Hoje cabe ao engenheiro eliminar as operações desnecessárias dentro de um canteiro de obras. Ou seja, aquelas que geram os desperdícios na construção civil.
Dessa maneira, os principais tipos de desperdício na construção são 9:
- Espera
- Movimentação
- Processos desnecessários
- Área inutilizada
- Transporte
- Estoque
- Produção excessiva
- Defeito
- Atraso
1. Espera
Por espera, na ótica da lean construction, define-se qualquer tempo gasto por pessoas ou equipamentos aguardando algum tipo de ação por parte de terceiros. Durante o tempo de espera os funcionários não exercem uma atividade, o que representa improdutividade. É, pois, um desperdício de tempo, de mão de obra e não necessariamente acarreta em perdas de materiais.
Alguns exemplos e causas de espera no fluxo de trabalho:
- Falta de material: é uma interrupção no fluxo de materiais. Assim, acontece geralmente porque o estoque da obra era insuficiente no início do serviço ou porque o setor de Suprimento fez o pedido fora do prazo ideal;
- Falta de ferramenta ou equipamento: pode estar relacionada a mobilização tardia do equipamento – que não atende ao tempo de ciclo do sistema de produção – ou até mesmo pela ausência de equipamento de reserva (vibrador de concreto, por exemplo);
- Frota mal dimensionada: já viu fila de caminhões aguardando sua vez para serem carregados por uma escavadeira? Isso pode ser decorrente de um dimensionamento errado de caminhões. Existe também espera no caso de a quantidade de caminhões ser pequena — aí a espera é na escavadeira.
2. Movimentação
Os desperdícios por movimentação ocorrem, segundo a lean construction, quando operários ou equipamentos realizam movimentos dispensáveis na execução de determinadas atividades de fluxos. Ou seja, sem agregar valor ao produto final. Um exemplo é o deslocamento para buscar ferramentas e materiais.
Dessa maneira, uma das técnicas utilizadas para tentar reduzir desperdício por movimentação na lean construction é o estudo de tempos nas operações.
A figura abaixo mostra o deslocamento dos operários em uma central de armação. Nota-se claramente que o arranjo da central não é dos mais eficientes. Afinal, há muito deslocamento para um local afastado do centro de gravidade das operações. Isso precisa ser considerado ao planejar o armazenamento de materiais.
Pensando nos conceitos da lean construction, o que VOCÊ faria nesse caso? Comente abaixo! Queremos saber sua opinião.
3. Processos desnecessários
Os desperdícios por processos desnecessários se manifestam pela existência de processos intermediários. Ou seja, conforme os preceitos da lean construction, que acabam por não agregar valor e tornam as atividades complexas e até redundantes.
Um exemplo clássico é a dupla carga (“dois tombos”, como se diz no jargão da construção). Imagine que se faz uma escavação. Daí, leva-se o material para uma pilha de estoque e depois leva-se o material para o local de aterro.
Ora, as duas cargas poderiam ser reduzidas a apenas uma se o processo pudesse ser otimizado. A carga dupla é comum na descarga de material no canteiro de obra.
Ou seja, o fornecedor descarrega o material no chão. Depois, um operário transporta para o almoxarifado. Depois disso, o produto vai para uma pilha no monta-carga (ou cremalheira). Somente depois é que vai para uma pilha no pavimento de aplicação do produto.
Assim, a otimização do processo de entrega junto ao fornecedor, baseada em conceitos de entrega just in time, por exemplo, poderia evitar isso.
Afinal, o primeiro passo para quem quer aumentar a produtividade de uma obra é, justamente, levando em consideração os diversos tipos de desperdício de materiais e de serviços em canteiros de obras.
É preciso combater esses níveis de desperdício na construção.
4. Área inutilizada
Por área inutilizada define-se qualquer espaço dedicado a atividades de fluxo de trabalho que correm em paralelo à produção. No entanto, que não necessariamente estão diretamente relacionadas ao processo construtivo.
