Gerenciar um projeto de Construção Civil significa dividir sua atenção em diferentes frentes que, combinadas, podem significar o nível de sucesso de uma obra. Esse acompanhamento fica mais fácil com o auxílio de um modelo de gerenciamento conhecido como Estrutura Analítica do Projeto de Construção Civil – a EAP.

Este documento corresponde a um plano que reúne todos os entregáveis que compõem um projeto. Ou seja, a EAP é uma lista de todas as atividades de uma obra divididas em etapas. O projeto vai avançando conforme o trabalho reservado para aquela parte da construção é finalizado.

Estrutura Analítica do Projeto: o que é?

A Estrutura Analítica de Projetos (EAP), ou Work Breakdown Structure (WBS) em inglês, é uma ferramenta essencial na gestão de projetos. Ela desempenha um papel fundamental na decomposição e organização de um projeto em partes menores e mais gerenciáveis.

O professor e doutor Roque Rabechini Jr., diretor da consultoria C&R, exemplifica da seguinte forma:

“Se estou fazendo a construção num condomínio e preciso cercar a casa, os pedreiros podem erguer as paredes enquanto outra equipe levanta o muro, sem que uma atividade dependa da outra. Fica claro que se trata de dois entregáveis, um muro e o levantamento da casa. Assim, é possível aproveitar os recursos e, paralelamente, cumprir dois entregáveis. No entanto, há também o caso das entregas sequenciais, ou seja, uma depende da outra, como fundações, paredes e telhado, que estarão estruturadas na EAP.”

Pensando em facilitar o seu entendimento sobre o assunto, listamos abaixo uma série de pontos importantes e específicos que você precisa saber sobre a EAP para conseguir compreender e trabalhar com essa ferramenta.

Pontos importantes sobre a Estrutura Analítica de Projetos (EAP):

  • Definição: a EAP é uma representação hierárquica do escopo de um projeto, que o divide em partes componentes, conhecidas como pacotes de trabalho. Cada pacote de trabalho representa uma tarefa, atividade ou elemento específico do projeto.
  • Finalidade: facilitar o gerenciamento de projetos. A EAP ajuda a compreender a estrutura do projeto, identificar as tarefas necessárias e atribuir responsabilidades. Além disso, fornece uma base para o planejamento, monitoramento e controle.
  • Decomposição: a EAP segue o princípio da decomposição, ou seja, divide o projeto em partes menores até que todas as atividades sejam suficientemente detalhadas para serem gerenciadas. Isso torna mais fácil estimar o tempo, custo e recursos necessários para cada parte do projeto.
  • Uso de Códigos: cada elemento da EAP é geralmente identificado com um código exclusivo, o que facilita o rastreamento e a referência cruzada entre os diferentes componentes do projeto. 
  • Manutenção Contínua: a EAP não é estática. Ela pode ser atualizada e revisada ao longo do ciclo de vida do projeto à medida que novas informações e mudanças ocorrem. Isso ajuda a manter o projeto alinhado com os objetivos.
  • Software de Gerenciamento de Projetos: existem muitos softwares de gerenciamento de projetos que auxiliam na criação e manutenção da EAP. Essas ferramentas facilitam o acompanhamento do progresso e a geração de relatórios.

A EAP é uma ferramenta valiosa para qualquer projeto, independentemente do tamanho ou complexidade. Ela ajuda a garantir que o mesmo seja executado de maneira organizada, dentro do escopo, prazo e orçamento definidos, permitindo que os gerentes tomem boas decisões ao longo do caminho.

Estrutura analítica de projetos na Construção Civil

Um projeto típico de Construção Civil sempre exige um monitoramento próximo dos entregáveis, etapas e equipes alocadas para o trabalho – sem perder o foco, é claro, o cumprimento do orçamento.

Nesse contexto, a entrega é feita por etapas que, completadas, representam a finalização daquele objetivo ou parte do projeto. É justamente esse acompanhamento que a EAP se propõe a fazer, pois ela nada mais é do que um mapeamento listando, de forma lógica e organizada, todas as atividades necessárias em uma obra.

A vantagem de implementar uma Estrutura Analítica do Projeto na Construção Civil é, portanto, ter uma apresentação visual e sequencial de cada etapa. Essa organização ajuda a contemplar os pontos indispensáveis que não podem deixar de ser incluídos na execução, e pode determinar o sucesso final do projeto.

