6 fatores externos que mais prejudicam a produtividade na construção civil

Giseli Barbosa Anversa

Escrito por Giseli Barbosa Anversa

10 de outubro 2022| 15 min. de leitura

Compartilhe
6 fatores externos que mais prejudicam a produtividade na construção civil

A produtividade na construção civil é um dos temas que mais ocupam espaço nas discussões e publicações do setor, como você já deve ter percebido. Mas vamos convir que não é para menos, pois trata-se de um elemento determinante para o sucesso ou insucesso de qualquer negócio.

Muito mais ainda na construção civil, que lida com uma quantidade tão grande de variáveis na gestão das empresas, da mão de obra à tecnologia, passando por uma legislação ampla e complexa. São todos fatores que impactam na produção e rentabilidade dos negócios.

O grande desafio para a produtividade é conseguir extrair mais produção com os recursos disponíveis, mantendo a mesma qualidade dos produtos, num determinado período de tempo ou por obra. Não é fácil, você sabe muito bem, tanto para quem administra uma grande construtora ou incorporadora como para as companhias menores.

Mas é imprescindível voltar a atenção para esse aspecto, ver onde estão os problemas e organizar a empresa para a otimização dos seus recursos: o capital, a mão de obra, os materiais e a tecnologia disponível na sua organização.

Neste sentido, você vai encontrar aqui no artigo o que compromete o desempenho produtivo das construtoras. Porém, vou mostrar para você não apenas os fatores relacionados ao canteiro de obras, mas também os fatores externos que mais prejudicam a produtividade.

Para melhor resolver um problema, é preciso conhecê-lo bem. Seguindo a leitura você vai encontrar muita informação importante e vai saber muito mais a respeito desse tema.

A produtividade no País

Você deve concordar que a produtividade na construção civil precisa evoluir muito no País. Isso é visível no desempenho das obras em geral, que poderiam ser mais ágeis, com menos desperdício de recursos e maior rentabilidade.

Isso é mais gritante ainda na comparação com outros países.  Sobre isso, um estudo da Fundação Getúlio Vargas para o Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo (Sinduscon-SP) mostrou que a mão de obra do setor no Brasil é, em média, 30% menos produtiva do que nas outras nações pesquisadas.

Ao comparar com os Estados Unidos, por exemplo, a pesquisa concluiu que a mão de obra brasileira alcança apenas 20% da produtividade dos trabalhadores norte-americanos. Outra comparação: no período estudado, de 2003 a 2013, enquanto a produtividade na construção civil daqui cresceu 20,6%, na China ela cresceu 108,4%.

Mas mesmo nos países desenvolvidos, a produtividade da construção civil fica abaixo da produtividade média da economia, que é a base (100) do comparativo do gráfico abaixo. Ele mostra o duplo gap do índice de produtividade do setor em relação à média da economia brasileira, bem como a grande diferença em relação aos países desenvolvidos.

Não é chocante a diferença? Pois é. Eu poderia despejar mais um monte de números aqui para demonstrar a gravidade do problema, mas o mais importante é vermos as causas disso.

Mão de obra não é a única responsável

É bastante comum relacionarem a questão da baixa produtividade na construção civil à qualificação deficiente da mão-de-obra. Sim, esse é um elemento do problema, porém não é o único. Às vezes, na verdade, ele serve para ocultar ou dificultar a  identificação de outras causas.

Em qualquer país, contudo, os trabalhadores da construção civil tem mais baixa escolaridade que na maioria das demais áreas. Isso não impede que alcancem altos índices de produtividade, especialmente nos mais desenvolvidos.

Resta, então, considerar essa questão juntamente com outras causas que já foram diagnosticadas como os grandes entraves da produtividade na construção civil.

