No artigo anterior você pôde acompanhar as iniciativas do BIM no mundo, incluindo os mais variados contextos de adoção pelos países. Além disso, apresentamos um panorama dessa tecnologia que promete revolucionar o setor da construção e como está o cenário do BIM nas obras públicas e na iniciativa privada em diversos países.
Sabemos que diversos países já possuem suas diretrizes e exigências para adoção da metodologia. Logicamente, nessa corrida global o Brasil, claro, não pode ficar de fora!
Agora, neste artigo, vamos nos debruçar sobre a maior política do governo brasileiro para estimular e promover a adoção do BIM.
Você já ouviu falar da Estratégia Nacional de Disseminação do BIM, popularmente conhecida como Estratégia BIM BR? Então, venha com a gente e fique por dentro das políticas para estimular a transformação digital da construção.
BIM: menos perdas, mais produtividade
O BIM é o conjunto de processos e tecnologias integradas que permite o desenvolvimento digital de uma construção ou ativo. Visto que é colaborativa, a metodologia atua na integração de todos os profissionais envolvidos no ciclo de vida de um empreendimento.
Sabemos que, no projeto tradicional, os elementos são representados de maneira gráfica dentro da interface de trabalho.
Já no BIM, um dos diferenciais é o seu alinhamento com a transformação digital. Como assim? Nessa metodologia, os elementos do projeto são aptos a carregar e transmitir informações, atendendo a atributos e relações do contexto inserido.
A Modelagem da Informação na Construção representa um grande banco de dados do empreendimento. Com ela podemos rastrear informações desde a fase de projeto, como também na etapa de construção e operação do ativo.
Então, a partir de análises das informações contidas, temos construções mais eficientes, preventivas e sustentáveis. Isso representa menos desperdícios, menos perdas e mais produtividade. Quem não quer?
Uma construção mais produtiva e sustentável
Como sabemos, a construção civil brasileira tem enfrentado grandes desafios nas últimas décadas. Infelizmente, o setor não obteve grandes avanços tecnológicos, se comparado aos demais setores da economia.
Além disso, é uma atividade responsável por grande parte da produção de resíduos sólidos do Brasil. E de que forma o governo brasileiro trabalha para melhorar esse cenário? Como estimular uma construção mais rentável, mais produtiva e mais sustentável?
De olho nesses desafios, o governo passou a incentivar políticas que reduzam desperdícios na construção civil. E a boa notícia é que o tema subiu para a pauta de prioridades e virou política nacional.
O que é a estratégia BIM BR?
Lançada em maio de 2018 (Decretos 9.377 e 9.9983/2019), a estratégia BIM BR visa promover, em um período de dez anos, um ambiente adequado ao investimento em BIM e sua difusão no país.
Mas, para o Brasil chegar lá há um grande caminho a percorrer. Por isso, foram estabelecidos objetivos, ações, indicadores e metas.
Conheça os nove objetivos específicos da estratégia:
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Difundir o BIM e seus benefícios.
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Coordenar a estruturação do setor público para a adoção do BIM.
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Criar condições favoráveis para o investimento, público e privado, em BIM.
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Estimular capacitação em BIM.
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Propor atos normativos que estabeleçam parâmetros para as compras e contratações públicas com uso do BIM.
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Desenvolver normas técnicas, guias e protocolos específicos para a adoção do BIM.
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Desenvolver a Plataforma e a Biblioteca Nacional BIM.
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Estimular o desenvolvimento e a aplicação de novas tecnologias relacionadas ao BIM.
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Incentivar a concorrência no mercado por meio de padrões neutros de interoperabilidade BIM.
Para o gerenciamento da política foi criado um Comitê Gestor, composto por sete órgãos:
- Ministério da Economia;
- Ministério da Defesa;
- Casa Civil da Presidência da República;
- Ministério da Infraestrutura;
- Ministério da Saúde;
- Tecnologia e Inovações;
- Ministério da Ciência;
- Ministério do Desenvolvimento Regional.
Para uma indústria forte, metas arrojadas
O Comitê Gestor é o responsável por gerenciar ações, acompanhar desempenho, monitorar progresso e verificar o cumprimento das metas.
E por falar em metas, são bem arrojadas, como podemos observar abaixo:
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Aumentar a produtividade das empresas em 10%;
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Reduzir custos de produção das empresas em 9,7%;
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Aumentar em 10 vezes a adoção do BIM – considerando que, em 2018, 5% das empresas do setor da construção adotavam o BIM;
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Elevar em 28,9% o PIB da Construção Civil.
Além das metas, a estratégia BIM BR conta com um roadmap. É uma espécie de mapa descritivo que inclui ações graduais envolvendo esferas de:
- governança;
- infraestrutura tecnológica;
- arcabouço legal;
- regulamentação técnica;
- investimentos;
- capacitação;
- indução governamental;
- e comunicação.
Tudo isso para ampliar a utilização do BIM e promover o aumento da produtividade do setor da construção.
Apesar de não compor formalmente o Comitê, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) tem atuado ativamente em três dos objetivos. A Agência é responsável pelo desenvolvimento da Plataforma BIM BR e da Biblioteca Nacional BIM, atuando na difusão do BIM junto ao ecossistema da construção e no estímulo à capacitação em BIM.