“A EAP é a oportunidade de fazer o desmembramento mais detalhado, representando os produtos e os entregáveis. No dia a dia, o gestor deve utilizar esse instrumento de forma contundente, mesmo porque é fundamental o uso disciplinado das práticas estabelecidas pelo PMI e outras entidades”, destaca o Prof. Roque Rabechini Jr.

Para saber tirar o máximo da EAP, é fundamental entender os pontos que compõem esse tipo de planejamento. A seguir, teremos também uma amostra de como a EAP pode ser organizada de acordo com esses elementos mostrados abaixo.

Níveis

Os níveis são como são chamadas as divisões de etapas e entregáveis, que devem ser organizados de forma hierárquica e sempre se conectam um com o outro.

O nível 0 corresponde ao resultado final: aquilo que se espera alcançar a partir do EAP. Adaptando esse exemplo para a Construção Civil, usaremos um projeto focado em Construção de edifício vertical como nível 0.

Exemplo de EAP: edifício vertical
Exemplo de EAP: edifício vertical

Considere a imagem acima: os níveis 1 e 2 estão diretamente relacionados ao resultado final – que é ter o prédio construído e pronto para receber moradores.

Entendemos que as etapas do nível 1 (projeto de arquitetura, serviços preliminares, fundação, apartamentos, paisagismo e limpeza) são as que compõem o projeto de construção do prédio. Ignorar qualquer uma dessas etapas coloca em risco a construção do edifício.

No nível 2, teríamos o desdobramento correspondente a cada uma dessas etapas. Para saber quais entregáveis correspondem ao nível 2, é importante lembrar que devem ser os componentes que, somados, resultam em ter aquele nível entregue.

Pacotes de trabalho

Considera-se pacote de trabalho todas as atividades que precisam ser controladas e medidas dentro do cronograma de obras. Ou seja, os pacotes de trabalho correspondem ao que descrevemos como nível 2: ou seja, é a organização do que deve ser feito para que o nível 1 seja completo.

É possível, ainda, detalhar os pacotes de trabalho em serviços, que seriam as suas sub etapas. Por exemplo: o pacote alvenaria pode ser dividido em marcação, elevação e encunhamento.

Dependências

O mapeamento de dependências ajuda a identificar gargalos que podem prejudicar o andamento do projeto caso não sejam solucionadas a tempo.

As dependências podem ser diferentes considerando o tipo de construção, as atividades realizadas e as equipes envolvidas.

A identificação das dependências acontece justamente pela listagem dos itens mencionados anteriormente: ao entender qual o entregável final (nível 0), é possível mapear o que compõe aquele entregável (nível 1). Já a identificação dos pacotes de trabalho (nível 2) permite entender quais as dependências para que esses pacotes sejam entregues.

O tópico de interdependência entre etapas da construção é importante porque a consequência dessa falta de clareza pode ser considerável, chegando a travar as próximas entregas previstas da obra.

Existe diferença entre cronograma e EAP?

Considerando que a elaboração de uma EAP consiste em etapas e entregáveis, esse processo pode remeter a um cronograma de obras. Mas, na verdade, são ferramentas diferentes que se complementam.

A proposta da EAP é mostrar o que será entregue (nível 0), como será entregue (níveis subsequentes e pacotes de entrega) e, ao final, a conclusão dessas diferentes etapas indicam o fim da obra.

Finalizada a etapa da EAP, as datas podem ser inseridas. A partir disso, o cronograma já está criado, já que esse recurso mostra quando cada etapa será finalizada, seu tempo de execução, o momento em que diferentes stakeholders e pessoas envolvidas começam a atuar nessas etapas e, eventualmente, a conclusão final do projeto.

Modelos de EAP do projeto de Construção Civil

Assim como em qualquer projeto com algum grau de complexidade e colaboração, existem adaptações que podem ser feitas em modelos de EAP.

Essas diferentes nuances e focos servem para permitir que o objetivo final da estratégia de EAP seja alcançado: garantir que o entregável final daquela etapa do projeto seja concluído.