A existência dessas áreas ociosas, de acordo com os preceitos do lean thinking (pensamento enxuto), pode agregar desperdício dos seguintes elementos:
- Vigilância: em grandes obras, um canteiro de obras muito extenso, cheio de vazios, pode levar a um custo desnecessário de vigilância;
- Supervisão: uma área maior do que a estritamente necessária pode gerar descontrole de materiais, má distribuição do efetivo e da mão de obra;
- Locação: às vezes uma construtora precisa alugar um terreno vizinho para almoxarifado, depósito ou barracões. Será que é realmente necessário manter esse terreno alugado por todo o tempo da obra?
Como podemos ver, um bom estudo de espaços pode proporcionar melhoria contínua no sistema de produção e, assim, ajudar a reduzir gastos inúteis.
5. Transporte
A movimentação excessiva ou desnecessária de estoques intermediários se configura um desperdício evidente.
Mas não é só isso!
Numa obra há muitos meios de transporte erroneamente utilizados, como, por exemplo, um carrinho de mão transportando blocos cerâmicos. Um dia desses vi um carrinho de mão abarrotado de concreto fresco!
Isso sem dúvida acarreta em perdas de materiais e pode estar até mesmo relacionado a danos ao meio ambiente. Assim, adotar o lean construction é considerar todos esses detalhes no planejamento da obra.
Uma análise dos transportes externos e internos da obra pode ajudar a reduzir desperdícios. Alguns exemplos:
- Entrega de materiais no canteiro de obras: você já viu caminhões trazendo mercadoria, mas sem entrar na obra? A construtora precisa alocar vários ajudantes só para fazer o transporte entre o caminhão e o almoxarifado ou o local de estocagem do produto. Será que, se o caminhão de fornecimento fosse menor, a entrega e a descarga não seria mais prática? A produtividade é impactada também por esses processos anteriores à produção.
- Obra linear: imagine uma estrada ou ferrovia. É comum que a construtora receba entregas num ponto central para futura distribuição interna. Um estudo de logística de canteiro pode apontar para a viabilidade de o fornecedor entregar o produto em pontos espalhados ao longo da obra, reduzindo os custos de transporte.
6. Estoque
Muito gestor de construtora sente orgulho de exibir um almoxarifado repleto de mercadoria: sacos, latas, rolos e pilhas de produtos estocados até o teto.
Mas isso é motivo de orgulho?
Depende. Se a aplicação se der nos dias seguintes, sim. Mas se os produtos só forem utilizados meses depois, o estoque representa uma compra feita com muita antecipação. Ou seja, isso representa dinheiro gasto antes da hora.
Alguns pontos de reflexão:
- Excesso de material “parado” significa dinheiro imobilizado, além de gastos desnecessários com estocagem (estoque tem custo);
- Entregas muito antecipadas ou atrasadas são indício de que o cronograma de suprimento da construtora está furado (se é que ele existe…);
- As técnicas de gestão da produção – baseadas inclusive no tempo de ciclo – objetivam minimizar o estoque. O ideal é que o produto seja entregue na obra o mais perto possível da aplicação. Just in time quer dizer exatamente isso: bem na hora!
7. Produção excessiva
A produção excessiva é um tipo de desperdício de constatação fácil ou difícil e que causa inúmeras perdas de materiais. Além disso, consome horas de trabalho que poderiam ser aplicadas em outras demandas dentro do canteiro de obras.
De qualquer maneira, é possível – e fácil – identificar a superprodução quando se nota visualmente que a equipe gerou mais produto ou realizou mais serviço que o necessário. Isso é um caso de desperdício na construção que leva a perdas financeiras por consumo excessivo de matéria prima e mão de obra.
É o mesmo caso, por exemplo, constatado quando se escava mais do que o projeto pede. Além de perdas materiais, este tipo de desperdício na construção leva a impactos ao meio ambiente. E isso ocorre especialmente se o material escavado em excesso tiver um destino inadequado, como uma várzea de rio ou nascente de água.
Outro exemplo típico de desperdício na construção ocorre quando a produção se dá de maneira muito antecipada à utilização. O problema, num caso como esses, é que a produção antecipada acaba por gerar estoque.
E estoque é custo, pois demanda espaço para armazenamento de materiais de construção e leva a movimentações não previstas. Veja os posts anteriores para entender como as movimentações desnecessárias são também importante fonte de desperdício na construção. E, por isso, são também alvo da lean construction.
