O que é Construção Enxuta e Dicas para Aplicar

Tomás Lima

Escrito por Tomás Lima

25 de agosto 2022| 19 min. de leitura

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O que é Construção Enxuta e Dicas para Aplicar

Você já deve conhecer o termo “construção enxuta”, que há muitos anos transita no setor da construção civil. Mais do que ouvir falar, no entanto, é  recomendável que empreendedores gestores, engenheiros, arquitetos, conheçam e adotem seus princípios.

As empresas precisam usar todas as estratégias possíveis para reduzir custos, ganhar eficiência e produtividade, como se propõe a construção enxuta.

Para enfrentar tais situações, os idealizadores da construção enxuta recorreram à metodologia que vinha sendo aplicada, com sucesso, na indústria automotiva japonesa, especificamente na Toyota, que implantou um sistema de produção sem perdas e com a máxima excelência no padrão qualidade.

Lean construction

A construção enxuta, também conhecida como Lean Construction, aplica uma filosofia de produção que ajuda as construtoras a melhorar muito seus processos. Ela traz, quando bem aplicada, uma notável otimização de tempo e economia de materiais.

trabalhador construção enxuta lean construction

Também organiza e estabiliza a produção, previne situações prejudiciais ao andamento das atividades e identifica as principais causas de desperdício.

Neste aspecto, aliás, poucos setores são tão problemáticos quanto a construção civil. Desorganização no canteiro, desperdícios e atrasos são dores-de-cabeça constantes dos gestores.

Para fazer frente a isso os idealizadores da construção enxuta adotaram a metodologia que vinham sendo aplicada com sucesso na indústria automobilística japonesa.

Quais as Práticas de sucesso da Toyota?

Mais precisamente, observaram a filosofia que a Toyota colocou em prática, diante das dificuldades que o país enfrentava, após a Segunda Guerra Mundial. Era preciso aumentar a produção e ganhar lucratividade, com o mínimo de consumo de material e eliminar perdas.

Ao contrário do sistema de produção em massa do Fordismo/Taylorismo, que utiliza grandes estoques, a Toyota adotou técnicas de produção perfeitamente ajustadas à demanda.

Isto se deu mediante duas filosofias: a gestão da qualidade total (TQM, sigla em inglês) e o just in time ou “tempo exato’.

Vamos falar um pouco mais sobre elas, porque são muito importantes.

Gestão da Qualidade Total (TQM)

A qualidade total pressupõe minimizar os erros ao máximo e entregar o melhor  produto possível. Todos os componentes do processo produtivo precisam estar bem alinhados, operando em total sincronia. Devem trabalhar focados na busca permanente do erro mínimo, para a entrega do produto perfeito, com a qualidade que agrade o consumidor/cliente.

É dessa maneira que a TQM aumenta a produtividade, reduz custos e aperfeiçoa a cadeia de produção da empresa.

O Sistema Just in time

Já o just in time é um sistema de administração da produção que determina que nada deve ser produzido, transportado ou comprado antes da hora certaCom esta mentalidade, o produto ou a matéria-prima só chega para ser usado no momento exato em que for necessário. Isto significa que não existe estoque parado.

construção enxuta

Nas fábricas, o conceito está relacionado à produção por demanda. Primeiramente vende-se o produto para depois comprar a matéria-prima e só depois fabricá-lo ou montá-lo.

O volume de matéria-prima disponível no local é mínimo, para poucas horas de produção. Isso requer fornecedores aptos a realizar entregas de pequenos lotes com a frequência necessária: a quantidade certa, na hora certa.

Com menos estoques diminuem os custos com armazenamento, perdas por ociosidade, desperdício, deterioração, roubo, etc.

Não tenha dúvida, é um sistema que pode ser aplicado em qualquer organização. Acredito que você já esteja imaginando como seria implantar na sua construtora ou incorporadora, não é mesmo?

Vou lhe ajudar com mais informações importantes. Mas antes de prosseguirmos, tenho uma dica muito útil para você, que é o nosso ebook sobre controle de estoque.