Veja agora alguns dos modelos de EAP que mais podem impactar o resultado da obra:

  • EAP física: este modelo prioriza o ciclo de etapas que, cumpridos em sequência a partir das datas do cronograma, significam a entrega final. A vantagem dessa EAP é trazer a visão clara das fases que serão cumpridas e a linha do tempo que será seguida. Baixe nosso modelo gratuito:
  • EAP de orçamento: segue o mesmo raciocínio da EAP física, mas traz  informações dos custos e orçamento. A EAP de orçamento é estratégica porque oferece uma visão clara dos componentes que geram gasto, impactam o valor da obra. Ao final, é possível ter mais clareza das etapas que mais geraram custos.

O gerenciamento de um projeto de Construção Civil fica otimizado e mais eficiente quando se tem clareza do cronograma a ser seguido, das tarefas que impactam cada etapa de evolução da obra, e de como o orçamento do projeto está sendo usado. Ou seja, quando se tem uma análise físico-financeira do projeto.

Elaboração de uma EAP

Agora que a teoria sobre a Estrutura Analítica do Projeto para Construção Civil está explicada, vamos ao passo a passo que você precisa seguir para criar uma EAP que cumpra o seu objetivo:

1) Defina o escopo e os objetivos da obra

Antes de criar a EAP, é fundamental entender completamente o que a obra envolve. Defina o escopo do projeto, incluindo todas as etapas, tarefas e entregas esperadas. Identifique claramente os objetivos e critérios de sucesso. Reúna todas as informações relevantes para saber como desmembrar os entregáveis do projeto em etapas hierarquicamente organizadas e co-dependentes.

2) Liste as principais fases ou pacotes de trabalho

Identifique as principais fases ou pacotes de trabalho que compõem a obra e crie um dicionário EAP. Este documento tem o objetivo de indicar detalhes sobre os pacotes de trabalho, contemplando: critérios de descrição e aceitação de cada etapa e entregável e quem consultar em caso de dúvidas, por exemplo.

Lembre-se de incluir preparação do terreno, fundações, estrutura, instalações elétricas e hidráulicas, acabamentos, paisagismo e muito mais. Cada fase representa uma divisão lógica do projeto.

3) Crie uma estrutura hierárquica

Organize os pacotes de trabalho em uma estrutura hierárquica. O nível mais alto deve representar a obra como um todo, e os níveis subsequentes detalham cada pacote de trabalho em partes menores. Por exemplo, sob “Estrutura”, pode haver subníveis para “Fundação”, “Estrutura de Concreto” e assim por diante.

4) Detalhe as atividades e tarefas

Para cada pacote de trabalho e subnível, liste as atividades e tarefas específicas necessárias para concluir essa parte da obra. Isso requer uma análise detalhada e uma compreensão completa das atividades envolvidas, suas dependências e ordem de execução.

E uma dica: construa os pacotes de entrega a partir de substantivos, não verbos. É importante lembrar que o EAP não é uma ferramenta para ensinar o que deve ser feito, mas qual o entregável. Por isso, não foque no método, mas no objetivo final.

5) Atribua responsabilidades

Atribua responsabilidades para cada atividade ou tarefa. Defina claramente quem será responsável pela execução, supervisão e acompanhamento de cada elemento da obra. Isso evita confusões e garante que todos saibam o que é esperado deles.

6) Integre com o cronograma

Integre a EAP com o cronograma do projeto. Associe cada elemento da EAP com as datas de início e término correspondentes no cronograma. Isso ajuda a garantir que o projeto esteja no caminho certo e permite a identificação de possíveis desvios.

7) Aloque recursos

Considere a alocação de recursos, como mão de obra, equipamentos, materiais e orçamento, para cada atividade e tarefa da EAP. Isso ajuda a garantir que os recursos necessários estejam disponíveis quando necessário e evita a super locação ou sublocação.

8) Revisão e atualização contínuas

A EAP não é um documento estático. À medida que o projeto de construção avança e as circunstâncias mudam, revise e atualize a EAP conforme necessário. Isso inclui acomodar mudanças no escopo, ajustar prazos e alocar recursos conforme a evolução do projeto.

Seguindo esses passos, você estará preparado para criar uma EAP de Construção Civil eficaz para a sua obra. Ela se tornará uma ferramenta essencial para o planejamento, monitoramento e controle do projeto, contribuindo para o sucesso e a entrega dentro do prazo e do orçamento.