Principais fatores que impactam a produtividade na construção civil

O Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae) aponta os principais fatores que  impactam a produtividade nas obras, veja quais são eles:

  • Capacitação e treinamento da mão de obra: o aumento na produtividade se dá principalmente por meio de funcionários bem capacitados, que criem vínculo com a empresa.
  • Retrabalho: mão de obra de qualidade significa um trabalho bem-feito, que não precisará ser alterado, reduzindo desperdícios e adequando-se aos prazos de conclusão dos serviços.
  • Matéria-prima: o controle sobre o uso de material padronizado evita a perda de tempo com produtos de qualidade inferior ou com a espera para que refaçam o estoque do que foi utilizado inicialmente.
  • Layout do canteiro de obras: o espaço de trabalho deve ser muito bem planejado, facilitando e agilizando a circulação de trabalhadores e máquinas, além de oferecer local adequado para o armazenamento dos materiais a serem utilizados.
  • Segurança do trabalho: uma empresa que oferece todas as garantias para um trabalho seguro terá menos prejuízos com funcionários que se machuquem e precisam ser afastados do trabalho, situação que poderia gerar atrasos nas obras.
  • Planejamento e controle de obras: obras bem planejadas não passam por problemas como falta ou desperdício de materiais, atrasos ou erros que comprometam os trabalhos.

Investimento em tecnologia

Lidar com essas questões tem sido um desafio para empreendedores e gestores, mas não há como fugir disso. É necessário arregaçar as mangas, ver cada item e o que é possível melhorar em cada um deles. 

Além disso, o Sebrae recomenda que as empresas, mesmo as menores, invistam mais na tecnologia para produzir mais e melhor. Isso inclui materiais modernos e econômicos, que oferecem mais qualidade e praticidade para o trabalho.

Também aparelhos digitais e aplicativos, que organizam melhor as informações das obras, e máquinas automatizadas, capazes de realizar tarefas com mais rapidez e eficiência. Claro, soluções como essas exigem funcionários capacitados a utilizá-las.

Fatores externos e a produtividade na construção civil

Seria enganoso, contudo, dizer que estão aí todos os determinantes da produtividade de uma construtora. Existem outros elementos externos com tanta ou maior importância que os já citados que são responsáveis pelas dificuldades das empresas nessa área.

Também são fatores mais complicados de se fazer frente a eles pois, em grande parte, fogem do alcance dos gestores. Mas os administradores podem planejar seu negócio, elaborar estratégias eficazes, para sobreviver a essas externalidades enquanto não se resolvem.

Quais são esses fatores? Veja a seguir.

1. Excesso de burocracia

Um estudo no setor, realizado pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) constatou que o excesso de burocracia afeta a competitividade de 100% das empresas pesquisadas.

Segundo os resultados dessa pesquisa com construtoras gaúchas, os principais problemas burocráticos são:

  • O número excessivo das obrigações legais, que alcançou 93% das respostas;
  • A complexidade dessas obrigações legais, com 60,5%;
  • E a alta frequência das mudanças das mesmas, com 48,8%.

Os empreendedores enfrentam grandes dificuldades até para encerrar um negócio. No Brasil são necessários 4,5 anos para isso, em média, enquanto que nos Estados Unidos essa média é de um ano e meio e na China um ano e sete meses, por exemplo.

2. Desestímulo à industrialização

Numa análise do engenheiro, empresário e professor Luis Henrique Ceotto, ele aponta que “a industrialização da produção é fator decisivo para o aumento da produtividade”. Mas para isso, ressalta, os custos de produtos industrializados da construção não podem ter preços inflados com impostos mais altos que as atividades artesanais.

Segundo o engenheiro,  materiais básicos destinados a atividades com uso intensivo de mão de obra, como cimentos e aço para concreto, foram incentivados e se beneficiaram bastante das reduções e isenções de impostos.

“A indústria de materiais usou intensamente essa lógica junto a todos os governos para conseguir redução de sua carga tributária. Isso puniu de forma intensa componentes industrializados e beneficiou produtores de materiais básicos destinados a processos artesanais”, diz Celotto.

Neste sentido, o mesmo estudo da FGV cita que a aquisição de estruturas de concreto pré-moldadas para montagem nos canteiros de obras  é mais cara, do ponto de vista tributário, do que sua fabricação dentro do canteiro, apesar da  maior eficiência da estrutura pré-moldada.

“Uma política setorial voltada à melhoria da produtividade deve passar,  necessariamente, por um tratamento tributário isonômico da produção feita no canteiro e a  produção feita na indústria”, afirma a FGV.  