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Objetivos e Princípios

É preciso deixar claro que a produção enxuta representa muito mais do que a simples soma da qualidade total e just in time. Ela expandiu e aperfeiçoou ao máximos estes conceitos, com princípios e ferramentas próprias, sendo  recomendável que empreendedores, gestores, engenheiros, arquitetos, conheçam e adotem seus princípios.

A sua transposição para a construção civil, logicamente, precisa de adaptações, pois o local de trabalho, por exemplo, muda a cada obra. Ainda assim, a construção enxuta é extremamente vantajosa.

Aliás, o Sebrae ressalta numa publicação sobre o tema que:

“Com base nos conceitos apresentados, a construção enxuta foi criada com o intuito de promover na construção civil a  produção com qualidade, reduzindo ao mínimo possível os custos e desperdícios no processo, aumentando a satisfação dos clientes, a melhoria da entrega da obra e, finalmente, aumenta as margens de lucro e melhora o posicionamento de mercado da empresa.”

Agregação de valor

Uma diferença fundamental entre a construção tradicional e a construção enxuta está no conceito de agregação de valor.

A construção enxuta considera que só agrega valor ao produto aquilo que o cliente está disposto a pagar. Além disso, para agregar valor a atividade precisa transformar de alguma maneira produto e deve deve ser feita corretamente desde a primeira vez.

Portanto, deslocamentos inúteis, fluxos de materiais, tempos de espera, retrabalho, excessos, defeitos, atrasos, são itens que, nessa visão, não agregam valor algum.

Significam, isto sim, perdas para a rentabilidade das empresas. Desse raciocínio resulta o primeiro dos princípios da construção enxuta, que você vai ver a seguir.

Princípios fundamentais da construção enxuta

Estes são os princípios fundamentais que devem ser observados na implementação da construção enxuta, para você já pensar na aplicação na sua empresa.

  1. Reduzir as atividades que não agregam valor: como acabamos de ver, são todas aquelas que os clientes não estariam dispostos a pagar e que representam apenas custos extras, perdas, para as empresas.
  2. Considerar as necessidades dos clientes para agregar valor ao produto: devem ser identificadas claramente as necessidades dos clientes e estas informações deve ser contempladas na elaboração do projeto e gestão da obra.
  3. Reduzir a variabilidade: estamos falando de itens como equipes de trabalho, fornecedores e processos de execução, como a duração de certas tarefas, que devem se manter estáveis o máximo possível.
  4. Reduzir o tempo de ciclo: está relacionado ao just in time e significa a diminuição do tempo de ciclo, ou seja, redução da soma de todos os tempos das atividades que envolvem a produção. Reduzindo o tempo gasto por ciclo, é possível entregar antes do prazo, o que vem a ser fator competitivo bastante relevante.
  5. Simplificar e diminuir o  número de passos e de etapas: reduzindo-se o número de passos ou etapas de um processo, a tendência é que diminuam também as atividades que não agregam valor. Isso pode ser obtido, por exemplo, com a utilização de elementos pré-fabricados, planejamento eficaz e disposição dos materiais e ferramentas nos locais mais adequados para sua utilização.
  6. Aumentar a flexibilidade de saída: é a possibilidade de se alterar as características do produto entregue ao cliente sem alteração significativa de preço. A experiência mostra que é possível manter os mesmos níveis de eficiência com flexibilidade de saída.
  7. Aumentar a transparência do processo: faz com que os erros sejam percebidos com antecedência. Essa transparência pode ser com informações ou materiais. Por exemplo, sinalização adequada, indicadores de desempenho e programas de melhoria de organização e limpeza.

Planejamento em três níveis

Para minimizar os desperdícios e aumentar a eficiência, a filosofia lean, que está por trás da construção enxuta, trabalha em três níveis de planejamento da obra:

1- Longo Prazo – Parte do planejamento que aborda principalmente o aspecto financeiro, a partir do detalhamento da execução das atividades.

2- Médio Prazo – Oferece consistência ao planejamento. Costuma ser bastante mutável, adequando-as ao plano mestre, e guiando o curto prazo.

3- Curto Prazo – Geralmente contempla o período de uma semana, com o detalhamento das atividades do período, com informações relativas à data, hora, número de pessoas envolvidas, quantidade de materiais, etc.