O uso da tecnologia como facilitadora

A tecnologia tem transformado a maneira como gerenciamos projetos na Construção Civil, trazendo ferramentas mais ágeis e eficientes para a criação e o acompanhamento da Estrutura Analítica de Projetos (EAP). 

Métodos tradicionais, como o uso de papel ou planilhas convencionais, ainda são comuns, mas apresentam limitações significativas, como falta de atualização em tempo real, risco de erros manuais e dificuldades na integração com outros processos.

Por outro lado, soluções modernas e softwares especializados em planejamento de obras – como a Prevision, por exemplo, permitem uma gestão mais dinâmica e colaborativa. Essas ferramentas possibilitam a visualização hierárquica das etapas do projeto de forma intuitiva, garantindo maior controle, melhor rastreabilidade e comunicação eficiente entre as equipes.

Ao comparar os métodos tradicionais com os tecnológicos, percebe-se que a automação reduz o retrabalho, melhora a tomada de decisão com dados atualizados e proporciona maior previsibilidade na execução da obra.

Dessa forma, a tecnologia se consolida como uma grande aliada na otimização da EAP, impulsionando a produtividade e reduzindo desperdícios no setor da Construção Civil.

Benefícios da utilização da EAP na Construção Civil

A utilização da Estrutura Analítica de Projetos (EAP) na Construção Civil oferece uma série de benefícios significativos. Ela simplifica a complexidade inerente a projetos de construção, permitindo um gerenciamento mais eficiente em diversos aspectos.

Segundo o professor doutor Roque Rabechini Jr, “uma das mais importantes vantagens talvez seja a possibilidade de se estabelecer custos para cada grupo e cada pacote de trabalho. O que resulta disso refletirá num orçamento muito mais interessante.”

Ou seja, a EAP ajuda a identificar claramente as necessidades de mão de obra, equipamentos e materiais em cada fase do projeto, evitando a super locação ou sublocação de recursos.

Além disso, este documento facilita o controle de custos ao permitir uma análise detalhada das despesas associadas a cada elemento do projeto. Isso ajuda na identificação de áreas onde os custos podem ser otimizados e garante que o orçamento seja gerenciado de forma eficiente.

O cumprimento de prazos é outra vantagem crucial. Com a EAP, é possível definir datas de início e término para cada componente do projeto e monitorar o progresso de forma mais precisa. Isso ajuda a evitar atrasos e garante que o projeto seja concluído dentro do cronograma.

Além disso, a EAP desempenha um papel fundamental na redução de riscos. Ao identificar claramente todas as tarefas e atividades do projeto, os gerentes podem antecipar potenciais problemas e desenvolver planos de contingência eficazes.

Por fim, a EAP oferece flexibilidade para lidar com mudanças no escopo do projeto. À medida que novas informações surgem ou requisitos são ajustados, a estrutura hierárquica da EAP permite que as mudanças sejam incorporadas de forma organizada e controlada, minimizando o impacto nas etapas subsequentes.

Esses benefícios ilustram por que a EAP é uma ferramenta tão valiosa na Construção Civil, permitindo que as equipes de projeto enfrentem os desafios de forma mais eficiente e alcancem o sucesso em seus empreendimentos.

Conclusão

Saber gerenciar cada estágio de entrega sem perder de vista o aproveitamento de recursos financeiros e materiais permite que os princípios da Lean Construction sejam devidamente aplicados. O resultado é um projeto eficiente e proveitoso.

Para chegar a esse estágio de otimização, a EAP é uma aliada indispensável para quem tem a responsabilidade de gerenciar uma obra de Construção Civil. A sua grande vantagem é permitir uma visão sistêmica do produto entregável, mas sem perder de foco a divisão do trabalho a ser cumprido, quais etapas são indispensáveis, e quanto do orçamento do projeto é dedicado para cada fase.

O trabalho de gerenciamento de uma obra ganha agilidade e segurança quando existe clareza do objetivo final a ser entregue, as etapas que incorporam esse resultado final e um claro caminho a ser percorrido: esses são efeitos esperados da execução adequada da Estrutura Analítica do Projeto na Construção Civil.