Neste episódio do Sienge Podcast da Construção, com o tema “Crédito Imobiliário sob Pressão: até onde o cenário econômico permite que o setor vá”, nós conversamos com Sandro Gamba, presidente da ABECIP (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança).
Com mais de 25 anos de experiência no setor imobiliário, Sandro já atuou tanto do lado da incorporação quanto na área de suporte financeiro e concessão de crédito, tendo uma visão ampla e estratégica sobre o funcionamento do mercado.
Além disso, ele é um dos palestrantes confirmados no Construsummit 2025, que acontece nos dias 4 e 5 de junho, em Florianópolis, Santa Catarina.
Acompanhe os principais momentos do conteúdo neste artigo ou, se preferir, assista ao episódio completo no vídeo abaixo.
Principais insights
Separamos abaixo os principais insights deste episódio para você acessar com mais facilidade. Se quiser saber mais sobre eles, não deixe de ler ou assistir o conteúdo completo.
- O volume de crédito imobiliário bateu recordes em 2024, com R$ 312 bilhões concedidos, resultado da combinação de demanda aquecida e da pujança do setor.
- A representatividade do crédito imobiliário no PIB brasileiro ainda é baixa, em torno de 10%, enquanto países desenvolvidos como EUA e Canadá operam com índices de 50% a 60%.
- A taxa Selic e a renda média da população são os principais limitadores da expansão do crédito, já que cada 1% de aumento nos juros exige cerca de 10% a mais de comprovação de renda por parte dos tomadores.
- A poupança vem perdendo espaço como principal fonte de funding do setor, e o mercado de capitais já representa cerca de 40% do funding imobiliário, com destaque para CRIs, fundos imobiliários e outras estruturas financeiras.
- O FGTS segue como pilar fundamental para habitação popular, especialmente no programa Minha Casa Minha Vida, cujo orçamento para 2025 se mantém elevado.
- Incorporadoras precisam se preparar para acessar o mercado de capitais, com mais governança, transparência e estruturação técnica para atender às exigências de novos produtos financeiros.
- O segmento de média renda é o mais pressionado pela alta dos juros, já que depende fortemente do crédito para viabilizar as aquisições.
Esses pontos deixam claro que o crédito imobiliário brasileiro está passando por uma transformação estrutural. O cenário impõe desafios, mas também abre oportunidades para as empresas que souberem se adaptar. A seguir, confira os principais trechos da conversa entre Cristiano Gregorius e Sandro Gamba.
Perguntas e respostas
Nesta seção de Perguntas e Respostas, destacamos os principais insights da conversa entre Cristiano e Sandro Gamba, abordando temas como o cenário macroeconômico do crédito imobiliário hoje, capacidade de expansão do mercado e alternativas de funding para os dias atuais.
Acompanhe os melhores momentos do bate-papo.
1) Como o cenário macroeconômico atual está afetando o crédito imobiliário?
Cristiano Gregorius: A gente vive um momento de juros altos, instabilidade econômica e renda pressionada. Como essas variáveis impactam o crédito imobiliário hoje, tanto do lado da oferta quanto da demanda?
Sandro Gamba: O setor imobiliário é, por natureza, de capital intensivo — comprar um imóvel, que geralmente é o maior bem da vida de um brasileiro, exige financiamento. E o crédito imobiliário é, por definição, de longo prazo. Por isso, precisa de pilares sólidos: custo viável e segurança jurídica. Mesmo com os juros altos, tivemos recordes de concessão. Em 2024, o volume de crédito imobiliário ultrapassou os R$ 300 bilhões.
Mas essa pujança só foi possível porque houve crescimento da renda bruta nos últimos anos. A Selic mais alta pressiona, sim, a capacidade de financiamento, porque aumenta o valor das prestações e, consequentemente, exige maior comprovação de renda. Ainda assim, estamos em um momento muito forte para o setor.
2) Capacidade de expansão do mercado
Cristiano Gregorius: Até que ponto o setor de crédito imobiliário consegue crescer nesse ambiente desafiador? Há sinais de limite já sendo atingidos, ou ainda há espaço para avançar?
Sandro Gamba: Como mencionei, nós estamos em um cenário de marcas históricas na distribuição de crédito imobiliário, alcançando patamares nunca antes alcançados. Mas é importante entender que, mesmo com essa pujança, dois fatores limitam o crescimento: a renda bruta da população e a taxa média de juros.