Os 5 passos para uma construção enxuta

Agora que você já sabe o que é construção enxuta, é hora de entender como colocá-la em prática. Por isso, listei 5 passos importantes. Confira a seguir!

1. Entender os princípios e conceitos do Lean Construction

Nesta etapa, a ideia é um nivelamento de toda a equipe no que tange a teoria da construção enxuta, engajando colaboradores dentro da mentalidade de enxergar os fluxos de produção, combater desperdício e gerar máximo valor agregado ao cliente final.

Isso porque é o lean que a ajuda a “enxugar” processos desnecessários que atrapalham uma obra, muitas vezes sem ninguém perceber nem considerar em suas ferramentas de gestão de custo e prazo.

Por exemplo: quando você vai elaborar o orçamento da sua obra, como você considera as atividades que representam o fluxo de materiais e pessoas em seu canteiro? Você sabia que esses fluxos chegam a representar mais de 50% do tempo em sua obra?

Portanto, a construção enxuta nada mais é do que uma forma de construir em menos tempo, gastando menos e de maneira mais simples e com mais qualidade. Tudo isso graças a uma visualização diferente da sua produção, desde o planejamento, execução das atividades até a entrega dos serviços. 

E isso tudo precisa estar claro para todos os envolvidos desde a concepção dos projetos até a entrega da obra.  

2. Conhecer seu estado atual

Neste passo é feito o mapeamento do estágio atual dos processos produtivos, ou seja, define-se a sequência e tempos atuais de produção. Assim, para facilitar a visualização dos desperdícios e fluxos, é recomendável a aplicação dos 5s no canteiro de obras.

Vale lembrar que o conceito de 5s é formado por cinco palavras japonesas: seiri (utilização), seiton (organização), seiso (limpeza), seiketsu (padronização e saúde) e shitsuke (disciplina). 

Nesta fase, é fundamental aplicar o princípio do lean denominado gemba – que no glossário do Lean significa “ir ver”. O termo faz alusão ao lugar onde as coisas realmente acontecem que, na construção civil, é o canteiro de obra, para identificar melhorias de processos.

Dica importante: na fase de visita ao canteiro, uma forma de buscar desperdícios, ou seja, identificar tudo que consome recursos, mas não agrega valor ao cliente, é checar as 7 etapas nas quais costumam ocorrer desperdícios. São eles: 

  • Transporte
  • Estoques
  • Movimento
  • Esperas
  • Superprocessamento
  • Superprodução
  • Defeitos

3. Projetar o estágio futuro da obra com aplicação do Lean Construction

Baseado no mapeamento do estágio atual, projete como os princípios e ferramentas do lean podem ser aplicados nas principais atividades de produção de sua obra. 

É indicado iniciar pelas atividades críticas e ir estendendo seu campo de ação para a todo o fluxo produtivo de sua obra, desde o recebimento dos insumos até a conclusão de partes do produto. 

Nos casos em que a obra ainda não foi iniciada, o ideal é já neste momento planejá-la dentro dos conceitos de fluxo de produção, ritmo constante e estoques mínimos, pensando integralmente nas ferramentas de orçamento, planejamento e logística de canteiro. 

O importante nesse momento é garantir que as ferramentas corretas serão implementadas nos pontos estratégicos de sua operação, como os kanbans que irão garantir a conexão entre diferentes etapas, que são interdependentes, do seu processo, possibilitando a implantação de processos puxados e uma produção just-in-time. 

Construção enxuta

A principal entrega dessa fase é o mapeamento do fluxo de valor futuro, indicando para cada atividade de obra quais os fluxos de materiais, atividades e informações são necessários e como os princípios, conceitos e ferramentas Lean serão utilizadas. 

4. Iniciar a implantação

Após definidos os conceitos, ferramentas e atividades foco, é dado início à aplicação do lean em seu canteiro. 

Aqui, é preciso muita atenção para o envolvimento de toda a equipe no projeto, pois um erro comum é focar nas ferramentas e esquecer das pessoas, inclusive membros do time de produção, que são os maiores responsáveis por detectar e corrigir perdas nos processos de produção.