3. Ciclos das obras muito longos

Ainda segundo o engenheiro Ceotto, como os compradores de imóveis têm pouca renda e os bancos financiam apenas parte do valor do imóvel (80%), os imóveis são vendidos com longos períodos de início das obras e longos prazos de construção.

Isso também desestimula a produtividade e competitividade das construtoras:

“Os prazos predominantes de início de obra tornaram-se de 9 a 12 meses e os de obra de 30 a 36 meses…Dessa forma temos o caso do “rabo abanando o cachorro” onde, por causa de 20% de poupança, toda a cadeia produtiva é empurrada para a improdutividade.”

Ele defende, entre outras medidas,  que o setor financeiro poderia oferecer produtos inovadores de poupança prévia. Assim o futuro comprador poderia se preparar para o valor não financiado pelos bancos (20%) e evitaria os longos e incertos períodos de espera.

4. Dificuldades de logística

Uma das responsáveis pela baixa produtividade na construção civil é a deficiência logística, que desempenha um papel crucial para o setor. O Brasil é o 65º num ranking de 165 países sobre eficiência logística, atrás de países como Índia, México, Turquia e Argentina, indica a FGV.

Desempenho Logístico

Fonte: Banco Mundial/FGV.
*O valor do indicador da Alemanha foi convertido em 100 para a comparação dos demais países. O número entre parênteses indica a posição no ranking.

Quando uma construtora ou incorporadora começa a crescer, enfrenta uma complexidade cada vez maior na gestão dos seus prestadores de serviço e fornecedores. Estes, por sua vez, também dependem de uma rede de fornecedores que sofrem com as deficiências de logística para o transporte e armazenamento de materiais, máquinas e equipamentos.

Então, mesmo dispondo de materiais modernos ou equipamentos de ponta, uma empresa acaba prejudicada por falhas de logística e perde produtividade por isso também.

5. Guerra fiscal dos estados.

Na questão tributária ainda, a guerra fiscal que existe existe entre os estados afeta demais a competitividade do setor, não bastassem os problemas de logística. É um fator que provoca riscos e gastos excessivos das empresas na instalação das plantas e centros de distribuição nas regiões onde há mais vantagens fiscais.

6. Variação do clima

Temporais ou temperaturas muito altas  podem afetar bastante a produtividade das obras. Não há  nada que  possa impedir esses eventos da natureza, mas é possível adotar medidas preventivas.

Isto pode ser facilitado pelo fato de que a meteorologia já consegue chegar a altos níveis de acerto, que ultrapassam 90% nas previsões para períodos mais curtos de tempo.

No entanto, surgiu um complicador que são as mudanças climáticas, aquelas observadas em ciclos mais longos, de anos  ou décadas. Elas vêm na forma de eventos que não eram comuns em outras épocas, como ventos e tempestades repentinas e até mesmo ciclones.

Locais com temperaturas que já eram muito altas também podem se elevar mais ainda, com efeitos na saúde e produtividade dos trabalhadores, assim como nos materiais. Tudo isso requer adaptação e muito planejamento das empresas, frente a mais essa pressão externa sobre a produção.

Produtividade na Covid-19

Como você pode ver, são muitos e diversificados os fatores que impedem as construtoras brasileiras de serem mais produtivas. Mas isso se tornou muito mais importante ainda no atual cenário econômico.

Com o baque sofrido pela economia com a pandemia da Covid-19, detalhes que possam escalar a eficiência e competitividade nas construções não podem mais ser esquecidos. É preciso estar atento a tudo que possa fazer a diferença na agilidade, eficiência e diminuição de desperdícios.

Isso pode significar ganhos no caixa que vão permitir às construtoras e incorporadoras sobreviver e crescer na pós-pandemia. E não se deve esperar até lá, comece já a avaliar o que pode ser feito na sua empresa neste sentido.

Começando por ver nesses fatores, tanto internos como externos, o que pode melhorar no seu planejamento e na sua estratégia. Mas se tiver qualquer dúvida, se precisar de orientação, faça contato conosco, ficaremos muito felizes em poder ajudá-lo.

Espero que tenha gostado do nosso conteúdo e agora, se for possível, deixe seu comentário e compartilhe com seus amigos, será útil para eles também. Muito obrigado pela leitura, sucesso nos seus negócios, e até o próximo artigo.