Como surgiu a Estratégia BIM BR?
A elaboração da Estratégia se deu pela combinação de várias ações coordenadas. E podemos destacar iniciativas de 2015 e 2016 voltadas a boas práticas internacionais, em especial com o Reino Unido. A colaboração com o Brasil, à época, foi liderada pelo então Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Depois, em 2017, houve a criação de um Comitê Estratégico para Implementação do BIM (CE-BIM), assessorado por um Grupo de Apoio Técnico (GAT) e grupos Ad Hoc. Todos os temas contaram com a participação de especialistas BIM. Para oficializar seus trabalhos, o GAT publicava Resoluções.
Mas a grande guinada se deu em 2018.
O governo publicou o Decreto 9.377, que lançou a Estratégia BIM BR e oficializou o Comitê Gestor (CG). Ainda neste ano foi ativada a Plataforma BIMBR e a Biblioteca Nacional BIM.
Em 2019, com a reforma ministerial, foi revogado o referido Decreto e instituído um novo CG por meio do Decreto 9.983.
Como se sabe, a adoção do BIM não é algo trivial. É um trabalho contínuo que envolve sensibilizar, aderir, capacitar, difundir e maturar o mercado, com o objetivo de viabilizar sua efetiva implementação.
Outro fator importante a destacar é que o setor público é um grande demandante de obras e se torna um player fundamental no estímulo ao uso do BIM. A exigência do BIM, entretanto, será gradual, tendo início a partir de janeiro de 2021.
O BIM BR e suas três fases
Ainda dá tempo de se preparar para o BIM!
A fim de alertar e estimular o setor da construção para esta (nem tão) nova realidade, o governo estabeleceu que a exigência do uso do BIM em obras públicas se dê em três fases.
Assim, o Decreto 10.306, de abril 2020, definiu que a exigência do uso do BIM vai passar a valer a partir de 2021 para alguns órgãos da administração pública federal. Veja aqui um resumo do Decreto.
Desse modo, a primeira fase inicia-se em 1º de janeiro para o uso do BIM em projetos de grande relevância. A segunda será em 2024, exigindo o BIM em projetos e na execução das obras de grande relevância.
Por sua vez, a última etapa entrará em vigor em 1º de janeiro de 2028, quando o uso da metodologia será exigido em projetos, na execução das obras e no pós-obras consideradas de média ou grande relevância.
As três etapas da estratégia brasileira estabelecem ações encadeadas por Programas Pilotos, estimulando as demais instâncias do governo a adotarem a metodologia.
Conheça os Programas Piloto
Se você pretende atender o governo, fique de olho!
O Decreto estabelece como Programas Piloto obras do Ministério da Defesa e do Ministério da Infraestrutura.
Assim, as Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica), a Secretaria Nacional de Aviação Civil (SAC) e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) já começarão a exigir o BIM em janeiro de 2021.
Mas fique atento! O Decreto não impede outros órgãos de exigirem o uso de BIM nas suas obras. Os Programas Pilotos – como o próprio nome sugere – são definidos como exemplos de adoção do BIM nas instâncias do governo.
Aliás, a ideia é que esses órgãos compartilhem as lições aprendidas dos pilotos para os demais órgãos que desejarem implementar a tecnologia.
Os exemplos que vêm de fora
No Brasil, a Estratégia BIM BR utiliza referências como as do Reino Unido e de demais países que traçaram seus roadmaps baseados em iniciativas graduais e faseadas de amadurecimento tecnológico.
No contexto sul-americano, destacamos o Chile, que vem avançando na implementação da metodologia em seu território nacional. E apesar de já exigir o uso do BIM em algumas licitações públicas há alguns anos, o país lançou em 2016 o Plan BIM.
É uma estratégia nacional de implementação do BIM que estabelece exigências de seu uso em projetos públicos a partir de 2020, e em privados a partir de 2025.
Frente Parlamentar
No Congresso Nacional, vale destacar a participação da Frente Parlamentar em Defesa do Sistema de Modelagem da Informação da Construção (BIM), somando esforços em prol da adoção BIM no Brasil.
A Frente Parlamentar visa regulamentar o uso da metodologia na nova Lei de Licitações. Além disso, propõe o BIM no portal digital de cadastro de obras públicas para janeiro de 2021.
Um importante papel da Frente será a articulação para ampliar o escopo da Estratégia BIM BR. Assim, caso o escopo de ações da Frente BIM seja atendido, observaremos uma aceleração da obrigatoriedade do uso do BIM no país, tanto para a esfera pública como para a privada.
Governo, o maior cliente do setor da construção
Como destacamos anteriormente, o governo continua sendo o maior contratante para a cadeia da construção civil brasileira. Ou seja, a Estratégia BIM BR traz notícias promissoras para o setor e garante, sem dúvida alguma, um forte impacto em todo o ecossistema da construção.
Acompanhe essa revolução e prepare-se. Afinal, a estratégia BIM BR acena para o mercado de Arquitetura, Engenharia e Construção (AEC) sobre a importância do BIM na esfera pública e, ao mesmo tempo, promove um transbordamento natural da metodologia também para o setor privado. As empresas, construtoras, escritórios e profissionais do setor só têm a ganhar.
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