Uma forma rápida e gratuita de começar a implantar o Lean no planejamento de sua obra é utilizar a versão gratuita do Agilean. Com ela, você pode diminuir em 60% o tempo de planejamento da sua obra. 

5. Melhorar constantemente

Não se esqueça que a jornada com foco na perfeição, objetivando ganhos de qualidade, redução de prazos e de custos de produção e a possibilidade de sempre evoluir devem ser os principais fatores de motivação dos responsáveis pela implementação da construção enxuta.

Os resultados serão positivos?

Para que exista sucesso, é preciso investir na mudança cultural da empresa. Assim, todos agentes da cadeia produtiva devem estar comprometidos com a melhoria contínua, desde os construtores, gestores, arquitetos, até os fornecedores.

Diferentemente do que se costuma fazer, o empreendimento deve ser gerenciado através de seus fluxos de valor e não por meio de partes isoladas ou departamentos. Dessa forma, a integração de todos os agentes empenhados em fornecer o melhor produto possível para o cliente é um caminho seguro para a excelência operacional.

Falando em minimizar desperdícios, veja aí outra sugestão que você vai gostar mais bastante, o nosso ebook sobre o tema para ser baixado gratuitamente.

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Ferramentas de apoio

Também existem ferramentas de apoio que facilitam em muito a implementação dessa metodologia.

Você não imagina os avanços que elas trazem quando empregadas corretamente.

 

  • Kaizen – Essa palavra é utilizada para designar o conceito de melhoria contínua. Muito mais que uma ferramenta, é uma mudança de atitude em relação ao trabalho e os processos envolvidos, buscando sempre a perfeição no que se faz. Para o kaizen, é sempre possível fazer melhor. Nenhum dia deve passar sem que alguma melhoria tenha sido implantada, na estrutura da empresa ou no indivíduo. ‘Hoje melhor do que ontem, amanhã melhor do que hoje!’, é o seu lema.
  • Kanban – É uma ferramenta, na qual são utilizados painéis e cartões normalmente nas cores vermelho, verde e amarelo. Esses cartões são movimentados entre as colunas de painéis e  indicam atividades que estão por fazer, em andamento e concluídas. Pode ser adaptada às operações de um canteiro de obras, como indicar a falta de um material, por exemplo.
  • Andon (lâmpada, em japonês) – É um equipamento que se utiliza de sinais luminosos e sonoros para avisar quando há algum problema na cadeia de produção. Distribuídos pelos pavimentos ou setores da obra, estão conectados diretamente à sala de controle do canteiro. Quando algo vai mal, acende-se a luz amarela ou vermelha, pedindo a intervenção imediata dos responsáveis pela solução do problema.
  • Metodologia 5 S – A metodologia 5S é assim chamada devido à primeira letra de 5 palavras japonesas: Seiri (Classificação), Seiton (Ordem), Seiso (limpeza), Seiketsu (padronização), Shitsuke (Disciplina). Seus objetivos são melhorar a eficiência com a destinação adequada de materiais (separar o que é necessário do desnecessário), organização, limpeza e identificação de materiais e espaços e a manutenção e melhoria do próprio 5S. Possibilita desenvolver um planejamento sistemático e melhora o ambiente de trabalho. Permite maior produtividade, segurança e motivação das equipes.

Resultados expressivos

Como afirma o Lean Institute Brasil, “a construção enxuta ou lean construction, se destaca por possibilitar resultados expressivos na diminuição de desperdícios, prazos e custos e no aumento da produtividade e da qualidade”.

No entanto, é preciso considerar que ela exige uma mudança de cultura na empresa. Todos os seus agentes devem estar comprometidos com a melhoria contínua, desde os construtores, gestores, arquitetos, até os fornecedores.

Diferentemente do que se costuma fazer, o empreendimento deve ser gerenciado através de seus fluxos de valor, não através de partes isoladas ou departamentos.

A integração de todos os agentes envolvidos no objetivo de alcançar o melhor produto possível para o cliente é um caminho seguro para a excelência operacional.

Então, espero que você tenha gostado desse conteúdo, preparado especialmente para quem quer aprimorar e evoluir neste setor. Qualquer dúvida nos procure, o seu sucesso é o nosso maior objetivo.