Mulheres na construção civil: confira dados e estatísticas

Grasiele Hoffmann

Escrito por Grasiele Hoffmann

8 de agosto 2022| 9 min. de leitura

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Mulheres na construção civil: confira dados e estatísticas

Apesar do constante avanço no crescimento do número de mulheres na construção civil nos últimos anos, a desigualdade de gênero no setor ainda é bem considerável.

Segundo relatório para o quadro de profissionais por gênero do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), o número de profissionais ativos cadastrados é de 1.065.143. Desses, apenas 208.148 são mulheres, o que representa 19,54% do total de profissionais.

Entre os estados com maior desigualdade estão: São Paulo, com apenas 15,5% de mulheres de um total de 319.790 profissionais cadastrados no Crea-SP; Alagoas, com 18,05% de mulheres entre os 7.756 profissionais cadastrados no Crea-AL; e Paraná, com 18,73% de mulheres de 64.371 dos profissionais do Crea-PR. 

Por outro lado, entre os estados com menor desigualdades estão: Roraima, com 33,31% de mulheres, dos 1.282 profissionais cadastrados no Crea-RR; Pará, com 28,23% de mulheres, entre os 29.109 profissionais do Crea-PA; e Acre, com 27,44% de mulheres, dos 2.377 profissionais cadastrados no Crea-AC.

Uma curiosidade é que dois dos cinco estados com maior número de profissionais cadastrados (São Paulo e Paraná) estão com as maiores taxas de desigualdade. Enquanto a taxa de menor desigualdade, que fica em Roraima, corresponde ao Crea com menor número de profissionais cadastrados.

Crescimento no número de mulheres na construção nos últimos anos

Embora os números totais de mulheres na construção ainda representem um número abaixo de 20% do total de profissionais do setor, muitos estudos e pesquisas apontam um crescimento significativo nos últimos anos.

Segundo dados recentes do Painel da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e Previdência (MTP), ano base de 2020, houve um aumento de 5,5% de cargos com carteira assinada ocupados por mulheres. Um aumento de 205.033 postos, em 2019, para 216.330 em 2020.

Segundo outra pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), houve aumento de 120% no número de mulheres na construção entre os anos de 2007 e 2018.

Outros dados do MTP revelam também que a participação feminina na construção civil cresceu por volta de 50% nos últimos anos. Os cargos ocupados estão nos mais variados setores, seja nos escritórios de engenharia ou nos canteiros de obras.

Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) ainda mostram que, entre os anos de 2003 e 2015, o número de mulheres matriculadas nos cursos de engenharia por todo o Brasil passou de 24.554 para 57.022 (132,23% de aumento), tendo ocupado 30,3% das vagas no curso de engenharia civil, segundo o Censo da Educação Superior. Porém, apenas 26,9% conseguiram espaço no mercado.

Mercado da construção civil

O crescimento das mulheres na construção civil é acompanhado pelo próprio crescimento do setor no Brasil. Segundo o IBGE, o PIB da construção obteve um crescimento de 9,7%, melhor resultado do setor desde 2010, quando o crescimento foi de 13,1%. Vale ressaltar, porém, que o crescimento de 2021 veio após uma queda de 6,3%, registrada em 2020.

Esse crescimento demandou uma quantidade maior de profissionais no setor e, com isso, as oportunidades para as mulheres também aumentaram e vêm sendo preenchidas por profissionais cada vez mais qualificadas, tanto nos escritórios de engenharia e arquitetura quanto nos canteiros de obras.

Principais desafios para mulheres na construção civil

A desigualdade salarial entre gêneros ainda é um problema estrutural no Brasil. E não só na construção civil. Segundo levantamento da consultoria IDados, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio do IBGE, em 2021, as mulheres ganharam, em média, 20,5% menos que homens no país.

Dados de uma pesquisa realizada pelo Banco Nacional de Empregos (BNE) apontou cargos que apresentam uma diferença salarial entre gêneros ainda maior. O cargo de engenheiro civil, por exemplo, possui uma desigualdade salarial de 38,6%. Outro cargo que aponta uma diferença maior que a média é o de gerente de projetos, com 36%.