Entretanto, há também um outro tipo de produção excessiva a ser combatida. E esta nem sempre é detectada à primeira vista:
- Concreto: pedido feito à concreteira de um volume superior ao necessário ou sem ter onde aplicar essa grande quantidade de material adicional
- Escavação: talude de vala mais abatido do que realmente requerido. Numa longa vala isso pode representar um volume considerável e impactar nos índices de produtividade ao longo da execução da obra
8. Defeito
Defeitos são erros que consomem dinheiro, tempo e requerem retrabalho. Ou seja, é preciso urgentemente evitar desperdícios como esse. Somente assim será possível melhorar os níveis de produtividade e evitar o desperdício na construção.
Assim, por mais óbvio que possa parecer, deve-se fazer certo da primeira vez. É necessário salientar que, nas obras muitos defeitos são sistemáticos. No entanto, a equipe de produção nem sempre divulga a solução encontrada e, com isso, impede a adoção generalizada das boas práticas na empresa.
Dessa maneira, os gestores devem estar atentos para promover uma sessão de lições aprendidas. Isso é fundamental para a definitiva incorporação do aprendizado obtido. Caso contrário, as demais equipes vão, inevitavelmente, continuar a causar danos semelhantes.
Ou seja, desperdício em dobro. Podemos notar que os sistemas de controle de qualidade são grandes responsáveis pela diminuição e atenuação dessas perdas
O grupo de defeitos listados a seguir que ocorrem numa obra – e que dizem respeito ao uso de materiais – é também um grave problema a ser combatido pela lean construction.
- Esquadrias: falta de estanqueidade;
- Fachadas: patologias, como fissuras e eflorescências;
- Pavimentação: abaulamentos em geral, trilhas de roda.
9. Atraso
O atraso é um tipo de desperdício na construção que acaba doendo muito no bolso de qualquer construtor. Afinal, é importante notar que, durante um atraso, existe ociosidade de diversas equipes de obra. Além disso, há gasto desnecessário de dinheiro e até mesmo a dilatação desnecessária do prazo total da obra.
Por isso, a grave questão do atraso nas atividades leva a alguns pontos muito importantes de reflexão sobre os impactos do desperdício na construção civil:
- Os atrasos podem ser fruto de falta de análise das restrições de cada serviço: projeto detalhado, equipe mobilizada, área liberada, material comprado e até mesmo questões relacionadas à segurança do trabalho;
- Muitos atrasos ocorrem porque o cronograma da obra não está devidamente atualizado. É importante, portanto, lembrar que contar com um cronograma factível e realista é uma ferramenta relevante de prevenção de atrasos e de desperdícios na construção civil;
- Havendo qualquer tipo de atraso numa atividade crítica do cronograma, a obra invariavelmente sofre impacto em sua duração total. Com isso, um atraso pode desencadear uma série de revisões de cronograma nas atividades subsequentes. Dessa maneira, recuperar o atraso deve ser uma meta a ser perseguida com muito afinco para evitar uma reação em cadeia desagradável.
Conclusões sobre desperdício na visão da lean construction
Como pudemos ver neste e nos demais artigos dessa série sobre lean construction, há 9 grandes causas de desperdício na construção civil. E, em muitos casos, o que entendemos por desperdício pode estar equivocado.
Afinal, a análise de cada um dos pontos levantados pela lean construction como desperdício na construção nos abriu os olhos para outros pontos de vista. Assim, pudemos ver que um atraso aparentemente pontual, por exemplo, pode ter consequências críticas para o restante da obra.
Da mesma maneira, vimos que não se pode negligenciar questões aparentemente secundárias, como a da movimentação em canteiro. Afinal, ao conceber o layout do canteiro de obras de forma equivocada uma série de desperdícios na construção pode ocorrer.
E, mais do que isso, estes não dizem respeito apenas ao tempo adicional gasto para o deslocamento de pessoas e materiais. As movimentações desnecessárias causam desperdício na construção também devido à quebra de materiais e ao incremento no risco de acidentes decorrentes de transportes, por exemplo.
Por isso, é fundamental encarar o desperdício na construção como algo muito impactante na produtividade geral de uma construção.
Somente com olhar atento para os 9 desperdícios na construção considerados pela lean construction poderemos promover uma verdadeira e significativa mudança nos níveis de produtividade da construção.