Fizemos pesquisas em mais de 20 países e identificamos que esses dois indicadores são os que mais impactam a relação entre crédito imobiliário e o PIB. Hoje, essa representatividade no Brasil é de cerca de 10%, enquanto em países como Estados Unidos e Canadá chega a 50% e 60%, respectivamente. Isso mostra que há espaço para crescer, mas as variáveis macroeconômicas são determinantes.
3) Alternativas para destravar o crédito
Cristiano Gregorius: Que alternativas você enxerga, em termos de novos produtos financeiros, garantias ou políticas públicas, para destravar o acesso ao crédito? Onde devo buscar informações sobre isso?
Sandro Gamba: Com a queda da representatividade da poupança como fonte de funding, o mercado de capitais está ganhando um papel cada vez mais relevante. Hoje, ele já representa cerca de 40% do funding do mercado imobiliário, contra 30% da poupança e 30% do FGTS.
Produtos como CRIs, fundos imobiliários e outras operações estão se tornando mais comuns, especialmente no financiamento à produção. A diferença é que o mercado de capitais exige mais: governança, contabilidade organizada, indicadores confiáveis. Para quem está preparado, é uma grande oportunidade, já que amplia o acesso ao crédito além das limitações do plano empresário tradicional.
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4) Segmentos mais impactados
Cristiano Gregorius: Quais segmentos do mercado imobiliário tendem a sentir mais essa pressão: baixa renda, médio padrão ou alto padrão?
Sandro Gamba: O segmento mais impactado, sem dúvida, é o de média renda. A alta renda tem menos dependência do financiamento — muitas vezes o comprador tem capital próprio e toma decisões com base em oportunidade e retorno. A baixa renda está bem atendida pelo FGTS e pelo programa Minha Casa, Minha Vida.
Já a média renda sente diretamente o efeito dos juros altos, pois depende do crédito bancário. Qualquer variação na taxa impacta a capacidade de financiamento. Foi por isso, inclusive, que surgiu o Faixa 4, para atender justamente esse público intermediário.
5) Reflexões estratégicas para o futuro
Cristiano Gregorius: Para empresas e profissionais do setor, que movimentos estratégicos são essenciais para atravessar esse momento de pressão e se preparar para o futuro do crédito imobiliário no Brasil?
Sandro Gamba: O setor está passando por uma transição. A poupança já não será mais suficiente como fonte principal de funding, e isso exige adaptação. O mercado de capitais traz exigências maiores, mas também mais possibilidades e oportunidades. Incorporadoras que se estruturarem para acessar essas fontes certamente terão vantagem.
Hoje, por exemplo, há estruturas que permitem financiar não só a obra, mas também o terreno e outras etapas do ciclo. Para isso, é preciso adequar governança, transparência e gestão. Quem fizer isso primeiro terá acesso a funding mais amplo e estará mais preparado para crescer num ambiente competitivo e em constante transformação.
Essas cinco perguntas são apenas alguns dos temas abordados no episódio “Crédito imobiliário sob pressão: até onde o cenário econômico permite que o setor vá”. Não deixe de ver o conteúdo completo do Sienge Podcast da Construção para entender melhor cada uma das nuances dessa nova era de fundings na Construção Civil.
Sandro Gamba é presença confirmada no Construsummit 2025
Este e outros temas relevantes também serão abordados e aprofundados no Construsummit 2025, que acontecerá nos dias 4 e 5 de junho em Florianópolis, Santa Catarina.
Além de Sandro Gamba, que falará um pouco mais sobre crédito imobiliário, outros palestrantes trarão assuntos indispensáveis para os dias atuais, como por exemplo, Felipe Cassol, Diretor Superintendente CEO da Cassol Pré-fabricados, que falará sobre as tendências de industrialização.
O Construsummit deste ano terá como tema “Inovação e Tecnologia: as chaves para decifrar cenários econômicos, otimizar a gestão da Construção Civil e construir o futuro do setor”.
Adquira seu ingresso e aproveite as apresentações com especialistas de Gestão Financeira, Lean Construction, Planejamento, Dados e Tendências, Marketing Imobiliário e muito mais. Serão mais de 60 palestrantes esperando por você, que está junto conosco construindo o futuro.
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