E outro desafio está relacionado ao tempo de qualificação profissional entre os gêneros. Segundo dados do IBGE, as mulheres possuem um tempo médio de estudo de 8,1 anos, enquanto os homens possuem o tempo de 7,9 anos, em um âmbito geral. Ou seja, as mulheres precisam estudar mais tempo para obter a mesma colocação que os homens.

Ações para tornar a construção civil mais inclusiva para as mulheres

Para reverter esses dados, a sociedade como um todo precisa rever alguns conceitos. Para exemplificar, listamos apenas alguns a seguir:

Incentivo desde a infância: os interesses de qualquer pessoa por algumas coisas podem vir desde sua formação. Brinquedos de montar ou até acessórios da área podem despertar interesses pela área desde a primeira infância;

Melhorar a mentalidade dos contratantes: embora seja um cenário que vem mudando com o tempo, a mentalidade de muitos contratantes ainda é de que a construção civil é um segmento masculino. É necessário que isso mude, para que as mulheres tenham a oportunidade de mostrar seus conhecimentos e valor;

Ambientes de trabalho mais saudáveis: é necessário criar um ambiente de respeito mútuo, independente de gênero ou cargos. Comentários machistas não devem ser tolerados;

Incentivo ao diálogo entre os times: o diálogo entre os times facilita a inclusão. A troca de ideia e percepção do domínio do assunto, cria uma ligação maior de confiança entre os colaboradores;

Estar qualificada: as mulheres têm conquistado cada vez mais oportunidades dentro da área de construção civil e a qualificação é o maior diferencial para se destacar;

Divulgar mais o trabalho das mulheres: divulgar os trabalhos de mulheres é muito importante para que possa inspirar novas mulheres a trilharem o mesmo caminho no futuro.

Programas de incentivo para mulheres na construção civil

Para continuar mudando esse panorama, diversos programas estão trabalhando no incentivo de mulheres nesse setor ainda tão masculino. Conheça alguns:

Projeto Mão na Massa

O Projeto Mão na Massa foi criado no Rio de Janeiro pela engenheira civil Deise Gravina. Ela enxergou na área da construção um caminho para profissionalizar mulheres de baixa renda que estivessem em condição vulnerável.

Desde o ano de 2007, foram formadas mais de 1.200 mulheres de 18 a 45 anos, com escolaridade igual ou superior ao 5º ano do Ensino Fundamental, para atuarem como como eletricistas, pedreiras, carpinteiras de obra e pintoras. 

Desde 2021, o Projeto Mão na Massa foi expandido para o estado da Bahia. Em parceria com a Petrobras e apoio do Senai Alagoinhas, o projeto vai atuar nas cidades de Alagoinhas e Araçás com o mesmo intuito de levar educação técnica e preparar as mulheres da região para o mercado de trabalho.

ONG Mulher em Construção

A ONG Mulher em Construção foi criada em 2016, na cidade de Canoas, no Rio Grande do Sul, pela gaúcha Bia Kern. O objetivo da ONG é capacitar mulheres no mercado de trabalho da construção civil, visando resgatar seus valores, direitos e independência econômica.

Desde o início do projeto, a ONG já capacitou mais de 5 mil mulheres de forma completamente gratuita, em funções como as de pedreira, azulejista, pintora, eletricista e ceramista.

Instituto Mulheres do Imobiliário

Preocupado com a equidade de gênero em toda a cadeia produtiva da construção civil, o grupo cresceu, virou movimento e hoje está consolidado como Instituto Mulheres do Imobiliário, que é dirigido por Elisa Rosenthal, autora do livro “Proprietárias: A ascensão da liderança feminina no setor imobiliário.”

Entre outras ações, o instituto tem como objetivo a inclusão social e produtiva das pessoas de modo geral e, em especial, da mulher, através do desenvolvimento de atividades de capacitação, apoio e networking.

Conclusão

Existem cada vez mais mulheres dispostas a enfrentar e derrotar todo o preconceito e desigualdade ainda tão presentes na área da construção civil e trazer mais equidade e justiça para o setor. Um exemplo disso é a nossa comunidade dedicada a discutir o avanço das mulheres na construção!

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