este estágio de integração de sistemas não só simplifica o acompanhamento de custo, prazo e qualidade, mas também facilita uma visão holística e uma gestão proativa.
Sistemas como o Sienge, Prevision e Construpoint, por exemplo, trabalham de forma conectada e permitem que as construtoras alcancem um nível de precisão e controle antes inatingível no seu planejamento, orçamento e inspeções de qualidade.
Um exemplo de sucesso da integração desses três sistemas é a experiência da Gênesis Empreendimentos, de Teresópolis (RJ). Rafael Becker, gerente de planejamento da empresa, resume como essa gestão evoluiu na empresa. “Durante bastante tempo a gente fez esse monitoramento de FVS com papel”, explica. “Sempre tivemos a premissa que, se a gente trouxesse uma ferramenta, ela deveria se integrar ao nosso ERP”.
Ele conta que sua equipe passou bastante tempo pesquisando o mercado, até que chegaram à solução ideal implementada no início de 2023: a gestão digital integrada de custos, prazos e qualidade com as plataformas Sienge, Prevision e Construpoint. “É bastante gratificante, isso nos traz bastante produtividade”, comemora.
Problemas comuns da não integração de custo, prazo e qualidade
Ainda que a digitalização seja implementada nos canteiros com softwares especializados, o grande ganho na gestão ocorre ao se atacar a fragmentação da coleta e da análise dos dados.
Entre as questões que podem ser otimizadas com a integração dos dados estão o excesso de retrabalhos, a falta de uniformidade nos canteiros, a tomada de decisões desinformadas, a falta de agilidade nas obras, a comunicação fragmentada e a falta de flexibilidade frente a mudanças de escopo.
Dados imprecisos
A ausência de integração resulta em decisões tomadas com base em informações desatualizadas.
Riscos não mitigados
A falta de dados confiáveis impede a antecipação e mitigação de riscos potenciais.
Inflexibilidade operacional
Processos manuais e desconectados reduzem a capacidade de adaptação rápida a mudanças.
Demora na resolução de problemas
A não integração impede a rápida identificação e correção de questões emergentes.
Barreiras informacionais
A falta de uma plataforma comum para compartilhamento de dados pode criar silos de informação.
Desalinhamento entre equipes
Sem dados integrados, as equipes podem trabalhar com diferentes conjuntos de informações, levando a equívocos e falhas na execução.
Adaptação lenta
Mudanças de escopo são comuns em projetos de construção, mas a falta de integração pode tornar difícil a adaptação a essas mudanças de forma eficiente.
Benefícios da gestão integrada de custos, prazo e qualidade
A integração eficaz de preço, prazo e qualidade proporciona clareza à equipe de gestores de obra. Para Luiz Santos, Senior Advisor e Diretor de Engenharia, Construção e Real Estate da Falconi Consultoria em Gestão, os sistemas integrados permitem que a engenharia entenda melhor, por exemplo, as causas dos retrabalhos nos canteiros. “Os sistemas hoje trazem informações muito preciosas, eu diria que é um baú do tesouro no tema do retrabalho e qualidade”, explica. “É um tema muito relevante, e há muito dinheiro na mesa quando o tema é qualidade”, afirma.
Veja alguns dos benefícios do uso de softwares integrados para gestão de custos, prazo e qualidade:
Facilidade e velocidade de acompanhamento
Os softwares integrados proporcionam uma interface simplificada que permite um acompanhamento ágil e intuitivo. Com poucos cliques, gestores podem acessar o estado atual de um projeto, fazer ajustes e tomar decisões informadas rapidamente, eliminando atrasos na execução e na entrega.
Visibilidade dos dados
Com a integração, os dados de custo, prazo e qualidade são visualizados em dashboards claros, permitindo uma percepção imediata das condições do projeto. Essa transparência é vital para o monitoramento efetivo e a tomada de decisão baseada em informações precisas e confiáveis.
Entendimento e adesão da equipe
Quando as informações são apresentadas de forma coesa, as equipes conseguem compreender melhor as metas e os processos. Isso aumenta a aderência aos procedimentos estabelecidos e promove um ambiente de trabalho mais alinhado e produtivo.
Conexão entre obra e escritório
A integração traz uma sincronia perfeita entre o canteiro de obras e o escritório. Informações são atualizadas e compartilhadas em tempo real, garantindo que todos os envolvidos estejam trabalhando com os dados mais recentes, sem a necessidade de compilar manualmente as informações.
Conclusão
Iniciar a gestão integrada de custo, prazo e qualidade pode parecer uma tarefa desafiadora, mas, com as ferramentas certas e uma abordagem focada, os benefícios logo se tornam tangíveis. A seguir, reunimos algumas estratégias para você implementar essa abordagem com sucesso em sua construtora:
- Comece pelo caminho crítico: Identifique e concentre-se primeiro na padronização das atividades de maior risco e nos processos que estão no caminho crítico do projeto. Esse foco permite que você perceba mais rapidamente os resultados da integração, como a redução de custos, retrabalho e atrasos no cronograma.
- Mudança de mentalidade: Encare os processos e ferramentas de gestão não como meros requisitos burocráticos, mas como potenciais solucionadores de problemas. Lembre-se de que processos organizados e integrados reduzem custos ocultos em tarefas administrativas morosas e improdutivas.
- Seleção de tecnologia adequada: Invista em softwares especializados que não só integrem dados de custo, prazo e qualidade, mas também sejam fáceis de usar e promovam o engajamento da equipe. Assegure-se de que sua equipe esteja bem treinada para utilizar as novas ferramentas.
- Monitoramento e feedback contínuo: Não se esqueça de adotar os princípios do Lean Construction, incluindo ciclos de feedback em que as informações coletadas são analisadas para melhoria contínua dos processos construtivos. O monitoramento sistemático também ajuda a identificar rapidamente áreas que necessitam de atenção.
- Parcerias estratégicas: Considere trabalhar em conjunto com consultores e empresas fornecedoras de tecnologia para obter insights externos e moldar o sistema de gestão ideal para sua construtora.
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